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5 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS, DEFICIÊNCIA VISUAL

5.2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E SALAS DE RECURSOS

5.2.1 Percepções sobre o Atendimento Educacional Especializado

As falas dos estudantes apontam para a crítica da organização estanque entre serviços, a persistência de duplicidade de atendimentos, ao mesmo tempo em que não há a satisfatória garantia da acessibilidade aos materiais didáticos, nem aos conhecimentos necessários para a aprendizagem equânime, em salas de aulas. Os alunos apresentaram considerações bastante pertinentes e questionadoras sobre seus respectivos processos de escolarização. No entanto, como todos os estudantes entrevistados contaram com duplicidade de atendimentos, realizados concomitantemente tanto na SRM, quanto em instituições especializadas (no caso de Regina e Marcos isso ainda ocorria quando da realização da pesquisa), assim, a distinção que os alunos fazem entre os tipos de serviços, bem como de seus pressupostos educacionais, por vezes aparece de forma confusa.

Sobre o Atendimento Educacional Especializado, Regina afirma que:

O atendimento na Sala de Recursos funciona como aquele atendimento que a gente tem no Instituto de Cegos e no CAP. Ele é a mesma coisa. A gente só não precisa ter que se deslocar para o Instituto e nem para o CAP, não tem necessidade de ir pra lá porque a escola já tem essa Sala. (Regina, aluna da Escola A)

No entanto, o Atendimento Educacional Especializado da aluna não ocorre apenas na SRM da Escola A. Mesmo a implantação da SRM em sua escola não a eximiu de buscar outros serviços de AEE: durante o primeiro ano da SRM, Regina era atendida pelo Instituto de Cegos da Bahia; no segundo ano da SRM, completou 18 anos e não poderia ser atendida pelo ICB, conforme estatuto da entidade, então, passou a obter auxílio do CAP.

O Atendimento Educacional Especializado para Adriano, estudante da Escola B, refere-se à aquisição de conhecimentos próprios da deficiência visual, aos quais ele só teria acesso a partir dos 11 anos de idade, quando começou a frequentar o Instituto de Cegos da Bahia.

Inicialmente tinha mesmo a questão de conhecer. Porque no começo tudo era novidade. Conhecer o Braille, começar a escrever em Braille, fazia algumas atividades ligadas à baixa visão, fazia também a parte de educação com jogos, que a gente aprendia a parte de coordenação motora e a parte intelectual também, não é? É uma espécie de experiência nova, diferente. Tinha também o apoio pedagógico, que auxilia nas atividades que vinham da escola, dos assuntos. Até eu completar 18 anos. (Adriano, estudante da Escola B)

O Atendimento Educacional Especializado para Geraldo, da Escola C está relacionado à sua aprendizagem de conhecimentos específicos. Quando perdeu a visão devido ao glaucoma, como já mencionado, Geraldo parou de estudar durante três anos. Apenas depois de conhecer o trabalho de reabilitação realizado pelo CAP foi possível o seu retorno ao contexto escolar. Esse momento foi narrado pelo aluno, quando questionado sobre o AEE. A aprendizagem do Sistema Braille e a participação de aulas de Orientação e Mobilidade, no CAP, foram fundamentais para retomar os estudos. Geraldo também faz referência entre a importância do AEE em um contexto mais amplo, ligado a sua participação e aprendizagem escolar, que também depende do seu interesse particular de aprender:

Desde quando eu me matriculo numa unidade escolar, eu vou para aprender e por em prática o que eu aprendi. Eu não vou para a escola atrás de notas boas e péssimo conhecimento. Eu tenho que ter ótimo conhecimento e as notas ficam para depois. (Geraldo, estudante da Escola C)

O Atendimento Educacional Especializado para Marcos, também da Escola C, é descrito considerando a sua participação em atendimentos realizados no Instituto de Cegos da Bahia, onde realiza atividades de apoio pedagógico e oficina de leitura e escrita através do Sistema Braille.

Ainda estou do mesmo jeito. Minha aula de Braille aqui no Instituto era no último horário, mas só que meu ônibus passa 16:20h. Aí claro que eu tenho que ir embora. Eu moro no bairro P., mas mesmo assim, se passar do horário daqui para lá eu corro muito risco, porque é um bairro muito arriscado.

Suas aulas de Braille sempre foram aqui no Instituto ou você já fez lá na sua escola?

Sempre foi aqui. Elas já tentaram me ajudar lá, mas nem pode, porque lá não tem máquina, não tem nada. (Marcos, estudante da Escola C)

O aluno também relata o apoio que recebe do Grupo de Voluntários Copistas e Ledores para Cegos, (GCVLC), responsável pelo empréstimo da máquina de datilografia Braille que utilizava nos anos de 2012 até o início de 2013, quando a máquina precisou passar por manutenção. Desta maneira, o estudante relata que ficou boa parte do ano de 2013 sem realizar atividades na sala de aula, já que a SRM da escola C não possuia máquinas Braille. Apenas a partir de meados de 2013, Marcos foi orientado por uma das professoras da SRM a utilizar o notebook da SRM e assim pode realizar suas atividades.

Todos os estudantes entrevistados se referem ao Atendimento Educacional Especializado relacionando-o à aprendizagem de conhecimentos específicos da área da deficiência visual e à acessibilidade a recursos adaptados, tanto a aquisição desses conhecimentos, quanto dos recursos adaptados geralmente não estão associados ao trabalho da SRM de suas escolas. Assim, nas falas dos estudantes, o AEE aparece mais associado ao Instituto de Cegos da Bahia (Regina, Adriano e Marcos), ao Centro de Apoio ao Deficiente Visual (Geraldo) e ao Grupo de Voluntários Copistas e Ledores para Cegos (Marcos).

Destaca-se o fato de que todos os estudantes entrevistados participaram de duplicidade de AEE, durante a vigência de Salas de Recursos Multifuncionais em suas escolas. Durante a pesquisa, Regina e Marcos, continuavam com dois atendimentos, a primeira no CAP; o segundo no ICB. Geraldo foi atendido no CAP até um ano antes da realização da pesquisa, quando a Escola C já possuía SRM. Quando a pesquisa foi realizada, apenas Adriano, não era atendido por nenhuma instituição. Adriano esteve matriculado no AEE do ICB até completar 18 anos, desde então, continuava a frequentar a instituição para atividades esportivas, de lazer e para reencontrar os amigos.

Desta maneira, fica evidente que, as escolas pesquisadas, não conseguiram assumir plenamente o AEE dos seus alunos com deficiência visual, figurando basicamente como espaço para a realização de adaptações de materiais didáticos e de avaliações, nem sempre entregues aos alunos em tempo hábil.

Acrescenta-se a isso o fato de que as professoras das três escolas são lotadas no CAP, aspecto que será explicado no item a seguir.