• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2- CARACTERIZAÇÃO E COMPARAÇÃO DAS PRÁTICAS

1.3 Percepção dos produtores

A percepção é um processo ativo da mente, em que se é possível interpretar o mundo através da contribuição da inteligência no processo perceptivo, que é mediada pela motivação, pelos valores éticos, morais, interesses, julgamentos e expectativas daqueles que percebem (SILVA; EGLER, 2002). Entretanto, a percepção da problemática ambiental por parte de um indivíduo além de depender dos fatores

intrínsecos a ele, recebe influência dos campos educacional e cultural e, apesar de cada ator social apresentar uma percepção distinta do meio natural, é possível integrar todo esse conjunto de percepções na busca por novos hábitos e soluções para os problemas observados (HOEFFEL & FADINI, 2007; MERLEAU-PONTY, 1994).

Da mesma forma, para Miranda e Souza (2011), embora a percepção seja um processo pessoal, o indivíduo não age isoladamente, mas de forma coletiva, fazendo parte de um grupo com comportamentos e características geralmente semelhantes. Desta forma, a percepção ambiental deve estudar a comunidade com um olhar em cada

indivíduo, pois o ambiente não está condicionado à ação de apenas um, e sim da coletividade, tornando-se de suma importância para uma melhor compreensão das suas vivências, valores e comportamentos.

Cada indivíduo percebe, reage e responde de forma diferente às ações sobre o ambiente em que vive e suas respostas ou manifestações são resultado das percepções, tanto individuais quanto coletivas, dos processos cognitivos e expectativas de cada pessoa. Assim sendo, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos compreender melhor o homem e o ambiente, bem como suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas

(FERNANDES et al., 2003).

Dessa forma, o presente artigo tem por objetivo identificar as práticas adotadas pelos micros produtores de camarão da localidade de Parajurú no Estado do Ceará tomando como referência às normas de boas práticas de manejo recomendadas pela Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC).

2 METODOLOGIA

Esse trabalho é uma caracterização das práticas de manejo desenvolvidos pelos micro produtores de camarão (até 5 hectares) sediados em Parajurú, comunidade

pertencente ao município de Beberibe no Ceará. A escolha do Estado do Ceará para o estudo se deu ao fato do Estado do Ceará ser o principal produtor nacional de camarão, dessa forma, os impactos gerados pela atividade são maximizados devido à grande quantidade e densidade de viveiros no Estado. Posteriormente foi definida a comunidade de Parajurú em razão da predominância de produtores de micro porte.

Os dados sobre as práticas de manejo foram obtidos através da aplicação de formulários semiestruturados (apêndice A) aosprodutores pertencentes a Associação Comunitária dos Produtores de Parajuru (ACPP). Para aplicação dos formulários foi realizada uma visita à localidade no dia 29 de novembro de 2016, indo em busca dos produtores individualmente em suas residências com o auxílio do tesoureiro da associação de carcinicultores de Parajuru,

Foram entrevistados 31 produtores em um universo de 39, sendo assim, aproximadamente 79,5% da população em estudo. Os carcinicultores entrevistados foram os produtores encontrados em suas residências no dia da aplicação, visto que, a ideia inicial era entrevistar 100% do universo, porém 8 produtores não foram

localizados. Após explicação sobre a pesquisa e seus objetivos, os participantes foram convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e só então iniciou-se a entrevista.

Os formulários utilizados continham perguntas sobre características

socioeconômicas dos produtores (sexo, idade, renda), infraestrutura da fazenda, práticas de manejo, medidas de biossegurança adotadas, medição de parâmetros físico-químicos da água e uso de novas tecnologias de produção, além de questões específicas sobre a problemática ambiental envolvendo os impactos da carcinicultura e a geração de lixo durante os ciclos de cultivo, além de questionamentos referentes ao licenciamento ambiental dos empreendimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os produtores de Parajurú, em sua maior parte, apresentam a faixa etária entre 31-40 anos, sendo predominante o sexo masculino (90,32%) e casado (51,61%) que residem em imóvel próprio (93,42%) e com famílias compostas de três a cinco pessoas (54,84%). Uma pesquisa realizada por Costa (2016) também identificou esse perfil como predominante entre os produtores na região de Senador Georgino Avelino no RN, evidenciando que a classe é dominada por homens relativamente jovens e com um núcleo familiar bem estabelecido.

Referente ao nível de escolaridade na atividade, Costa e Sampaio (2004) afirmam que os empregos na área de carcinicultura são, em geral, preenchidos por pessoas com baixo nível de escolaridade ou analfabetos. Nessa pesquisa foi identificado o nível médio completo como predominante na região (Figura 1). Essa diferença pode se dar ao fato de que no presente estudo os micro produtores são os proprietário dos empreendimentos enquanto em Costa e Sampaio (2004) são somente funcionários de fazendas de portes maiores. Dessa forma, há a indicação de que na região houve o

fortalecimento dos micro empreendimentos próprios em detrimento de médios e grandes produtores.

Figura 1. Escolaridade dos micro produtores de camarão em Parajurú no litoral do Ceará.

Referente ao recebimento de benefícios do governo, 67,74% informaram não o obter, resposta semelhante ao identificado por Costa (2016) no litoral do Rio Grande do Norte. Porém no Ceará entre os entrevistados que recebem auxílio, 22,58% detém fundos do programa bolsa família e apenas 9,68% são aposentados. Esses valores mostram que a renda advinda do governo não é significativa na renda das famílias da comunidade. Dessa forma, a principal fonte de renda listada pelos produtores é a atividade de carcinicultura considerada a atividade econômica mais importante para 70,9% dos entrevistados (Figura 2), rendendo a 58% dos produtores uma receita de um a dois salários mínimos mensais.

Figura 2. Principais fontes de renda listadas pelos micro produtores de camarão em Parajurú

no litoral do Ceará.

A terra utilizada para a criação de camarão em Parajuru-CE foi alvo de intensas disputas judiciais, visto que, era uma área sem qualquer uso comercial imersa em uma área considerada atrativa pelos visitantes, passando assim, a sofrer com a especulação imobiliária

9,67% 9,67% 9,67% 9,67% 51,61% 6,45% 3,23% 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% Analfabeto Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Po rce n ta ge m Nível de escolaridade 70,90% 9,68% 9,68% 6,45% 3,22% 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% Carcinicultura Pesca Aposentadoria Carteira assinada Consrução Civil Porcentagem Fon te d e Re n d a

por parte de grandes empresários estrangeiros. Para retomar a supremacia sobre a região, alguns moradores se uniram e iniciaram um processo na justiça que depois de alguns anos concedeu aos residentes o direito de utilizar a área para cultiva-la. Foi então criada a Associação Comunitária de Produtores de Parajurú (ACPP) e a área dividida em lotes contendo cerca de 1 hectare e distribuído entre os associados para a construção dos viveiros.

Entre os entrevistados pela pesquisa, 93,55% estão atualmente com os viveiros em atividade, os 6,45% restantes estão com as atividades suspensas devido problemas financeiros e a incidência de doenças. Na pesquisa de Costa (2016), a porcentagem de empreendimentos fora de funcionamento devido à alta mortalidade decorrente de patologias é de 14,8%. Mostrando que a comunidade potiguar apresenta uma maior inatividade de produção devido as altas taxas de enfermidades nos camarões, o que pode indicar uma provável redução na renda para os produtores afetados.

Um total de 77,41% dos produtores cearenses relataram que a família auxilia no trabalho nos cultivos, 90,32% dos entrevistados não possuem empregados e os que possuem (9,67%) não assinam as carteiras de trabalho, evidenciando que a carcinicultura realizada na comunidade ainda é realizada em estrutura familiar.

Em relação a análise das técnicas de produção adotadas, os resultados obtidos encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1. Práticas de manejo adotadas em micro propriedades produtoras de camarão

localizadas em Parajurú no litoral do Ceará.

Manejo N Ceará %

Todos os viveiros estão em funcionamento?

Sim 29 93,55

Não 2 6,45

Possui empregados? Sim 3 9,68

Não 28 90,32

Família trabalha com você? Sim 27 87,10

Não 7 22,58

Utilizam água de poço para cultivo?

Sim --- ---

Não 31 100,00

Faz algum tipo de tratamento na água antes de bombeá-las para os viveiros?

Sim 13 41,94

Não 18 58,06

Faz fertilização da água? Sim 27 87,10

Não 4 12,90

Usa disco de Secchi? Sim 13 41,94

Não 18 58,06

Faz calagem do solo? Não Sim 18 13 58,06 41,94 Adquire pós-larvas livres de

enfermidade?

Sim 16 51,61

Não 15 48,39

Realiza aclimatação das pós-larvas?

Sim 23 74,19

Você escolhe a ração em função da facilidade de encontrar no mercado?

Sim 9 29,03

Não 22 70,97

Você escolhe a ração em função do preço?

Sim 12 38,71

Não 19 61,29

Você escolhe a ração em função da qualidade (percentual de proteína)? Sim 19 61,29 Não 12 38,71 Faz medição de temperatura? Sim 13 41,94 Não 18 58,06

Faz medição de salinidade? Sim 30 96,77

Não 1 3,23

Faz medição de pH? Não Sim 14 17 45,16 54,84 Faz medição de oxigênio

dissolvido? Sim 4 12,90 Não 27 87,10 Faz medição de alcalinidade? Sim 3 9,68 Não 28 90,32

Faz medição de dureza? Sim 2 6,45

Não 29 93,55

Faz medição de turbidez? Não Sim 25 6 19,35 80,65 Faz medição de amônia

tóxica?

Sim 2 6,45

Não 29 93,55

Faz medição de nitrito? Sim 2 6,45

Não 29 93,55

Não faz medição? Sim 2 6,45

Não 29 93,55

Retira a matéria orgânica no fundo dos viveiros?

Sim 6 19,35

Não 25 80,65

Usa probióticos na matéria orgânica no fundo dos viveiros?

Sim 9 29,03

Não 22 70,97

Deixa secar ao sol a matéria orgânica no fundo dos viveiros?

Sim 22 70,97

Não 9 29,03

Não controla a matéria orgânica no fundo dos viveiros?

Sim --- ---

Não 31 100,00

Usa probióticos para melhoria na qualidade de água?

Sim 6 19,35

Não 25 80,65

Usa probióticos para reduzir o aparecimento de doenças?

Sim 14 45,16

Não 17 54,84

Usa probióticos para diminuir a matéria orgânica

Sim 1 3,23

Não 30 96,77

Usa probióticos para maior crescimento dos camarões?

Sim 1 3,23

Não 30 96,77

Não usa probióticos? Não Sim 13 18 41,94 58,06 Realização de fase no

berçário?

Sim 3 9,68

Não 28 90,32

Além dos dados apresentados, todos os entrevistados cultivam camarões em viveiros escavados, adquirem PI’s por meio de larvicultura comercial e fornecem a ração através de bandejas. Nunes et al. (2005) realizou um estudo com 43 produtores ao longo do litoral cearense e constatou que 83,7% utilizam de bandejas para ofertar alimentos aos camarões, sendo assim, é identificado um aumento nessa forma de fornecimento de alimentação nos últimos anos.

Referente ao tratamento realizado no solo antes do inicio do ciclo, na comunidade estudada no CE foi identificado que 58,06% utilizam o calcário para corrigir o pH do solo, já no RN esse valor sobe para 77,78% (COSTA, 2016). Nunes et al. (2005) identificou que todos os entrevistados no Estado do CE faziam uso desse método, dessa forma, evidenciou-se uma diminuição considerável (-41,94%) desse tipo de intervenção na região. Essa redução pode está ligada ao aumento do uso de probióticos no solo, que nessa pesquisa chegou a 29,03%.

No que diz respeito a utilização do método de exposição ao sol, na área analisada no CE foi verificado que 70,97% desfruta desse artifício igualmente a 88,89% dos produtores no RN. A pesquisa supracitada de Nunes et al. (2005) mostra que na época, esse valor em todo estado do CE era de 53,5%, desse modo, essa prática parece ter se tornado mais comum na atividade durante nos últimos anos.

Entre os produtores que usam do método de remoção do excesso de matéria orgânica do solo, foi identificado que em Parajuru-CE os empreendedores deslocam esse material para reforçar os taludes dos viveiros como mostrado na figura 3. Porém, a utilização desse

Não 15 48,39 Planejamento para a compra de ração Compra sozinho 31 100,00 Junto a outro produtor Outras --- --- respostas --- ---

Com qual frequência realiza biometrias durante o cultivo? Semanalmente 22 70,97 Quinzenalmente 2 6,45 Mensalmente 2 6,45 Não realiza biometria Outras 2 6,45 respostas 3 9,68 Frequência da oferta de alimento/dia Uma vez 1 3,23 Duas vezes 26 83,87 Três vezes 3 9,67 Quatro vezes 1 3,23 Outra resposta --- ---

Quantas vezes faz o ajuste de ração em um ciclo de cultivo? Diariamente 11 35,48 Duas vezes 11 35,48 Três vezes 3 9,69 Quatro vezes 2 6,45 Quando necessário 2 6,45

Não faz ajuste 2 6,45

sedimento nas paredes de revestimento dos viveiros pode desencadear os mesmos problemas que seriam causados sem proceder com a remoção. Nesse ponto, o manual de boas práticas da ABCC (2014) é enfático sobre a necessidade de total eliminação do excesso de matéria

orgânica do ciclo de cultivo. Um estudo realizado por Nunes et al. (2005) afirma que o tipo ideal de solo a ser utilizado para esse fim, é o sedimento de pouca aeração e fácil

compactação, contendo de 5% a 10% de argila e menos de 20% de matéria orgânica.

Figura 3. Produtor utilizando a matéria orgânica removida do criadouro para reforçar os

taludes de contenção do viveiro no povoado de Parajuru-CE em novembro de 2016.

Fonte: Acervo pessoal.

Sobre as análises fisioquímicas da água empregadas no Estados do Ceará, os parâmetros de medições de temperatura, salinidade e pH foram os mais adotados pelos produtores com respectivamente 41,94%, 96,77% e 45,16% na comunidade estudada, porém esse dado difere do constatado por Nunes et al. (2005) onde foi identificado 95%, 98% e 93% respectivamente, explicitando assim, uma diminuição significativa das medições de

temperatura (-53,06%) e pH (-47,84%) e mantendo-se estável as medições de salinidade. Sobre o mecanismo de fertilização da água, foi identificado que 87,10% costumam praticar esse método, já na análise de Nunes et al. (2005) essa porcentagem é de 100%, apresentando uma diminuição de 12,9% ao longo desses últimos anos.

Referente ao uso de probióticos, 41,94% afirmaram utilizar desse recurso na comunidade analisada, valor superior aos 17% constatado em todo Estado do Ceará pelo relatório da ABCC/MPA (2011). Em uma comparação histórica, o valor obtido com essa pesquisa também é superior ao constatados na pesquisa de Nunes et al. (2005) onde somente 7% utilizava desses produtos no ano da pesquisa. Essa diferença pode ser explicada através da

rápida e crescente propagação de doenças desde meados de 2004, sendo assim, cada vez mais necessária a intervenção de probióticos que fortaleçam os animais.

Referente ao manejo do berçário, a pesquisa de campo identificou que apenas 9,68% utilizam desse método. Esse valor é alto quando comparado ao relatório da ABCC/MPA (2011), onde apenas 2% dos produtores de todo o Estado do Ceará usufruíam desse artifício.

Sobre o Ciclo de cultivo, em Parajurú- CE a média do ciclo produtivo é de 60 dias (Figura 4). Em Senador Georgino Avelino- RN, Costa (2016) identificou que a média de duração teve que ser reduzida de 90 para 50 dias devido à alta incidência de doenças que afetaram a região. No estudo realizado por Nunes et al. (2005), foi identificado que 51,2% das fazendas entrevistadas apresentavam um ciclo de 111-120 dias, essa diferença constada entre as pesquisas pode ser justificada devido a alta incidência de doenças que se vem ocorrendo nos Estados produtores de camarão desde meados de 2004, então, os produtores além de diminuírem a duração dos ciclos de cultivo e consequentemente o tamanho do camarão vendido, diminuíram também a densidade de estocagem para assim minimizar as chances de contágio.

Figura 4. Tempo médio de um ciclo de cultivo realizado pelas micro propriedades produtoras

de camarão localizadas em Parajurú no litoral do Ceará.

Referente à taxa de sobrevivência dos camarões nos viveiros, Parajurú apesar de ter sofrido recentemente com epidemias de doenças, a sobrevivência varia entre 61% a 90% (Figura 5), igualmente ao que é evidenciado na pesquisa de Nunes et al. (2005) onde na época do estudo era predominante uma taxa entre 61%-70% segundo a maioria dos entrevistados (36,6%) em todo o estado do Ceará.

Um fator de produção que parece ter sido alterado com o tempo foi a quantidade de alimentações ofertadas por dia. Na região analisada por esse estudo, 83,87% dos entrevistados afirmaram ofertar a ração duas vezes por dia, no estudo de Nunes et al. (2005) 48,8%

afirmaram ofertar entre 2-3 vezes, enquanto 41,9% ministrava a alimentação entre 3 e 4 vezes. Dessa forma, pode-se entender que apesar da diminuição do ciclo devido a disseminação de enfermidades e a diminuição na oferta de alimentos por dia, a produção tem se mantido estável nos últimos 12 anos.

3,29% 54,83% 29,03% 9,60% 3,22% 0,00% 20,00% 40,00% 60,00%

Até 50 dias 60 dias 70 dias 80 dias 90 dias

Porce

n

ta

ge

m

Figura 5. Sobrevivência dos cultivos em micro propriedades produtoras de camarão em

Parajurú no litoral do Ceará.

Apesar da estabilidade na produção de camarão no CE identificado entre o estudo atual e o publicado por Nunes et al. (2005), todos os entrevistados relataram uma diminuição de produção nos últimos 5 anos e atribuem essa queda de sobrevivência principalmente a alta incidência de doenças na região. Essa também é a opinião dos produtores do RN, Costa (2016) informou que os produtores perceberam um decréscimo de sobrevivência dos animais, sendo que na época do estudo, apenas 30% de sobrevivência. Essa redução também foi creditada a grande propagação de doenças que acometeu toda a região e resultou na morte de parte do camarão cultivado.

Referente à despesca, 100% dos carcinicultores realizam de forma total e na maioria dos casos (41,93%), é comprada por atravessadores ou por empresas privadas (35,48%), que a escoam para o comércio local. O uso de atravessadores segundo Baldi (2006) é prejudicial tanto ao produtor quanto ao consumidor final, pois essas pessoas agem como uma barreira na comunicação, tornando o carcinicultor dependente desse sistema e dificultando a troca de informações que poderiam aumentar o lucro e baratear o produto.

No tocante ao licenciamento ambiental, na localidade pesquisada no Ceará todos os carcinicultores possuem licença ambiental. Segundo os entrevistados, a Associação

Comunitária dos Produtores de Parajuru (ACPP) organizou uma licença coletiva para todos os associados, sendo assim, existe uma só licença que engloba aproximadamente 50 hectares em nome da associação, onde cada viveiro (com cerca de 1 hectare cada) pertence a um produtor diferente. Quando perguntados sobre o principal motivador para a busca do licenciamento ambiental, 51,61% responderam que decidiram obter o certificado ambiental devido ao fato de ser uma exigência legal e ser importante para o desenvolvimento do trabalho de forma segura, porém, 35,48% afirmaram que só detém esse documento devido à iniciativa da associação como evidenciado na Figura 6. Referente ao tipo de licença adequada para o seu empreendimento, 58,06% afirmaram não saber qual licença devem requerer, porque segundo eles, a associação cuida de todos os tramites referentes a esse assunto. Dos 41,93% que

12,90% 9,60% 3,22% 22,58% 29,03% 19,35% 3,22% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 31% a 40% 41% a 50% 51% a 60% 61% a 70% 71% a 80% 81% a 90% Maior de 91% P or ce n tag em Taxa de sobrevivência

disseram saber qual licença ideal para sua fazenda, 64,28% afirmaram que o tempo para renovação é de 3 anos, 28,57% declaram o período de 2 anos e 7,14% alegam ser anual. Segundo dados da ABCC/MPA (2011) a cidade de Beberibe, município ao qual Parajurú pertence, conta com apenas uma licença ambiental, porém no documento não há informações suficientes para identificar qual empreendimento é o detentor dessa licença, podendo ser a associação de produtores de Parajurú ou não.

Figura 6. Motivos para obtenção do licenciamento ambiental para os micro produtores de

camarão em Parajurú no litoral do Ceará.

Sobre a geração de impactos ambientais decorrentes da atividade, foi constatado que 54,83% do produtores acham que a carcinicultura não gera impactos, inclusive afirmaram que a atividade auxilia na preservação e crescimento do mangue. Segundo os entrevistados, nas proximidades da área de cultivo não existia vegetação natural e hoje, 12 anos depois do inicio do cultivo, a região está dominada por mangue. Essa informação apresentada pelos produtores condiz com a pesquisa realizada por Maia et. al. (2005) nos Estados do Ceará, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco que juntos representam 83% da área de produção no país. No estudo foi constatado que a área de manguezais cresceu 36,6% no período de 1978 a 2004, contradizendo o que é afirmado por diversos autores que destacam evidencias de que a

criação de camarão foi uma das atividades que mais causou asupressão da mata de mangue na Ásia e na América Latina, sendo a perda estimada em 35% (TAHIM, 2008).

Sobre esse debate, Coelho Júnior e Schaeffer-Novelli (2000) afirmam que os nutrientes dos resíduos dos viveiros podem causar efeito positivo, no crescimento de

mangues, mas o excesso pode levar a mortandade de espécies e eutrofização da água. Tahim (2008) alega que em muitos casos, a ultrapassagem da capacidade de suporte das bacias hidrográficas pelo lançamento de efluentes resulta no comprometimento da água para próprio uso das fazendas de cultivo e na disseminação de doenças.

Entre os principais problemas ambientais citados pelos produtores cearenses, o item que se destaca é “a piora da qualidade da água no entorno da fazenda” com 19,35% seguido

6,45% 51,61% 3,22% 3,22% 35,48% 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% Por cuidado ao meio ambiente Para está legalizado Obter financiamento Obter novos parceiros públicos e privados Iniativa da associação P or ce n tag em

da “diminuição das áreas de lazer” e “produção de lixo sólido” ambos com 6,45%, mostrando que poucos produtores têm alguma noção dos problemas ambientais associados a atividade.

Ao serem questionados quanto ao uso de bacias de sedimentação, todos os

entrevistados no CE afirmaram que não possuem e, portanto, os efluentes são eliminados em um canal de drenagem construído por eles e despejado diretamente no mar, exatamente como ocorre no RN, onde 96,3% afirmaram não usar bacia de sedimentação e despejar os efluentes no mangue (COSTA,2016).

Essa pratica de descarte de efluentes diretamente no mar parece ser uma prática recorrente e antiga, visto que, no estudo de Nunes et al. (2005) é evidenciado que 67,4% dos empreendimentos pesquisados em todo litoral cearense descartavam suas águas residuais dessa forma, já que, somente 12% dos produtores apresentavam uma bacia de sedimentação

Documentos relacionados