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PERCEPÇÃO DOS FRENTISTAS QUE TRABALHAM EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS EM CIDADES DO RECÔNCAVO SUL DA BAHIA SOBRE OS

RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. PERCEPÇÃO DOS FRENTISTAS QUE TRABALHAM EM POSTOS DE COMBUSTÍVEIS EM CIDADES DO RECÔNCAVO SUL DA BAHIA SOBRE OS

EFEITOS NA SAÚDE

Um estudo prospectivo qualitativo/quantitativo foi realizado em um período de oito meses, entre setembro de 2011 e maio de 2012. Para a obtenção dos resultados desta pesquisa, 23 frentistas foram entrevistados em postos de combustíveis de oito cidades do Recôncavo Sul e do vale do Jiquiriçá, Bahia. As entrevistas foram realizadas nas cidades de Amargosa, Mutuípe, Jiquiriçá, Varzedo, São Miguel das Matas, Elísio Medrado, Brejões e São Felipe. Foram investigados indivíduos do sexo masculino e feminino, com idade variando de 20 a 46 anos de idade.

A pesquisa foi dividida em três etapas: a) Caracterização do grupo de estudo e locais de pesquisa; b) Aplicação dos questionários; e c) Análise estatística, conforme metodologia proposta por Portes [200]. Para caracterizar o grupo, foram aplicados questionários com perguntas fechadas no próprio local de trabalho, com o devido consentimento do proprietário do estabelecimento. Os resultados obtidos através da aplicação do questionário são apresentados em forma de gráficos, com valores percentuais ou absolutos para cada variável investigada.

Dos 23 entrevistados, 87% foram do sexo masculino e 77% possuíam idade entre 20 e 30 anos. Os resultados apontaram que 78% dos entrevistados tinham consciência que o contato diário com os vapores dos combustíveis poderia afetar sua saúde e a maioria sabe que os vapores emitidos podem penetrar em seus corpos pelo nariz e pela pele e também afetar os olhos. Na Figura 14, são mostrados os resultados das respostas dos frentistas em relação às partes do corpo

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que são expostas ao contato com os combustíveis e estão sujeitas à contaminação. Os entrevistados puderam optar por mais de uma resposta.

Figura 14. Percepção dos frentistas em relação às partes do corpo humano expostas ao contato com os combustíveis.

De acordo com a Figura 14, pode-se verificar que 100% dos entrevistados apontaram que o combustível pode entrar em seus corpos pela pele através das mãos. Além disso, observou-se que 48% assinalaram que a penetração pode ocorrer também pelo nariz e 35% acreditam que a contaminação aconteça pelos olhos. O contato dos combustíveis com a pele pode causar irritação, ressecamento e dermatite; e o contato com os olhos pode causar irritação com congestão da conjuntiva [225]. Além disso, a inalação pode provocar irritação aos olhos, nariz e garganta e causar tonturas [226].

Os frentistas também foram indagados acerca das alterações ocasionadas em seu corpo quando estão em contato com os combustíveis durante uma jornada de trabalho de 8 h/dia. Constatou-se que cerca de 40% dos frentistas sentiram algum tipo de alteração e 40% não perceberam nenhuma alteração. Na Figura 15 são apresentados, de forma absoluta, os principais sintomas relatados pelos

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frentistas que perceberam alguma alteração. Eles puderam optar por mais de uma resposta.

Figura 15. Percepção dos frentistas em relação às alterações no seu corpo durante a jornada de trabalho.

Observa-se que os entrevistados indicaram que durante sua atividade profissional os principais sintomas são dor de cabeça e irritação do nariz. Dormência nos dedos, irritação nos olhos e garganta, enjoo, tontura e tosse são outros sintomas relatados. Segundo Lynge et al. [227], dos COV presentes na atmosfera oriundos de postos de combustíveis, o benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (BTEX) apresentam os maiores índices de toxicidade. Destes, o benzeno é comprovadamente cancerígeno segundo algumas agências de saúde ocupacional e estudo sobre o câncer [16,17]. Estes sintomas expressados pelos frentistas durante ou após a jornada de trabalho são descritos na literatura e, provavelmente, estão relacionados com o contato direto com os vapores que são inalados ou absorvidos pela pele. A exposição a vapores de gasolina até o limite de 2 ppm inalados durante um período de dois anos não foram letais a cobaias. No entanto, para vapores de gasolina, acima de 100 ppm, inalados durante um ano, foram observados sérias

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lesões pulmonares [200,228]. Apesar disso, apenas 48% dos frentistas relataram que fazem exames periódicos e, deste total, metade faz exames semestrais.

No decorrer da pesquisa, pôde-se constatar que os frentistas apresentavam alguns hábitos, tais como verificar o volume do tanque com o ouvido, e usar a mesma flanela que é utilizada para evitar o derrame do combustível para limpar o suor do rosto, dos braços e das mãos; fatos que certamente potencializam a contaminação dos mesmos. Além disso, não foi constatada a utilização correta de equipamentos de proteção individual (EPI) durante suas atividades e 83% dos entrevistados nunca fizeram treinamento básico de segurança e meio ambiente (TBSMA). O uso de EPI e o TBSMA pelos frentistas podem minimizar e prevenir os riscos relacionados à contaminação pelos combustíveis.

A presença de COV na atmosfera do posto de combustíveis e a permanência dos frentistas junto às bombas de combustíveis em turno de 8 h diárias indicam a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os riscos do contato com os combustíveis em termos ocupacionais e a saúde do trabalhador. Sendo assim, o presente estudo mostra-se como um ponto de partida para a oferta de cursos de biossegurança para os frentistas de cidades do Recôncavo e Vale do Jiquiriçá pelos empregadores e pelas respectivas Secretarias de Saúde e de Meio Ambiente das Prefeituras ou Universidades, na tentativa de acentuar a segurança e melhorar a qualidade de vida destes profissionais. Além disso, esta pesquisa também serviu como atividade motivadora para o desenvolvimento de um método de análise de BTEX no ar ambiente para averiguar os níveis de contaminação destes locais.

4.2. DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO CROMATOGRÁFICO PARA