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A constituição da Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos

3.1. Percurso metodológico

O presente estudo caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica e documental. Gil (1991) aponta que a pesquisa bibliográfica muito se assemelha à pesquisa documental, porém a diferença essencial entre elas é a natureza das fontes. Na pesquisa documental, utilizam-se materiais que ainda não sofreram um tratamento analítico ou que ainda podem ser redimensionados dependendo do objeto de pesquisa. Desde o início deste trabalho, a busca de fontes primárias foi algo bastante valorizado e necessário para a elucidação do problema que engendrou a pesquisa. O nosso objeto de estudo, como mencionado anteriormente, não tinha sofrido ainda nenhum tratamento analítico semelhante ao que nos propusemos a realizar até então.

Num primeiro momento, recorremos à literatura já existente para construir um contexto a partir do qual pudéssemos aprofundar as questões propostas para este estudo. Paralelamente, fomos utilizando fontes primárias, constituídas basicamente de documentos e relatórios da época do Brasil Império, que nos auxiliaram na construção de um referencial teórico basilar para a compreensão desse período histórico e das circunstâncias em que se deu a constituição de nosso objeto de estudo. Os documentos da época do Império consultados encontram-se na base de dados Center for Research Libraries- Almanak

Leite, diretor do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos e datam de 1869 e 1871. Uma cópia desses relatórios foi cedida pela Profa. Dra. Solange Rocha, responsável pelo acervo de obras raras da biblioteca do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

Em relação às obras estudadas relacionadas à iconografia, conseguimos uma cópia em microfilme, autorizada pela Biblioteca Nacional, da Iconographia

dos Signaes dos Surdos-Mudos, de Flausino da Gama. Em nossa visita ao

Instituto Nacional de Educação de Surdos, consultamos um exemplar da obra rara de Pierre Pélissier, L’Enseignement Primaire des Sourds-Muets Mis a La Portée

de Tout le Monde Avec Une Iconographie des Signes, que pertence à biblioteca

desde que Flausino da Gama era aluno. Como já mencionado neste estudo, a parte referente à iconografia dos sinais franceses, desenhada por Pélissier está faltando, foi arrancada da obra. Percebemos que essa parte não foi retirada da obra com estilete ou outro instrumento cortante porque havia indícios de sobra irregular de papel no espaço onde deveria estar. Por meio de pesquisa e posterior aquisição, conseguimos uma edição francesa atualizada do material iconográfico de Pélissier, editada por Marc Renard e Yves Delaporte, entretanto mesmo assim havia interesse em verificar o estado da obra consultada por Flausino no INES, uma vez que foi a baliza para realizar a sua e, além disso, havia o desejo de compará-la com a nova edição.

Neste momento, fazemos a apresentação da obra Iconographia dos

Signaes dos Surdos-Mudos, de Flausino da Gama, elaborada em 1875 e também

uma análise e discussão detalhada acerca dos elementos visuais que a constituem. É interessante declarar que parte da obra de autoria de Pierre Pélissier, que traz a iconografia dos sinais franceses, intitulada L’Enseignement

Primaire des Sourds-Muets Mis a La Portée de Tout Le Monde Avec Une Iconographie des Signes, datada de 1856, também é considerada, pois foi o

fundamento para a elaboração da obra do surdo brasileiro. Após a descrição de ambas, são elaboradas categorias e subcategorias que se constituem de núcleos de sentido, que nortearão as nossas análises e discussões. Essas categorias e

subcategorias são estabelecidas a partir do conteúdo expresso na obra de Flausino de Gama e levam em consideração elementos básicos da comunicação visual, além de aspectos pertinentes ao conteúdo escrito da obra.

O presente trabalho envolve o estudo de um tipo de iconografia, especificamente uma tentativa de convencionar em desenhos sinais manuais dinâmicos que possuem função linguística. Turazzi (2009, p. 25) salienta que esse tipo de trabalho oferece inúmeros desafios, pois a iconografia é “uma fonte de difícil decodificação e exige métodos de abordagem e de tratamento de informação bastante específicos”. Assim sendo, o nosso intento tem como premissa considerar as dificuldades inerentes ao processo, porém ousando no sentido de estabelecer um referencial para a área da surdez. Conta-se para tanto, com os aportes teóricos da área de Artes, principalmente com os da sintaxe da linguagem visual. Nesse sentido cabe salientar que o estudo das obras de Flausino e Pélissier não tem como intenção considerá-las como arte, enquanto poética e expressão, mas como portadoras de um tipo específico de imagem, o desenho linear. Assim sendo, cabe no campo de análise da linguagem visual.

3.1.1. Características gerais das obras de Flausino da Gama e de Pierre Pélissier

Para que se tenha uma dimensão geral a respeito da constituição das obras em questão, apresentamos a seguir um quadro comparativo contemplando os conteúdos presentes em cada uma delas. A intenção aqui é evidenciar as semelhanças e as distinções em relação à composição das mesmas. Basicamente as duas obras apresentam uma grande quantidade de imagens, constituídas por desenhos litografados, e textos que correspondem ao léxico, mais especificamente aos verbetes que apresentam. É necessário destacar que, na versão brasileira, Flausino faz uso do termo ‘estampa’ para se referir ao conteúdo imagético que faz parte da obra, enquanto que Pélissier usa a denominação ‘prancha’.

Turazzi (2009) diz que o termo estampa passou a ser utilizado no século XIX e fazia alusão às imagens múltiplas reproduzidas por meios técnicos, ou seja, àquelas obtidas por meio de gravura, litogravura e posteriormente pela fotografia, fotogravura e outras reproduções fotomecânicas. Destaca ainda que, em relação ao termo, há uma espécie de “deslizamento discursivo, pois a palavra estampa também passou a ser empregada para designar, genericamente, toda e qualquer imagem, incluindo até mesmo desenhos e pinturas” (p. 65).

Segue o quadro comparativo com a nomenclatura destacada e os seguintes aspectos:

• Capa das obras de Pierre Pélissier e de Flausino da Gama com as informações contidas em cada uma delas;

• Aspectos lexicais presentes nas pranchas de Pierre Pélissier e nas estampas de Flausino da Gama;

• Sistema de representação;

• Características da figura referência (gênero, aspectos da figura referência);

• Destaque as expressões faciais;

• Vestimenta da figura referência;

• Uso de sinais gráficos;

• Prefácio;

Quadro 2 - Comparativo entre as obras de Flausino da Gama e Pierre Pélissier

Dados referentes à obra

L’ enseignement primaire des sourds-muets mis a la portée de tout le monde avec une

iconographie des signes, de autoria

de Pierre Pélissier (1856)

Dados referentes à obra

Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos,

de autoria de Flausino José da Gama (1875)

Composição da obra francesa Composição da obra brasileira

Capa

Tipografia da época (século XIX) com dados relativos à obra:

Título, autor, local de publicação, editora, ano de publicação.

Capa

Tipografia da época (século XIX) com dados relativos à obra:

Título, autor, local de publicação, editora, ano de publicação.

Aspectos lexicais