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Capítulo III – Pedro Passos Coelho

4. Pelo mundo do entretenimento

A descontração dos líderes políticos em Portugal, no que se refere à participação em programas de cariz mais relaxado e informal, ainda é pouco habitual. No entanto, com a evolução dos meios de comunicação e, consequentemente, da lógica mediática, a realidade tem vindo a transformar-se. Os políticos sabem que é importante mostrar o quanto são “populares” e nada melhor do que marcar presença em programas de entretenimento especialmente vocacionados para os mais jovens. Neste tipo de programas a linguagem habitualmente utilizada é mais informal, mais descontraída, típica da conversa de café. O espaço ideal para os candidatos mostrarem o seu lado mais afável e conquistar outro tipo de eleitorado. Iremos analisar precisamente a presença de Passos Coelho nos programas de entretenimento em que participou e a divulgação da sua vida privada no mundo cor-de-rosa. Contrariamente a José Sócrates, o líder “laranja” expôs ao longo da sua candidatura a sua vida privada. Usou os programas de entretenimento para se identificar com o povo, ao mostrar-se um líder comum, um homem igual a todos os outros. Entrando em tom de brincadeira nas intervenções de resposta a Ricardo Araújo Pereira em Esmiuça os Sufrágios,

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Passos Coelho revelou-se um líder com muito sentido de humor. Apresentou um estilo muito descontraído, muita simpatia e muita facilidade em entrar nas brincadeiras do apresentador. Em alguns casos aproveitou para dialogar sobre as suas ideias e convicções políticas. Desde cedo Passos Coelho optou por expor e mostrar o seu lado mais afável e descontraído. Verificámos que ao longo da campanha este registo manteve-se como pura estratégia de

marketing. A este respeito, Daniel J.Boorstin acredita que a política nacional tem-se tornado

numa competição pela imagem, em vez de ser entre os ideais, acrescentando: «a dominação da campanha pela televisão simplesmente dramatiza este facto. Um presidente eficiente deve estar a cada ano mais preocupado com a projeção da sua imagem» (Boorstin, 1992: 249). Apesar de Passos Coelho ter confessado que não presta atenção à sua imagem, isso não se verificou ao longo desta análise. Ele foi sempre um líder muito preocupado em tentar transmitir uma imagem de confiança e de sinceridade. Vimos essa realidade quando analisámos as suas características pessoais ao longo da campanha. O mesmo se verificou antes do início da campanha. A estratégia estava pensada, o palco estava montado, a personagem entrou em cena e ação.

Deu-se início ao espetáculo. A campanha ainda não tinha começado e Passos Coelho já mostrava o seu lado mais afável aos portugueses. Começou com a publicação da sua vida privada na revista Flash e na Vidas. Passos Coelho quis mostrar que não tem nada a esconder e que é um homem de família como qualquer outro, tentando entrar no eleitorado da classe média e média baixa. A Flash revela o lado “apaixonado do casal, num cenário romântico: nos magníficos jardins do Palácio de Marquês de Pombal, em Oeiras”. Um homem determinado, teimoso, honesto e rigoroso mas muito brincalhão, menciona a revista cor-de-rosa, Flash. A constituição da família também é revelada, assim como a convivência entre os seus membros. Os portugueses também ficaram a saber, desde cedo, que Passos Coelho não é um homem de luxos e que não tencionava mudar de residência caso ganhasse as eleições. O homem popular também revelou a sua aptidão para a confeção de farófias, papos de anjo e queijadas. A exposição da vida privada de Passos Coelho aproxima-o da celebridade como atualmente a conhecemos. Por norma gostamos de saber os gostos, as relações e os passatempos dos nossos ídolos. A confiança depositada nas celebridades aumenta à medida que conhecemos melhor o seu lado privado, mesmo que aparentemente. O mesmo se verifica na estratégia usada pelo líder “laranja”. O público tende a identificar-se mais com ele porque acredita que o conhece na sua privacidade.

O espetáculo continuou com a participação de Passos Coelho no programa 5 para a meia-

noite. Com um discurso muito informal, o líder do PSD assumiu novamente uma postura muito

descontraída. Não precisa que o pressionem quanto à exposição a sua vida privada porque ele próprio toma a iniciativa. Fala acerca da sua atual mulher, da sua infância e das suas características pessoais. É curioso que Passos Coelho interrompe Nilton (o apresentador) e pergunta se pode voltar ao tópico de Angola e das suas lembranças (Passos Coelho passou uma

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parte da infância em África). Sempre num tom muito brincalhão e com uma linguagem muito simples e corrente, Passos Coelho aproveitou a “conversa de café” para, mais uma vez, mostrar a simplicidade do seu carácter. Ao longo do programa aproveitou para propagandear a sua candidatura e criticar o Governo e o seu adversário direto, sempre em tom de brincadeira e com a utilização de uma linguagem muito simples e “popular”. Tenta transmitir de igual forma uma imagem confiante e acima de tudo sincera. Esclarece que não tem nada a esconder e que apenas quer, juntamente com os portugueses, mudar o país. As qualidades, o charme o glamour, assim como fazem as celebridades, é realçado por Passos Coelho. O líder do PSD já faz parte da nova geração de político, os políticos que vivem da imagem que transmitem ao eleitorado, tornando-se muitas vezes prisioneiros dessa mesma imagem. As ideias, os argumentos e toda a linguagem dita tradicional da política têm vindo a ser esquecidas e nota-se cada vez mais a preocupação com a imagem do candidato político.

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