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A perícia judicial, conforme o art. 420 do Código de Processo Civil, consiste no exame, vistoria ou avaliação.A Perícia pode ser entendida também como um instrumento de prova, constatação e verificação da veracidade. O trabalho pericial se concretiza por meio de uma peça, ou relatório, fundamentada científica e tecnicamente, apresentando uma constatação conclusiva sobre a verdade do fato, resultando, inclusive, na própria prova pericial contábil (ALBERTO, 2000; ORNELAS, 2000).

O art. 145 do CPC preceitua que quando “a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421” (BRASIL, 1973, p.267).Evidencia-se, assim, que a perícia depende de conhecimento técnico ou científico, podendo-se inferir que a base para este conhecimento é a literatura técnico/científica que respalda os procedimentos empíricos ou a conclusão.

Laro e Pratt (2005) destacam que em processos das cortes norte-americanas o depoimento ou parecer de um especialista ajuda o julgador de fato a entender melhoras provas e a decidir uma demanda baseada em conhecimento técnico científico. Segundo estes autores, o perito pode oferecer opiniões e conclusões finais sobre questões que o julgador, de fato, não poderia entender.

Para Peleias et al. (2008) a perícia contábil judicial representa uma atividade profissional de prestação de um serviço técnico especializado, tendo como usuários da informação gerada os juízes como também as partes do processo, devendo em sua atuação seguir os ritos processuais ditados pelo Código de Processo Civil (CPC).

De acordo com Renzhou (2011), a contabilidade forense (forensic accounting) – ou, na terminologia brasileira, a perícia contábil - representa atividades sócioprofissionais embasadas no ordenamento legal, na qual se utilizam de procedimentos de contabilidade, auditoria e avaliação para lidar e/ou resolver problemas decorrentes de infrações legais,danos e valores

de contratos, dentre outros. Apesar de estar bastante ligada aos aspectos concernentes à aplicação das leis e do que foi pactuado nos contratos, a perícia contábil tem seu foco nos fatos econômicos evidenciados em sua investigação.

Para Pires (2006, p. 60) a prova pericial é constituída mediante a aplicação de procedimentos técnicos, com o “objetivo de estabelecer o nexo causal do dano com o objeto de pedir da ação”. Complementa sustentando que tais procedimentos tornar-se-ão elementos de prova que contribuirão para que o magistrado exare sua sentença com propriedade e ciência dos fatos econômicos evidenciados.

Hoog (2003) afirma que o laudo pericial não tem poder de decisão, contudo esclarece os fatos. A perícia contábil também trata dos procedimentos concernentes à avaliação de sociedades. Nos processos judiciais e extrajudiciais,essa avaliação se apresenta com o nome de apuração de haveres. Ornelas (2003) esclarece que a apuração de haveres é o procedimento judicial que tem por objetivo apurar o valor das quotas societárias de sócio dissidente, excluído ou morto.O trabalho de avaliação destas quotas é feito por perito contador. Nos procedimentos de apuração de haveres, como também na avaliação de sociedades propriamente dita, busca-se mensurar o valor justo do empreendimento, que pode ser estabelecido, por exemplo, considerando a potencialidade do negócio de resultados futuros (MARTELANC; PASIN; PEREIRA; 2010).

De acordo com Sá (2004, p. 95), na apuração de haveres o que se busca conhecer são: a) Os créditos e débitos dos sócios (devidamente atualizados);

b) O valor do patrimônio líquido real;

c) As expectativas de lucros da sociedade, estando em processo de continuidade;

d) Expectativas de realização de ativos para empresas em processos de descontinuidade. Paulo et al. (2006) ressaltam que em processos de apuração de haveres, para apurar o valor da sociedade, o perito contador deverá utilizar procedimentos respaldados em literatura técnica. Dessa forma, a construção do laudo pericial tem por objetivo elucidar aspectos ou situações que requerem conhecimento técnico/científico, devendo ainda apresentar sua validade e confialibilidade, com a fundamentação teórica do trabalho realizado. Consoante essas

afirmações, Tibúrcio Silva (2008) enumera aspectos qualitativos da informação contábil que podem melhorar os trabalhos de apuração de haveres,embasando-os nos seguintes pressupostos contábeis:

a) Continuidade do empreendimento: ativos devem ser avaliados pela sua capacidade de gerar benefícios. Todavia, essa geração pressupõe expectativas futuras.

b) Princípio da entidade: na apuração do Balanço de Determinação, devem-se separar os bens da entidade dos bens dos sócios.

c) Representação fiel do valor da empresa: os ativos e passivos da empresa e a sua situação líquida devem ser apurados de forma precisa. Essa determinação do valor deve levar em conta todos os aspectos e características dos ativos e passivos, da forma o mais próxima da realidade possível.

d) Neutralidade e verificabilidade: o perito contador deve realizar seu trabalho sem nenhum viés, não tendendo para qualquer uma das partes do processo. Deve haver completa imparcialidade, de forma a eliminar qualquer assimetria de informações do processo judicial.

e) Fundamentação técnica: a apuração de haveres deve estar alicerçada em fundamentos técnicos, ou seja, em pressupostos teóricos e metodológicos, com base na literatura e em pesquisas empíricas.

Nota-se que o trabalho pericial, quando realizado com o objetivo de apurar haveres, deve não só estar revestido de fundamentação teórica e consistência técnica, posto que conforme Ornelas (2003, p. 102) “há que se justificar, categoricamente, como obteve o valor fixado”, como também enriquecer o trabalho por meio dos aspectos qualitativos da informação contábil conforme proposto por Tibúrico Silva (2008). Acrescenta-se que o perito contador deverá utilizar de metodologia adequada para a avaliar a empresa, posto que as condições da empresa, o cenário e as perspectivas, dentre outras variáveis, afetam a forma e a escolha do método, conforme assevera Damodaram (1997).