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Percepções das professoras sobre projetos desenvolvidos sobre o tema

3.1 Análise e discussão dos relatos das professoras

3.1.5 Percepções das professoras sobre projetos desenvolvidos sobre o tema

Nas entrevistas realizadas, foram registradas as percepções das professoras que participaram de projetos interdisciplinares que tiveram como tema gerador os bens culturais de Joinville. Uma professora relatou sobre a troca de ideias entre os

colegas de trabalho e as contribuições dos estudos de campo realizados no desenvolvimento destes projetos.

C.A.P: [...] ano passado, no CAIC Francisco sobre o Sambaqui trabalhei com o quinto ano e precisei da ajuda da professora para trabalhar os textos em sala de aula, porque eu tenho pouco tempo com os alunos, só duas aulas por semana. [...] fizemos visitas de campo, exploração, fomos até o Sambaqui fazer a explicação. Eu fiz também na aula dela, então é primordial para desenvolver um projeto a esse nível. No Laura também foi a mesma coisa. Então, a gente trabalhou por exemplo com as ODS, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e eu precisei também das professoras para trabalhar com os textos e tudo mais, aí foram projetos menores no caso. E projetos mais específicos para a área de Geografia, a utilização da água e tudo mais.

Uma professora relata sua experiência na qual ela trabalhou com um kit pedagógico disponibilizado pelo museu do Sambaqui, compartilhando este material com outros professores realizando assim um diálogo interdisciplinar.

C.A.P: [...] tem crianças e professores que nunca foram no museu. [...] O Museu do Sambaqui tem o kit pedagógico que os professores conseguem buscar e levar para a sala de aula. Então ano passado, a experiência que fiz foi levar esse material para a escola e foi muito legal. Porque não foi só eu que utilizei nas aulas de História e Geografia. Era um tema específico para o quarto e o quinto ano, tema dos Sambaquis, os primeiros habitantes de Santa Catarina. Eu levei todas as turmas lá, foi bem interessante para as turmas, mas para os professores eu achei que foi fantástico. A direção fez um trabalho com os professores do sexto ao nono ano. Foram duas semanas diferentes, levei num momento na escola Lauro Andrade e tive que esperar mais um momento, busquei novamente e levei novamente lá para o CAIC Francisco para deixar uma semana os materiais lá. Esse trabalho eu acho que influenciou de forma positiva. Até a forma de trabalhar, de motivar os professores a trabalhar de forma interdisciplinar porque a gente precisa no nosso dia a dia trabalhar juntos, é uma dificuldade ainda que a gente ainda encontra bastante.

Foram positivas as percepções das professoras quanto ao desenvolvimento de projetos interdisciplinares. Estas atividades de interação e cooperação entre educadores é uma forma de cada disciplina contribuir na abordagem da temática e assim as discussões podem ser aprofundadas. Os dados da pesquisa indicaram que os projetos interdisciplinares contribuem no sentido de ampliar a visão dos sujeitos envolvidos sobre o patrimônio cultural, pela participação das diversas disciplinas e, nas séries iniciais, eles possibilitam que a criança conheça a história sabendo que faz parte dela. De acordo com C.S.A. “Porque eles têm que aprender desde pequenos sobre o patrimônio, [quando] tem visitações e exposições, participar. Isso é muito importante pra criança”. Uma professora fez referência ao papel que estas ações

conjuntas desenvolvidas na escola têm no sentido de oportunizar ao estudante a reflexão sobre a sua identidade cultural:

C.A.P: [...] para o estudante especificamente, o mais importante é a questão de identidade cultural e social, muito importante. É algo que, se não passar, onde ele vai ver isso, se não for na escola? Não é em casa, na hora do almoço ou do jantar que vão falar sobre este assunto. A questão de pertencimento a um local específico ou aquela comunidade, aquela região. [...] Joinville é uma cidade conhecida nacionalmente, seja pela dança, seja pela questão histórica do museu do Sambaqui, por exemplo, que tem um legado bem grande. Então, se passamos isso, se eles não se apropriarem da forma que a gente espera, essa questão de pertencimento, de identidade, de como cuidar de tudo isso, [os alunos poderão perder a oportunidade de conhecer os bens culturais da cidade].

Interessante mencionar a importância que a identidade cultural recebe na fala da professora e a função dos projetos para se trabalhar o pertencimento dos alunos em relação aos bens culturais da sua cidade. Por meio da interação entre as disciplinas, são mobilizados conhecimentos significativos sobre o patrimônio cultural. Contudo, na rotina escolar estes projetos acontecem com pouca frequência sendo que a principal justificativa é a falta de tempo. Três professoras indicaram que não participaram de projetos, mas apenas de algumas atividades sobre o tema, como afirma C.S.A. “Não, não, nunca fiz. Mas a única coisa que teve sobre patrimônio aqui na escola, que a escola foi cedida é pro museu Fritz Alt eles vieram fazer uma exposição, ficou uma semana aqui na escola [...] foi aberto pro público e as pessoas vieram visitar”. Disse ainda que já realizou passeios com as crianças C.S.A. “Saímos pra passear, conhecer tipo ir no museu...”. O relato de outra professora indica que, em algumas situações, os projetos nos quais ela participou careceram de maior aprofundamento, como afirma M.H.K.A. “Um projeto que a gente se aprofunde com as crianças? Não, damos uma pincelada, levamos os alunos no museu, falamos sobre o Sambaqui, porque isso faz parte da matriz, porque se não fizesse parte também provavelmente ninguém falaria sobre isso”.

Nas palavras de uma professora de História, no momento em que as crianças passaram a ter disciplinas separadas como História e Geografia na matriz curricular dos anos iniciais do Ensino Fundamental, o conteúdo relacionado ao patrimônio cultural passou a ser trabalhado exclusivamente nas aulas destas disciplinas. Ela também indica que não há um projeto interdisciplinar integrado entre os professores de diferentes áreas do saber:

T.N. [...] a questão do interdisciplinar que eu digo é que antes dava para fazer isso. O professor de sala que fazia, ele tinha a amplitude maior dessa questão de trabalhar o Português, a Matemática junto com a Geografia, junto com a História. A criança estava aprendendo a Matemática, mas ela também estava lendo a informação no enunciado feito para ele responder. [apresenta] a situação problema, conta a historinha e a criança resolve o problema. Ela lendo a historinha já vai conseguir visualizar e saber que isso faz parte da cidade, vamos dizer isso faz parte de um rio, alguma coisa do tipo. Ela consegue trabalhar também a questão da Geografia, da História.

Outra entrevistada afirmou que abordou o tema patrimônio em suas aulas, vinculado aos conteúdos de sua disciplina, sem a participação de outros educadores: M.G.A.A.M. “Não. Trabalhei assim vinculado, esse ano mesmo trabalhei sobre o patrimônio, a cultura do bairro, a gente saiu pra ver tudo que tem aqui na, no bairro e tal”. Houve também indicação de que há projetos sendo desenvolvidos na escola como um todo. J.E.B.: “[...] Agora assim a gente tem até um projeto pra restauração da biblioteca, mas foi criado pela escola mesmo”. Os projetos interdisciplinares também necessitam da interação dos envolvidos para alcançarem seus objetivos. Como afirma S.Z.F “vai depender muito assim da parceria. Não é muito simples assim”.

3.1.6 Desafios que os professores enfrentam no trabalho com o tema patrimônio