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A sociedade construiu a crença de pacificação social através da ordem apequenando a liberdade individual. A institucionalização das relações humanas com padrões de comportamento e das soluções tornou a objetividade uma compulsão da modernidade. Quanto maior a formalidade, mais segurança se obtinha.

O pensamento moderno acompanhou essa busca pelo conhecimento sem a presença da subjetividade. A visão pessoal de mundo era afastada com uma gana de combatividade, pois somente a pureza no método poderia estabelecer um saber verdadeiro. A construção da forma de pensar o mundo passa pela noção de verdade absoluta que impõe à sociedade uma sistematização de toda a vida social.

Os valores centrais da modernidade, a ênfase na ciência como modelo do saber, a ênfase na problemática da verdade e do conhecimento, a importância da política institucional, a formulação de grandes sistemas e quadros teóricos, a tarefa legitimadora da filosofia, todos estes elementos são considerados esgotados, devendo ser postos de lado em nome de um que valorize mais a criatividade, a inspiração e o sentimento, em que valores estéticos passam a tomar o lugar do científico e do político no aspecto tradicional (MARCONDES, 2001, n. 274).

A sociedade se tornou mais complexa. Diversos atores com características peculiares tem espaço de agir e pensar de acordo com suas individualidades. A coletividade pós-moderna não deve mais ser entendida como uma união de iguais, qualificados de acordo com o que é puro, belo ou correto, mas sim como a convivência de desiguais. O modelo de ordem não pode suprimir, em nome da segurança e tradição, a liberdade de agir conforme características pessoais.

A diversidade para a concepção moderna era considerada como sinônimo de desordem. O conhecimento buscava uma lei universal que explicasse as interações sociais qualificando-as de acordo com o interesse das expressões de poder. No entanto o indivíduo pós-moderno percebeu o abandono da sua autonomia em nome da segurança. A incerteza não precisa ser totalmente afastada quando se possui um sistema de regulação mais aberto que possa permitir a presença de espaços para a

individualidade.

Um número sempre crescente de homens e mulheres pós-modernos, ao mesmo tempo que de modo algum imunes ao medo de se perderem, e sempre ou tão frequentemente empolgados pelas repetidas ondas de “nostalgia”, acham a infixidez de sua situação suficientemente atrativa para prevalecer sobre a aflição da incerteza. Deleitam-se na busca de novas e ainda não apreciadas experiências, são de bom grado seduzidos pelas propostas de aventura e, de modo geral, a qualquer fixação de compromisso, preferem opções abertas (BAUMAN, 1998, 23).

A pós-modernidade se apresenta sem um conceito bem definido com discussões sobre o termo inicial, no entanto, há características que possibilitam identificar este momento diferenciado da modernidade. O rompimento da busca da lei universal em que a aplicação de teorias possuíam o cerne de explicar fenômenos através de um discurso de validação rígido demonstra que se inicia uma nova forma de pensar o mundo.

A certeza através da demonstração probatória ruiu mediante a crise entre a realidade e a construção científica. O pensamento pós-moderno se pauta na constatação de que toda verdade não passa de uma hipótese, ou seja, que o conhecimento não é definitivo. Discutem-se as fórmulas pré-estabelecidas de pensar a própria ciência, ou seja, questionam-se os critérios de legitimação do que seria um conhecimento válido ou não.

O que pôde passar ao final do século XIX por perda de legitimidade e decadência no “pragmatismo” filosófico ou no positivismo lógico não foi senão um episódio, por meio do qual o saber ergueu-se pela inclusão no discurso filosófico do discurso sobre a validação de enunciados com valor como leis (LYOTARD, 2009, p. 100).

Não há uma inovação sobre as criticas realizadas à busca do saber puro, apenas a constatação que a realidade é muito mais ampla do que a mera verificação e falseamento. No campo filosófico, a nova etapa de compreensão humana da realidade se opõe à crença criada pela ciência moderna que a realização científica teria como condão ser universal e constante.

Um, assim chamado, assunto científico é, meramente, um conglomerado de problemas e soluções tentadas, demarcado de uma forma artificial. O que realmente existe são problemas e soluções e tradições científicas (POPPER, 1978, p. 19).

modernidade foi construída como se houvesse uma verdade única. O reflexo deste fato é a formação de pensamentos estanques com limites no surgimento de outra montagem de observar o objeto. O novo estaria sempre se propondo a extinguir o modelo anterior, pois apenas um estaria correto e o outro equivocado.

Interessando-se pelos indecidíveis, nos limites da precisão do controle, pelos quanta, pelos conflitos de informação não completa, pelos “fracta”, pelas catástrofes, pelos paradoxos paradigmáticos, a ciência pós-moderna torna a teoria de sua própria evolução descontínua, catastrófica, não retificável, paradoxal. Muda o sentido da palavra saber e diz como esta mudança pode se fazer. Produz, não o conhecido, mas o desconhecido (LYOTARD, 2009, p. 107).

O rompimento dessa forma de evolução de conhecimento permite que modelos diversos de realizações da atividade humana possam coexistir. Concepções diversas podem se estabelecer, como válidas, dentro do mesmo âmbito. Os modelos de conhecimento não são verdades absolutas, mas concepções possíveis de produção do saber.

A constatação de que o conhecimento tem relação direta com o interesse do atores envolvidos. O sujeito e suas particularidades foram afastados do saber objetivo. A necessidade de quantificação transformou o próprio homem em objeto com comportamentos que deveriam ser universalizados.

O pensamento pós-moderno não se caracteriza como uma corrente ou doutrina nem possui propriamente uma unidade teórica, metodológica ou sistemática, já que em grande parte visa romper exatamente isso. Na verdade, o ponto comum entre esses atores parece ser mais a necessidade de encontrar novos rumos para o pensamento, concebendo a filosofia de forma mais ampla e não- linear, mais próxima das artes do que da ciência, não se pretendendo mais como um saber ou um ponto de vista privilegiado, mas como uma prática discursiva, uma forma de reflexão, um entendimento de nossa época e de nossa experiência que dê conta de suas rápidas transformações, de sua especificidade e de sua complexidade (MARCONDES, 2001, p. 275).

A polissemia, antes uma característica deslegitimadora de conhecimento, hoje demonstra a possibilidade de diversos caminhos concretizadores de interesses humanos. Cada pessoa é construtora de sua própria realidade. Essa constatação não é uma inovação trazida pela pós-modernidade, apenas há a aceitação de realidades parciais dentro da própria sociedade.

A vida social possui uma complexidade que, muitas vezes, impossibilita a criação de lei universal que contemple todos os indivíduos. As interações humanas

são melhores compreendidas por modelos diversos, abarcando o maior número de pessoas, mas que aceite a inerente falibilidade do agrupamento para a classificação.

A tarefa da razão filosófica parece estar se deslocando de legislar acerca do modo correto de separar a verdade da inverdade para legislar acerca do modo correto de traduzir entre línguas distintas, cada uma gerando e sustentando suas próprias verdades (BAUMAN, 98, p. 1148).

A conciliação de formas de pensar é uma das principais características do período pós-moderno, com reflexo em diversas áreas da atividade humana. A ciência une o novo com conceitos e teorias clássicas, buscando uma efetividade do conhecimento na vida social.

Esta base filosófica permite a construção de sistema de regulação de comportamentos menos rígidos com respeito a individualidades. A formação de concepções de controle com efetiva produção de pacificação social e autonomia da vontade de acordo com cada realidade. Cada ser é uma formação de pensamento com espaço em âmbitos que antes buscavam meramente a formalidade e objetividade sem criatividade para solucionar os problemas existentes.

5.2 A DEMOCRACIA E A REDESCOBERTA DOS ATORES SOCIAIS

A relatividade do normal, da verdade e da realidade em um mesmo espaço tornou a vida social mais complexa. O sistema jurídico construído sobre o fundamento dogmático estatal organizador e pacificador da vida social não conseguiu concretizar um controle do comportamento humano com satisfação. O parâmetro jurídico baseado no Estado de Direito que realiza o controle social através de verdades estabelecidas através de normas jurídicas produzidas pelo próprio agente controlador (monopólio da produção e aplicação do direito pelo Estado) não logrou o resultado esperado, soluções universais não funcionam para uma sociedade extremamente plural, mais leis não se transformam em menos crimes (FERRAJOLI, 2006).

Os direitos fundamentais foram concebidos para proteger o indivíduo perante o exercício do poder do Estado, entretanto essa relação perdeu o seu caráter unilateral e se tornou dialética. A pós-modernidade inseriu, nos ideais de liberdade,