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CONSIDERAÇÕES FINAIS 354 REFERÊNCIAS

1. FUNDAMENTOS DA PESQUISA

1.6. PERCEPÇÕES GERAIS DO CAPÍTULO

A partir dos pontos analisados neste primeiro capítulo, esta pesquisa é inserida em um contexto doméstico brasileiro de diretrizes de política externa e cooperação internacional,

77 Inclusive, em conversa informal no âmbito do MCTIC (2016), foi ressaltado o papel do DCT e da DCTEC

como locais de centralização das informações sobre a cooperação científico-tecnológica brasileira.

78 Essa comunicação pode ser verificada pela parceria entre as duas instituições no direcionamento da diplomacia

e inovação científico-tecnológica brasileira. Disponível em:

<https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/institucional/Cooperacao_Internacional/Diplomacia-e-Inovacao- Cientifica-e-Tecnologica.html >. Acesso em: 22 mar. 2019.

demonstrando a relevância das décadas de 1970 e 1980 no desenvolvimento de acordos cooperativos de cunho técnico e científico-tecnológico e os laços estabelecidos com Japão e China. Em seguida, faz-se uma progressão analítica da cooperação internacional brasileira, abrindo espaço para o estudo que se pretende realizar sobre as interações cooperativas histórico- atuais nipo e sino-brasileiras.

Ao mesmo tempo, o sistema internacional é apresentado como marcadamente assimétrico e interdependente, demarcando a existência de colaboração e competividade em meio aos avanços de conhecimento e tecnologia. Nesse sentido, apesar de se compreender e reconhecer a importância da estrutura de poder, parte-se de uma visão mais liberal da cooperação internacional, acentuando a ideia de ganhos advindos desse tipo de interação e as possibilidades de ação brasileiras em meio às assimetrias e disparidades ressaltadas.

Japão e China também são analisados no que tange à política externa e cooperação. Quanto aos japoneses, assevera-se o importante viés do desenvolvimento econômico e a relevância do país como doador. Inclusive, aponta-se que a expansão da ajuda econômica japonesa desde os anos 1970 coincide com a aproximação cooperativa com o Brasil. Ressalta- se, no entanto, os questionamentos recentes sobre a redução do dinamismo das interações nipo- brasileiras, fato esse que será refletido ao longo desta pesquisa. Quanto aos chineses, aborda-se a importância da abertura do país, as parcerias bilaterais estabelecidas, a exemplo da brasileira, a busca de inserção internacional, o discurso chinês win-win e a aproximação com a América Latina e o Brasil. Há que se colocar em questionamento as diretrizes recentes do relacionamento sino-brasileiro, considerando a ampliação das assimetrias entre ambos os países e a já reconhecida mudança na característica da interação bilateral no campo econômico-comercial e de infraestrutura, nos quais os chineses passam cada vez mais a ocupar uma posição superior frente ao Estado brasileiro. Diante desse cenário, resta analisar, ao longo desta tese, como o campo da cooperação internacional vem, então, se delineando.

Após a contextualização desta pesquisa, ingressa-se no norte teórico que a consubstancia. Desse modo, são apresentadas abordagens usadas para analisar o campo da cooperação internacional e opta-se pela lente teórica da análise de política externa para direcionar o estudo aqui proposto. Duas teorias - realismo neoclássico e liberal - são particularmente apontadas como relevantes por expressarem a predominância da influência sistêmica ou doméstica sobre as decisões de política externa associadas à cooperação internacional. Realiza-se também um debate sobre a interação entre a política externa e a cooperação internacional, especialmente buscando refletir o papel e a influência que a primeira pode exercer sobre a segunda. Quanto a este último ponto, demonstra-se a concentração na

literatura estrangeira e brasileira de estudos sobre a cooperação enquanto instrumento de política externa nos casos em que os países são promotores das relações cooperativas. Nesta pesquisa, por outro lado, estimula-se o pensamento sobre a interação entre cooperação e política externa também em situações nas quais o Brasil atua como receptor de cooperação ou está em posição menos privilegiada em parcerias assimétricas. Justifica-se esta perspectiva analítica em virtude de a racionalidade e os interesses de Estado estarem presentes em ambas as situações, reforçando a necessidade de o Brasil avaliar não apenas a forma como promove a cooperação, mas também como a recebe.

Quanto à metodologia, trata-se de um estudo de caso indutivo, que visa analisar casos de cooperação internacional técnico-científica brasileira com Japão e China, nas áreas agrícola e espacial, de maneira comparada. Com isso, busca-se delinear se as relações cooperativas Brasil-Japão e Brasil-China, por meio dos setores analisados, configuram um sistema de mais semelhança ou diferença. Para facilitar ainda a compreensão desta pesquisa, são também apresentados conceitos-chave do campo da cooperação internacional, destacando-se os de cooperação oficial, técnica e científico-tecnológica, os quais serão predominantemente utilizados ao longo deste estudo. Por fim, estabelece-se um delineamento do histórico e da estrutura das cooperações técnica e científico-tecnológica brasileiras, a fim de se observar os momentos distintos de consolidação no Brasil dessas modalidades, os atores predominantes e as dinâmicas próprias que cada uma possui.

Portanto, com esses pontos, estabelecem-se as diretrizes por meio das quais esta tese se baseia e são reforçados os questionamentos iniciais sobre as nuances das cooperações sino e nipo-brasileiras. Ademais, ao debater a dinâmica do relacionamento entre a política externa e a cooperação internacional, este capítulo traça as bases para a apurada discussão que virá a seguir sobre a dinâmica da política externa brasileira e da cooperação internacional para a Ásia e, especificamente, Japão e China.

2. POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA PARA A ÁSIA E AS RELAÇÕES COOPERATIVAS COM JAPÃO E CHINA

O intuito deste segundo capítulo é debater os padrões de comportamento brasileiro no campo da cooperação internacional à luz da política externa do país para a Ásia, destacando-se as interações com Japão e China. Ao se optar por uma análise da cooperação internacional a partir da política externa brasileira para a Ásia e, destacadamente, Japão e China, pretende-se observar a trajetória seguida pelo Estado e as consequências para as relações cooperativas brasileiras.

É válido apontar que, nessa relação entre política externa brasileira para a Ásia e cooperação internacional, destacam-se especialmente as relações cooperativas nas áreas que serão o cerne desta pesquisa, ou seja, agrícola e espacial. No caso de Japão e China, este estudo será mais aprofundado para além dos aspectos históricos e políticos nos capítulos 3 e 4, que ilustram, com maior riqueza de detalhes, os acordos internacionais desenvolvidos e debatem a indução da cooperação pelos atores de política externa.

Portanto, as perguntas centrais que norteiam a discussão seguinte são: quais as características da política externa brasileira para a Ásia e qual a conexão com o campo da cooperação internacional? Outras questões também podem ser acrescentadas, levando à reflexão sobre o relacionamento entre política externa e cooperação internacional: pode a política externa brasileira para a Ásia ser inserida na categoria previamente analisada de política externa para a cooperação, ou seja, a política externa brasileira tem servido como instrumento de fortalecimento da cooperação com a região asiática? Quais os momentos de maior ação ou retração da política externa e da cooperação para a Ásia?

2.1. POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA PARA A ÁSIA: ATIVISMO E/OU REATIVISMO?

Busca-se aqui desenvolver uma análise histórica das relações brasileiras com a Ásia79, refletindo sobre o comportamento do Brasil no campo da política externa para a região e sobre

79 Para maior clareza desta parte da pesquisa, é importante frisar que a Ásia pode ser dividida em diferentes sub-

regiões: Ásia Central, englobando Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão; Ásia do Sul, envolvendo Índia, Bangladesh, Butão, Nepal, Paquistão, Sri Lanka; Nordeste Asiático ou Leste Asiático, formado por Japão, China, Coreia do Sul, Coreia do Norte; e, por fim, Sudeste Asiático, composto por Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia, Timor-Leste e Vietnã (OLIVEIRA,

a existência ou não de uma diretriz de política externa para o referido continente ao longo do tempo80.

Entende-se que a política externa de um país se baseia na formulação e implementação das prioridades e alianças estatais (MASIERO, 2007). Sendo assim, procura-se verificar de que forma o Brasil se relaciona com os países asiáticos, como ele busca alcançar seus objetivos de política externa e quais as respectivas consequências para a sua posição no campo da cooperação internacional. A relação com toda a Ásia é analisada de forma geral, mas o foco do estudo está centrado na região do Nordeste Asiático e, especificamente, em como o desenvolvimento da política externa brasileira para a Ásia tem implicações para as suas relações cooperativas com Japão e China.

No que tange à literatura sobre o tema em análise, é relevante ressaltar, de forma preliminar, que não existem tantos especialistas no Brasil sobre o tema política externa brasileira para a Ásia. Destacam-se, assim, os trabalhos de Rubens Barbosa (1994), Henrique Altemani de Oliveira (2005, 2006), Gilmar Masiero (2007), Paulo Vizentini (1998, 2007), Amado Cervo (2008), Amado Cervo e Clodoaldo Bueno (2011). Muitos desses autores, porém, inserem o tema de forma fragmentada ao desenvolverem uma análise mais ampla sobre a política externa brasileira. O esforço realizado nesta parte da pesquisa consiste na congregação das informações contidas nos textos de referência, juntamente com aspectos presentes em documentos de arquivos históricos – CPDOC e Itamaraty. Ademais, buscou-se agregar à análise entrevistas81 realizadas com três autores renomados na área: Henrique Altemani de Oliveira (2017), Gilmar Masiero (2017) e Amado Cervo (2017).

Partindo, então, para a história das relações brasileiras com a Ásia, Cervo (ENTREVISTA, 2017) constata, de modo geral, que a política externa para a Ásia, de 1930 até os dias atuais, está marcada por dois aspectos: a indução da cooperação para o desenvolvimento nacional nas relações bilaterais e a sobreposição da cooperação a variáveis como segurança e ideologia. De acordo com o entrevistado, pode-se falar em uma política externa cooperativa e

H., 2006). Essa divisão regional é relevante para entender os diferentes relacionamentos brasileiros com a Ásia e o grande destaque da interação com os países do Nordeste Asiático. Nesse sentido, é importante mencionar que se reconhece que alguns países do Sudoeste da Ásia podem ser incluídos dentro da região denominada Oriente Médio, contudo, optou-se por realizar uma análise do continente asiático sem realizar uma reflexão sobre a dinâmica própria do Oriente Médio. Inclusive, no organograma do MRE, as relações brasileiras com o Oriente Médio são pensadas na Subsecretaria- Geral de África e Oriente Médio e não na Subsecretaria-Geral de Ásia e Pacífico.

80 O marco temporal desta pesquisa é a partir de 1970, mas, neste capítulo, faz-se um retrocesso às origens das

interações do Brasil com o continente asiático a fim de melhor compreender a política externa do país para a região.

81 As entrevistas foram realizadas com envio das perguntas por e-mail para Amado Cervo e Henrique Altemani,

com retorno das respostas em 5 de junho de 2017 e 11 de outubro de 2017, respectivamente, e via Skype com Gilmar Masiero em 9 de maio de 2017.

não confrontacionista com a Ásia, com distintas intensidades e variações no decorrer do tempo (CERVO, ENTREVISTA, 2017).

Ademais, Cervo (ENTREVISTA, 2017) assevera que não existe especificidade nos princípios, valores e objetivos que norteiam a política externa para a Ásia, embora variáveis internas e externas possam ser relevantes para a compreensão do relacionamento. Complementando esse ponto, Henrique Altemani de Oliveira (ENTREVISTA, 2017) pondera que não existe uma política externa brasileira específica para a Ásia, como nos moldes da “política africana”.

Quanto ao início das interações brasileiras com a Ásia, pode-se dizer que está relacionado essencialmente à questão migratória, como se nota da chegada, em 1814, de trezentos chineses trazidos pelo Conde Linhares para cultivo de chá no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (OLIVEIRA, H., 2006), da missão enviada por D. Pedro II à China em 1879, com finalidade de estabelecer fluxos migratórios para o Brasil e ativar trocas comerciais, bem como da entrada de imigrantes japoneses no Brasil em 1908 (CERVO, 2008).

Como aponta, Masiero (2007), as políticas de imigração de orientais para o Brasil estavam relacionadas ao interesse de branqueamento da população brasileira na segunda metade do século XIX e representam um exemplo de como os países orientais, especialmente Japão e China, estiveram presentes no direcionamento de política externa brasileira desde a época do Império.

As relações formais com a Ásia, a seu turno, foram estabelecidas com a Assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação com a China, em 1881, e com o Japão, em 1895 (OLIVEIRA, H., 2006). No caso da Índia, as relações diplomáticas com o Brasil foram estabelecidas em 1948 e, com a Indonésia, esse processo ocorreu em 1953. Já a Coreia do Sul e a Malásia formalizaram suas relações com o Brasil em 1959 (MRE)82.

Enquanto o relacionamento com alguns países da Ásia, especialmente os do Nordeste Asiático, estabeleceu-se no final do século XIX até a metade do século XX, as demais relações só foram formalizadas em décadas posteriores. Sendo assim, dentre os relacionamentos mais tardios, estão os com Bangladesh, em 1972 (PERES, 2017), e os com os países da Ásia Central, na década de 1990. Desse modo, em 1993, o Brasil formalizou laços com Uzbequistão,

82 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5051&Itemid=478&cod_pais= KOR&tipo=ficha_pais&lang=pt-BR>, <http://www.itamaraty.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5238&Itemid=478&cod_pais= IND&tipo=ficha_pais&lang=pt-BR>, <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/ficha-pais/5421-malasia> e

República do Quirguiz e Cazaquistão e, em 1996, com Tadjiquistão e Turcomenistão (WOLLMANN, 201783).

Após a compreensão sobre os momentos de estabelecimento das relações brasileiras com os distintos países da Ásia, ingressa-se na linha histórica do desenvolvimento das relações do Brasil com a região. Assim, é pertinente apontar que, apesar da existência de algumas relações formais até o início de 1950, havia a ausência de um olhar brasileiro mais denso para a Ásia, tanto que Oswaldo Aranha, Adolpho J. Bezerra de Meneses e outros pensadores e diplomatas asseveraram, no Pós-Segunda Guerra84, a importância do adensamento do relacionamento com a referida região em nome do universalismo da política externa do país (CERVO, 2008).

Sendo assim, apenas a partir da década de 1950, passa-se a observar um maior interesse brasileiro pela região, ainda que muito incipiente. Fatores domésticos e internacionais contribuíram para esse quadro. Desse modo, de um lado, nota-se a ânsia brasileira por investimentos externos no país, o histórico de frustrações quanto ao recebimento de ajuda financeira por parte dos EUA e a necessidade de encontrar relações alternativas para a promoção do desenvolvimento do Brasil; e de outro, tem-se um cenário internacional favorável com a Conferência de Bandung em 1955, a qual representou o início da aproximação e cooperação política com os países do Terceiro Mundo e, por conseguinte, com a Ásia. Além disso, trata-se de um período de recuperação econômica do Japão, que se torna uma importante fonte de capitais para o Brasil (OLIVEIRA, H., 2005).

Nesse sentido, seguindo a lógica desse período, foi instalada a Embaixada Coreana no Rio de Janeiro, em 1952, a qual foi transferida para Brasília em 1971, e também foram assinados vários acordos com o Japão a partir de 1950. Já com a China, as relações mais significativas iniciaram-se depois, mais especificamente na década de 1970 (MASIERO, 2007).

Apesar desse avanço nas relações com a Ásia na década de 1950, aponta-se a ausência de aspectos de destaque da interação do Brasil com a região no governo Café Filho (1954- 1955). De maneira sequencial, pode-se ainda asseverar que, durante o governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), o contato com a região asiática foi bastante superficial e voltado para as relações com o Japão. Frise-se, no entanto, que houve a abertura de Embaixadas brasileiras na República da Coreia e no Sri Lanka em 1960, somando-se às previamente existentes no Japão e na Índia (CERVO; BUENO, 2011).

83 Membro do corpo diplomático brasileiro.

84 É válido frisar que as relações brasileiras com o Japão foram rompidas durante a 2ª Guerra Mundial e retornaram

Durante a política externa independente de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961- 1964), houve um maior incentivo para o desenvolvimento das relações brasileiras com a Ásia. O interesse do Brasil nesse período estava centrado na atração de novos mercados, como se observa da missão brasileira dirigida por João Goulart a Pequim em 1961. Contudo, as possibilidades de intercâmbio comercial com a China no período eram baixas (OLIVEIRA, H., 2005; CERVO; BUENO, 2011), conforme se exemplifica em 1964, com a interrupção de uma missão comercial chinesa no Brasil, o fechamento de um escritório comercial chinês, juntamente com a prisão de seus nove membros (BARBOSA, 1994; OLIVEIRA, H., 2005), e, em 1965, com a expulsão dos representantes do Conselho de Expansão do Comércio Exterior da China (BARBOSA, 1994).

Henrique Altemani de Oliveira (ENTREVISTA, 2017) afirma ainda que, desde o início da política externa independente, era enfatizado o discurso de uma aproximação com o mundo afro-asiático, mas, na prática, essa ideia materializou-se apenas com relação ao âmbito africano. Esse direcionamento foi justificado por Gibson Barbosa85 como decorrente da realidade da própria Ásia nas décadas de 1960 e 1970, que possuía à época um rol de conflitos reais que dificultavam o estabelecimento de relações com a região e o interesse brasileiro, com exceção do relacionamento com o Japão (OLIVEIRA, H., ENTREVISTA, 2017).

Durante a ditadura militar (1964-1985), tem-se, no início, uma retração dos avanços das interações com a região asiática como um todo, embora a relação com o Japão se mantenha. Apenas a partir do governo Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e, especialmente, durante o mandato do Presidente Ernesto Geisel (1974-1979), é que se aprofundou a preocupação com a diversificação das relações brasileiras, incentivando-se, dessa forma, as interações com a Ásia (OLIVEIRA, H., 2005). Nesse sentido, em 1974, houve o envio de missão à China com uma comitiva do Estado brasileiro (BARBOSA, 1994) e o posterior reconhecimento diplomático do Estado chinês (VIZENTINI, 1998).

Sendo assim, Henrique Altemani de Oliveira (2002) afirma que, até a década de 1970, não se pode falar em um relacionamento propriamente dito entre Brasil e Ásia, conforme segue:

Dessa forma, é interessante ressalvar que o relacionamento entre Brasil e Ásia até a década de 50 ficou quase unicamente restrito ao campo sociocultural representado pelo fluxo migratório japonês. E que nas décadas de 50 a 70 não se pode, então, pensar propriamente num relacionamento Brasil-Ásia. Apesar de presente em discursos, principalmente a partir da política externa independente no governo Jânio Quadros, constata-se, na realidade, somente uma interação, no plano multilateral, de construção de uma agenda política comum a países em desenvolvimento no processo de defesa

de instauração de uma nova ordem econômica internacional. (OLIVEIRA, H., 2002, p. 118-119, grifo do autor).

No que tange aos governos militares, seu primeiro representante, o general Castelo Branco (1964-1967), desenvolveu uma política que se caracterizou por uma forte ausência brasileira na Ásia, observando-se um distanciamento da China comunista, apesar da aproximação com o Japão por meio da promoção da cooperação industrial automobilística, siderúrgica, de navegação e das inversões japonesas de capitais (VIZENTINI, 1998).

No governo Costa e Silva (1967-1969), destaca-se, em 1967, a constituição da Comissão Mista Bilateral Brasil-Japão, a qual objetivava incitar a cooperação econômica com a promoção da industrialização brasileira e a ajuda técnica. Em 1969, por sua vez, há destaque para o desenvolvimento de projetos técnicos encaminhados pelo governo brasileiro nas áreas de transporte, mineração, agricultura e pesca (VIZENTINI, 1998).

Durante o governo Médici (1969-1974), o Japão e o Brasil tiveram suas relações cooperativas consolidadas e intensificadas. Assim, em 1970, firmou-se o Acordo Básico de Cooperação Técnica Bilateral e, em 1972, o acordo sobre tratamento zoo-sanitário de carnes cozidas congeladas brasileiras para exportação ao Japão (VIZENTINI, 1998).

De uma forma geral, porém, no que se refere à Ásia, a ênfase das relações até então era essencialmente comercial, embora houvesse, com a Índia, o interesse na cooperação técnica e científica, especialmente atômica (VIZENTINI, 1998), e, com o Japão, tenham se desenvolvido iniciativas cooperativas, mas de cunho especialmente econômico-financeiro.

O governo Geisel, por sua vez, ao consolidar o universalismo da política externa