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DAS PENAS APLICADAS NO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO.

2.4. PENA DE MULTA.

A pena de multa, prevista no art. 49 e seguintes do Código Penal, sendo a última das modalidades de penas previstas em seu texto atualmente86, há muito tempo é aplicada nas relações conflituosas em todo o mundo. Seu surgimento remonta à antiguidade, tendo sido adotada em Roma, na Grécia, inclusive existem passagens bíblicas que fazem referência à sua aplicação, ainda que fosse para fins de compensação do dano causado, como explica Cezar Bittencourt:

Na Bíblia Sagrada – e, mais precisamente, na Lei de Moisés (Êxodo, XXI e XXII; e Levítico, XXIV) -, aparecem preceitos e normas, as chamadas “Leis Judiciais”, que deixam vislumbrar, sem dúvida, a pena pecuniária. É evidente que tais cominações ou sanções tinham caráter indenizatório, de composição das perdas e danos, nos moldes da reparação civil dos nossos dias.87

Na antiguidade a multa foi muito utilizada, reaparecendo na Idade Média e posteriormente foi sendo substituída de forma gradual pelo sistema de penas corporais e capitais, e estas, por sua vez, foram substituídas pelas penas privativas de liberdade, em meados do séc. XVII.

A multa calculada em dias surgiu em nosso ordenamento jurídico, no Código Criminal do Império Brasileiro de 1830. Após um certo período sem que houvesse previsão legal, esta pena retorna ao direito positivo brasileiro durante a reforma da parte geral do Código Penal, através da Lei n° 7.209/8488, uma vez que no texto de 1940 era utilizado o critério da cominação abstrata da multa, onde existia um valor mínimo e máximo, no qual o juiz se baseava para, dependendo das condições econômicas do condenado, aplicar a pena de multa.89

86A pena de multa está prevista no inciso III do art. 32 do Código Penal e na alínea c do inciso

XLVI do art. 5° da Constituição Federal de 1988.

87BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado, pp. 641-642.

88 Sobre o tema, assevera Luiz Regis Prado: “O sistema de dias-multa é, originariamente, uma

construção brasileira e não escandinava, como, aliás, acabou por ficar conhecido em todo o mundo. Assim, o Código Criminal do Império do Brasil de 1830, em seu artigo 55, formulava pela vez primeira o referido sistema, ainda que de forma rudimentar.” PRADO, Luiz Regis. Op. cit. pp. 627.

Nesse mesmo sentido, também aduz José Antonio Paganella Boschi: “Na sua feição atual (em dias), a multa surgiu, pioneiramente, no Código Criminal do Império Brasileiro de 1830 (art. 55)e, depois de ter desaparecido por um bom tempo, retornou ao direito positivo brasileiro, com a Reforma da Parte Geral do Código Penal por meio da Lei 7.209/84.” BOSCHI, José Antonio Paganella. Das penas e seus critérios de aplicação. 4.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2006, pp. 350.

O caput do art. 49 do Código Penal diz que a pena de multa consiste no pagamento ao Fundo Penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Como já foi mencionado, nosso Código Penal, após a reforma sofrida na Parte Geral em 1984, voltou a utilizar o sistema de dias- multa. Acerca do retorno deste para a lei penal, esclarece Luiz Regis Prado:

Finalmente, depois de longas e inumeráveis vicissitudes, o legislador pátrio houve por bem adotar para a multa penal o moderno sistema, originariamente nacional, de dia-multa, no texto penal fundamental. Não paira dúvida de que com essa postura acabou por se colocar em sintonia com as diretivas da ciência penal hodierna, nesse particular aspecto.90

Na segunda parte do caput do art. 49 o legislador estipula o tempo mínimo e máximo de dias-multa, sendo aquele de 10 e este de 360 dias, os quais deverão ser observados pelo magistrado na cominação da pena. E no §1° é determinada a forma de calcular o valor de 1 dia-multa. Assim sendo, a aplicação desta pena passa por duas fases. Na primeira, o magistrado, verificando o grau de culpabilidade do réu, estabelecerá a quantidade de dias- multa a ser paga. Chegando a esse resultado, estipulará, agora, o valor de 1 dia-multa, verificando a situação econômica do réu. Obtendo o resultado, se multiplicará a quantidade de dias-multa pelo valor pecuniário referente a 1 dia- multa. O resultado consistirá na pena a ser cumprida pelo condenado.

Diz o art. 50 do Código Penal que a multa deve ser paga dentro de 10 dias depois de transitada em julgado a sentença. O juiz pode permitir que esta seja paga em parcelas, observadas as circunstâncias e desde que haja requerimento do condenado. A cobrança também pode ser efetuada mediante desconto no vencimento ou salário do condenado, quando a pena for aplicada isoladamente; ou quando for aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos; ou ainda quando for concedida a suspensão condicional da pena. Saliente-se que este desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família.

O art. 51 trata da execução da pena de multa. Conforme visto no parágrafo anterior, após a sentença, o condenado tem 10 dias para efetuar o pagamento. Não o fazendo, não é mais possível a conversão da pena de multa

em pena privativa de liberdade, tal como estava previsto nesse mesmo artigo antes da Lei 9.268/1996. Esta modificou o caput do referido artigo, cuja nova redação diz o seguinte: “Transitada em julgado à sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.” Esta redação gerou e ainda gera uma grande divergência doutrinária concernente à titularidade para executar a pena de multa não paga nos dez dias pelo condenado devedor solvente.

Diante desta celeuma, surgiram duas correntes doutrinárias. Uma defende que a competência para execução da pena de multa seria dos Procuradores da Fazenda Pública, em ação de execução fiscal com tramitação na Vara da Fazenda Pública, uma vez que no novo texto do artigo, o legislador considerou a multa como dívida de valor e que deveriam ser aplicadas as normas legais referentes às dívidas da Fazenda Pública, constantes na Lei n° 6.830/1980. Contudo, outra corrente doutrinária se posiciona pela manutenção do Ministério Público como titular legítimo para executar a pena de multa não paga dentro de dez dias após o trânsito em julgado da sentença. Argumenta-se que, por se tratar de uma sanção penal, mesmo que seja de caráter pecuniário, cabe ao Parquet, como titular da ação penal, proceder à sua execução, em não fazendo o condenado no momento oportuno. Além disso, o procedimento para a execução desta pena previsto nos arts. 164 a 170 da Lei de Execução Penal não foi revogado pelo legislador no momento em que houve a alteração do art. 51 do Código Penal pela Lei n° 9.268/1996.

CAPÍTULO III