• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II CONTEXTUALIZANDO O CAMPO DE PESQUISA: caracterização do

2.1 Escalas, extensão e localização

2.5.3 Pelos caminhos das pedras

A região do Cariri paraibano se caracteriza ainda pelas paisagens rochosas, situadas em meio à mata de pequeno porte, denominada caatinga arbustiva. O Lajedo do Pai

Mateus, situado nessa região, é uma elevação rochosa de 1km², no formato de um "prato de sopa" invertido, sobre a qual estão dispostos cerca de 100 imensos blocos arredondados de granito, formando uma das paisagens mais inusitadas e belas do planeta.

Muitos lugares do mundo são apontados como sendo "místicos", "cheios de energia", etc. O Lajedo do Pai Mateus, com sua beleza única e pelo fato de ter funcionado como "centro cerimonial ou local sagrado" para os povos indígenas pré-históricos que habitaram a região por pelo menos 10.000 anos, é um desses locais. Sua "energia positiva" não passa despercebida pelos visitantes com alguma sensibilidade ou "abertos" para esse tipo de experiência mística. Muitos são os relatos de visitantes que se sentiram "reenergizados" pela simples contemplação de um pôr-do-sol em Pai Mateus.

Figura XII. Lajedo de Pai Mateus, Cabaceiras – PB

Fonte: Portal Visagem

2.6. Estrutura Fundiária

A estrutura fundiária do Cariri Oriental ainda é extremamente concentrada. Segundo informações do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Cariri Oriental, com informações colhidas no Censo Agropecuário de 2006, o recenseamento revelou um grande número de proprietários de estabelecimentos com área reduzida, em contraponto a um pequeno número de propriedades ocupando a maior proporção da área total dos territórios. 3.898 estabelecimentos rurais ocupavam uma área de 355.050 hectares no Cariri Oriental. 31,9% destes estabelecimentos, com até 10 hectares, ocupavam uma área equivalente a 1,4% da área total do território. No outro extremo, os imóveis com mais de duzentos hectares representavam 10,1 % dos estabelecimentos, distribuídos em 68,2 % da área total do Cariri Oriental.

A realidade da concentração fundiária no Território do Cariri Oriental permanece como uma constante estatística que se vincula a um eixo de manutenção de um modelo socioeconômico vigente, realidade que, via de regra, se instalou desde o processo de colonização, sendo um dos fatores que dificultam a implantação de um outro modelo sustentável e solidário de economia e desenvolvimento (PTDRS Cariri Oriental, 2010, p.36).

A maioria dos estabelecimentos familiares está, portanto, limitada por áreas pequenas. Supõe-se que esta realidade seja um dos fatores que contribuam com a existência de pelo menos duas das características preocupantes do Cariri Oriental, já apresentadas anteriormente. A primeira delas é o fato da pequena extensão das terras não permitir o aumento do rebanho ou do plantio para níveis suficientes, que permitam a capitalização dos pequenos agricultores, o que leva à produção de autoconsumo. Muitos produtores, porém, na tentativa de obter uma renda satisfatória acabam ultrapassando a capacidade de uso da terra permitido pelo meio, o que leva aos processos desertificação.

A aceleração no processo de intervenção fundiária tem acontecido. Dois municípios do Cariri Oriental possuem os maiores assentamentos rurais, resultados das ações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA na Paraíba. No território do Cariri Oriental foi criado, no ano de 2000, o Assentamento Serra do Monte, localizado no município de Cabaceiras. Lá foram registradas em 2006, 101 famílias residindo e produzindo no local. No município de Barra de São Miguel existem 186 famílias residindo em 03 assentamentos rurais: Fazenda Almas, Assentamento Melancia e Assentamento

Pocinhos. Além do INCRA, o Instituto de Terras e Planejamento Agrícola da Paraíba – INTERPA realiza ações de intervenção fundiária e apoiou a fundação de assentamentos rurais em Boa Vista, Boqueirão, Gurjão, São João do Cariri, além de Soledade, que possui o maior número de assentamentos fundados e acompanhados a partir de ações fundiárias intermediadas pelo INTERPA. O maior deles foi fundado neste último município no ano de 2003. Estamos falando do Assentamento Antonio Avelino/Santa Tereza, onde residem 44 famílias21.

Percebemos, portanto, na contextualização até aqui realizada, que o Cariri Oriental recebeu uma nova configuração em sua extensão territorial, diferenciada da divisão microrregional. A mudança, porém, não demonstrou até então, uma transformação no quadro socioeconômico do território estudado. Percebe-se claramente que a ruralidade é uma característica predominante nos pequenos municípios estudados. Esta ruralidade, porém, não é capaz de por si só, possibilitar condições favoráveis de vida à população rural local. Desta forma, as necessidades desta população são supridas a partir de Repasses Federais advindos em grande parte da aposentadoria rural e do Programa Bolsa Família, em complemento à produção de autoconsumo, característica do Cariri Oriental. Embora com potencial produtivo, principalmente no que diz respeito à bacia leiteira local, os limites climáticos e ambientais dificultam o desenvolvimento desta produção. A falta de políticas públicas estruturantes e a ineficiência das políticas já existentes são na verdade, a principal causa da não superação destes limites revelados mais claramente, em virtude da Seca presenciada durante a realização desta pesquisa.

CAPÍTULO III

DESVENDANDO AS ENGRENAGENS DO TERRITÓRIO RURAL DO CARIRI ORIENTAL: conflitos, conquistas e articulações social e institucional

No rastro da crise econômica, da queda do regime militar e do processo de redemocratização do Brasil, a agricultura familiar ascendeu e passou a figurar como segmento socialmente reconhecido no país. Esta categoria tornou-se desde então, alvo de políticas públicas específicas, até então inéditas. Foi este o período onde se consolidou a ideia de que o envolvimento de agentes da sociedade civil organizada influencia positivamente a boa aplicação de recursos públicos, e onde nasceram os primeiros instrumentos de participação e gestão social: os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável.

Mas foi na primeira década do novo século, mais especificamente a partir de 2003, com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, sob o comando do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que se iniciou um processo de transição para uma política de desenvolvimento rural baseada na abordagem territorial. Mantendo a proposta de participação social, e da valorização das capacidades locais como forma de promover o desenvolvimento, poucas foram as mudanças do discurso se comparado o desenvolvimento territorial e o desenvolvimento local, tendo em vista as exposições feitas no capítulo I. A diferença mora no fato de o município não ser a unidade de referência desta nova dinâmica e sim as iniciativas intermunicipais. Desta forma, passaram a coexistir com os CMDRS‟s os Fóruns de Desenvolvimento Territorial Sustentável dos Territórios Rurais, que pautaram, a partir de então, projetos direcionados a uma determinada quantidade de municípios integrantes desta nova delimitação. Nosso último objetivo, diz respeito à propagação da ideia de participação nas políticas públicas. Esta discussão descortina um campo fértil sobre as lógicas da ação, as características dos discursos e o poder dos atores implicados na constituição de novas instâncias de tomada de decisão. A essência da dinâmica territorial consiste em um envolvimento pactuado dos atores locais na elaboração e funcionamento dos processos decisórios.

Foi perceptível durante observação em reuniões e plenárias de instituições governamentais e não governamentais, envolvendo questões rurais, uma propagação do termo “território” nos discursos de atores sociais destas instituições e alguns poucos gestores. A criação dos colegiados ou fóruns territoriais - que agrupar-se-iam a partir de então à outras formas de participação pactuada a exemplo dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável, a Criação da Delegacia Federal do Desenvolvimento Agrário na Paraíba, a contratação de articuladores territoriais com recursos do MDA,

foram passos iniciais que demostraram que uma nova política, ou ao menos uma nova denominação para as políticas de estímulo ao desenvolvimento rural estava aos poucos se consolidando no Estado da Paraíba e se reunindo a outros programas – a exemplo do PRONAF - que até então já existiam, voltados para esse fim.

Além disso, as primeiras impressões relatadas pelos atores envolvidos neste processo ano após ano da implantação da política territorial aguçam a curiosidade, o espírito questionador do pesquisador. De um lado, os agentes articuladores do governo federal, contratados na Paraíba, mantem o discurso de que os territórios rurais se desenvolveram, de que a política possibilitou a melhoria da qualidade de vida nos territórios. Através do uso de termos como “Capital Social”, “Governança”, “Empoderamento” justificava-se o quão promissora seria esta nova forma de promover desenvolvimento, a partir da articulação de atores sociais. Ao mesmo tempo, alguns membros do próprio Fórum, representantes de Sindicatos, Associações e Cooperativas tecem suas críticas, argumentam que os recursos são escassos, insuficientes, e em alguns casos chegam a admitir que a política, com poucos anos de implementação, já se encaminha para o desfalecimento.

O processo funciona como uma pirâmide. No topo se situam os agentes do Governo Federal, no segundo escalão os membros do fórum representantes da sociedade civil organizada e de instituições governamentais, e na base desta pirâmide, se situam ainda os agricultores, que são sócios de sindicatos, associações de moradores e produtores rurais, e desconhecem que agora seu município não está vinculado somente a uma comunidade rural ou município, mas também a um território rural. Estes produtores são os mesmos que recebem em muitos casos algum benefício, ou equipamento adquirido via Fórum Territorial, mas não conseguem dizer a origem dos recursos. Por último é possível perceber que os relatos são diferenciados entre os membros de cada território, pois cada um dos quinze territórios existentes hoje na Paraíba recebem apoio e recursos de forma completamente desigual.

Em face desta nova realidade, surge a necessidade de observação e análise, dos desafios colocados, do andamento dos projetos e dos conflitos gerados a partir da consolidação desta nova dinâmica nos Fóruns de Desenvolvimento Territorial Sustentável da Paraíba. No caso desta dissertação, em específico, o Fórum do Cariri Oriental. Sendo assim, este capítulo traz a dimensão político institucional do Território estudado, sua

composição, coordenação, câmaras temáticas dentre outras instâncias, bem como a articulação dos atores e o papel das instituições na dinâmica territorial do Cariri Oriental. Numa perspectiva centrada nos atores, e com base em entrevistas e participação em plenárias do território, o objetivo é detectar por meio de que ações eles conduzem suas estratégias, e que recursos são mobilizados para esse fim. Chegamos, portanto, no ponto crucial desta dissertação, nos deparando com a realidade que complementa ou demostra as disparidades em relação aos textos acadêmicos, às formulações de organizações não governamentais, movimentos sociais, e documentos de governo, no que diz respeito às expectativas de que os fóruns funcionem como promotores do desenvolvimento rural. Nesta nota introdutória cabe enfatizar que as páginas seguintes demonstram que esta é uma tarefa muito mais complexa do que esperam os entusiastas da Política Territorial de Desenvolvimento Rural do Brasil.

3.1.Dos Conselhos aos Fóruns e Colegiados: a evolução das Políticas Públicas de

Documentos relacionados