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PELAS VIELAS DO REGIONALISMO NA PRODUÇÃO POÉTICA DE JOSÉ DE MESQUITA.

III NAS BRENHAS DA UTOPIA, DO MITO E DA EXALTAÇAO: MATO GROSSO NA POETICA DE DOM AQUINO E JOSE DE MESQUITA

28 Virtute plusquam auro In Terra natal Poética Vol 1, tomo II, p 39.

3.2 PELAS VIELAS DO REGIONALISMO NA PRODUÇÃO POÉTICA DE JOSÉ DE MESQUITA.

FIGURA 2 – Fotografia de José de

Mesquita

FONTE: www.elfikurten.com.br

Regional

O sino da minha terra

ainda bate às primeiras sextas-feiras, por devoção ao coração de Jesus.

Em que outro lugar do mundo isto acontece? Em que outro brasil se escrevem cartas assim:

o santo padre Pio XII deixou pra morrer hoje, último dia das apurações.

Guardamos os foguetes. Em respeito de sua santidade não soltamos.

Nós vamos indo do mesmo jeito, não remamos, nem descemos da canoa.

... (Adélia Prado, Poesia reunida – 1991)

Faz-se necessário um pequeno esboço da biografia de José de Mesquita, para, posteriormente, adentrarmos na produção literária, que neste estudo, incluírão, apenas, seus poemas.

José Barnabé de Mesquita29, filho de José Barnabé de Mesquita (Sênior) e Maria de Cerqueira Caldas, nasceu em 10 de março de 1892 em Cuiabá e faleceu em 22 de junho de 1961.

Estudou no Liceu Salesiano de Cuiabá, formando-se em Ciência e Letras, em 1907, indo, posteriormente, para a cidade de São Paulo, para realizar o Curso de Ciências Jurídicas – Direito - na Universidade de São Paulo, formando- se em 1913. José de Mesquita, ao sair do Estado de Mato Grosso para realizar o Curso de Direito no Estado de São Paulo, torna-se um divulgador da cultura e literatura mato-grossenses.

Em sua produção, ele se aproxima dos ditames parnasianos. Ao lado de Dom Aquino Correa, fundou o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Contudo, como nos afirma Rubens de Mendonça (2004, p. 305) “o interessante na poesia de José de Mesquita é a variação da força dos seus versos. O poeta ora é romântico, parnasiano, simbolista e modernista.” Aqui devemos fazer um parêntese, para discordar de Mendonça, quando esse afirma na produção de Mesquita o teor simbolista e modernista, visto que esse poeta erguera sua bandeira, juntamente com Dom Aquino, seguindo esse, na contramão do modernismo, mostrando-se contrário à inserção da estética modernista no Estado. Algo que iremos discutir no decorrer deste tópico sobre a produção de José de Mesquita.

Atuou, efetivamente, na mudança do Centro Mato-Grossense de Letras para a Academia Mato-Grossense de Letras, que se deu em 1921, sendo seu presidente a partir dessa data até seu falecimento em 1961.

29 Os dados biográficos de José de Mesquita foram retirados da página: <http://www.jmesquita.brtdata.com.br/2004_Biografia.pdf>. Acesso em: 25 de agosto de 2014

Publicou poesias, crônicas, ensaios e conferências, destacando: Poesias (1919); Piedade (romance,1937); Corá (conto, 1930); Espelho de almas (contos, 1932); Três Poemas da Saudade (poemas,1943); Escada de Jacó (sonetos, 1945); No tempo da cadeirinha (contos regionais, 1946); Poemas do Guaporé (1949).

Escreveu para revistas mato-grossenses e Nacionais, a destacar deste cenário nacional a revista de Cultura do Rio de Janeiro de 1928 a 1939, demonstrando com isso sua força política, no exercício da presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, bem como sua força literária como presidente do Centro Mato-Grossense de Letras e, posterior, Academia Mato-Grossense de Letras.

Para os estudos do regionalismo na obra de José de Mesquita, tomaremos as obras Da epopeia matogrossense30 (1930), Poesias (1919) e Sonetos (1938). O corpus, aqui selecionado, entre a vasta produção de José de

Mesquita, se deve a tais textos apresentarem o esboço de nossas discussões, a representação da identidade mato-grossense e a recuperação da tópica romântica.

Acerca do regionalismo que toma forma na produção literária de José de Mesquita, que também se apresenta na produção poética de Dom Aquino, é a relação entre litoral x sertão; metrópole x interior, ou seja, há um ensejo de afirmar o sujeito que habita os sertões brasileiros e isso faz emergir um sentimento regional em Mato Grosso. Segundo Leite (2008, p. 240), José de

Mesquita “abre, sem dúvida, uma grande página- dos aspectos artísticos,

culturais, literários, entre outros- do regionalismo em Mato Grosso”.

A obra Poesias (1919) de Mesquita está dividida em quatro partes: a primeira, Do Amor; a segunda, Da Natureza; a terceira, Do sonho e a quarta, Da

Arte. Aqui já temos uma diferenciação entre a produção aquiniana e de José de

Mesquita, a figura feminina em Dom Aquino surge como representação de um ser divinal: a figura de Maria, a virgem de Dom Bosco e sua mãe, não há em seus poemas a representação feminina sendo erotizada ou como figuração do

amor do eu-lírico, algo que ocorre em José de Mesquita. Isso se deve em especial às formações distintas de ambos os poetas: o primeiro, Dom Aquino, de formação clerical, o segundo, José de Mesquita, de formação leiga.

Nos excertos do poema Nocturno31- da primeira parte da obra Poesias (1919), de José de Mesquita, vemos a descrição erotizada da mulher.

Ei-la que dorme. Branda e suavemente arfam-lhe os seios sob a camiseta muito alva, de fina cambraieta leve, macia, quasi transparente. Pelo collo se espalha a cabelleira escura e o rosto virgem resplandece num halo de pureza que parece uns ares lhe imprimir de linda freira. Olhos cerrados, bocca entrefechada -essa boca ideal que tanto aspiro! Passa a mão pelo seio e, num suspiro, estremece, de súbito, assustada. Sonha, talvez? Que sonhos terá ella? Eil-a a dormir, tão pallida e serena.... Um suave perfume de açucena entra por entre as frestas da janella. [...]

(MESQUITA, 1919, p. 21).

Na leitura da obra de José de Mesquita, no que tange à representação da figura feminina, temos duas facetas que se erguem, sendo necessário fazer um esboço. José de Mesquita representa a mulher sobre dois paradigmas: de Maria, casta e santa, e Eva, lascívia e pecadora. Portanto, veremos que ora sua produção, quando se refere à mulher, traz uma figuração divinal, ora uma figuração diabólica, questão visível no conto Corá, em que Corá seduz o sogro. Não sendo nosso foco de análise a contística de Mesquita, mas cabe demonstrar, aqui, essa conotação diabólica da mulher, remetendo ao mito da criação em que a serpente seduz Eva a cometer o pecado, assim como o faz Corá, em relação ao sogro.

Conheci Corá, posso dizer, desde a hora de nascer. Foi sempre viva, esperta, ladina como quê... Quantas vezes carreguei a pequena no colo e fui com ela, já grandinha, ao mato, apanhar mangaba e marmelada! Mas Corá não lhe serve, meu filho. Para namoro, de passatempo, está muito bom. Para mulher, não. Uma coisa é brincar, distrair com os agrados, conversas e passeios... (MESQUITA, 1930, p. 5).

No primeiro trecho do conto, vemos a represália do pai em relação ao casamento de manezinho com Corá, por se tratar de uma mulher esperta, portanto, capaz de enganar, de persuadir e de cometer as mais pérfidas coisas. No trecho a seguir, vemos, após sogro e nora ficarem três dias a sós, que o velho é vencido pela sedução de Corá, que, pela roupa e pela sensualidade o domina.

— Ora, o dia está fresco, meu pai... Isso faz mal, vancê ficar aí o dia inteiro, na mesma posição, chupando esse pito sarrento... Saíram. Ele sorria, vencido pelos agrados da moça. O mormação muito quente esbraseava o ar. Ela, para evitá-lo, arrepanhara o roupão, erguendo-o à altura da cabecinha, protegendo-a como uma coberta. No seu desleixo caseiro, não trazia saia branca e deixava ver, sob a camisa de mulher, cura até os joelhos, as pernas roliças, penugentas e o relevo provocante das ancas (MESQUITA, 1930, p. 10-11).

Portanto, esse conto, Corá, traz a mulher dentro de uma visão diabólica, aproximando-a ao mito da serpente que persuadiu Eva a cometer o pecado da criação.

Reportando-nos aos excertos do poema Nocturno, percebemos uma descrição erotizada pelo eu-lírico da figura feminina. Na primeira quadra, temos uma mulher dormindo, vestindo uma camisa que deixa transparecer sua pele e seus seios. Aqui podemos tecer uma aproximação de Mesquita aos ideias românticos por meio dos quais utiliza uma linguagem adornada para dar forma aos devaneios e impulsos do eu-lírico.

Neste quarteto: “Pelo collo se espalha a cabelleira /escura e o rosto virgem resplandece/num halo de pureza que parece/ uns ares lhe imprimir de linda freira”, a figura feminina, que dorme é pura e angelical. Sendo que, no

próximo quarteto, o eu-lírico retoma os elementos românticos de aspiração e desejo sobre a mulher, dentro de uma visão de subserviência, pois a deseja, mas não pode tocá-la, sendo ela ideal e perfeita, como vemos no verso: “_ essa boca ideal que tanto aspiro!”. Assim como no romantismo, José de Mesquita faz da mulher um ideal de beleza e de desejo, detendo sobre ela sua condição de vassalagem amorosa.

O poema, de uma forma geral, é todo construído sobre uma adjetivação para dar à figura feminina uma condição contemplativa, de adoração por parte do eu-lírico. Ainda na décima segunda estrofe:

Há como o despertar de uma alvorada quando elle se ergue e vêm se, de repente, as graças do seu corpo adolescente

sob a camisa curta e decotada (MESQUITA, 1919, p. 22).

O poeta compara a mulher à natureza, como no verso: “há como o despertar de uma alvorada”, o que nos remete que o despertar da amada, assim como o dia, chega vigoroso, brilhante, iluminando e aquecendo a terra. De certa forma, o eu-lírico, ao aproximar a mulher da natureza, retira da segunda o substrato necessário para a composição do objeto de seu desejo: a mulher. Portanto, a natureza não é apenas um pano de fundo, mas é dela que se emanam os elementos que farão parte da produção poética.

Ainda nessa mesma linha de representação idealizada da mulher, podemos destacar o poema Ideal, de Mesquita.

Tu que, sem conhecer, amo desta maneira, creatura ideal a quem minha alma inteira e este meu coração inteiro dediquei,

tu que no caos horrendo em que me debatia foste como o clarão benéfico do dia,

Tu que eu antes de ver eternamente amei, cujas feições minha alma ardente de poeta de ha muito em tudo via e numa ânsia secreta, buscava em tudo achar, em tudo descobrir,

buscando-te, assim como o viajor procura entre as trevas da noite uma estrella a luzir, tu para quem entôo os rythmos da Lyra,

em quem minh’alma encontra o sonho bom que a inspira e por quem, muito tempo, encantado vivi,

grande e excelso Ideal, perfeito e inattingido, derradeira illusão deste desilludido,

miragem de ouro e azul que, ao longe, me sorri, ouve — doce visão querida de minha alma, palinuro do amor, sacerdotisa calma

este culto interior, meu sonho e minha luz, desce do egrégio altar onde a esplender te vejo, inattingivel, pura e serena ao desejo....

Estás alto demais p’ra o pezo desta cruz.

Deusa ou mulher, qualquer que seja a tua essência, ou te aureole, a radiar, a viva refulgência

dum templo; ou vibre em ti a alma humana infeliz, meu suave Ideal, meu desejo infinito,

ouve a voz que te chama, ouve o clamor afflicto, a ardente aspiração de quem sempre te quis! Si vieres, terás uma alma grande e pura para te celebrar a glória e a formosura, Viverei só por ti e para o nosso amor....

Mas, não vens.... Ideal.... Chanaan desejada.... Nuvem que se desfaz em vindo a madrugada.... Meu supremo Prazer.... Minha infinita Dor.... (MESQUITA, 1919, p. 31-32).

Em Ideal, vemos nitidamente no primeiro verso: “Tu que, sem conhecer, amo dessa maneira”, o ideal medieval de vassalagem amorosa, ou seja, o homem, nesse caso, o eu-lírico torna-se o vassalo da mulher, objeto de seu desejo, sendo ela um objeto ideal, perfeito e sublime. A mulher surge no poema como um sujeito divinal, que, no meio do caos em que se insere o eu-lírico, o retira dessa obscuridade trazendo-o a luz.

O eu-lírico também revela sua errância em busca dessa mulher. Não poderia ser outra, não há outra que se iguale, ela é única, a qual, na reiteração poemática, expressa que o retirou da escuridão, como vemos nos versos: “Tu por quem, muito tempo, andei na cata obscura/ buscando-te, assim como o viajor procura/ entre as trevas da noite uma estrella a luz”. Ela não o retira

simplesmente da escuridão, mas ela própria é um fecho de luz, aludido na imagem da estrela que reluz durante à noite e a ilumina.

Nesse ideal, ainda retomando os elementos da vassalagem amorosa do medievalismo, a mulher, objeto do desejo do eu-lírico, é perfeita, portanto, inatingível para esse sujeito, restando apenas a adoração, idealização e sublimação dessa mulher. O campo ocupado por essa mulher a eleva à condição de deusa, não de simples mortal.

Ainda na tópica amorosa, no que tange à descrição da figura feminina, temos a idealização e a divinização da mulher. Como exemplificação do mote de idealização da figura feminina, destacamos os seguintes excertos.

Eu imagino uma mulher

que eu hei de amar e me ha de amar, e que eu, esteja onde estiver,

a todo tempo, hei de encontrar. À força já de imaginá-la sinto-a real diante de mim: vejo-lhe o riso, ouço-lhe a falla.... Já se viu caso extranho assim? (MESQUITA, 1919, p. 11).

O poema demonstra a mulher como objeto de desejo do eu-lírico, sublime e inalcançável “a força já de imaginá-la/sinto-a real diante de mim”, tornando-se o mote de sua existência. Idealiza-se, não somente a mulher, mas o próprio amor.

Para além das idealizações físicas de embelezamento da figura feminina, José de Mesquita também traz à tona figuras femininas que emblemaram a história de Mato Grosso, demonstrando-nas com bravura e coragem. Ao fazer isso, temos, portanto, que José de Mesquita situa-se, também, na linha tênue entre história e ficção, a partir do momento em que sua tessitura poemática retira da história o substrato temático para suas criações. A exemplo, temos o poema dedicado à Rainha Negra Teresa de Benguela32, que comandou com

32 Teresa de Benguela era esposa de José Piolho, rainha no Congo, trazida para Vila Bela da Santíssima Trindade, no

sagacidade o Quilombo Quariterê em Vila Bela da Ss. Trindade, antiga capital de Mato Grosso.

La por onde o Galera as águas vai fluindo, Foi de Quariteré o qilombo afamado,

Em que a negra Teresa o seu poder infindo Exercera, em cruel e trágico reinado.

No mais ermo da matta ergue o seu throno lindo A rainha que traz a seu sceptro curvado

O quilombo, a que vai nova gente affluindo, Na ânsia de livre ser, longe do jugo odiado. Mas já de Villa Bela a tropa numerosa Na pugna árdua e feroz as leva de ia mais E, presos, se lhes reabre a vida dolorosa... Não Teresa, porém, que, esmagada e ferida, Prefere a morte ao jugo e mostra, intemerosa, Que é a liberdade só que dá valor à vida. (MESQUITA, 1930, p. 320)

O poema constitui uma narrativa épica da heroica atuação de Tereza de Benguela, desde os tempos aureos e afamados do Quilombo até sua tomada em 1795, quando a Rainha prefere a morte a ser privada de liberdade, pois, conforme dita a história, ela foi morta em praça pública como forma de educação para os demais escravos, no intuito de fuga, a represália seria parecida. O poema é uma homenagem à Teresa de Benguela, que resistiu até a morte lutando pela liberdade.

O que percebemos da poética de José de Mesquita, no que tange à representação feminina, é a costura de diferentes perspectivas: mulher casta e santa, mulher sensualizada e a representação emblemática de algumas figuras femininas.

Nas palavras de Magalhães (2001, p.57), “as poesias de cunho sentimental de José de Mesquita são importantes porque nos atestam a

de José Piolho, o Quilombo passou a ser liderado pela Rainha. Sob sua liderança, o Quilombo resistiu por mais de quatro décadas, de 1752 a 1795. Dada a importância da figura negra de Teresa de Benguela, em 25 de julho, por meio da Lei 12987, é instituído o Dia Teresa de Benguela e o Dia da Mulher Negra.

convivência dos mais diversos traços estilísticos epocais na literatura produzida em Mato Grosso naquela época”. Diferentemente de Dom Aquino, no que concerne à representação da mulher, que, para ele, só é feita com a figura de Maria e de sua mãe, haja vista ser ele representante do clero. Já José de Mesquita consegue ir além e apresentar um dos elementos ícones do romantismo: a idealização da figura feminina como podemos ver no poema Neve

e fogo.

A neve é menos alva que teu seio, Têm mais ouro que sol os teus cabelos, Por isso fico deslumbrado ao vê-los, De frios tremo e em flamas me incendeio. De que essência és tu feita? Donde veio, de que estranho país de sole gelos, essa carne que toda freme em zelos e esse torpor que nos teus olhos leio? Eu que cansei de amar, nesta agonia Em que vivi, de amor sempre trocando, Atrás de uma ilusão que me fugia, Sou forçado a te amar, meu doce bem, Que neve e fogo, fazes que te amando, Trema de amor e arda de amar também... (MESQUITA, 1957-8, p. 69).

Nesse poema, revela-se um eu-lírico apaixonado que contempla a mulher amada, que a idealiza e que, para isso, lança mão de metáforas para descrever o amor e a figura de seu desejo. O poema assume uma feição exaltativa e contemplativa.

No tocante à mitificação das figuras emblemáticas, já destacada em Teresa de Benguela, também se dá com os bandeirantes, tal qual como fez Dom Aquino, ao distanciar essas figuras da atuação factual que os engloba. No poema Legenda, de Mesquita, vemos a visão benemérita da atuação dos Bandeirantes para a colonização de Mato Grosso.

rompendo a selva espessa, a solidão bravia,

valle aberto em rechans, serra ouriçada em cristas, rios e igarapés, sem descansar um dia.

Vinham de muito alem, em busca de conquistas de índios e do ouro bom que nesta terra havia e, destemido, o bando heróico de paulistas, palmo a palmo, o sertão perigoso corria.... Traz dos coxiponés e do ouro e dos diamantes, depois de muito esforço e lida foram dar

a Cuyabá, e, ali, os bravos bandeirantes ergueram o arraial, entre as verdes collinas, sendo governador o Conde de Assumar, capitão general de São Paulo e das Minas. (MESQUITA, 1930, p. 89).

Na segunda quadra, vemos a pujança mítica da força e bravura dos bandeirantes, que, de forma destemida e heroica, desbravaram o sertão perigoso, povoando a região onde se encontra a cidade de Cuiabá.

Na segunda parte – Da natureza – destacamos o poema Musa

consolatrix, em que nos é apresentada a visão panteísta de José de Mesquita.

Contempla esta alameda ensombrada onde as aves trinam a esvoaçar entre os floridos ramos;

ouve-lhes o gorjear, os cânticos suaves....

A selva é como um templo ande nos prosternamos. Deus falla pela voz do vento, em phrases graves.... Attentos, a escutal-O, aqui nos concentramos.... Ha hymnarios de amor por entre as verdes naves, pipilos de prazer e harmoniosos reclamos.

Ouve o rumor que faz a água a correr sonora, a casquinar veloz, pela campina a fora;

sente o olor virginal dos lírios mal abertos.... Natureza! Só tu sabes lenir as dores.

e fazer vicejar todo um moital de flores

nos sombrios jardins dos corações desertos.... (MESQUITA, 1930, p. 89).

Primeiramente, cumpre-nos destacar que, em Dom Aquino, há um tom épico em suas construções poemáticas, por sua vez José de Mesquita possui

um tom panteísta, em que Deus está e fala por e na natureza. Tal questão pode ser demonstrada no verso “Deus falla pela voz do vento, em phrases graves/Attentos, a escutai-O, aqui nos concentramos [...]”. José de Mesquita já na primeira estrofe destaca o tom de prostração com que o homem tem de ter diante da natureza.

A natureza em seu poema Musa Consolatrix, pelo próprio título, é a força inspiradora do homem e, para além da força inspiradora, consola o próprio homem diante de suas dores e angústias, conforme demonstrado nos versos: “Natureza! Só tu sabes lenir as dores/e fazer vicejar todo um moital de flores/nos sombrios jardins dos corações desertos”.

A obra Terra dos berços encontra-se dividida em: Mato Grosso heroico, Mato Grosso pituresco e Mato Grosso evocativo. No prefácio da obra Terra dos

berços, de 1927, Dom Aquino destaca que a produção poética de José de

Mesquita encontra-se filiada ao programa patriótico, o que nos serve, perfeitamente, para pensar as produções escolhidas para análise nesse