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A percepção e o projeto de iluminação

A ILUMINAÇÃO NO PROJETO DE ARQUITETURA

1.6 A percepção e o projeto de iluminação

O objetivo do projeto de iluminação é conseguir que o ocupante do espaço consiga realizar as tarefas, para qual o espaço foi projetado, atendendo às necessidades do conforto visual.

Entende-se como conforto visual, o grau de satisfação visual produzido pelo ambiente iluminado, que se caracteriza pela eliminação do ofuscamento, obtendo o contraste desejado entre as diferentes superfícies do ambiente e o equilíbrio entre luminâncias verticais33 e horizontais34 (REVISTA PROJETO, 1993: 75).

A percepção de um objeto é determinada pelo nível de iluminamento do local, pelos contrastes de cor e luminância, pela tarefa visual a ser executada e pela distância do objeto ao observador.

O nível de iluminamento do local é definido a partir da proposta de iluminação especificada para o ambiente e as interações entre as fontes luminosas e as superfícies dos objetos.

O contraste constitui-se no destaque que possa existir entre o objeto enfocado e as outras superfícies que compõem o entorno. Um grau elevado de contrastes de luminância gera o ofuscamento, que pode ocorrer tanto pela visão direta da fonte de luz quanto por reflexão desta fonte sobre a superfície visualizada e deve ser controlado para se obter um bom desempenho visual (SILVA, 1992: 8).

O fenômeno da visão é a habilidade do olho de perceber a porção do espectro de radiação que é definida como luz visível. Apresenta dois aspectos: o objetivo, relacionado com as características físicas da luz, energia, comprimento de onda e

33 Valores de iluminância encontrados nas superfícies verticais, perpendiculares ao piso. 34 Valores de iluminância encontrados nas superfícies horizontais, paralelas ao piso

freqüência; e outro subjetivo, associado à interpretação do fenômeno luminoso pelo observador, como acuidade visual, percepção e campo visual.

Quanto ao aspecto objetivo, podemos definir a luz como sendo uma energia radiante capaz de produzir uma sensação visual ao observador, sendo sua propagação caracterizada por uma freqüência e um comprimento de onda. A luz visível é a radiação do espectro eletromagnético com comprimento de onda entre 380 e 780 nm (nanômetro)35, podendo ser admitida através de fontes primárias, aquelas que emitem luz própria, ou fontes secundárias, cuja luminância resulta da reflexão da luz nas superfícies iluminadas.

Quanto ao aspecto subjetivo, a acuidade visual é a capacidade do sistema visual de ver os objetos de maneira distinta. Campo visual são os limites dentro dos quais a visão humana, focalizando um ponto sobre a linha do horizonte, pode alcançar. Esses limites são 50º para cima, 60º para baixo e 80º para os lados. Percepção é a maneira como o olho distingue o ambiente ao seu redor e dependerá da adaptação visual, devido à rápida mudança do diâmetro da pupila através da sua dilatação ou contração, à variação nos níveis de luminância do ambiente.

É devido a essa adaptabilidade que, apesar da luminância de um ambiente poder ser registrada quantitativamente por um fotômetro36, ela não é percebida da mesma maneira pelo olho humano, que a capta de forma subjetiva a depender do estímulo da retina ao fluxo luminoso que a atinge, proveniente não só da luz recebida da superfície, mas também de todo o campo de visão a sua volta (FREIRE, 1997: 15).

A adaptação aos níveis de iluminação é considerada a característica dominante da visão humana, pois, ao visualizar um objeto ou espaço, o homem considera um nível de referência (claro, escuro ou colorido) e produz sua própria interpretação, diferente de pessoa para pessoa e dependente da adaptabilidade de cada um.

É por isso que, apesar dos níveis de iluminação sofrerem uma grande variação durante todo o dia, ela não é percebida quantitativamente pelo homem, já que é mais fácil perceber a variação relativa nos gradientes de iluminação do que os valores absolutos (LAM, 1986: 26).

35 1 nm (nanômetro) = 10–9 m

O fenômeno da visão é caracterizado por três aspectos diferentes, porém dependentes um do outro, definidos como os aspectos físicos, relacionados à ótica geométrica e à luz como radiação; os aspectos fisiológicos, relacionados com o processo pelo qual o olho interage com a radiação luminosa; e os aspectos perceptuais, que envolvem a maneira pela qual o sistema visual interpreta o processo de adaptação à variação dos níveis de iluminação.

O conforto visual pode ser avaliado através da adaptação do olho à iluminação no espaço, do contraste de iluminação para a tarefa visual e ausência de ofuscamento. A adaptação, mesmo durante a noite, com iluminação artificial, é uma média da distribuição luminosa existente, existindo ainda uma tendência visual de perceber o ambiente como é conhecido e não só baseado na sua aparência no momento da visualização (MOORE, 1985: 27).

O contraste é a percepção dos objetos, através da distinção entre partes mais claras e partes mais escuras, porém um contraste muito acentuado pode vir a dificultar o discernimento de detalhes, já que o olho, ao se adaptar à média dos níveis de luminância, não visualiza corretamente a adjacência entre dois níveis muito diferentes, gerando desconforto. A utilização da cor nos projetos é uma forma de acentuar o contraste e a conseqüente distinção entre objetos.

O ofuscamento é um distúrbio na percepção visual causado por uma fonte de luz brilhante ou por uma reflexão com alto nível de luminância, podendo causar diminuição da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste. Decorre da visualização de um brilho intenso em relação à média no nível existente, sendo dependente das dimensões das aberturas, do brilho do céu, da intensidade da fonte luminosa e da reflexão das superfícies.

Além desses efeitos, devemos considerar a distribuição luminosa no ambiente, a difusão e a geração de sombras, como citado anteriormente, de forma a melhorar a percepção do espaço. Isso porque, é desejado, nos projetos de iluminação, que haja uma distribuição luminosa uniforme nos planos de trabalho para melhor iluminar as tarefas, bem como a existência de uma iluminação difusa, o que evita o ofuscamento. Além disso, é preciso utilizar iluminação localizada e direcional de forma a criar sombras, melhorando a

distinção de detalhes dos objetos, acentuando sua forma e profundidade (GHISI, 1997: 39).

A partir da análise dessas questões é possível avaliar a iluminação do ponto de vista da percepção, considerando não só a necessidade de satisfazer quantitativamente os níveis de iluminação, mas também permitindo a visualização do espaço, com todas as sua características, tais como a percepção correta das cores e da interação da luz com as superfícies.

Na prática, esses efeitos podem ser utilizados no processo projetual para provocar respostas visuais e sensitivas inerentes à função de cada tipo de edifício, aprimorando as sensações que o projeto de iluminação pode gerar perante o usuário do espaço.

Em edifícios tais como escritórios, escolas e bibliotecas, além de ser necessário que o nível de iluminação esteja de acordo com a atividade a ser executada, é preciso evitar os contrastes excessivos, causados pela falta de uniformidade da iluminação e pela presença de áreas de alta intensidade luminosa que ocasionam o ofuscamento dos ocupantes.

Para os edifícios de lazer e cultura, tais como teatros, museus, restaurantes e boites, a iluminação é responsável pelo efeito cênico, sendo portanto necessário que haja contrastes de luz e sombra e desuniformidade da iluminação.

Levando-se em conta que os métodos tradicionais de cálculo e projeto consideram somente os aspectos quantitativos da iluminação, é necessário que se desenvolva uma nova metodologia de projetação preocupada com as questões subjetivas, relacionadas à percepção do espaço iluminado.

É dessa forma que o uso da tecnologia computacional pode vir a ajudar nesse processo, possibilitando recursos para visualização dos espaços projetados, avaliando a qualidade do projeto de iluminação e testando alternativas para a determinação da melhor solução projetual.

MODELOS E SIMULAÇÃO