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Segundo Gold (1984, apud AMORIN FILHO, 2001; REGHIN, 2002), “a percepção é uma função psicológica que capacita o indivíduo a converter os estímulos sensoriais em experiências, organizadas e coerentes”.

Del Rio (1999), Tuan (1980) consideram a percepção ambiental como um processo mental, que ocorre através da interação do indivíduo com o meio. Esse processo ocorre através de mecanismos, que são: mecanismos perceptivos propriamente ditos, dirigidos pelos estímulos externos e captados pelos cinco sentidos, considerando a visão com um maior grau de destaque; mecanismos cognitivos, que compreendem a contribuição da inteligência.

Para Gomes (1997) e Dornelles (2006) a forma como o indivíduo percebe o ambiente deve levar em conta os valores, as crenças, os costumes, os preceitos e as atitudes de cada indivíduo sobre o ambiente construído.

Sendo assim, a paisagem construída, através da percepção, vem carregada de sentimentos, símbolos, significados, desejos e memórias (CAVALCANTE, 2000).

A partir do interesse a um determinado fato ou objeto e da necessidade que temos de compreendê-los, organizamos e estruturamos nossa interface com a realidade e o mundo, selecionando as informações percebidas, armazenando-as e conferindo-lhes significado (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999).

O estudo dos processos relativos à percepção é fundamental para que possamos compreender as inter-relações entre o homem e o seu meio (DEL RIO, 1999).

Nessa direção, a percepção ambiental é tida como um processo, pelo qual se pode organizar e interpretar as informações sensoriais em unidades significativas, visando configurar um quadro coerente do entorno ou de parte dele (POL et al, 1999); Esse processo expõe a lógica da linguagem, que organiza os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar; é a forma de expressar a imagem de um lugar, que está veiculada nos signos que uma comunidade constrói em torno de si. Neste sentido, a percepção ambiental é revelada mediante uma leitura semiótica da produção discursiva, artística, arquitetônica etc. de uma comunidade (FERRARA, 1993; PACHECO e SILVA, 2006); É o significado da representação que uma população tem sobre o seu meio ambiente. Sendo agregados a essa percepção, valores, identidades, interpretações sobre as relações e conhecimentos acumulados dos processos vitais (IANNI, 1999; PACHECO e SILVA, 2006).

A percepção ambiental é o entendimento e o conhecimento que cada indivíduo possui em relação ao meio em que está inserido, considerando-se a influência dos fatores sociais e culturais. As percepções não são simples sensações, mas são os significados atribuídos ao ato de perceber (WHITE, 1978; FIORI, 2006).

Oliveira (2002) propõe a percepção ambiental a partir de Piaget, como um processo, no qual se procura atribuir significados subordinado às estruturas cognitivas, detentor de uma função adaptativa.

De acordo com Santos et al. (1996), além da percepção individual, existe a percepção social, que foi estudado por Saarinen em 1969 e por Schiff em 1973. A percepção social é aquela que trata dos fatores sociais e culturais que estão presente na construção da relação entre o ser humano e o seu ambiente físico e social. Esse tipo de percepção pode sofrer variações de acordo com os órgãos dos sentidos, e também é dependente dos estímulos presentes, das histórias e atitudes vivenciadas pelo indivíduo.

A UNESCO (1973) ressalta a importância da pesquisa, envolvendo a percepção ambiental para o processo de gestão ambiental, e aponta que a dificuldade encontrada para se proteger, os ambientes naturais estão na existência de diferentes percepções, valores e importância dos mesmos dentre os indivíduos.

O estudo da percepção ambiental auxilia na relação mais harmoniosa do homem com racional dos recursos naturais, possibilitando assim relação apaziguadora e harmônica do conhecimento local, do ponto de vista de um indivíduo, de uma coletividade ou de uma população em seu conjunto, com o conhecimento exterior. Projetos que focam as relações homem-biosfera devem incluir estudos da percepção ambiental, como parte integrante da abordagem interdisciplinar que esses projetos exigem (UNESCO, 1973).

“A percepção humana, em relação à natureza, se dá sob diferentes aspectos e, no decorrer da história, muitos fenômenos que descrevem as relações humanas com o meio ambiente demonstram que nem sempre esta percepção foi compatível com as necessidades para se manter um ambiente saudável e em equilíbrio” (BARAÚNA, 1999, p. 1).

Estudos de percepção ambiental também vem considerando a relação do ser humano com a paisagem (ZUBE et al., 1982 apud FIORI, 2002), “em que o componente humano compreende a experiência passada, o conhecimento, as expectativas e o contexto sóciocultural dos indivíduos e dos grupos” (FIORI, 2002).

As pesquisas sobre percepção ambiental situam-se em um aspecto típico das relações e inter-relações homem x meio ambiente pois, trata-se de uma aproximação onde a compreensão do meio ambiente é um dos fatores que determinam e caracterizam o meio através de escolhas e comportamentos. (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999; LERÍPIO, 2001; REGHIN, 2002).

Na década de 70, foi criado o Grupo de Trabalho sobre a Percepção do Meio Ambiente pela União Geográfica Internacional (UGI), e o projeto 13: Percepção da Qualidade

Ambiental, no Programa Homem da Biosfera. Estes dois acontecimentos, segundo Amorim Filho (1996), são os que consolidaram efetivamente as pesquisas na área de percepção ambiental.

A percepção da relação, ser humano ambiente, segundo Castello (2001), pode ser considerada um importante indicador da qualidade ambiental. Acredita-se que o estudo da percepção nas relações entre ser humano-ambiente favoreça o uso mais sustentável dos recursos naturais (SANTOS et al., 1996).

Sendo assim, a percepção ambiental pode ser caracterizada como uma pesquisa interdisciplinar, pois objetiva a compreensão dos fatores que atuam sobre a percepção e o comportamento. Após essa compreensão, viabiliza-se uma possibilidade de estabelecimento de uma relação mais harmoniosa entre o homem e o meio (meio físico), tendo assim uma melhoria significativa na qualidade ambiental (GALO JUNIOR; CAVALHEIRO e OLIVATO, 2004).

Essa concepção de pesquisa interdisciplinar, justifica-se, haja vista o caráter multidirecional e multirrelacional que se estabelece nas investigações que envolvem o estudo da percepção ambiental. Posto que essa requer um “olhar” polissêmico sobre diferentes universos e contextos.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

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