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Um dos objetivos da presente pesquisa foi avaliar a QV dos atletas de BCR inscritos na FPRBCR. Através da análise dos escores obtidos com a aplicação dos questionários, foi possível constatar que o escore total atingido pela população participante foi 68,67 no WHOQOL-bref e 66,61 no módulo adicional para pessoas com deficiências motoras.

A busca por pesquisas publicadas em periódicos indexados com o objetivo de avaliar a QV de atletas com deficiência física utilizando o instrumento WHOQOL-DIS- PD não obteve êxito, mas em contrapartida, foram encontrados estudos similares que utilizaram outros instrumentos e métodos mistos para avaliar a QV, cujos achados são passíveis de comparação aos resultados encontrados pela presente pesquisa.

Yazicioglu et al. (2012) realizaram uma comparação dos valores de QV e satisfação da vida entre grupos de PCDs participantes e não participantes de esportes adaptados. Os pesquisadores utilizaram somente o WHOQOL-bref para avaliar a QV dos indivíduos e constataram que os escores nos domínios físico, psicológico e social foram significativamente maiores no grupo que participava de esportes adaptados em comparação ao grupo controle, enquanto que os escores do domínio ambiental foram semelhantes nos dois grupos. Os autores concluíram que as PCDs que praticavam esportes adaptados apresentaram valores de QV maiores em comparação com PCDs que não estão envolvidas em nenhum tipo de esporte.

Na presente pesquisa, os escores mais altos encontrados referem-se aos domínios psicológico (74,57), relações sociais (73,42) e físico (67,18), corroborando com os achados de Yazicioglu et al. (2012), para o grupo praticante de esportes adaptados.

Bolach e Prystupa (2014) avaliaram a percepção da QV de PCDs participantes de esportes paralímpicos individuais e em equipe. Os pesquisadores utilizaram um instrumento local (polonês) para a avaliação da QV e constataram um nível médio de QV entre os paratletas dos dois grupos que praticavam esportes. Ao considerar os escores totais da presente pesquisa, considerando 100 como o escore máximo, pode-se concluir que a população investigada também apresenta um nível mediano de QV (68,67 no WHOQOL-bref e 66,61 no WHOQOL-DIS).

No Brasil, Rodrigues et al. (2016) compararam a QV de indivíduos com lesão medular praticantes e não praticantes de BCR da cidade de Marabá-PA por meio do da versão brasileira do instrumento SF-36. Os resultados apontaram que os praticantes de BCR apresentaram escores significativamente superiores comparados aos não praticantes. Os autores concluíram que o BCR pode ser uma importante estratégia terapêutica capaz de influenciar positivamente na QV de seus praticantes.

Sobre a influência dos esportes adaptados na QV em usuários de cadeiras de rodas, Côté-Leclerc et al. (2017) realizaram uma pesquisa quanti-qualitativa utilizando o Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers, para a avaliação quantitativa e entrevistas semiestruturadas para a avaliação qualitativa da QV. A pesquisa envolveu 34 usuários de cadeiras de rodas que praticavam esportes adaptados regularmente e pessoas de idade similar sem limitações (grupo controle). A partir da análise quantitativa dos resultados obtidos os autores concluíram que os praticantes de esportes adaptados apresentaram uma QV comparável ao grupo sem limitações. Com base na análise qualitativa das entrevistas, inferiu-se que a participação em esportes adaptados pode ser um fator de influência positiva na autoestima, na sensação de participação em atividades significativas, na atitude da sociedade em relação a pessoas com limitações de mobilidade e no bem-estar físico.

A presente pesquisa corrobora com os achados qualitativos de Côté-Leclerc et al. (2017), ao constatar que os escores mais altos encontrados com indicação de percepção positiva estão relacionados à autoestima (81,47), mobilidade (70,26) e interação na sociedade (71,55). Para avaliar a importância no BCR na QV dos atletas investigados seria necessária uma investigação qualitativa, com o objetivo de compreender a percepção dos atletas quanto ao impacto do ambiente de treino e de competição sobre a QV.

Entretanto, foi encontrada uma correlação significativa entre o tempo de prática do BCR e o domínio apoio social, sendo possível afirmar que quanto maior o tempo de BCR, mais positiva é a percepção do atleta sobre esse domínio. As facetas referentes ao domínio apoio social estão relacionadas à discriminação, proteção e perspectivas futuras, aproximando-se ainda mais com os achados de Côté-Leclerc et al. (2017).

Com relação à autonomia, na presente pesquisa o domínio decisão pessoal, componente do WHOQOL-DIS apresentou o maior escore, com as facetas relacionadas ao controle da vida, ao poder de decisão e diretamente a autonomia.

Não obstante, a presente pesquisa ainda encontrou diferença significativa ao analisar os domínios de QV entre grupos com e sem lesão, na qual os atletas sem lesão tendem a apresentar uma percepção mais positiva com relação ao domínio inclusão social.

Ainda sobre o sentido do esporte para atletas com e sem deficiência, Epiphanio et al. (2017) realizaram uma pesquisa qualitativa com paratletas praticantes de atletismo e concluíram que o esporte se apresenta como um importante recurso para a abertura de novas possibilidades e como um propulsor de superação de indivíduos na busca de seu desenvolvimento e da autorealização humana. Os autores ainda inferem que o paradesporto pode ser um recurso para superar algumas adversidades, sejam estas de âmbito social, econômica ou física.

Especificamente sobre a prática de atividade física, Nooijen et al. (2016), avaliaram se a reabilitação reforçada com a adição de uma intervenção comportamental para promover a atividade física conduz a uma melhor saúde, participação e QV. Os pesquisadores aplicaram uma intervenção comportamental que promove a atividade física após a alta hospitalar de indivíduos com lesão medular. Para esta pesquisa foi utilizado o instrumento SF-36 para a avaliação da QV. As medidas foram realizadas dois meses antes da alta, na alta, seis e 12 meses após a alta da reabilitação hospitalar. Os autores concluíram que a atividade física após a alta da reabilitação hospitalar melhora a percepção da QV, a participação social e parece reduzir fatores de risco para doenças cardiovasculares em pessoas com lesão subaguda da medula espinhal.

Não foi objetivo da presente pesquisa analisar a influência do paradesporto na QV dos atletas investigados, mas os estudos citados acima deixam claro sobre a importância da prática de atividade física, principalmente da prática do esporte adaptado para PCDs.

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