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Percurso e desenvolvimento da pesquisa: as interferências sobre a importância do

1. O ENSINO DA FILOSOFIA E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO PARA A

1.1. Percurso e desenvolvimento da pesquisa: as interferências sobre a importância do

Diante de uma educação que vive dias confusos sobre o que será legado às novas gerações, da fragmentação do ensino da Filosofia fornecida pela “nova” estrutura curricular da base comum nacional para o ensino médio, nosso objeto de pesquisa pretende demostrar a importância da disciplina de Filosofia para a emancipação cidadã dos alunos do Ensino Médio brasileiro, a partir do aceno metodológico do diálogo plural na escola com suas consequências pedagógicas como meio de superação da distância que

possa haver entre professores e alunos, e despertar a assumida da educação para a cidadania, sob o signo do pensamento arendtiano e sua própria trama conceitual.

Nessa pesquisa, pretendemos acentuar que o ensino da Filosofia coopera para a formação da autonomia, cidadania e consciência solidária dos estudantes, sua obrigatoriedade se justificaria como elemento garantidor à reflexão crítica e preservação da alteridade no ambiente escolar ao introduzir pela educação os “novos”, que pela natalidade entram no mundo comum, como defende a pensadora Hannah Arendt, ainda como resposta contra o recrudescimento das tendências conservadoras que impõem currículos inflexíveis, comprometendo o pleno acesso ao conhecimento como meio de continuidade do mundo, que à luz do pensamento arendtiano compreende-se necessário à formação das gerações futuras.

Nosso objeto de estudo – a não obrigatoriedade do Ensino da Filosofia no Ensino Médio como disciplina a partir da MP nº 746/, convertida na Lei nº 13.415/17 -, se propõe, na primeira parte, a fazer um resgate sobre o valor e consequências pedagógicas da disciplina de Filosofia na escola, sua gênese e sua importância. Analisaremos, também, o processo marcadamente intermitente do ensino desta disciplina no Brasil, com suas idas e vindas nas legislações, para assim chegar às consequências e defesa da Filosofia como meio de garantir no processo de ensino aprendizagem uma maneira própria no exercício do pensamento, oferecendo às demais disciplinas um auxilio necessário como suporte reflexivo, modificando no futuro como repercussão positiva as relações sociais e cidadãs dos escolarizados, como entende a professora Silvia Maria de Cotaldo, ao refletir sobre o significado da educação como processo,

[...] todos nós sabemos que a aprendizagem é um processo e não uma mudança súbita de um estado mental. Também sabemos que falar em processo significa pensar em “algo que prossegue”, em algo que vai adiante. Então, a questão mais difícil para nós – hoje- é ir adiante em condições tão adversas, pois não há verdadeira aprendizagem se não se aprende a relacionar, a estabelecer conexões, se não se aprende a fazer perguntas e a pensar por conta própria (COTALDO, 2004, p.52).

Com isso, pretendemos demostrar o relevo de uma abordagem comprometida com a educação das futuras gerações, quando apresentamos o Ensino de Filosofia como elemento fundamental para contribuir no processo formativo do agir autônomo,

consciente e responsável. Nesse raciocínio, Hannah Arendt (2013), na obra ‘A Condição Humana’ ao reconhecer na Pólis o lugar para o exercício da liberdade, porque público e plural, faz-nos intuir que, em relação à educação, o espaço público como palco de transmissão do legado herdado e repassado pelos homens aos que chegam a esse mundo é atualmente reduzido, ou, para ser fiel ao pensamento arendtiano, privatizado. Assistimos a assumida do Estado por uma concepção fragmentada do saber ao destituir a obrigatoriedade da Filosofia como disciplina, que ao nosso entendimento, além do seu papel próprio, tem na escola o papel de estabelecer elos interpretativos às demais disciplinas.

Quando a Educação se torna um instrumental para fins políticos, como atualmente se revelou com a última reforma, podemos esperar muitas aberrações, como por exemplo a tentativa de suprimir as diferenças em nome da igualdade. Segundo Wanderson Flor do Nascimento, tal ação nega a heterogeneidade das nossas vivências,

[...] não precisamos da igualdade, precisamos que nossas velas não sejam direcionadas, enquanto singulares, únicas, por valores que pressupõem que elas sejam iguais a outras; pressupomos que, neste sentido, devemos buscar uma vivificação da diferença, mas não uma diferença que seja marcada pelo valor (em dizer que uma coisa é melhor ou pior que outra), mas em uma diferença sem fundo, sem parâmetros, uma diferença sem um referencial ao qual comparar. (NASCIMENTO, 2004, p. 72).

A pesquisa analisa como a Reforma do Ensino Médio brasileiro, a partir da MP 746 que se transformou na Lei 13.415/17, compromete o ensino da Filosofia para os jovens escolarizados, que devem neste percurso dar conta do potencial crítico, da análise reflexiva e capacidade auto avaliativa, sem o auxílio obrigatório desses conteúdos, segundo até então preverem os PCN’s, para a disciplina de Filosofia. Além deste, autores diversos apontam para a importância da Filosofia como possibilitadora do encontro com os conhecimentos que oferecem abrangência interpretativa à existência e sua situação diante das facetas da vida social, política ou profissional.

Por isso mesmo faremos o encontro dos pensadores do ensino da Filosofia, suas ideias e experiências, com as legislações que representaram conquistas, até chegar a conjuntura atual, com a ameaça presente. Tudo isso para sustentar que a atual reforma,

no que se refere à disciplina de Filosofia, tem um acento utilitarista que orienta uma retomada tecnicista à educação, desprezando as ciências humanas e relativizando seus conteúdos.

No entendimento de Sonia Maria Ribeiro de Souza, além de que a ideia do ensino da Filosofia, em regra geral, seja “fazer pensar”, há que se reafirmar que o aluno deverá ser motivado pelo “fazer pensar melhor”, que vai além de investigar as questões problemas, assume uma postura crítica diante delas. A autora estabelece ainda alguns objetivos específicos da Filosofia no ensino médio,

[...] A Filosofia é uma disciplina que incita o aluno a fazer uso de suas “habilidades de pensamentos”: O ato de investigar pressupõe o uso de “habilidades de raciocínio” (competência em áreas como classificar, definir, formular questões, dar exemplos e contra-exemplos, identificar similares e diferenças, construir e criticar analogias, comparar, contrastar e tirar inferências válidas), “habilidades de investigação” (competência como descrição, explanação, formulação de problemas, formação de hipótese e medição) e “formação de conceitos) (envolve habilidade de mobilizar processos de raciocínio para que convirjam e identifiquem questões conceituais particulares). (SOUZA, 2004, p. 167-168).

Continua ainda a autora,

[...] A filosofia é uma disciplina que transforma a sala de aula em uma “comunidade de investigação dialógica cooperativa”: O aluno é convidado a participar de um diálogo disciplinado, apreendendo a raciocinar em conjunto com os outros; o estudante é desafiado a pensar sobre conceitos significantes da tradição filosófica, compartilhando com os demais a compreensão radical e global do sentido de sua ação e reflexão; o aluno é estimulado a falar e a escrever, descobrindo em si mesmo a necessidade de ser racional em vez de controverso. (SOUZA, 2004, p.168)

Tudo isso nos anuncia o enorme vazio deixado pela retirada da obrigatoriedade da Filosofia como disciplina, que remonta uma verdadeira odisseia na história dessa disciplina no Brasil, como veremos nas legislações até a última reforma, que interfere no processo de ensino aprendizagem. Sem esse espaço garantido exclusivamente ao debate,

ao questionamento crítico e à formação da consciência numa perspectiva dialogal, o ensino e a formação do futuro cidadão ficam comprometidos.

O desdobramento do que fora exposto será colocado diante da crítica feita pela pensadora Hannah Arendt, que vincula o sentido da educação à responsabilidade com as futuras gerações, tanto para com a renovação do mundo, quanto para com o acolhimento dos mais jovens nele. Sua obra guia a crítica urgente à forma como vem sendo direcionada a reforma educacional brasileira, principalmente sobre nosso objeto de estudo, que motivou a presente pesquisa.

A seguir, analisaremos alguns conceitos, como: natalidade, que se relaciona diretamente ao conceito de educação; mundo comum; política, entre outros que comportam dimensões e categorias históricas, político-filosóficas, que conhecidas à luz deste pensamento, podem contribuir reflexivamente para uma educação comprometida com o futuro das crianças e jovens.

1.2 Referencial Teórico Metodológico: Hannah Arendt e seu contributo para a