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PELA TELA DOS BLOGS: ROTAS DE NAVEGAÇÕES E NAUFRÁGIOS

No documento “Observando” o Pan RIO/2007 na mídia (páginas 91-96)

representações veiculadas

PELA TELA DOS BLOGS: ROTAS DE NAVEGAÇÕES E NAUFRÁGIOS

Quem nos dias atuais não ouviu falar em blogs, fotologs, vlogs, entre outros? Por certo, parte da população brasileira já se deparou com os termos ou mesmo teve a possibilidade de se aventurar por esses espaços. Afinal, o Brasil, entre 2000 e 2008, aumentou o número de conexões à internet em 900%, segundo revela pesquisa da ONG americana Internet World Stats, publicada na revista Carta Capital de 13/08/2008. A mesma revista revela ainda que o país é considerado aquele cujos usuários da rede passam mais tempo por mês conectados, além de, pela primeira vez na história, ter vendido mais computadores do que televisores no ano de 2007. Tais dados não deixam dúvidas quanto ao crescente acesso dos brasileiros à internet e seus recursos, entre eles os blogs. Mas, afinal, o que são os blogs?

Definidos como diários online, páginas pessoais na internet, sequências de links com comentários, página da internet disposta por postagens abertas ao público em ordem cronológica, espaços virtuais de discussão, entre outros, os blogs têm sua origem semântica na palavra Weblogs (BARBOSA; GRANADO, 2004). O neologismo blog, no entanto,

surgiu nos EUA, em 1997, como derivação do termo anterior, sugerido por Jorn Barger (americado considerado por muitos como o “criador” do blog) para designar sua pioneira página pessoal na internet (BARBOSA; GRANADO, 2004). Apesar da origem da palavra, em termos práticos, um híbrido das tentativas de definições apontadas anteriormente caracteriza bem a constituição da ferramenta.

Para Araujo (2004, p. 2-3), essas características podem ser sintetizadas da seguinte forma:

Ser um suporte digital

on-line, entendendo suporte digital como

meio de comunicação na internet; Possuir brevidade textual; •

Dispor de discurso que se apresenta por vezes desapegado da •

norma culta e, portanto, próximo da coloquialidade; Ser atualizado constantemente;

Ser elaborado normalmente a partir de um documento pré-moldado, •

que dispõe o material em ordem cronológica (o documento mais recente em cima e o mais antigo em baixo);

Permitir co-participação, colocando o leitor numa posição de co- •

enunciador (no caso da ferramenta de comentários);

Construir um “estilo blog” de expressão, com figuras de linguagens •

próprias, etc.;

Adotar com grande recorrência outros discursos como referência •

e elaborar mecanismos textuais e discursivos para remissão à intertextualidade (links).

A popularização dos blogs se deu particularmente pela atratividade encarnada nas possibilidades de interatividade entre diferentes enunciadores, pela particularização do discurso que a ferramenta oferece, além dos baixos custos de produção, uma vez que vários servidores oferecem o serviço gratuitamente e com fácil operacionalização técnica. A convergência de editores de texto, imagens e vídeos aos blogs permitiu que o manuseio dessa ferramenta fosse realizado sem a necessidade de conhecimentos técnicos específicos do universo da tecnologia de informação, como por exemplo, o domínio de alguma linguagem de programação, como a HTML, (HyperText Markup Language / Linguagem de Marcação de Hipertexto), que no início foi o protocolo responsável pela viabilidade técnica e o sucesso da internet.

Tal popularização trouxe consigo uma das principais potencialidades que se tem vislumbrado nos meios virtuais, na forma de uma esfera pública comunicativa renovada, que tem como pilar a liberação do pólo emissor (indistintamente) na produção de bens simbólicos com visibilidade em escala planetária.

Entendemos que uma mudança fundamental propiciada pela estrutura de informação em rede é a constituição de uma esfera pública renovada, ao menos potencialmente, pela pluralidade das possibilidades de emissão. Trata-se de um ambiente informativo denso, uma arena conversacional que reduz os custos da participação coletiva (ALDÉ; CHAGAS, 2OO5, p. 22)

Uma das principais características, que diferencia a internet dos demais meios, é o que Aldé e Chagas (2005) denominam de dispersão da emissão, ou seja, “o fato de passar de uma relação comunicativa de um para um, como o telefone, e de um para todos, como a televisão e o rádio, para uma situação de comunicação em que todos podem, ao menos em potencial, comunicar para todos” (p. 6). Deste modo, qualquer receptor pode tornar- se emissor, produtor e/ou divulgador de informação na internet, numa verdadeira circularidade de papeis intercambiáveis (GOMES, 2001).

Os meios virtuais possibilitam, portanto, o fim do monopólio da fala, típico dos meios tradicionais, como a televisão. A comunicação na rede, e, especialmente nos blogs, tem como característica emissões dispersas e capilarizadas, por vezes anônimas, que tentam produzir eventos noticiáveis, procurando atrair a atenção de algum público.

Evidentemente, além das confluências que se apresentam entre redes tecnológicas e redes sociais, contradições também são evidentes nesse processo, conforme sugere Lemos (2004). No caso da internet e dos blogs, o grande desafio está na capacidade do público encontrar e processar as inúmeras informações dispersas na rede mundial de computadores. O excesso de informações na rede tem feito com que muitos internautas naufraguem ao tentar navegar pela internet em busca de informações confiáveis e demasiado específicas.

Se por um lado abriram-se as portas para que a população em geral se manifestasse potencialmente sob diferentes assuntos, por outro, a quantidade de informações dispostas e dispersas na rede limitam a capacidade desses enunciados serem encontrados. Para Machado e Palácios (2003) não é possível dar conta do excesso de informações disponíveis na internet. Virtualmente está tudo online, mas, na prática, devido às limitações técnicas, de tempo e interesse, cada usuário acessará somente algumas das muitas informações, sites e blogs. Nesse emaranhado, os mais visíveis, aparentemente, são aqueles de personalidades da mídia tradicional.

Contradições à parte, o princípio dos blogs e da conexão generalizada na internet tem propiciado que diferentes vozes surjam no panorama das trocas simbólicas e na atmosfera comunicacional. “Ganha-se [...], ao menos em potencial, uma maior abertura para a interatividade, a veiculação de valores culturais e a consciência crítica” (PEREIRA, 2006. p. 4).

Esporte e mídia em tempos de blogs: “novos olhares e novas práticas” O esporte apresenta uma história de sucesso em sua associação com a mídia, que envolve cifras bilionárias e milhões de espectadores espalhados pelo globo. O espetáculo criado aos moldes dos meios de comunicação de massa oferece o esporte-mercadoria, determinando o que o vai ser visto, discutido, criticado, aplaudido. Pires (2002, p. 102), denuncia ser a “cultura esportiva conformada pela indústria midiática uma cultura desencarnada, desprovida do potencial crítico-reflexivo que caracteriza a formação cultural autêntica”.

A massificação da oferta e o consumo simbólico do espetáculo esportivo geram um novo tipo de tipo de atividade para ocupação do tempo livre, caracterizada por ser passiva, tecnologicamente mediada e por incluir necessariamente relações mercantis. (PIRES E GONÇALVES, 2001). Os diferentes meios de comunicação de massa, dos quais a televisão recebe destaque, são os agentes da indústria cultural. O potencial crítico da linguagem (incluindo as múltiplas linguagens associadas ao fenômeno esportivo) enquanto possibilidade para uma tomada de posição contra a generalização do imprestável, perde-se pela oferta barata de padrões de expressão (MÜLLER, 1996, p. 214).

O esporte na/da mídia evidencia diferentes interesses, relações de poder, disputas econômicas e ideológicas que se desencadeiam a partir dessa interação desigual que apresenta o pólo emissor controlado pela indústria cultural. Mas como pensar no esporte e na mídia sob a nova dinâmica técnico-social da internet? Como ressalta André Lemos (2003, p. 15), “pela primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações (escrita, imagética e sonora) para qualquer lugar do planeta”.

Presente em milhares de sites, jornais on-line, fóruns de discussão e em outros formatos veiculados pela internet, o esporte também ganhou espaço na interatividade dos blogs. O esporte, sempre tão associado ao controle midiático da indústria cultural, vivencia a liberação do pólo emissor, agregando um universo de “vozes” que se cruzam, aumentando a possibilidade de escolha de fontes de informação por parte do cidadão comum. Copa do Mundo, negociações de jogadores de futebol, o ranking

de tenistas da ATP, os times amadores de futebol, a corrida de rua do fim de semana, a rodada e as polêmicas do “Brasileirão”, etc. Esses assuntos e quase todos os outros que são possíveis de ser imaginados estão presentes nos blogs e abertos para a contribuição, discussão, construção coletiva. Uma breve pesquisa no site www.technorati.com, que acompanha seis milhões de blogs em todo o mundo, encontrou 5.567 referências à palavra esporte e 174.015 à palavra sport - e esse número aumenta a cada segundo.

As características do esporte moderno não estariam ganhando contornos próprios no ciberespaço? É necessário compreender como as informações sobre os esportes e mesmo a cobertura jornalística sobre os grandes eventos esportivos, que se encontra diante da liberação do pólo da emissão, estão se comportando diante do surgimento de uma comunicação bidirecional sem controle de conteúdo.

O desafio atual parece residir exatamente na tarefa de tematizar as informações veiculadas pelos múltiplos canais de comunicação fornecidos pelo universo dos blogs sob uma perspectiva pedagógica, promovendo leituras da realidade diferenciadas do senso comum, como indicam os trabalhos de Pereira (2009) e Bianchi (2009), que levantam alguns questionamentos: será que as características dos blogs como a abertura para a contribuição, discussão e construção coletiva não seriam úteis no trato da mídia esportiva nas aulas de Educação Física? A liberação do pólo de emissão da comunicação propiciado pelos blogs não pode ser um instrumento para a construção e re-elaboração de conhecimentos e informações (antes centralizadas) dentro do ambiente escolar?

É em meio a valores, significados e representações que fazem parte de uma alquimia tecnológica de resultado incerto que a cultura esportiva se encontra a espera de uma compreensão e de um possível trato pedagógico. Pensar em formas de inserir a discussão sobre as novas tecnologias de comunicação e informação nas reflexões desenvolvidas pela Educação Física é impulsionar a área para o encontro com as transformações pelas quais a sociedade vem atravessando.

Neste intuito é que se analisou a cobertura dos jogos Pan-americanos do Rio 2007 em diferentes blogs sobre assunto, na tentativa de compreender melhor os modos pelos quais essas informações foram divulgadas, considerando- se as incontáveis possibilidades de criação, edição e re-significação que esses canais permitem aos seus emissores. Quais possibilidades de análise e intervenção pedagógica podem surgir da cobertura de um evento como os jogos Pan-americanos em blogs? Será que esse meio tem realmente garantido uma emissão/produção de informações mais opinativas, particularizadas e diferenciada dos meios tradicionais de comunicação? Será que as possibilidades

de contato e interação direta com o público têm alterado a forma da divulgação das informações sobre os grandes eventos na internet?

No documento “Observando” o Pan RIO/2007 na mídia (páginas 91-96)