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PENALIDADES APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS

RESPONSABILIDADE CRIMINAL AMBIENTAL: COMBATE AO DANO AMBIENTAL E

CRIMINAL DA PESSOA JURÍDICA, POR DANO AO MEIO AMBIENTE

7. PENALIDADES APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS

Atento à importância da manutenção do Meio Ambiente, o legislador criou a Lei n. 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao Meio Ambiente (classificado como bem de uso comum do povo e considerado constitucionalmente como um direito fundamental).

Cabe destacar que as penalidades que podem ser aplicadas às pessoas jurídicas têm um panorama diferenciado das pessoas físicas. São cabíveis a aplicação de multa, penas restritivas de direitos, prestação de serviço à comunidade e extinção da empresa / liquidação forçada (após o trânsito em julgado). Descabe por razões lógicas a aplicação de pena privativa de liberdade com relação às pessoas jurídicas.

O instituto da desconsideração da pessoa jurídica também pode ser utilizado, de forma que seja individualizada a responsabilidade criminal dos diretores, empregados, agentes do conselho de administração e demais cargos de gerência (com poder decisório da pessoa jurídica), cuja responsabilidade criminal é distinta.

A aplicação da penalidade de multa está prevista no art. 21, I da Lei 9.605/98, e os critérios para fixação do valor estão regulamentados no Código Penal (art.32, III c/c artigos 49 e 50). Esta penalidade está vinculada diretamente à situação econômico/financeira do infrator.

O juiz, ao aplicar eventual multa deve, primeiramente, fixar a quantidade de dias-multa, dentro do limite estabelecido em lei. Neste momento, o magistrado analisará a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social do acusado, os motivos, circunstâncias e consequências do delito.

Posteriormente deve o julgador fixar o valor de cada dia-multa, quando valorará as condições econômico-financeiras do sentenciado, nos termos do art. 60 do Código Penal, evitando a aplicação de penas exorbitantes (para os mais pobres) ou irrisórias (para os ricos).

Em situações excepcionais, caso o julgador aplique o valor do dia-multa ao máximo e, mesmo assim, em virtude da abastada situação financeira do sentenciado a multa não for suficiente para puni-lo adequadamente, poderá elevá-lo ao triplo (art. 60, §1 do Código Penal), adequando a multa ao binômio (fato x situação econômica do agente).

Uma vez detalhada a base legal e os critérios de fixação da pena de multa, passa-se a descrever a modalidade de pena restritiva de direitos, legalmente prevista no art. 21, II c/c 22 da Lei n. 9.605/98.

De forma complementar, a suspensão parcial ou total de atividades poderá aplicada pelo julgador quando as empresas não estiverem obedecendo as disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do Meio Ambiente.

Vale destacar ainda que, para que haja a responsabilidade penal da pessoa jurídica é necessário que a infração penal seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado. Da mesma forma, a infração deve ser cometida no interesse ou benefício da entidade.

Na dosimetria das penas, o julgador deve levar em consideração a gravidade do fato (suas consequências para a saude pública e o Meio Ambiente); os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação ambiental; a situação econômica do infrator (quando aplicar pena de multa).

Cabe ressalvar ainda que a proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos, nos termos do art. 22 § 3° da Lei 9.605/98. A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.

Faz-se importante destacar que a extinção coercitiva das atividades da Pessoa Jurídica não extingue a punibilidade pela prática dos crimes ambientais. Outro entendimento permitiria que as empresas se escusassem do cumprimento das penas alegando a sua mera extinção. Entretanto, a aplicação das demais penas suspende a possibilidade de extinção da Pessoa Jurídica.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foram abordados aspectos práticos e teóricos acerca do instituto da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica com relação aos crimes ambientais. Discorreu-se sobre as temáticas surgidas no direito pátrio, após o advento da Constituição Federal de 1988.

Foram detalhadas ainda as questões controvertidas sobre o instituto, com base no que há de mais recente na doutrina.

De início formam descritos os princípios de direito ambiental relacionados ao tema proposto, com ênfase na proteção do Meio Ambiente, na manutenção de um Meio Ambiente saudável e na responsabilização do agente causador do dano, conceituado pela doutrina como poluidor-pagador.

As notícias de direito estrangeiro e a doutrina internacional estudada demonstram que, a possibilidade de responsabilização de pessoas jurídicas, quando diante de um crime ambiental é uma tendência mundial, havendo previsão expressa de tal responsabilização em diversos ordenamentos jurídicos estrangeiros.

Os institutos tratados neste artigo são relacionados a manutenção da vida em nosso planeta, haja vista que, a existência de um Meio Ambiente saudável é uma condição para a continuidade da sobrevivência de toda a nossa sociedade.

Entende-se que a modificação legislativa promovida pela Constituição Federal de 1988 trouxe uma necessária evolução para viabilizar a responsabilização de pessoas jurídicas e seus dirigentes, quando ocorre um dano ao meio ambiente. De igual sorte, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, corroborou este posicionamento do legislador constituinte.

A legislação de direito ambiental impõe, aos representantes legais de pessoas jurídicas o dever de evitar que ocorra um dano ao Meio Ambiente, em virtude da atividade empresarial. O direito penal, em contrapartida, se preocupa com a tutela de condutas que possam causar perigo real para a humanidade, promovendo o interesse público.

O dano ambiental e suas consequências ocupam lugar de destaque nas discussões jurídicas. Em diversos países do mundo é possível perceber a intenção e preocupação das nações com o desenvolvimento sustentável e a preservação do Meio Ambiente.

Deve o legislador buscar aprimorar a legislação específica de atribuição de responsabilidade penal quando constatada a prática de um crime ambiental, através de um sistema jurídico de apuração célere e efetiva da autoria da conduta delituosa, possibilitando além do ressarcimento do dano a recomposição total do sistema ambiental.

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JUIZ DAS GARANTIAS: COMPETÊNCIAS E A