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Período de 1993 a 2003: Plano Real e a estabilidade econômica

CAPÍTULO 4: O AMBIENTE ORGANIZACIONAL DA INDÚSTRIA

4.2 A evolução do campo organizacional da ICCSE no Brasil

4.2.7 Período de 1993 a 2003: Plano Real e a estabilidade econômica

No final do ano de 1993, o governo anunciou um novo programa de estabilização - “O Plano Real” – que, de acordo com Baer (1996), apoiava- se em dois pontos: ajuste fiscal e um novo sistema de indexação (Unidade Referencial de Valor), que levou progressivamente a uma nova moeda.

Com a efetivação do Plano, a inflação baixou de 47% ªm em junho para 1,5% ªm em setembro de 1974. Houve uma alta na taxa de crescimento da economia baseada no aumento das vendas, apesar das medidas para conter o consumo.

do Plano Real o consumo aumentou em média 20% ao mês, comparado com o ano anterior”.

O Plano Real, apesar de ser contestado por uns e aplaudido por outros apresenta uma inflação controlada e uma moeda com razoável poder aquisitivo. O governo dá prosseguimento ao processo de privatização, bem como promove a abertura da economia.

Porém, para a ICCSE e outras indústrias de bens de consumo duráveis, os resultados imediatos do plano tiveram uma influência negativa. Apesar de, no primeiro trimestre, o PIB da ICC ter crescido 8,1%, a política de juros altos adotada pelo governo tornou mais difícil a produção, elevando a taxa mínima de atratividade das empresas. Como conseqüência, o PIB da ICC em 1994 e 1995 cresceu apenas 4,5% em média.

Outros problemas que surgiram foram a alta abusiva e preventiva dos preços de setores oligopolizados de materiais de construção e as pressões ocasionadas pelas perdas salariais na transição para a nova moeda (Martignago, 1998).

Entretanto, em 1995, a participação do SFH ainda se mostrava significativa com financiamentos para as classes média e alta. De acordo com o SINDUSCON-SP (1995), 61,5% das vendas contaram com recursos do SFH em outubro de 1995. Porém o perfil das vendas por faixas de valor indica que o crescimento foi localizado no segmento de imóveis de alto padrão.

O efeito regulador do Estado apresenta-se como uma característica importante, fazendo-se presente intensamente na ICCSE, principalmente nas transações comerciais. Nesse período, podem-se citar: (a) as medidas provisórias MP 1.053, no final de 1995, que proibiram cobrança de

resíduos nos contratos (cujos reajustes eram somente anuais), ocasionando uma retração na oferta de unidades e a queda nas vendas; e as MP 1.145 e MP 1.171, que desindexaram os contratos visando à retomada do crescimento dos negócios; (b) ausência de crédito para a compra de imóveis usados; (c) aumento do recolhimento compulsório da poupança ao Banco Central de 20% a 30%, que levou os bancos a suspenderem a concessão de empréstimos às construtoras (Martignago, 1998).

Contudo, a ICCSE apresentava expressiva instabilidade nos níveis de atividade e emprego. Porém, com o aumento do poder aquisitivo da população após o plano, surgiu um segmento de mercado no qual havia grande carência dos produtos da ICCSE: a classe média.

Dos segmentos de mercado, a classe média foi a mais prejudicada desde a crise de 1983, visto que não possuía recursos suficientes, nem existiam financiamentos necessários para a aquisição do produto da ICCSE (Werna, 1993).

Nesse sentido, dentro do processo de adaptação das construtoras à crise iniciada em 1983, e aproveitando a estabilidade econômica pós-Real, surgiram e aprimoraram-se formas de financiamento e captação de recursos para suprir a deficiência do SFH e atender a essa demanda. Podemos citar: (a) sistemas de consórcio; (b) cooperativas; (c) condomínio fechado a preço de custo; (d) obra incorporada a preço fechado com financiamento direto da construtora ou bancário (recursos internos ou estrangeiros); (e) fundos imobiliários de investimento; (f) securitização de recebíveis, cuja captação de recursos ocorre no mercado de capitais.

De acordo com a Confederação Brasileira da Indústria da Construção Civil, o financiamento direto com a construtora foi responsável por 42% do total de unidades comercializadas em 1995 contra 45,7% em 1994. Já o

sistema de condomínio fechado a preço de custo, destinado à classe média/alta, correspondeu a 0,2% em 1994, evoluindo para 3% em 1995.

Entretanto, com o financiamento direto da empresa, aumentaram a necessidade de capital e os riscos do negócio, crescendo também as barreiras de entrada no setor devido à necessidade de grande volume de obras para girar o capital.

Como resultado das estratégias adotadas pelas empresas do setor, a ICCSE contribuiu consideravelmente para a estabilização da economia. A ICCSE foi responsável por 13,5% do PIB nacional, empregando 1 milhão e 200 mil pessoas, exportando mais do que importa e conseguindo reduzir o custo do metro quadrado pela metade nos últimos cinco anos (Rossetto, 1998).

Estudos desenvolvidos pelo SENAI (1965) procuraram descrever estruturalmente a Indústria da Construção Civil. Alguns desses resultados foram: (a) 48% das obras da ICC são de construção de edificações; (b) 83% das empresas admitem ter adotado algum tipo de inovação tecnológica a partir da metade dos anos 80, enquanto que 11% pretendem fazê-lo; (c) 78% das empresas do subsetor de edificações introduziram inovações; (d) 31% das inovações foram em gestão de canteiros de obras, 29% em processos de trabalho, 17% na área financeira e 15% no projeto; (e) 31% introduziram inovações para reduzir custos e racionalizar o trabalho.

De acordo com Rossetto (1998), a indústria da construção civil encontra-se em um momento de crescimento real, com uma taxa estimada de 8% em 1997. Tal expectativa se fundamenta na entrada de novos meios de financiamento para a produção de moradias, devido ao novo Sistema de

financiamento Imobiliário (SFI).

Reforça, ainda, Rossetto (1998) que o ano de 1997 mostrou um cenário para a ICCSE muito claro. O autofinanciamento, a reestruturação de mercado e produto, a adaptação de novos padrões de qualidade e a produtividade com a introdução e implementação de conceitos de inovações tecnológicas, organizacionais e de gestão são as ferramentas prediletas do momento.

Percebe-se claramente que, a partir de 1998, o PIB da construção civil não acompanha o crescimento do PIB Brasil, inclusive em 1999 apresentando PIB menor do que o do ano anterior. De 1995 em diante a participação do PIB da construção civil em relação ao PIB Brasil experimenta uma deflação nos índices percentuais (Tabela 02).

TABELA 02 – PIB do Brasil e da construção civil – 1990 a 2004.

PIB (R$ Milhões)

TAXA CRESCIMENTO REAL DO PIB (EM %)

PARTIC. PIB CONSTRUÇÃO

PERÍODO PIB BRASIL

(R$ Milhões) Brasil Construção Civil Brasil Construção Civil PIB Brasil (%) 1995 646.192 571.818 52.708 4,22 - 9,22 1996 778.887 694.966 66.143 2,66 5,21 9,52 1997 870.743 780.422 77.359 3,27 7,62 9,91 1998 914.188 820.788 83.181 0,13 1,54 10,13 1999 973.846 870.459 81.461 0,79 - 9,36 2000 1.101.255 981.861 88.912 4,36 2,62 9,06 2001 1.200.060 1.065.093 90.799 1,42 - 8,52 2002 1.321.490 1.176.168 93.858 1,50 - 7,98 2003* 1.562.200 - - 0,50 - - 2004* 1.685.900 - - 3,50 - - (*) Projeção IPEA.

Descreveu-se, portanto, a evolução do ambiente da ICC e da ICCSE no Brasil, ressaltando os principais eventos sócios-políticos-econômicos que, de certa forma, influenciam as organizações construtoras brasileiras. A seguir serão descritas algumas peculiaridades da cidade de Santa Maria dentro do contexto em questão.