• Nenhum resultado encontrado

O que pensam as professoras da Rede Municipal do Recife sobre avaliação da leitura no Ciclo de Alfabetização?

No documento A ESCOLA DO CAMPO: Um olhar Reflexivo (páginas 55-60)

PROFESSORAS SOBRE AS ORIENTAÇÕES OFICIAIS?

3. RESULTADOS DA PESQUISA

3.2 O que pensam as professoras da Rede Municipal do Recife sobre avaliação da leitura no Ciclo de Alfabetização?

Com base nos dados obtidos nas entrevistas das professoras, observamos que as três afirmaram que os alunos são leitores. Porém, a P1 não só mencionou a capacidade leitora como também a compreensão. Já a P2 e P3 relataram que alguns alunos não são leitores, mas enfatizaram que é a minoria. Inicialmente, percebemos que há uma concepção diferenciada de “leitores: a P1 considera leitores mesmos os alunos que não decodificam e as demais, mesmo os alunos decodificando, elas não os consideram, em alguns momentos, leitores”. Além disso, entendemos que há uma diversidade nas aprendizagens das turmas que pode influenciar a opinião delas. Segundo Ferreira e Leal (2006) a não aprendizagem pode ocorrer por meio de dois fatores determinantes:

internos e externos que envolvem as condições de vida dos alunos e de suas famílias

bem como a forma de ensino das docentes. Para isso, as autoras enfatizam a importância de se investigar as causas e as dificuldades dos alunos bem como formas de intervenção.

Em relação ao processo de Avaliação de leitura e compreensão de textos, podemos observar que P1 e P2 demostraram uma preocupação a mais com aqueles alunos que ainda não tem certa autonomia na leitura e na compreensão de texto. Já a P3 tem uma percepção sobre prática avaliativa mais sistemática ao lidar com a leitura e compreensão de texto. Esse aspecto já foi apresentado, anteriormente, ao discutirmos a concepção de “leitores” revelada pelas docentes.

No que se refere à fluência de leitura e compreensão de textos, as três professoras fazem a distinção entre eles; mas, somente a P2 ressaltou a importância do respeito à heterogeneidade da turma e a consideração do processo de aprendizagem dos seus alunos: alguns ainda não possuem fluência, mesmo compreendendo textos de forma oral ou escrita. Ou seja, a maioria das professoras tem a concepção que a leitura não é só a capacidade para ler, mas também de compreender textos, contribuindo para uma consciência mais crítica pelo aluno.

Quando questionadas sobre o conhecimento quanto aos descritores presentes no perfil de saída dos estudantes a cada ano, as três professoras afirmaram conhecê-los.

Porém, P2 afirmou que apesar de conhecê-los, não os cumpre à risca, porque isso depende da realidade da turma. P3 acha esse perfil condizente com os conteúdos abordados. As professoras reconheceram a relevância dos direitos de aprendizagem previstos para o perfil de saída de suas turmas; no entanto, P1 e P2 destacam que, mesmo se afirmando esses direitos, não significa dizer que todos irão alcançar esse propósito, pois o grau de compreensão dos textos não é igual para todos.

Outro ponto observado em relação à relação entre os descritores, critérios e objetivos das leitura é que as professoras supõem que os objetivos de leitura são alcançados através dos instrumentos utilizados. A P1 ressaltou que os instrumentos avaliativos possibilitavam, além das avaliações diárias, as avaliações que estavam no calendário escolar. Já a P2 disse que os seus objetivos eram alcançados através dos instrumentos utilizados tanto na escrita como nos desenhos e a P3 destacou que os seus alunos vêm melhorado na capacidade leitora, demostrada através das atividades de

compreensão de textos (os instrumentos). Segundo Depresbiteris (2009) “ Os critérios e instrumentos de avaliação deveriam levar em conta uma série de fatores, evitando o pensamento dicotômico: sim ou não, certo ou errado” (p.56). E algumas estratégias são utilizadas para superar as dificuldades dos alunos na leitura a exemplo dos projetos paralelos de leitura realizados na escola. As professoras entrevistadas relataram que na escola em que elas trabalhavam esses projetos já faziam parte da rotina, porém muitos aconteciam no contra turno. Elas enfatizaram a importância desses projetos e P3 apontou que o Projeto ‘Nas Ondas da leitura’ era muito importante para a escola. P1, ainda, informou que ela dava a sua contribuição para superar as dificuldades de leitura dos alunos, pois emprestava os seus livros particulares e os seus alunos podiam levar para suas casas, além de apoiar que participassem dos projetos da escola. A ressalva das professoras é de que esses projetos deveriam acontecer, todos, no turno do aluno para dar mais resultado positivo.

4. CONCLUSÃO

Como foi destacada na introdução desta pesquisa, a mesma se focalizou em analisar o que pensam as professoras sobre as práticas avaliativas da leitura e da compreensão leitora no ciclo de alfabetização e a sua relação com orientações oficiais da SEDUC no Recife e teve como problemática o seguinte: nas práticas avaliativas de leitura e de compreensão de textos utilizadas pelas professoras, a avaliação somativa é a mais usual do que a avaliação formativa? Como desdobramento, se estabeleceu os objetivos específicos: (a) Analisar as percepções das professoras sobre as práticas avaliativas da leitura e da compreensão de textos no ciclo de alfabetização; (b) Identificar os critérios e instrumentos propostos pelas professoras para as práticas avaliativas de leitura e da compreensão de textos no ciclo de alfabetização e (c) Verificar as orientações propostas pela SEDUC no Recife para o processo avaliativo da leitura e compreensão de texto no ciclo de alfabetização.

Em linhas gerais, os resultados indicaram quanto às orientações oficiais presentes no PNAIC e documentos da SEDUC (NPR e PC) que estes trouxeram de forma individualizada, alguns elementos importantes para a compreensão, planejamento

e execução do processo de avaliação da leitura no ciclo de alfabetização. No entanto, destacamos que nenhum documento trouxe completamente todas as informações relacionadas à concepção, instrumentos, critérios, objetivos, descritores, indicadores, formas de intervenção, tratamento do erro e da diversidade em relação ao processo avaliativo da leitura. Portanto, a presente pesquisa apontou que nas orientações oficiais não há uma sistematização quanto ao processo avaliativo da leitura e compreensão leitora, cabendo ao docente inferir as diversas informações diluídas nos documentos e realizar a síntese delas no momento de planejar.

Quanto à opinião das professoras entrevistadas em relação às práticas avaliativas da leitura, destacamos que as professoras buscam por uma prática de leitura que compreenda a decodificação, fluência e compreensão de textos. No entanto, apesar de utilizarem diversos instrumentos não conduzem o processo de avaliação com clareza a partir de um planejamento.

A nossa pesquisa evidenciou a importância de haver uma sistematização de todo o processo avaliativo da leitura nas orientações oficiais, para dar subsídio aos docentes quanto práticas avaliativas. Supomos que, em não havendo sistematização e clareza quanto ao processo avaliativo, os docentes poderão correr o risco de desenvolver as práticas avaliativas de maneira equivocada, tendo como foco apenas a avaliação somativa da leitura para fins de quantificação quanto à capacidade de o aluno decodificar ou ter fluência, sem avaliar a sua capacidade de compreensão leitora de forma intencional e planejada.

V. REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BRASIL. Portaria normativa nº 120, de 19 de março de 2014. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, n. 54, 20 mar. 2014. Seção 1, p. 9.

DEPRESBITERIS, Léa. Diversificar é preciso… instrumentos e técnicas de avaliação da aprendizagem. São Paulo: Editora SENAC, 2009.

FERNANDES, Domingos. Dos fundamentos e das práticas. Da Avaliação como medida à avaliação Alternativa (AFA). In: Avaliação das aprendizagens: desafios às teorias, práticas e políticas. Lisboa: Texto – Editores 2005.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 44ed.

São Paulo: Cortez, 2003.

FERREIRA; Andrea Tereza Brito; LEAL; Telma Ferraz. Avaliação na escola e ensino da língua portuguesa. In: MARCUSCHI, Beth; SUASSUNA; Lívia. Avaliação em língua portuguesa: contribuições para prática pedagógica. Belo Horizonte: autêntica, 2006.

HOFFMAN, Jussara. Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva construtivista/Jussura Hoffmann. Porto alegre: Mediação, 1995.

LUDKE, M e ANDRE, M, E. DA. Pesquisa em educação: Abordagens qualitativas.

São Paulo: EPU, 1986.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

Política de Ensino da Rede Municipal do Recife: ensino fundamental do 1º ao 9º ano / Jacira Maria L’Amour Barreto de Barros, Katia Marcelina de Souza, Élia de Fátima Lopes Maçaira (Org.). Recife: Secretaria de Educação, 2015.

SUASSUNA, Lívia. Paradigmas de avaliação: Uma visão panorâmica. In:

MARCUSCHI, Beth; SUASSUNA; Lívia. Avaliação em língua portuguesa:

contribuições para prática pedagógica. Belo Horizonte: autêntica, 2006.

1

AUTONOMIA DOCENTE NA PERSPECTIVA DE PAULO FREIRE E

No documento A ESCOLA DO CAMPO: Um olhar Reflexivo (páginas 55-60)