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4. ONGs/AIDS E SERVIÇOS DE SAÚDE EM BELÉM

4.3. O Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas Adquiridas (CASA-DIA)

4.3.4. Percepção dos trabalhadores sobre o atendimento desenvolvido

O primeiro ponto sobre esse aspecto foi a identificação do tipo de reconhecimento dos profissionais aos jovens. Como foi colocado anteriormente, os profissionais geralmente

percebem os jovens por uma dimensão de vulnerabilidade (de acordo com Castro e Abramovay (2005)) demarcada por formas de conduta e inserções em experiências prejudiciais como o uso de drogas e comportamento sexual irresponsável.

A grande maioria dos jovens atendidos são jovens na faixa etária de 15 a 24 anos, talvez uma predominância masculina [...]são jovens homossexuais que transam sem preservativo, que usam drogas, que fazem tatuagem[..]são jovens mães que descobrem na gravidez que são soropositivas... (Profissional 1).

É uma pessoal que já cresceu com o HIV[..]é uma população que infelizmente não acreditava que pudesse pegar o HIV, por algum motivo criou uma ilusão que se pegasse a doença não ia ser difícil de conviver com ela... (Profissional 02)

Em sua maioria, os profissionais percebem os sujeitos jovens como sujeitos imaturos, com pouca capacidade de auto-cuidado e gosto pelo perigo. Em relação a AIDS, a modificação de sua configuração de uma doença letal a doença crônica, a partir dos efeitos do uso do coquetel, produz uma diminuição da preocupação com um possível contágio, não somente dos jovens como também dos adultos, abrindo mãos do uso de mecanismos de prevenção.

Outro aspecto presente no cotidiano dos serviços é a dificuldade de interpretação de fatores ligados a questões de gênero na construção das relações das jovens e seus namorados e maridos, resultando no aumento da infecção nesse segmento e na culpabilização individual das mesmas pelo processo de infecção.

Eu atendi uma jovem que tem 19 anos que hoje esta grávida, onde ela teve um relacionamento por três anos, que foi o primeiro parceiro sexual dela, acontece que ela nunca usou preservativo porque ele dizia que não era a primeira vez dela, enfim, ela nunca usou preservativo com ele. Terminou com este rapaz, e começou a namorar novamente e engravidou. Durante a gravidez ela veio saber, que seu namorado anterior já tinha HIV há cinco anos, fazia tratamento aqui, porém foi somente quando ela descobriu e que ele veio falar com ela (Profissional 1).

Sobre as demandas trazidas pelos jovens no processo de atendimento, segundo os profissionais, não há diferenças das demandas de outros grupos. Demonstram preocupação com suas relações afetivas, suas práticas sexuais, o compartilhar de sua condição com seus familiares e parceiros. Surgindo questões acerca de como vou viver com esta doença? Vou poder namorar? Ter filhos, estudar? Muitas dessas demandas são secundarizadas nos resultados esperados na relação de cuidado.

O principal resultado é ele aderir a medicação. Aderir ao tratamento e ficar bem (Profissional 3).

A princípio espero que eles passem para mim o que eles têm dúvidas, então assim eu posso primeiro esclarecer as dúvidas, depois focar mais na minha área na questão dos cuidados e no uso do preservativo... (Profissional 1).

Espero mantê-los saudáveis, terem uma vida produtiva onde possam fazer faculdade, constituírem família, que continuem suas vidas. (Profissional 2).

Não somos nós que temos que está determinando, são eles que devem determinar [...] são pessoas que tem HIV, mas são pessoas que tem os mesmos direitos e obrigações que outras pessoas[..]o fato dela ter a doença não a impede que ela estabeleça outras relações sociais (Profissional 4).

Apesar da verbalização do reconhecimento e importância de colocar os desejos e necessidades dos jovens como diretrizes na definição e orientação da condução do seu processo de tratamento, os objetivos esperados pelos profissionais em sua intervenção expressam uma preocupação central com a manutenção da saúde dos jovens para que possam continuar seguindo seu curso de vida. No entanto, a concretização disso passa pela aceitação inconteste das orientações e recomendações ditadas.

O nosso objetivo é realmente que eles entendam o que é o tratamento em si [...]que tenham mais cuidado com sua saúde, para que não adoeçam[...] que sigam as recomendações[...]que entendam o quê podem está fazendo no dia-a-dia para que possam manter bom estado de saúde (Profissional 1).

Sobre os limites encontrados para a consecução desses objetivos, são apontadas algumas dificuldades postas na organização do trabalho para atenção aos jovens. Primeiramente há a queixa da ausência de uma política especifica para o cuidado com jovens vivendo com HIV/AIDS com disponibilidade de aportes teóricos, instrumentais, metodológicos e formativos para intervenção especifica.

Há limitação da estrutura física, que não contribuiu para ampliar as possibilidades de contato e interações que fujam do padrão restrito ao atendimento no consultório e impede a construção e desenvolvimento de outras formas de cuidado com práticas mais coletivas e com a participação dos usuários. Soma-se a este aspecto a carência de profissionais em número suficiente e com formação para este tipo de trabalho.

Há componentes intersubjetivos que identificam resistências, tanto por parte do profissional (que não demonstra vontade de realizar um trabalho noutra perspectiva) quanto dos usuários jovens (que não percebem a importância de outros formatos de relação com o serviço de saúde) também pela dificuldade do serviço em efetivá-los.

Eu achava melhor que os jovens que estão entrando no serviço participassem de grupos, porque no grupo é mais fácil trabalhar, porque não é um profissional falando sobre uma determinada doença, sobre determinado viver, são as pessoas que passam

por esta experiência e que vão estar falando e são muito mais valiosas do minha fala... (Profissional 4).

Não há uma equipe de trabalha exclusiva para trabalho com jovens, aqui nós somos um profissional por cada área, em alguns casos tem dois, mas a maioria é um profissional, e assim fica difícil porque você tem outras demandas de trabalho e não tem como você se voltar pra fazer um trabalho específico para um público específico (Profissional 1).

4.4. Unidade de Referência em Doenças Infecto-Contagiosas Parasitárias Especiais