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3. A RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS NAS PENITENCIÁRIAS BRASILEIRAS

3.3. PENITENCIÁRIA MISTA DE PARNAÍBA-PI EM PARCERIA COM A APAC

Segundo Bessa (2007), a APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados representa uma bem sucedida contribuição da comunidade na execução da pena. É uma entidade privada, sem fins lucrativos filiada à Confraternidade Carcerária Internacional (Prision Fellowship International –PFI) órgão consultivo da ONU para assuntos penitenciários. Sua finalidade é dedicar-se à reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade, utilizando para isso um método de valorização humana.

Ainda segundo o autor, a instituição foi criada em 1972, pelo advogado Mário Ottoboni e um grupo de amigos cristãos, na cidade de São José dos Campos – SP, como uma ONG. Posteriormente, em 1983, o juiz da Vara de Execução desta cidade exortou esta entidade a organizar-se formalmente, com o intuito de funcionar como órgão auxiliar a Justiça, com personalidade jurídica própria e com a atribuição de gerir o Presídio Humaitá, então desativado por ser insalubre e inseguro. Aceitando o desafio, a APAC, com o apoio da comunidade e sem contar com a Polícia Civil e Militar, instaurou sua primeira experiência como administradora de um presídio, visto que se ocupava anteriormente apenas com métodos de recuperação de presos, nas unidades prisionais convencionais.Neste sistema, a APAC administra a penitenciária e seu corpo de funcionários é formado pelos próprios presos e por voluntários, não havendo a figura do policial ou do carcereiro.

Segundo o próprio idealizador, a metodologia da APAC baseia-se em doze elementos fundamentais sendo indispensável a observação de todos eles para o obtenção de resultados satisfatórios: a participação da comunidade, “recuperando ajudando recuperando”, o trabalho, a religião, assistência jurídica, assistência à saúde, valorização humana, a família, o voluntariado e o curso para sua formação, Centro de Reintegração Social, o mérito e a Jornada de Libertação com Cristo. Por outro lado, existem dois elementos de ordem subjetiva, que são a confiança e o amor incondicional. Quanto ao trabalho, este tem regras próprias,

dependendo do regime de cumprimento de pena. Assim, no regime fechado, o trabalho tem nítida finalidade terapêutica; no regime semi-aberto, tem por finalidade a profissionalização e, no regime aberto, o recuperando trabalha durante o dia, ficando recolhido na APAC à noite, domingos e feriados. (OTTOBONI, 2001).

A participação da comunidade dá-se a partir do momento em que aceitam voluntários em seu quadro de funcionários. Esses voluntários recebem treinamento especial e orientação e vêem na oportunidade uma forma de contribuir na melhoria da segurança pública de sua cidade e/ou estado.

À partir do momento que estão sob a responsabilidade da APAC, o detento passa a ser chamado de reeducando. Os reeducandos sob os cuidados da APAC recebem efetivas

assistências material, psicológica, médica, odontológica, jurídica, educacional

(compreendendo a instrução escolar e formação profissional) e religiosa durante o cumprimento da pena. Destaque-se que a participação da comunidade no provimento dessas formas de assistência é fundamental. São os voluntários que dão sustentáculo a esta preocupação da APAC em garantir o respeito aos direitos fundamentais do preso, como etapa fundamental do seu retorno ao convívio social. (BESSA, 2007).

O método rapidamente espalhou-se por todo o país. Em 1996 eram 130 unidades, em 12 estados brasileiros, com grande êxito: apenas 4% de reincidência, contra 85% do sistema convencional; 9% de sentimento de revolta contra o sistema ou contra a sociedade, contra 88% nas prisões comuns; 8,9% de desmotivados para a vida contra 90% dos presos do sistema convencional; 0% de desejos suicidas nas prisões da APAC, contra 48% nutrindo desejo de suicídio no sistema tradicional; apenas 3,8% não têm qualquer projeto de vida nas prisões geridas pela APAC, enquanto o percentual é de 94% na prisão tradicional. De fato, algumas experiências foram até mesmo reconhecidas internacionalmente como paradigmas. A Anistia Internacional, inclusive, apontou o presídio de Bragança Paulista, gerenciado pela APAC, como modelo a ser seguido. (BESSA, 2001).

Segundo Guimarães Júnior (2005), o método foi sendo aperfeiçoado e hoje tem alcançado grande repercussão no Brasil e no exterior. Apresentando índices de reincidência inferiores a 5% (no sistema comum a média de reincidência é de 86%), são aproximadamente 100 unidades em todo o território nacional. Várias já foram implantadas em outros países,

como as APAC’s de Quito e Guaiaquil no Equador, Córdoba e Concórdia na Argentina, Arequipa no Peru, Texas, Wiora e Kansas nos EUA, e muitas outras estão em fase de implantação como África do Sul, Nova Zelândia, Escócia, etc.

Segundo Vaccari e Carvalho (2005), a penitenciária Mista de Parnaíba-PI é uma prisão modelo, especialmente pelo índice de ressocialização dos presos apresentados. Segundo os autores, grande parte desses bons índices devem-se à atuação da APAC. Dentre as atividades desenvolvidas pela instituição, destacam-se as seguintes:

Assistência jurídica gratuita para os que estão sob a custódia do Estado na penitenciária mista de Parnaíba, realizado pelo advogado criminalista, Professor da Universidade Estadual do Piauí - DESPI e mestre em Direito Penal pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Dr. Mariano José Martins Lopes, contando com o auxílio de acadêmicos de Direito da DESPI e da Faculdade Piauiense, ambas instituições superiores de Parnaíba-PI..

Prestação religiosa dada através de “cultos” semanais, realizados preferencialmente às sextas-feiras. Dia escolhido em razão do costume social local divertir-se nas noites de sexta e o “culto” funciona como um momento de reflexão. Nesses cultos abordam-se temas da religião, discute-se a vida dentro da penitenciária e o que fazer para melhorá- la. A prestação religiosa é exercida com o auxílio da pastoral carcerária, uma organização católica que visa a regenerar o detento por meio da fé.

Em relação ao trabalho, a APAC montou uma oficina de artesanato dentro da penitenciária para ensinar técnicas empregadas no manejo da referida atividade. Posteriormente essas técnicas são repassadas de um detento para outro, de tal forma que raros são os que não participam dessas atividades. Além do beneficio da ocupação dos detentos, há outro, também, que é o reaproveitamento da matéria-prima geralmente empregada na fabricação dos artesanatos, posto que são utilizados restos industriais de pano, couro, jornais e palitos de picolé.

Apoio ao egresso: Quando o preso já se encontra no regime semiaberto, APAC procura constantemente integrá-lo em uma empresa a fim de que o mesmo possa aprender uma profissão, ter renda fixa, disciplinar-se a horários e ter o tempo remido. Para isso, a APAC procura firmar contratos com empresas de qualquer porte e, em qualquer área, para que o detento possa trabalhar e inserir-se neste sistema. Porém, é necessário que o futuro contratado já possua formação técnica específica em que atua

a empresa conveniada. Se esta solicita à APAC um funcionário com determinada característica, a associação envia tão logo encontre.

Graças às medidas adotadas, verificou-se o índice de reincidência entre os presos que cumpriram sua pena na Penitenciaria Mista de Parnaíba, que girava em torno de 20% (vinte por cento) caiu para cerca de 4% (quatro por cento), o que significa uma redução considerável, principalmente porque o índice nacional beira os 25% (vinte e cinco por cento) e vem aumentando a cada ano. (VACCARI e CARVALHO, 2005).

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