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Com o objetivo de obter uma medida mais objetiva de severidade, Shriberg e Kwiatkowski (1982) desenvolveram um sistema métrico que considera a porcentagem de consoantes corretas (PCC) como um índice de grau de prejuízo. Além de ser um modo objetivo de determinar a severidade de uma desordem, o PCC também pode proporcionar para os clínicos um critério quantitativo sobre a eficácia de um plano terapêutico. (PENA-BROOKS, HEDGE, 2000)

Em 1997 Shriberg et al. revisaram o PCC e propuseram algumas variações, uma delas, O PCC-R (PCC – revisado) que não considera nenhum tipo de distorção como erro.

Wertzner e Dias (2000) realizaram um estudo com o objetivo de obter o índice PCC em crianças de 3 a 5:6 anos de idade sem queixa de distúrbios fonológicos. Esta pesquisa foi realizada com 40 crianças distribuídas em 5 grupos de diferentes faixas etárias. Em cada grupo havia 4 crianças do sexo masculino e 4 crianças do sexo feminino. Na prova de nomeação o PCC médio obtido foi: G1 (3 a 3:6) = 79,77%, G2 (3:7 a 4) = 86,95%, G3 (4:1 a 4:6) = 86,67%, G4 (4:7 a 5) = 91,16% e G5 (5:1 a 5:6) = 93,45%.

McLeod e Bleile (2003) fazem referência aos índices de PCC encontrados por James Van Doom e McLeod (2002) em crianças com desenvolvimento fonológico normal: 3 anos – 3 anos 11 meses = 76,41%, 4 anos – 4 anos 11 meses = 82,45%, 5 anos – 5 anos 11 meses = 88,36%, 6 anos – 6 anos 11 meses = 90,76% e 7 anos – 7 anos 11 meses = 90,99%.

Teixeira (2006) realizou um estudo com crianças de 3 a 8 anos e analisou o PCC em relação ao fonema //. As médias encontradas de acordo com as faixas

etárias foram: 3 anos = 43,33%; 4 anos = 82,62%; 5 anos: 73,12%; 6 anos: 88,87% e aos 7 anos = 97,29%.

Papp e Wertzner (2006) realizaram uma pesquisa com 25 crianças com distúrbios fonológicos com e sem história de transtorno de fala e linguagem no núcleo familiar e verificaram a diferença do índice de gravidade PCC-R em relação ao histórico familiar. As autoras observaram que o grupo de crianças com história de problemas de fala e linguagem no núcleo familiar apresentou maior variabilidade nos índices de PCC-R. A média de PCC-R encontrada no grupo com história foi 69% e a média do grupo sem história familiar foi 72,50%. Este estudo concluiu que os índices de PCC-R não diferenciaram o distúrbio fonológico em relação ao histórico familiar.

3 METODOLOGIA

3.1 PARTICIPANTES

Foram avaliadas 240 crianças, de ambos os sexos, com idades entre 03 e 08 anos. As crianças foram divididas em 05 grupos, de forma que cada grupo fosse composto de 48 crianças, sendo 24 meninas e 24 meninos:

Tabela 1: Participantes da pesquisa

3 anos – 3 anos 11 meses G1 – 24 meninas e 24 meninos 4 anos – 4 anos 11 meses G2 – 24 meninas e 24 meninos 5 anos – 5 anos 11 meses G3 – 24 meninas e 24 meninos 6 anos – 6 anos 11 meses G4 – 24 meninas e 24 meninos 7 anos – 7 anos 11 meses G5 – 24 meninas e 24 meninos

Os participantes eram estudantes de duas escolas particulares que aceitaram participar do estudo e que podem ser consideradas como representativas da classe média alta do estado do Rio de Janeiro. Foram incluídas na pesquisa apenas as crianças que não apresentassem nenhum problema auditivo, neurológico ou de fala/linguagem, de acordo com a indicação das professoras e coordenadoras pedagógicas. As crianças que estavam em tratamento fonoaudiológico foram excluídas da amostra.

3.2 MATERIAL

FASE 1-

Para o desenvolvimento do instrumento da pesquisa, inicialmente foi realizado um estudo piloto para o qual foram confeccionados 06 diferentes corpora de palavras e aplicados em crianças de 4 a 10 anos, estudantes de escolas públicas do Rio de Janeiro e Minas Gerais, que não apresentassem nenhum problema relacionado à fala e/ ou à linguagem.

Visando investigar a melhor forma de apresentação das figuras, alguns exames utilizaram figuras retiradas de revistas e outros utilizaram desenhos feitos à mão. Após a aplicação destes exames, observamos que as figuras retiradas de revistas facilitam a nomeação espontânea, pois são mais fidedignas à imagem real.

Para compor os diferentes corpora foram observados critérios relativos à estrutura sonora e à freqüência da palavra no vocabulário infantil. Muitas vezes uma palavra possui uma estrutura sonora que permite avaliar a produção de um ou mais fonema pela criança, mas não é uma palavra utilizada no vocabulário infantil, de forma que para que sua produção ocorra no momento da avaliação são necessárias muitas pistas. Na maioria dos casos as crianças não conseguiam acertar somente com as pistas fornecidas pelos examinadores, o que gerava a necessidade de imitação da palavra pronunciada pelo examinador. É o caso, por exemplo, da palavra “frutas”, que possui uma estrutura sonora que permite avaliar a produção do grupo consonantal /fr/ não muito freqüente em nosso idioma. Ao olhar a figura das frutas, as crianças nomeavam as frutas isoladamente (banana, maçã, etc) e a palavra “frutas” não era produzida nem com o fornecimento das pistas. Este foi um dos

motivos para a exclusão de palavras da avaliação, e devido a isso determinamos então que nenhum substantivo que designe um grupo de outros substantivos faria parte do corpus final (animais, frutas, etc).

Por fim foram selecionadas 79 palavras, respeitando os critérios de posição do som na palavra e na estrutura silábica (onset simples inicial, onset simples medial, onset complexo inicial, onset complexo medial, coda medial e coda final) e a freqüência no vocabulário infantil, de acordo com Pinheiro (1994) . O aspecto relativo à extensão da palavra também foi contemplado na confecção final do corpus. (apêndice 1)

As avaliações foram realizadas sempre por dois examinadores, em sala silenciosa e com o uso de gravadores analógicos para a análise dos resultados.

FASE 2-

Com base nas observações feitas durante as coletas de dados realizadas com os diferentes corpora e posteriormente através de análise das gravações por duas examinadoras chegou-se ao corpus final de 79 palavras apresentadas em fotografias digitais ou impressas em papel fotográfico, tamanho 15X21. A opção pelas fotografias deu-se com o objetivo de facilitar o reconhecimento e a nomeação espontânea pela criança. O material também foi desenvolvido em formato de slides para ser aplicado com o uso de um CD no computador.

O protocolo de anotação dos dados (apêndice 2) foi composto por palavras e suas respectivas notações fonológicas. No referido protocolo o examinador transcreve foneticamente a palavra pronunciada de maneira incorreta pela criança, respeitando as variações dialetais, marcando com um “i” no caso de imitação do

modelo dado pelo examinador e anotando na coluna “trocas / omissões” o som omitido e/ou a substituição ocorrida. Neste mesmo protocolo estão listados todos os processos fonológicos e para cada palavra existem células em branco que representam os processos fonológicos possíveis de ocorrência. Desta forma, o examinador deve marcar com um “x” o processo fonológico que corresponda à produção feita pela criança.

A apresentação das palavras no protocolo foi feita por sorteio de forma que a organização ficasse aleatória, para não dar pistas à criança quanto ao som inicial de cada palavra.

O protocolo de análise do PCC desta avaliação (apêndice 3) foi desenvolvido respeitando os procedimentos sugeridos pelos autores Shriberg, Kwiatkowski (1982). (PENA-BROOKS e HEDGE, 2000; WERTZNER, AMARO, TERAMOTO, 2005) listados abaixo:

1) Coletar e Gravar uma amostra de fala contínua de pelo menos 50 - 100 palavras. 2) Critérios de exclusão:

- Considerar só consoante planejada em palavras, excluir a adição de uma consoante antes de uma vogal;

- A segunda ou sucessiva repetição de uma consoante não deve ser incluída. Só a primeira produção deve ser marcada;

- Palavras que são parcialmente ou completamente ininteligíveis devem ser excluídas da amostra.

3) Determinar Produções Incorretas de Consoante: - São considerados erros:

(b) substituições de outro som para uma consoante alvo; (c) distorções de um som alvo;

(d) adição de um som para uma consoante alvo correta ou incorreta 4) Calcular o Percentual de Consoantes Corretas

- O PCC é calculado usando a seguinte formula: Número de consoantes correta / Número de corretas Mais as consoantes incorretas X 100 = PCC Exemplo:

50 consoantes produzidas corretamente / 200 total de consoantes PCC = 50/200 x 100

PCC = 0,25 x 100 PCC = 25%

Para calcular o PCC-R (PCC – revisado), são usados os mesmos procedimentos do PCC, porém o PCC-R não considera nenhum tipo de distorção como erro (SHRIBERG, L. D. et. 1997).

Os processos fonológicos foram classificados em três grupos: de estrutura silábica, de substituição e de assimilação e sua classificação foi definida de acordo com Wertzner e Consorti (2004), Magalhães (2003), Van Borsel (2003), Cagliari (2002), Lowe (1996), Grunwell (1995) e Yavas (1992), como pode ser visualizado no quadro abaixo:

Quadro 2 – Processos Fonológicos

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