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CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO E ANÁLISE DAS SITUAÇÕES DE MODELAGEM

4.2 PERCEPÇÃO DA MATEMÁTICA NO COTIDIANO X CONTEÚDO CURRICULAR

Nos dois grupos, a verificação de aplicabilidade e relacionamento do conteúdo matemático escolar com situações do cotidiano foi percebida e isso tornou a aprendizagem da Matemática mais significativa.

Os alunos perceberam que a Matemática é importante e pode ajudar muito no exercício de suas profissões:

- “A Matemática na agricultura é fundamental e cada vez mais procura facilitar a vida dos agricultores.”

- “Através desse trabalho pudemos perceber a importância da Matemática.”

Nesses depoimentos vemos que os alunos conseguiram encontrar a utilidade para a Matemática, eles perceberam através dos cálculos que estavam realizando não eram somente para cumprir um programa, ou resolver a apostila, para fazer uma prova e obter nota, mas que os conteúdos trabalhados tinham também o objetivo de facilitar a vida do agricultor. Dessa forma os cálculos realizados deixaram de ser “mecânicos” e passaram a ter significado para o aluno que o estava realizando.

- “Concluímos com esse trabalho que é preciso vários cálculos para fazer uma simples plantação de soja. Aprendemos que é muito importante saber calcular a área e o perímetro. - “ Esse trabalho foi interessante pois conhecemos e aprendemos várias medidas.”

O conteúdo sobre unidades de medidas (linear e de superfície) mostrou ser muito significativo e importante, pois um bom técnico agrícola deve conhecer bem a área que irá plantar para poder calcular com maior exatidão possível a quantidade de sementes, adubos e agrotóxicos necessários no momento do cultivo não só do soja, mas de qualquer outra cultura que possa vir a realizar.

Apesar do conteúdo sobre medidas já ter sido visto em sala de aula por todos os alunos, pois esse faz parte do currículo escolar desde o Ensino Fundamental, percebemos que muitos alunos não o haviam compreendido ainda, e ao ser tratado dentro da metodologia da Modelagem Matemática, levando em consideração o contexto da necessidade desse conteúdo, da sua aplicação em situações diárias, o conteúdo foi encarado com mais seriedade e interesse por parte dos alunos que acreditamos conseguiram aprender.

- “E até na agricultura é muito usado os cálculos matemáticos.”

Nessa fala percebemos que o aluno conseguiu ver importância dos “cálculos matemáticos” em várias situações da vida, inclusive na agricultura onde era a situação em que estávamos mais entretidos naquele momento. Outra fala que contribuiu para isso foi no momento em que colocamos os dados da tabela no gráfico (exemplo citado na página 69) e o qual formou uma função linear e um aluno comentou:

- “Assim no gráfico é bem mais fácil ver o aumento da quantidade dos grãos colhidos.” Outro aluno comentando sobre a aplicabilidade do conteúdo matemático:

- “Concluí que com base na soja é mais fácil o aprendizado em matemática, assim a gente obtém mais informações e facilita o cálculo.”

O cálculo ficou mais fácil para esse aluno porque ele estava dentro de um contexto que era de seu interesse, por isso se sentia mais motivado e interessado para efetuá-lo.

- “Eu aprendi muitas coisas sobre a soja. Aprendi a fazer muitas contas sobre função, vértice, imagem e gráficos relacionados com a soja, ficaram mais interessantes.”

- “Conclui com esse trabalho que se fizermos funções em cima da importância do soja fica bem mais fácil de entender e compreendê-la.”

Sobre o conteúdo de funções proposto no conteúdo curricular, percebemos que os alunos conseguiram aprender melhor, relacionado com o soja, que é um assunto de interesse deles os termos matemáticos como vértice, imagem e outros foram naturalmente entendidos. - “Eu aprendi as medidas agrárias e achei bem interessante estudar matemática relacionada

com o soja.”

Esse aluno salientou que estudando os conteúdos de matemática relacionados com o soja, mostrou-se a aplicação do conteúdo com a sua prática e com isso pode se aperfeiçoar e aprender ao mesmo tempo matemática e a cultura do soja na teoria, e aplicar mais tarde na prática, e que estudando matemática dessa forma é bem mais interessante.

Infelizmente para alguns alunos essa visão diferenciada de ensino não foi adquirida e para eles a forma tradicional de ensino é melhor. A visão linear da Matemática incorporada na escola por programas curriculares prontos, nos livros didáticos adotados e no ensino da Matemática como um todo, precisam de mudanças e essas não ocorrem de um dia para outro.

Visão essa equivocada, mas que está enraizada no contexto escolar das instituições e é apoiada por pais e pela sociedade como um todo, pois foi exatamente dessa forma seguindo o livro didático, não só de Matemática, mas o de Português, História e outros que a escola firmou-se como reprodutora de conhecimentos.

Outro fato que merece consideração por refletir é a forma descontextualizada de ensinar Matemática, onde os conteúdos são somente colocados aos alunos sem reflexão ou análise ao qual o aluno está acostumado e assim acha perda de tempo fazer relações de Matemática com outros assuntos, como foi constatado no depoimento de um aluno:

- “A matéria até que é boa de estudar só que é a mesma coisa que usar qualquer outro elemento como máquinas e etc. Portanto, a professora devia se preocupar mais em ensinar matemática e deixar culturas de lado!!!”

Nessa fala, está nítido a concepção que o aluno possui de Matemática, uma matemática fragmentada, que não pode ser relacionada com assuntos que seriam de “outras disciplinas” que se perde tempo quando isso ocorre e a preocupação principal do professor deve ser “ensinar bem a sua matéria”, cada um dentro do seu horário e dentro da sua formação. Assim nessa fala um professor de Matemática não pode interferir nos erros de Português cometidos por seus alunos, por exemplo.

As características de nossa tradição escolar diferem muito de que seria necessário para a nova escola. De um lado, essa tradição compartimentada disciplinas em ementas estanques, em atividades padronizadas, não referidas a contextos reais. De outro lado, ela impõe ao conjunto dos alunos uma atividade de passividade, tanto em função dos métodos adotados quanto da configuração física dos espaços e das condições de aprendizado. Estas, em parte, refletem a pouca participação do

estudante, ou mesmo do professor, na definição das atividades formativas

(BRASIL, 2002, p.9, grifo nosso).

Uma colocação importante a salientar é que esse aluno é considerado como “bom aluno” dentro das características dessa nossa tradição escolar, tira boas notas em Matemática e em outras disciplinas e considera de extrema importância a total resolução dos exercícios propostos na apostila.

Outro aluno também ressaltou em sua fala a importância da resolução da apostila dizendo que “o trabalho com apostila foi perfeitamente concluído, apesar de ficarmos várias aulas fazendo as coisas sobre o soja.” .

Diante dessa evidência da tradição escolar nos alunos, reforçamos a idéia de que somente através de práticas diferenciadas de ensino é que poderemos mudar tal visão. E cada vez mais acreditamos que a Modelagem Matemática, é um dos caminhos para essa mudança. Através de sua aplicação foi possível conciliar uma Matemática mais viva, relacionada com a realidade, com a Matemática da apostila, ou do programa curricular, dando oportunidades para o aluno questionar e enfrentar situações do dia a dia, com o auxílio de ferramentas matemáticas.

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