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Pedro Tudela nasceu em Viseu em 1962. Participou em várias performances desde 1983. Em 1987 conclui o curso de Pintura nas Belas Artes do Porto (ESBAP) e enquanto frequentou este curso fez parte do Grupo Missionário organizando exposições nacionais e internacionais de pintura, arte postal e performance. Em 1992, é o responsável pela fundação da editora Mute Life Dept., por ocasião da sua exposição Mute… Life. Entre 1995 e 1996 fez dois programas (Escolhe um dedo e Atmosfera Reduzida) na rádio XFM. Em 2000 colabora com o grupo Virose (Associação Cultural e Recreativa) e torna-se seu membro. Desde 2003, Pedro Tudela é ainda membro e cofundador da media label Crónica assim como do projeto de música eletrónica @c234 (com Miguel Carvalhais) desde 2000. Acompanhados pela artista austríaca Lia235, este projeto tem-se mostrado em vários países. @c + Lia236 atuam como um trio audiovisual. Pedro Tudela e Miguel Carvalhais operam os elementos sonoros, enquanto Lia opera a instrumentação visual.

Pedro Tudela é artista plástico, fotógrafo, cenógrafo, músico e professor na Faculdade de Belas Artes do Porto desde 1999.

Em colaboração com Alex Fernandes e Pedro Lima, Pedro Tudela fundou a Mute

Life Dept.. O CD Mute… Life (edição limitada Galeria Atlântica) é o primeiro trabalho

sonoro concebido e produzido por MLD, em 1992 (gravado com um Fostex X30 de 4 pistas), para a exposição Mute… Life de Pedro Tudela na Galeria Atlântica, no Porto e no mesmo ano. Esta exposição tratou-se do primeiro exercício de Pedro Tudela na

convergência da música e das artes visuais que cria uma surpresa armadilhada pela alternância entre a pintura barroquizante e os espaços vácuos.237

234

O seu trabalho desenvolve-se por três abordagens complementares à arte sonora e à música digital: a composição procedimental, a música concreta e a improvisação. Ao longo dos anos Tudela e Carvalhais têm vindo a desenvolver composições progressivamente mais estruturadas e complexas, entre os campos da música experimental, da arte sonora e da performance ao vivo. Se por um lado as suas composições são normalmente construídas em torno de estruturas muito bem definidas, é também normal que múltiplas células sonoras sejam libertadas dessas estruturas quando integradas no trabalho, tornando-se parte de complexas estratégias de desconstrução. (@c [Em linha]. [Consultado a 21 de Abril de 2012]. Disponível em: http://www.at-c.org/@c-pt.pdf)

235Vive e trabalha em Viena, Áustria e leciona na Fachhochschule Joanneum. 236

Partindo de estruturas pré-compostas, cada performance é destilada a partir de trabalhos em estúdio e desenvolve-se entre minimalismo e complexidade, dinamismo e contraste, composição e improvisação. @c + Lia são conhecidos pelo rigor, versatilidade e constante inovação do seu trabalho e por trabalharem com os elementos essenciais da composição audiovisual. Eles “tocam” intuições e organizam o imponderável num estilo único de “escrita” para o palco. (@c [Em linha]. [Consultado a 21 de Abril de 2012]. Disponível em: http://www.at-c.org/@c-pt.pdf)

237CARDOSO, João Sousa – O Acidente das imagens. In: Pedro Tudela: frágil. Porto: Galeria Canvas, 2001.

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(...) A questão do som começou a tomar forma na época da minha exposição “Mute ... Life”, que foi quando eu decidi definitivamente introduzir som nos meus projetos artísticos. O resultado disso, além da instalação/exposição, foi um projeto de performance, sonoro e de outras formas de contatos estreitos entre imagem e som. Porque foi um projeto que nasceu de um projeto específico, o seu nome mudava de acordo com a ação que se desenvolvia. Mais tarde, concluiu que a nomeação do projeto como um departamento - portanto, Mute ... Life Dept - seria a opção mais correta.238

O corpo humano, motivo de uma nova reflexão do século XX, está presente no trabalho de Pedro Tudela desde o início dos anos noventa (já em 1991 com Artbreaks, na galeria Atlântica, em Lisboa e no Porto, em Mute… Life e em One… Fits All de 1994/95, na galeria Nasoni, no Porto).

Corpos desfigurados, fragmentados, interrompidos no seu contínuo orgânico ou, mais simplesmente, abandonados a uma crise de representação, é também aquilo de que testemunham as obras dos últimos anos de Pedro Tudela cujo trabalho plástico, vastamente dominado por um luto face aos mecanismos da representação, assume os contornos de um protesto diante da própria condição de fragilidade vital do homem.239

Já noutros tempos o tema do corpo humano foi explorado num sentido estético e como prática do desenho e da pintura e dos cânones idílicos de beleza. Num ponto de vista exterior a ele mesmo, o corpo era motivo de contemplação para servir a representação. A partir do século XX o corpo volta-se para si mesmo e é pensado como matéria orgânica com a sua fragilidade e efemeridade e também como algo que está exposto a diversas mutações derivadas ao contexto social e cultural em que está inserido. Bernardo Pinto de Almeida afirma:

O corpo protagonista da arte contemporânea, em ténue ligação com essa tradição, é o corpo fragmentado, o corpo corrompido, o corpo abruptamente retalhado por feridas, senão aquele que é já atravessado pelas sombras da morte. Pensemos em

238ESCUDERO, Guillermo – Pedro Tudela Interview [Em linha], 2004. [Consultado a 3 de Setembro de

2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/txt/4/. [Tradução livre].

239

ALMEIDA, Bernardo Pinto de – Rastos, restos, rostos. In: Pedro Tudela: Still. Porto: Canvas & Companhia – Galeria de Arte Contemporânea, Fevereiro/Março, 1998. (Catálogo)

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obras como as de Cindy Sherman ou Robert Gober, Matthew Barney ou Damien Hirst e perceberemos o alcance desta afirmação.240

Vista da exposição/instalação D’heart Side, 1994241

Em 1994 na galeria Atlântica, Pedro Tudela apresentou D’heart Side. Nesta exposição o artista recriou um ambiente de hospital onde as pinturas substituem as representações modernas e científicas do interior do corpo humano. As toalhas manchadas de sangue que preenchem o ambiente constituem um elemento realista que cria uma tensão ambígua com as representações pictóricas.

240 Idem. 241

TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 30 de Agosto]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/wrk1/14/.

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Vista da exposição/instalação D’heart Side, 1994242

Eram treze pinturas a óleo em papel colado em tela, treze varões com toalhas e sangue, uma televisão que passava um vídeo (uma salva com woofer com movimento da batida cardíaca), um frasco de soro cheio de éter, um kit de soro e um alguidar de metal com sangue243.

Jorge Colombo escreve:

Um destes corações há-de ser nosso. Ou o que dele restar, um dia destes. De tantas incertezas, é a morte a nossa única garantia. Só não sabemos como vai ser quando chegar a vez. Vamos morrer de tripas esviceradas no asfalto, entre os destroços dum carro? Ou mergulhar na escuridão repentina duma síncope? Vamos cair de vinte andares abaixo à velocidade do terror, ou desfazer-nos no veneno rastejante dum cancro? Tudo pode acontecer-nos: a falta de ar, as queimaduras, o sangue a jorros abandonando as feridas. Mas há-de ser pela estupidez cruel dum crime, ou pelo frio acaso dum desastre? Ou pelo calendário da doença? Daqui a pouco tempo na velhice? E quem nos restará para nos chorar?244

242

TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 30 de Agosto]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/wrk1/14/.

243

Cf. COLOMBO, Jorge – O coração à boca. In: Pedro Tudela: D’heart side, Porto: Galeria Atlântica, 1994. (Catálogo)

244

COLOMBO, Jorge – O coração à boca. In: Pedro Tudela: D’heart side, Porto: Galeria Atlântica, 1994. (Catálogo)

98 Esta exposição estava acompanhada com uma banda sonora e com um vídeo que passava na televisão que estava pendurada na parede da galeria e que tinha um frasco com éter por baixo que pingava para um balde colocado no chão com sangue. A música era de Pedro Tudela (samplers, percussões, vozes, atmosféricos e ruídos) e Pedro Almeida (guitarras, samplers, atmosféricos, percussão, vozes e ruídos).

D’heart Side (Video Still)245

Uma outra perspetiva do corpo foi vista na exposição/instalação phase 3 eye can

see, em 1996, no Porto, na galeria Canvas & Companhia. O próprio olhar, o ato de ver, os

olhos, as pupilas, a iris, as pálpebras, as pestanas. Um olhar de alguém que olha para um quadro que é ele próprio um olhar. Trata-se de uma troca de olhares entre a obra e o público. Os olhos, como órgãos, além de reagirem a alterações de luz, e sendo também suscetíveis e frágeis, são também um meio de auxílio da comunicação e de reconhecimento do mundo que nos rodeia.

O olhar coloca-se num território ambíguo, ele simultaneamente vê e dá a ver. As transparências do olho são o equivalente anatómico desta ambiguidade. A córnea, o humor aquoso, o cristalino, o humor vítreo, oferecem-se, sem resistência (em situações fisiológicas), à travessia da luz. Da luz exterior, mas também da luz interior, ou seja, da penumbra que escurece a pupila e faz dela o núcleo de sentido do olhar. Quando olhamos o outro e o queremos violentar com o nosso olhar, é na sua pupila que ancoramos. A pupila é o buraco negro do olhar e, como todos os buracos negros, exerce um perturbante poder de atracção. É pela pupila que o mundo entra em nós, é por esse estrangulamento flexível que a realidade se disponibiliza para ser olhada.

245

Tudela, Pedro – Vídeos. [Consultado a 30 de Agosto]. Disponível em:

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(Um excesso de realidade, quero dizer um excesso de luz, é contrariado pela diminuição da pupila). Mas é pela pupila que nos mostramos, mesmo quando morremos – um sinal de muito mau prognóstico é a presença da medríase fixa (isto é, de uma pupila dilatada que não reage á luz).246

Phase 3 eye can see (Detalhe)247

O quadro que vê, 1996248

246

SILVA, Paulo Cunha e – a dupla visibilidade do olhar. In: Pedro Tudela: phase 3 eye can see. Porto: Galeria Canvas & Companhia, 1996. (Catálogo)

247TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 4 de Setembro de 2012]. Disponível em:

http://www.pedrotudela.org/wrk1/29/.

100 A banda sonora para esta instalação, concebida e produzida por Pedro Tudela e Pedro Almeida, foi gravada entre Março e Maio de 1996. No vídeo da exposição, surge um olhar que pestaneja e que em vez de uma pupila tinha um woofer que simulava os batimentos cardíacos.

Video phase 3 eye can see, 1996249

Tal como na exposição/instalação anterior, D’heart Side, as toalhas e os corações aparecem de novo.

A toalha ensanguentada permanece nesta instalação como que a sugerir que, agora, o coração se colocou atrás do olhar. O olho chora sangue. A pupila no vídeo, substituída por um woofer vibra com o ritmo dos batimentos cardíacos. É nesse coração do olhar que as pálpebras intermitentemente abertas (em tempo real), vão revelando.250

Progressivamente, o som vai ocupando mais espaço no trabalho de Pedro Tudela, tornando-se o objeto de preferência nos seus projetos.

Foi necessário esperar pela exposição “Rastos”, em 1997, para podermos assistir à objectualização do próprio som, integrado de modo inseparável em algumas das peças que se expunham. Os sons tornavam-se assim como que prolongamentos das imagens e dos objectos, funcionando num regime de complementaridade, por vezes um pouco descritiva ou mesmo tautológica. Em diversos ensaios que se seguiram, como, por exemplo, na sua intervenção na Faculdade de Farmácia, no contexto da exposição “A Experiência do lugar”, este entendimento objectual do som, numa relação directa com o materiais e os acontecimentos dos lugares, foi-se apurando. As

249

TUDELA, Pedro – Vídeos. [Consultado a 31 de Agosto de 2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/wrk4/98/.

250

SILVA, Paulo Cunha e – a dupla visibilidade do olhar. In: Pedro Tudela: phase 3 eye can see. Porto: Galeria Canvas & Companhia, 1996. (Catálogo)

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peças começaram a incorporar, literalmente, os altifalantes que debitavam o som e deixou de ser possível tratar estas duas instâncias – o objecto material e o som imaterial – como coisas independentes.251

Vista da exposição/instalação Rastos, Fundação Cupertino de Miranda, Vila Nova de Famalicão, 1997252

Contudo, em 1998, na exposição Still, Pedro Tudela volta a um registo onde o som se separa dos quadros, e o corpo ainda surge como tema.

O CD Still (edição limitada Galeria Canvas & Companhia) é a banda sonora original concebida e produzida por MLd para a exposição Still de Pedro Tudela, na Galeria Canvas & Companhia, no Porto, gravada ao vivo a 28 de Fevereiro de 1998, no espaço “Umdiapositivoparavocê”, também no Porto.

(…) “Still” (ainda), termo que nomeia esta exposição, é constatação da existência de uma ferida ainda aberta, interrogação por resolver face ao destino próprio, explicitação de uma crise que, verdadeira embora nos seus sentimentos e nas suas formas, aguarda ainda a pacificação cujo horizonte apenas lhe fornecerá as necessárias respostas.253

251LEAL, Miguel – Sobre a plasticidade: cartografias sonoras. In: Pedro Tudela: Sobre. Porto: Fundação de

Serralves, 2004. ISBN 972-739-130-3. p. 23. (Catálogo)

252TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 6 de Setembro de 2012]. Disponível em:

http://www.pedrotudela.org/wrk1/25/.

253ALMEIDA, Bernardo Pinto de – Rastos, restos, rostos. In: Pedro Tudela: Still. Porto: Canvas &

102 A aproximação da arte de Pedro Tudela com a vida está presente, como já referimos, desde o início dos anos noventa. O corpo é motivo de uma prática de um pensamento sobre ele próprio.

(...) Na Canvas, Pedro Tudela mostra «Still»,um conjunto de pinturas e objectos que retomam o núcleo central das suas obsessões: o corpo enquanto lugar de todos os cometimentos e sujeito de uma precaridade incontornável. Trespassado, suturado ou tomado de frenesim sadiano, o corpo surge aqui apenas explicitado nos seus despojos ou no somatório das agressões das quais é objecto potencial. O sangue, os instrumentos da agressão, as suturas, são símbolos respectivos da sua natureza, de uma ameaça que, todos o intuímos, sobre ele paira e da sua reconstrução desesperada. Que a faça em clara referência à pintura como agregação da qual parte toda a ponderação do mal-estar é particularmente interessante. A tela é o substituto metafórico do corpo ausente, a sua pele imaginária. Lugar onde se exibem as feridas e o sangue e onde repousam os utensílios terríficos. (…)254

Still, Sem título, (óleo, borracha e metal em tela)255

254MARTINS, Celso – Frente Norte [Em linha]. In expresso 07/ março/ 1998. [Consultado a 31 de Agosto de

2012]. Disponível em: http://www.virose.pt/tudela/still.html.

255TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 28 de Agosto de 2012]. Disponível em:

103 Bernardo Pinto de Almeida, sobre esta exposição, escreve:

Do mesmo modo que a presença de instrumentos – agora cortantes e afiados, como serras ou lâminas, mas em anteriores exposições associados ao imaginário da cirurgia, ou da oftalmologia – parece indicar uma espécie de paradoxal “natureza protésica” desses corpos que, ausentes por vezes, fragmentados de outras, apenas entrevistos de outras vezes ainda, se oferecem no extremo da sua condição de perda e de abandono a um destino sem ordem. Como se do mais permanente só pudesse corresponder ao dos seres ameaçados por forças que lhes são infinitamente superiores na ordem da natureza e onde, estranhamente, paira sempre um espectro de destruição próxima. Como se testemunhassem longamente a condição do trágico.256

Vista da exposição/instalação Frágil, 2001257

Assim como o ser humano e o seu corpo, o deslocamento do mesmo, teve desde cedo lugar no trabalho de Pedro Tudela (já em 1986 com a exposição Portugal Emigrante de 1986, na galeria Roma e Pavia, no Porto).

A exposição Frágil, na galeria Canvas, em 2001, trata a partida, o caminho, a estrada, a chegada, a vida. A ideia de fragilidade presente nesta exposição/instalação

256ALMEIDA, Bernardo Pinto de – Rastos, restos, rostos. In: Pedro Tudela: Still. Porto: Canvas &

Companhia, Fevereiro/Março, 1998. (Catálogo)

257

TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 4 de Setembro de 2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/wrk1/33/.

104 remete também, e mais uma vez, para o corpo (que todos os dias está exposto a incidentes ou acidentes), sublinhando “o sentido transitório da vida”258

.

A não-fixação do humano e, em particular, a impermanência do indivíduo contemporâneo têm sido desde o início, um dos mais afirmados motivos do trabalho de Pedro Tudela que encontra na ideia de partida ou na imagem da estrada metáfora de singular eficácia e plasticidade permanentemente reajustada.259

Logo à entrada da exposição, um sinal com pequenas colunas incorporadas emite sons. Esta escultura sonora serve como uma espécie de aviso de precaução para percorrer a exposição.

(…) Quando o espectador entra na galeria e confrontado com uma escultura sonora construída a partir da junção entre sinal de trânsito e várias colunas minúsculas que povoam o espaço com um ruído de electricidade estática. A placa é assim uma espécie de aviso a quem entra, pois, para além do som que se escuta ser idêntico ao emitido pelas máquinas de detecção de radioactividade, ele personifica também, o Código da Estrada, a noção de obstáculo.260

ptf00261

258

FARIA, Óscar – O Percurso da Memória [Em linha], Mil Folhas, 2001. [Consultado a 4 de Agosto de 2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/txt/10/.

259CARDOSO, João Sousa – O Acidente das imagens. In: Pedro Tudela: frágil. Porto: Galeria Canvas, 2001.

(Catálogo)

260

FARIA, Óscar – O Percurso da Memória [Em linha], Mil Folhas, 2001. [Consultado a 4 de Agosto de 2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/txt/10/.

261

TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 7 de Setembro de 2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/wrk1/33/.

105 Pequenas colunas são incorporadas nas fotografias de estradas, paisagens e sinais de trânsito. Uma exposição em que Autobahn, o álbum de 1974, dos Kraftwerk, poderia servir de banda sonora.

Diante das pinturas, o artista instalou uma série de fotografias sonoras que, uma vez mais, nos enviam para os temas que atravessam a exposição. Neste caso, as imagens e o som são captados directamente – as primeiras no IP5, estrada que liga o Porto e Viseu, duas cidades importantes para o percurso de Pedro Tudela, como se verificou na mostra “Target” (1999, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra). É neste conjunto de trabalhos que a mostra se resolve: de facto, cada travessia é feita de soluções provisórias. E para cada emergência é sempre necessário uma escapatória. Para que o retorno se faça em segurança.262

Vista da exposição/instalação Frágil, 2001263

Onze pinturas em tons escuros e em perspetiva aérea, que nos remetem para as fotografias sonoras, aparecem como se fossem o lado escuro dos caminhos, a obrigação de escolha. Pedro Tudela explora as possibilidades plásticas e visuais destas imagens.

262FARIA, Óscar – O Percurso da Memória [Em linha], Mil Folhas, 2001. [Consultado a 4 de Agosto de

2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/txt/10/.

263TUDELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 31 de Agosto de 2012]. Disponível em:

106

Se o olhar se prolongar para o interior da Canvas, irá descobrir uma série de formas rectangulares, negras, que, devido à regularidade da sua montagem, sugerem a presença de uma passadeira ou, mais concretamente, do negativo desta. A aproximação revela tratar-se antes de uma série de pinturas negras, que ostentam o processo da sua feitura, ou seja, as camadas necessárias para se obter o resultado final – e aqui a ideia é fazer passar, em imagens obtidas a partir de uma perspectiva aérea, uma série de indícios e sugestões relacionados com os conteúdo da exposição, sobretudo de percurso e escapatória.264

Esquerda: ptf06, Direita: ptf07265

Faz parte ainda desta exposição uma televisão que passa um vídeo onde um carro percorre um túnel.

A série de pinturas negras de Frágil (subscrito pelo vídeo que repete, em loop, a imagem que se oferece a um condutor que atravessa o interior de uma túnel) reenvia- nos para o momento final daquela performance. Também nestas pinturas é suspenso o momento da interrogação, numa situação de bifurcação. Seja essa bifurcação a nervura de uma folha extraída do mundo natural (tão tida em conta na pintura do autor, ao longo da década de 80) ou a vista aérea de uma estrada que se divide, o

264FARIA, Óscar – O Percurso da Memória [Em linha], Mil Folhas, 2001. [Consultado a 4 de Agosto de

2012]. Disponível em: http://www.pedrotudela.org/txt/10/.

265TUELA, Pedro – Solo Shows. [Consultado a 4 de Setembro de 2012]. Disponível em:

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negro anuncia, como em Still, o fim das imagens, sobrando apenas as suas qualidades residuais ou, pelo contrário, o seu carácter indicial.266

Frágil (Vídeo Still)267

Em ptfa.cr, exposição de Pedro Tudela na Contos do Rosário no Porto, parece ter pontos em comum com Frágil. Repete-se a imagem de um sinal preto e amarelo, as formas e as cores, a ideia de estrada e de direção. Mas para além de ptfa.cr, outros trabalhos anteriores de Pedro Tudela parecem emergir em Frágil.

A construção de Frágil assenta em dois pilares essenciais que, ainda ecoam o projecto de Phase 3 Eye Can See, mas que se relacionam de forma mais directa com o corpo de questão suscitado por Target e, de modo mais subterrâneo – mas talvez por isso, particularmente gratificante – com a performance Still de Pedro Tudela acompanhado pelos Mute Life Departement na Fundação de Serralves em 1998.268

Desde o projeto MLd, e com a sua experiência na rádio, Pedro Tudela foi criando

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