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Penhora “on line”: Aplicação Opcional ou Obrigatória pelos Juízes?

No documento Aspectos polêmicos da penhora "on line" (páginas 53-57)

5 MODIFICAÇÕES RELEVANTES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO QUE

6.2 A Relutância do Judiciário quanto à Aplicação da Penhora “on line”

6.2.1 Penhora “on line”: Aplicação Opcional ou Obrigatória pelos Juízes?

24 PUCHTA, Anita Caruso. Penhora de Dinheiro On-Line. Curitiba: Juruá, 2008, págs. 51-53.

25 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por

Por todo o exposto, já é possível ter assentado o entendimento de que a penhora eletrônica de dinheiro evita todos os entraves e custos ínsitos à conversão de outros bens em pecúnia. Desta forma, já apontamos à saciedade como suas principais características, além da já citada celeridade, a efetividade e a economia.

A moderação de gastos ocorre não só por parte dos litigantes, que não mais precisam fazer buscas extenuantes de bens do executado em cartórios, mas também por parte do Estado, cujos agentes investidos do múnus jurisdicional prescindem de promover avaliação de bens, intimações, leilão, etc.

O benefício dessa inovação legislativa se observa ainda maior quando os bens do executado encontram-se em outra comarca, para as quais era imprescindível remeter carta precatória a fim de realizar a penhora. Essa lentidão e anacronismo são superados pela penhora “on line”, pois esta pode ser efetuada independentemente de a conta bancária ser mantida em seção judiciária diversa de onde o processo está tramitando.

Com ciência dos proveitos advindos do instituto em estudo, merece total reproche o posicionamento que mantém a penhora eletrônica de valores em segundo plano, isto é, após esgotados todos os outros meios executivos.

Lastimavelmente, são ainda comuns e atuais decisões retrógradas, que, por reputarem ser facultativa a adesão do magistrado ao sistema BACEN JUD, vilipendiam o texto legal e, acima de tudo, os direitos das partes exeqüentes. Ilustrando o aduzido, segue excertos extraídos de decisão monocrática, em sede de Agravo de Instrumento, ajuizado no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

(...) Alega a recorrente que a penhora por meio eletrônico, de dinheiro em depósito ou aplicação em instituição financeira, confere maior efetividade ao processo executivo, tratando-se de procedimento ágil, econômico e eficaz, e que observa a ordem hierárquica de bens. Assevera que a requisição de informações ao BACEN não está adstrita ao juízo discricionário do magistrado. Evoca o Provimento nº31/06 – CGJ, a regulamentar a utilização e o procedimento do bloqueio eletrônico de valores, em observância ao novo dispositivo processual.

2.Em que pese não ser do interesse da Justiça a suspensão de processo executivo, pela não localização de bens passíveis de penhora, entendo inviável a pretensão da ora agravante.

Não olvidando que o bloqueio de valores on line, agora regulamentado pelo novel dispositivo processual, de fato representa um mecanismo ágil e econômico, certo é que a adesão ao convênio BACEN-JUD constitui mera faculdade do magistrado.

O art. 655-A do Código de Processo Civil apenas possibilita que o julgador efetue a penhora on line de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, não o obriga.

Ademais, cabe ao credor a indicação de bens, e a requisição judicial de informações nesse sentido é admitida apenas em caráter excepcional, mormente porque o magistrado não pode ser transformado em advogado da parte. (Destacou-se) (TJ/RS, Agravo de Instrumento nº

70018690925, Rel. Desembargador Orlando Heemann Júnior, Décima Segunda Câmara Cível, DJ 22/02/2007).

É lamentável a controvérsia que ainda perdura acerca do tema em foco. Qualquer dubiedade sobre a preferência da penhora “on line” implica, por via obliqua, em afronta à Lei Federal e à própria Constituição Federal.

A violação à lei federal ocorre por inobservância direta dos artigos 655 e 655-A, do Código de Processo Civil. Já o maltrato à Carta Magna se dá pelo desdém a princípios tão caros e de valor tão relevante ao nosso ordenamento jurídico.

Como já afirmado em linhas pretéritas, o direito à razoável duração do processo, cujo consectário é o direito à celeridade na prestação jurisdicional, estão consagrados na Carta Política e, há muito, vêm contando com o descrédito por parte de toda a sociedade, pelo fato de inexistir meios ou técnicas que pudessem transformar a letra morta da lei em realidade jurídica.

Ademais a garantia de um prazo razoável no processo, antes de ser contemplado na Constituição Federal por intermédio da Emenda 45/2004, já constava do Pacto de São José da Costa Rica. Qual seria a utilidade de inserir tão utilíssimos direitos no sistema

pátrio se, quando finalmente são implementados meios de realização, tais meios contam com a resistência do Poder Judiciário?

Inadmissível, desse modo, qualquer linha doutrinária ou jurisprudencial que advogue pela inaplicabilidade da penhora eletrônica como meio preferencial na execução civil.

Há de se reconhecer, entretanto, as louváveis decisões, cuja exegese nos conduz a conclusão de que o magistrado entendeu pela obrigatoriedade da penhora de dinheiro em primeiro lugar. Apenas no caso de impossibilidade desta, é que se observarão os demais bens elencados no artigo 655, do CPC. Por oportuno, segue decisão que deve ser utilizada como paradigma para os demais casos de execução por quantia certa:

PENHORA ON LINE. Execução de Título Judicial. Ordem de Preferência Legal. Art. 655 do CPC. Dinheiro em Depósito ou Aplicação Financeira. A penhora,

sempre que possível, deve recair nos bens de primeira classe, e só à falta destes nos da classe imediata. O inciso I do artigo 655 do CPC explicitou a preferência de

dinheiro em depósito ou aplicação em instituição financeira sobre os demais bens penhoráveis do executado, e o artigo 655-A disciplinou a indisponibilidade por meio eletrônico. A penhora on line atende ao disposto no art. 5°, XXXV e LXXVIII da CR/88, por ser meio mais efetivo e ágil para satisfação do direito do credor, além de reduzir os custos do processo para as partes. Desprovimento do recurso. (Destacou- se) (TJ/RJ, Agravo de Instrumento N°. 2009.002.00841, Rel Desembargador Sergio Cavalieri Filho, 13ª Câmara Cível, DJ 27.01.2009).

Nesse sentido é também a ilustração de Fernando Sacco Neto26:

A partir da entrada em vigor da Lei 11.382/2006, acreditamos que os juízes não poderão condicionar o deferimento da penhora de dinheiro em depósito ou em

aplicações financeiras ao eventual insucesso das tentativas do exeqüente de encontrar outros bens penhoráveis. Em outras palavras, não mais precisarão os exeqüentes provar a inexistência de outros bens penhoráveis (vg. veículos junto

ao Detran, imóveis perante os respectivos Cartórios de Registro de Imóveis e bens eventualmente constantes da declaração de imposto de renda obtida perante a Receita Federal) como condição para obter a penhora on-line de dinheiro em

depósito e de aplicações financeiras. (Destacou-se).

É forçoso convir, destarte, que com a leitura conjunta dos artigos 655 e 655-A, do Código de Processo Civil, sucumbiu o caráter excepcional que muitos ainda insistem em empregar à penhora eletrônica de dinheiro, falecendo a idéia de que a utilização do meio eletrônico é mera faculdade do julgador. Ao contrário disto, a imposição da penhora “on line” deve ser encarada como dever do juiz quando requerida pela exeqüente, porquanto é

26 DA SILVA, Leonardo Ferres (Org.). Nova Execução de título extrajudicial: Lei 11.382/2006,

por meio da atuação jurisdicional que se concretiza os valores constitucionais do acesso à justiça e razoável duração do processo.

Por ser bastante ilustrativo e pertinente, mais uma vez merece ser citado o comentário de Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero à Lei Processual Civil, asseverando que a observância da ordem legal de bens é obrigatória aos magistrados27:

Ordem Preferencial. A parte tem direito à indicação de bens à penhora na ordem legal. O direito brasileiro adotou a técnica da execução por graus ou por ordem (art. 655, CPC), haja vista que só se passa a cogitar da penhorabilidade de bens de determinada classe para constrição depois de exaurida a possibilidade de penhora sobre aqueles da classe imediatamente precedente. A parte poderá requerer a substituição se não obedecer à ordem legal (art. 656, I, CPC).

No documento Aspectos polêmicos da penhora "on line" (páginas 53-57)