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A eminente e importante mudança no processo executivo a partir do instituto da penhora online, não se deu no tocante ao fim a que se destina, mas essencialmente às modificações em seus modos procedimentais, mais especificamente na realização da constrição judicial de bens do devedor para compor a penhora. Antes esse procedimento era demorado já que era realizado através do oficial de justiça que se utilizava de Ofício Judicial em forma de papel, e hoje se dar mediante meio eletrônico. (SOUZA, 2014).

Em, 03 de março de 2015, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, aprovou a recomendação para que todos os magistrados utilizassem exclusivamente o sistema Bacen Jud para transmissão de ordens judiciais ao Banco Central do Brasil. Essa recomendação, tem como objetivo reduzir ou eliminar o envio de ofícios de papel, e foi elaborada levando em consideração o fato de que, apesar da larga utilização que já ocorre desse sistema, milhares de ofícios judiciais em papel ainda são encaminhados anualmente a esses órgãos, contrariando os princípios da celeridade e economicidade.

E em relação a realização da constrição judicial de numerários nas contas bancárias e nas aplicações em instituições financeiras dos devedores em processo judicial por meio eletrônico, encontra-se previsto na redação do NCPC no art 854 (correspondente ao art. 655-A no antigo CPC), cujo caput dispõe:

Art. 854 Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação

financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução.

Assim, está previsto que o juiz irá agir a requerimento do exequente, levando a crer que não poderia agir de ofício para determinar a penhora on-line, mas Theodoro Júnior (2016) argumenta ser possível ao magistrado, agir sem referida provocação do exequente.

Ora, se é dado ao oficial de justiça, ao cumprir o mandado de citação, penhora e avaliação, fazer a constrição dos bens que encontrar, inclusive dinheiro, sem que necessariamente haja prévia indicação pelo exequente, não há motivo para que o juiz também não possa fazê-lo. Além disso, trata-se de ato prévio de indisponibilidade dos valores depositados, e não de penhora. (THEODORO JUNIOR, 2016, p. 487). Trata-se nesse caso, de uma importante inovação, já que não constava no art. 655 do CPC de 1973. Desse modo, antes mesmo de proceder a citação do executado ou a sua intimação proceder-se-á a realização do ato de apreensão dos ativos financeiros pela forma descrita no dispositivo. A relevância dessa inovação está no fato de que comumente a citação ou intimação prévia tendia a permitir que o executado esvaziasse suas contas bancárias tornando improdutivo o ato de penhora.

Sobre isso, Rodrigues (2015) também complementa que, esse novo dispositivo criou um ato constritivo prévio à penhora, ao qual denominou de “apreensão de ativos financeiros”, feita na própria conta do executado sem transferência dos valores para a conta do juízo. Em análise, o autor ainda explica que, o que há é apenas um bloqueio do valor apresentado pelo exequente no seu requerimento e que torna real tal quantia indisponível.

Outro aspecto inovado no art. 854 no NCPC foi a determinação da indisponibilidade dos ativos financeiros, propondo no caso, que a comunicação do magistrado é para determinar a disponibilização da quantia no valor da execução e não mais para, primeiro requisitar informações e depois proceder o bloqueio. (RODRIGUES, 2015).

Recebida a determinação, o Banco Central efetuará o bloqueio e comunicará ao juiz requisitante o valor indisponibilizado, especificando o banco onde o numerário ficou constrito. Eventualmente, o valor poderá ser menor do que o requisitado, se o saldo localizado não chegar ao quantum da execução. Em hipótese alguma, porém, se admitirá o bloqueio indiscriminado de contas e de valores superiores ao informado na requisição. (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 488).

Sofre a firmação acima, resta claro o dispositivo quando preceitua: “limitando-se a indisponibilidade ao valor da execução”. Trata-se de evitar a indisponibilização excessiva, que se percebida pelo juízo, deverá de oficio ser cancelada nos limites do excesso nas 24 horas seguintes ao bloqueio. Parte esse entendimento de uma situação costumeira que já evidenciada na jurisprudência, em que, o executado tendo várias contas bloqueadas em seu CPF, supera o valor do crédito exequendo, criando com isso, uma verdadeira situação de enorme prejuízo para o mesmo. (RODRIGUES, 2015).

O § 1 do art. 854, que também não guarda correspondente no CPC de 1973, estabelece que, no prazo de 24 horas a contar da resposta das instituições financeiras, o juiz deverá cancelar a eventual indisponibilidade excessiva. O cancelamento por sua vez, também deverá se dar no prazo de 24 pelas instituições financeiras. Tornados indisponíveis os ativos financeiros do executado, será ele intimado na pessoa de seu advogado ou, não o tendo, pessoalmente, para se manifestar (§3, 854). Apresentada sua defesa, o juiz deverá decidi-la. Rodrigues (2015) explica que a defesa pode ser oferecida após a intimação da indisponibilidade online dos ativos financeiros, e tem sido chamada de “mini impugnação”, prevista nos termos do artigo 854, § 3º, só será admitida a alegação de: i) impenhorabilidade e ii) indisponibilidade excessiva, a qual não deve ser confundida com excesso de execução.

Se rejeitada ou não apresentada a defesa, a indisponibilidade será convertida em penhora, sem necessidade de lavratura de termo, e nesse caso, o juiz determina que a instituição financeira deposite no prazo de 24 horas, o montante que fora bloqueado para conta judicial vinculada ao juízo de execução (§4, 854).

Diante desses procedimentos, Theodoro Júnior (2016) vai afirmar que o então novo código tornou a penhora on-line um ato tanto quanto complexo que o mesmo sinteticamente resume: inicialmente se procede-se à indisponibilidade do numerários e somente após defesa de executado que se efetiva a penhora. Em conclusão, entende o processualista que essa

sistemática se apresenta com duas nítidas funções: primeiro, evitar que o executado se desfaça de suas aplicações financeiras, objetivando evitar a penhora de suas contas correntes; e segundo, permitir também que o executado demonstre, antes de ser realizada a constrição, o excesso da indisponibilizacao ou a impenhorabilidade desses valores.

Desse modo, analisando todas as alterações feitas no Novo Código de Processo Civil, é salutar afirmar que, poucas foram aquelas que de fato promoveram um efeito prático para as pessoas, quanto a redação do art. 854 e seus parágrafos, que como discutido acima, tratam da possibilidade da penhora on-line.

Mesmo assim, sabe-se que, quando um novo instituto jurídico entra no ordenamento, especulações e polêmicas sobre sua eficácia e efetividade são frequentemente verificadas. Sendo assim, pontua-se que se trata de um importante instrumento jurídico e que suas particularidades e aspectos diversos devem ser alvo de objetos de estudos, para que se possa aferir sua real contribuição dentro do ordenamento jurídico e dos processos executórios.

4 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL NACIONAL

No contexto do processo executório a penhora on-line se apresenta como uma ferramenta jurídica a disposição do exequente em execuções por quantia certa, aprovado no sistema processual pátrio a partir das vindouras reformas processuais, as quais foram norteadas principalmente pelo princípio da efetividade processual.

Embora seja um procedimento relativamente recente, o instituto da penhora on-line tem denotado um significativo avanço no que diz respeito às decisões judiciais e os efeitos produzidos por elas no meio social, qual seja, uma tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva.

A ideia principal da penhora não é tirar a propriedade do bem do executado, mas, garantir que este não disponha do bem pra fins diversos daquele objeto de responsabilidade executória. Não se pode, contudo, negar que todas as reformas que redundaram nas conjunturas que hoje se vislumbram tiveram a intenção de simplificar o procedimento executivo, de forma a torna-los mais céleres e efetivos, e o principal, sem descuidar-se dos princípios indispensáveis ao moderno processo justo e eficaz.

Após breve pesquisa jurisprudencial, é possível, sem grande dificuldade, encontrar diversos julgados sobre a penhora on-line, tanto em relações que geram controvérsias, como aquelas que são reflexos das reformas no processo executivo, principalmente a referente a reforma da Lei n° 11.382 de 2006, por meio da qual, o juiz da execução obtém, por via eletrônica, o bloqueio junto ao banco central de depósitos bancários ou de aplicações financeiras mantidas pelo executado. Sobre isso,

Antes da Lei nº 11.382/2006, a jurisprudência majoritária era no sentido de que a penhora on-line configurava medida excepcional só manejável após comprovação de não terem sido localizados bens livres e desembaraçados do devedor para segurança do juízo. “Contudo, após o advento da referida lei, o juiz, ao decidir sobre a realização da penhora on-line, não pode mais exigir do credor prova de exaurimento das vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados” (STJ, 2ª T., RESp 1.254.349/MG, Rel. Min. Mauro Campell Marques, ac. 02.08.2011, Dje 09.08.2011). Uma das principais divergências culminadas após a vigência do procedimento eletrônico e da penhora on-line diz respeito a inquietação gerada em torno de que o bloqueio imediato violaria alguns princípios, como o devido processo legal e da menor onerosidade. Ora, sabe-se que, quando efetuado o bloqueio, o devedor é imediatamente cientificado, e além disso, para que o juiz proceda à penhora eletrônica, deve haver requerimento expresso do exequente na exordial executória extrajudicial ou no petitório de cumprimento de sentença – este quando for execução por título judicial. (AYRES, 2012).

Para reforçar esse entendimento, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal apresenta, com o Desembargador Teófilo Caetano que assim decidiu o Agravo de Instrumento nº 2007.00.2.008999-0.

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. TÍTULO JUDICIAL. AVIAMENTO ANTES DA EDIÇÃO E VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.232/05. INOVAÇÃO PROCEDIMENTAL. LEI NOVA. EFICÁCIA IMEDIATA. CITAÇÃO. DISPENSA. PENHORA "ON LINE". LEGITIMIDADE. EXAURIMENTO DOS MEIOS PARA LOCALIZAÇÃO DE OUTROS BENS PERTENCENTES À

DEVEDORA. DESNECESSIDADE. OBSERVAÇÃO DA GRADAÇÃO

LEGALMENTE ESTABELECIDA (CPC, ART. 655, I).

1. A LEI DE NATUREZA PROCESSUAL TEM EFEITO INSTANTÂNEO E APLICAÇÃO IMEDIATA AOS PROCESSOS QUE SE ENCONTRAM EM CURSO, NÃO ESTANDO, CONTUDO, MUNICIADA COM EFEITO RETROATIVO, ALCANÇANDO SOMENTE OS ATOS PRATICADOS APÓS ENTRAR A VIGER, FICANDO OS ATOS PRATICADOS SOB O IMPÉRIO DA LEI VIGENTE À ÉPOCA EM QUE FORAM EFETIVADOS IMUNES À SUA INCIDÊNCIA (CPC, ART. 1.211).

2. CONQUANTO AVIADA E RECEBIDA SOB A ÉGIDE DA LEI ANTIGA, A EXECUÇÃO APARELHADA POR TÍTULO JUDICIAL SUJEITA-SE À APLICAÇÃO IMEDIATA DA LEI Nº 11.232/05, DEVENDO SER PROCESSADA DE CONFORMIDADE COM A FORMA E PROCEDIMENTO POR ELA REGULADOS, SE LHE APLICANDO AS INOVAÇÕES PROCEDIMENTAIS DELA ORIGINÁRIAS, TORNANDO DISPENSÁVEL A PRÉVIA CITAÇÃO DA EXECUTADA PARA SOLVER O DÉBITO QUE A AFLIGE ANTES DA

CONSUMAÇÃO DA PENHORA, SOBEJANDO INCÓLUMES, EM

VASSALAGEM AO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE E DO ATO JURÍDICO PERFEITO, SOMENTE OS ATOS JÁ APERFEIÇOADOS SOB O IMPÉRIO DA LEI ANTIGA.

3. O ESTAMPADO NO ARTIGO 655-A DO ESTATUTO PROCESSUAL, PRIVILEGIANDO A EFETIVIDADE DO PROCESSO E SUA NATUREZA PÚBLICA E O OBJETIVO TELEOLÓGICO DA EXECUÇÃO, QUE É VIABILIZAR A SATISFAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTAMPADO EM TÍTULO PROVIDO DE EXIGIBILIDADE, TORNARA OBSOLETA A ALEGAÇÃO DE QUE A CONSULTA À AUTORIDADE SUPERVISORA DO SISTEMA BANCÁRIO ACERCA DE ATIVOS EM NOME DO EXECUTADO E SEU BLOQUEIO OFENDEM O SIGILO BANCÁRIO QUE LHE É RESGUARDADO E, COMO FORMA DE CONFERIR EFETIVAÇÃO À

GRADAÇÃO ENCADEADA SOBRE OS BENS QUE DEVEM

PRIORITARIAMENTE SER PENHORADOS, POIS O LEGISLADOR NOMEARA O DINHEIRO, EM ESPÉCIE OU DEPÓSITO EM INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, COMO O BEM A SER CONSTRITADO DE FORMA PREFERENCIAL - ART. 655, I -, ELIDIRA O ESGOTAMENTO DOS MEIOS ORDINÁRIOS COMO PRESSUPOSTO PARA A CONSUMAÇÃO DA PENHORA "ON LINE" MEDIANTE O ALCANÇAMENTO DOS FUNDOS RECOLHIDOS PELO OBRIGADO NO SISTEMA FINANCEIRO.

4. COMO NÃO COMPORTA CONTRADITÓRIO, A EFETIVAÇÃO DA

PENHORA, NA NOVA DOGMÁTICA PROCEDIMENTAL À QUAL ESTÁ SUJEITADA A EXECUÇÃO PARAMENTADA POR TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL, PRESCINDE DA PRÉVIA OITIVA DO OBRIGADO, DEPENDENDO EXCLUSIVAMENTE DE PEDIDO ADVINDO DO CREDOR, E SOMENTE APÓS SER CONSUMADA A CONSTRIÇÃO É QUE O DEVEDOR DEVERÁ SER INTIMADO, SENDO-LHE RESGUARDADO O PRAZO DE 15 (QUINZE) DIAS PARA OFERECER IMPUGNAÇÃO (CPC,

RT. 475-J, § 1º), NÃO EMERGINDO DESSA RITUALÍSTICA OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL POR SE CONFORMAR JUSTAMENTE COM O PROCEDIMENTO LEGALMENTE ENCADEADO.

5. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E IMPROVIDO. UNÂNIME. (TJDF, 2ª Turma Cível, 20070020089990AGI, relator: desembargador Teófilo Caetano, data do julgamento: 12/09/2007, DJU: 18/09/2007, p. 115).

Como verificado no agravo acima, não é possível afirmar que o procedimento da penhora fere o contraditório e, esse entendimento também pode ser estendido a, ampla defesa, tendo em vista que o executado mesmo embora não tenha mais 15 dias, mas 5, segundo a letra do §3 do art. 854 do NCPC, para impugnar a penhora e demonstrar que é excessiva ou recai em valores impenhoráveis. (AYRES, 2012).

Segundo preleciona Theodoro Júnior (2016), o que se discute, é se o ato de consumação da penhora on-line trará menor possibilidade de garantias ao executado, e do meio menos gravoso para a consolidação do debito.

EXECUÇÃO FISCAL - PENHORA DE IMÓVEL DE VALOR SUPERIOR À DÍVIDA - CABIMENTO - EXCESSO DE PENHORA - INEXISTÊNCIA - AFRONTA AO PRINCÍPIO DA ECONOMIA OU MENOR ONEROSIDADE DO DEVEDOR - INOCORRÊNCIA - OBRIGATORIEDADE DE OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE DA TUTELA EXECUTIVA - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - INEXISTÊNCIA - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. 9 TJ-DF - Apelação Cível: APC 20130110277214 DF 0009836- 29.2013.8.07.0015).

A decisão acima está assentada no art. 620 do CCP de 1973, que diz que o princípio da menor onerosidade do executado deve ser observado, desde que não seja afetada a efetividade da execução. O referido princípio encontra-se contemplado e com poucas modificações no NCPC de 2015, que o reproduziu no art. 805 de seu texto, no qual seu caput dispõe: que “quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”. Essa questão se traduz nitidamente na restrição ao direito do exequente que não pode se valer, de forma abusiva, de todos os meios executivos, mas, deve optar por aqueles que menos onerem o executado.

No entanto, outra questão que se levanta é que pela ordem de preferências intitulada no art. 835 do NCPC (art. 655 do CPC de 1973) o dinheiro é colocado em preferência, não se achando adequado inverter essa ordem, como no caso de juízes que entendem serem observadas todas as possibilidades de buscas antes de se utilizar o bloqueio eletrônico

O Eminente Desembargador Fernando Habibe, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, colacionou a seguinte decisão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. PENHORA

ONEROSIDADE. SIGILO BANCÁRIO. EXAURIMENTO DOS MEIOS DE BUSCA DE OUTROS BENS. 1. A penhora de dinheiro, em espécie ou em depósito,

prefere à de qualquer outro bem. 2. Ao estabelecer o princípio da menor onerosidade, o legislador a ele vinculou, não só o juiz, como a si próprio. Portanto, resulta de uma interpretação sistemática o entendimento de que as demais normas disciplinadoras da execução, sobretudo as subsequentes ao CPC 620, estão em harmonia com o aludido princípio. 3. Logo, a ordem prevista no CPC 655 é a que melhor atende, em regra, ao favor debitoris e aos demais princípios que devem ser igualmente atendidos, tais como a celeridade, economia e efetividade da execução que se processa no interesse do credor. Só excepcionalmente, e desde que devidamente comprovada a excessiva e

injusta onerosidade do devedor, deve admitir-se a inversão da ordem de bens penhoráveis. 4. A penhora eletrônica de dinheiro em depósito não enseja a quebra

ilegal do sigilo bancário do devedor. Esse seu direito não é absoluto e deve coexistir com o direito do exequente de informar-se sobre os bens penhoráveis de modo a assegurar a satisfação do seu direito de crédito e o de obtenção de tutela jurisdicional efetiva. 5. Não tem cabimento sujeitar-se a penhora eletrônica ao prévio exaurimento, pelo credor, de todos os meios ao seu alcance para encontrar outros bens penhoráveis. Essa exigência traduz indevida subversão da gradação legal, transferindo-se o dinheiro da primeira para a última opção. (TJDF, 4ª Turma Cível, 20060020065026AGI, relator: desembargador Fernando Habibe, data do julgamento: 09/04/2008, DJU: 28/04/2008 Pág. 143) (grifou-se).

Até o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o mesmo entendimento, como no julgado do nobre Ministro Fernando Gonçalves:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. PENHORA ON LINE. POSSIBILIDADE. MENOR ONEROSIDADE PARA O DEVEDOR. ARTS. 620 E 655 DO CPC. 1 - Conforme a pacífica jurisprudência desta Corte, a determinação de penhora on line não ofende a gradação prevista no art. 655 do CPC e nem o princípio da menor onerosidade da execução disposto no art. 620 do CPC. Precedentes. 2 - Agravo regimental desprovido (STJ, 4ª Turma, AGRG no AG nº 935082/RJ, relator: ministro Fernando Gonçalves, data do julgamento: 19/02/2008, DJ 03/03/2008). (Grifou-se).

O cerne dessa questão é portanto, a averiguação da possibilidade reiteração da penhora on-line, e sobre isso o STJ, também já manifestou entendimento de que para que ocorra a reiteração da penhora on-line é preciso que o credor certifique e comprove alteração na situação financeira do devedor, sob pena de indeferimento do benefício. Disso extrai-se a ementa do julgado abaixo.

RECURSO ESPECIAL - PROCESSUAL CIVIL - ARTIGO 399 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STJ - EDIÇÃO DAS LEIS N. 11.232/2005 E 11.382/2006 – ALTERAÇÕES PROFUNDAS NA SISTEMÁTICA PROCESSUAL CIVIL - EFETIVIDADE DO PROCESSO - REALIZAÇÃO - PENHORA ON LINE - INSTRUMENTO EFICAZ - FINALIDADE DO PROCESSO - REALIZAÇÃO DO DIREITO MATERIAL - PENHORA ON LINE - INFRUTÍFERA - NOVO PEDIDO - POSSIBILIDADE - DEMONSTRAÇÃO DE PROVAS OU INDÍCIOS DE MODIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO ECONÔMICA DO DEVEDOR - EXIGÊNCIA - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - A não explicitação precisa, por parte da recorrente, sobre a forma como teria sido violado o dispositivo suscitado, no caso, o artigo 399, do Código de Processo Civil, atrai a incidência do enunciado n. 284 da Súmula do STF. II – É cediço que tanto a Lei n° 11.232/2005, que regula a execução de sentença, quanto a Lei n.º 11.382/2006, que disciplina a execução de títulos extrajudiciais, ensejaram profundas modificações na sistemática processual civil, ao exigirem do Poder Judiciário a realização de atos jurisdicionais que, observando-se os

direitos do devedor, nos termos do artigo 620, do CPC, efetivamente busquem a satisfação do credor, conferindo-se maior efetividade à prestação jurisdicional. III - A denominada penhora on line atende, com presteza, a finalidade maior do processo, que é, justamente, a realização do direito material já reconhecido judicialmente. Assim, na verdade, se a parte contra quem foi proferida sentença condenatória não cumpre espontaneamente o julgado, cabe ao Poder Judiciário, coercitivamente, fazer cumprir o que determinou e o bloqueio pelo sistema do BACEN-Jud tem se revelado um importante instrumento para conferir agilidade e efetividade à tutela jurisdicional. IV - Todavia, caso a penhora on line tenha resultado infrutífera, é possível, ao exequente, novo pedido de utilização do sistema BACEN-Jud, demonstrando-se provas ou indícios de modificação na situação econômica do executado. Precedentes. V – Recurso especial improvido. Recurso Especial nº 1.284.587 – SP (2011/0227895- 6). Órgão Julgador: Terceira Turma. Relator: Ministro Massami Uyeda. Brasília, 16 fev. 2012.

É de se considerar ainda que mesmo no julgado acima tendo indeferido nova tentativa de penhora on-line, alegando a necessidade de acompanhamento de provas que notifiquem as mudanças econômicas do devedor, é possível encontrar na jurisprudências julgamos discordantes.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. PENHORA ON LINE INFRUTÍFERA. POSTERIOR

REITERAÇÃO DO PEDIDO DE BACEN-JUD. INDEFERIMENTO.

INSURGÊNCIA. POSSIBILIDADE DE NOVO PEDIDO DE PENHORA ON LINE.

AUSÊNCIA DE LIMITAÇÃO LEGAL. DESNECESSIDADE DE

DEMONSTRAÇÃO DE ALTERAÇÃO ECONÔMICA DO PATRIMÔNIO DOS DEVEDORES. OCORRÊNCIA QUE SE VERIFICARÁ APÓS A EFETIVAÇÃO DAS BUSCAS ELETRÔNICAS. RECURSO PROVIDO. Agravo de Instrumento

n. 936976-0, de Curitiba. Agravante: Agência de Fomento do Paraná S/A. Agravada:

Vilma A. Marcão Vestuário e outros. Relator: Desembargador Edson Vidal Pinto. Órgão Julgador: Décima Quarta Câmara Cível. Curitiba, 15 ago. 2012.

É de se concluir, então, que a medida não atrita com o princípio da menor onerosidade do executado, nem exige o exaurimento prévio de diligencias para localizar outros bens penhoráveis, conforme já assentado pelo STJ. E desse modo, a penhora on-line evidencia-se como meio mais eficaz para realizar a execução no interesse do exequente, conforme art. 797. (THEODORO JÚNIOR, 2016).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que a discussão sobre o acesso à justiça brasileira atualmente não permeia apenas o Poder Judiciário em seus órgãos e ritos, mas em especial atinem à sua eficácia e efetividade. A previsão na Norma Maior – faz-se sabido e logicamente deduzível – nos mostra que palavras, mesmo que imbuídas de toda normatividade possível, envolvem a imprescindibilidade da ação humana para ganharem vida, nesse caso em especial o Estado por meio de seus órgãos.

Nesse sentido, tem-se verificado atualmente um avanço voraz da tecnologia o que

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