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PERCURSO METODOLÓGICO: DA ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA À

O presente estudo foi realizado com um duplo caminho metodológico: o primeiro deles realizado sob a técnica de pesquisa bibliográfica, que consistiu na análise de fontes secundárias, já tornada pública em relação ao tema de pesquisa, como, no caso, das dissertações e das teses sobre os Jogos Cooperativos. Os trabalhos analisados têm hegemonicamente fundamentação teórica dos Jogos Cooperativos, no pioneirismo de Terry Orlick, e também nas idéias do principal pensador desses

jogos aqui no Brasil, o professor Fábio Brotto. Por isso, os trabalhos desses autores também se constituíram focos de análise.

Para identificação dessas pesquisas, recorreu-se, primeiramente, ao banco de dados das dissertações e das teses do portal eletrônico da CAPES22, onde pôde ser encontrada uma lista de grande parte dos trabalhos acadêmicos realizados no Brasil e reconhecidos pelo Ministério da Educação. Para essa primeira varredura foi utilizado apenas um critério, buscar a palavra ―jogos cooperativos‖ nos resumos e títulos.

A partir do levantamento realizado, seguindo os critérios descritos acima, foram identificados um total de vinte e sete trabalhos acadêmicos com a palavra ―jogos cooperativos‖, sendo vinte e quatro dissertações e três teses. Em uma leitura preliminar (nesse primeiro momento apenas dos resumos) foi possível notar a utilização da teoria desses jogos em diferentes áreas de estudos, desde àquelas que priorizam a educação social, motora e física, quanto às que possuem interesses de ordem técnico-administrativo, como no caso dos trabalhos encontrados nos programas de Engenharia Elétrica (duas dissertações), Economia (uma dissertação), Engenharia Ambiental (uma dissertação), Planejamento Energético (uma dissertação), Controladoria e Contabilidade (uma tese), entre outros23. Apesar de esses últimos trabalhos apresentarem contextos diferentes do pretendido para alcançar o objetivo dessa pesquisa, os mesmos não foram descartados, pois destacam a utilização da teoria dos Jogos Cooperativos vislumbrando outros objetivos, que não somente o pedagógico (com fins educacionais), como, por exemplo, o desenvolvimento de técnicas para redução de custos de uma determinada empresa, sem que diminua sua produção.

Devido o interesse investigativo da pesquisa apontar para a análise dos trabalhos que viabilizavam a utilização dos Jogos Cooperativos na intervenção pedagógica, a busca se restringiu aos programas de pós-graduação (nível mestrado e doutorado) na área da Educação e da Educação Física (um total de cento e dezessete

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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O endereço acessado foi: http://servicos.capes.gov.br/capesdw/Teses.

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programas), reconhecidos e recomendados pela instituição CAPES24. No entanto, tanto a Educação como a Educação Física são áreas que abrangem uma variedade de concentração de estudos afins, como, por exemplo, Educação Agrícola, Psicologia da Educação, Educação em Ciências e a própria Educação em si. Na área da Educação Física é semelhante, pois incluem os programas de Ciência do Esporte, Ciência da Motricidade, Ciência do Movimento Humano, entre outros. Em conseqüência disso foi necessário realizar uma nova leitura dinâmica (resumo, introdução e conclusão), que pudesse assegurar aqueles trabalhos que apresentassem perspectivas da utilização dos Jogos Cooperativos para o aprendizado de valores sociais, pois, alguns trabalhos associavam esses jogos à educação da saúde (aptidão física) e da educação motora.

Após seguir esses critérios, chegou-se a um número final de dezoito dissertações e duas teses. No entanto, o critério estabelecido para análise estava associado também à disponibilidade desses trabalhos online, em formato digital (texto completo para download), pois somente desta forma se teve acesso a todos os elementos textuais da pesquisa. Neste caso, restaram nove dissertações e duas teses, que foram submetidas a leituras com ênfase nas seguintes estruturas: título, resumo, palavras-chave, sumário, introdução, capítulos de revisão de literatura e de resultados, conclusão e bibliografia.

Tais trabalhos tinham em síntese, como objetivo central, a sugestão dos Jogos Cooperativos como atividade mais adequada à educação dos jovens, dos adultos e, principalmente das crianças, objetivando a formação de uma sociedade com valores sociais mais humanos, como no caso da cooperação e da solidariedade. Além disso, alguns desses trabalhos, principalmente, aqueles que se concentravam no campo da Educação Física evidenciaram nos jogos e esportes valores sociais inerentes à sociedade capitalista, em geral considerados como negativos, os quais são mantidos nos pilares da educação e das relações sociais do cotidiano.

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A localização dessas pesquisas não se limitou mais ao portal CAPES, até mesmo por precaução, por achar que nem todos os trabalhos estariam registrados nesse portal. Portanto, foi feita uma varredura cuidadosa em todos os sites dos programas de pós-graduação em Educação e Educação Física do Brasil. Ao todo foram pesquisados noventa e sete portais eletrônicos e seus respectivos acervos digitais.

Observou-se que tanto a literatura dos Jogos Cooperativos como as fontes consultadas desse campo, no caso dissertações e teses, apresentaram uma tradição teórica com discursos de sublimação ou contestação do agôn (competição) presente nesses jogos. Mas, é preciso lembrar que o Jogo Cooperativo é um tipo de jogo, e a literatura clássica da teoria do jogo apresenta argumentos confiáveis de que o agôn é uma categoria pertencente aos jogos, configurando-se inclusive como uma de suas principais características, especialmente, quando neste último há em disputa uma premiação material ou simbólica25. Procurou-se então investigar essa negação ao elemento agonístico presente na tradição dos Jogos Cooperativos e evidenciar que os trabalhos de Jogos Cooperativos omitem a existência não somente da competição como também do conflito durante as execuções.

O outro caminho metodológico viabilizado nessa pesquisa está diretamente associado aos indícios das presenças do elemento agôn (competição) e também do conflito durante a prática dos Jogos Cooperativos em diferentes contextos. Já se dispunha de indícios encontrados no estudo de monografia de graduação, então, resolvi por realizar uma oficina sobre os Jogos Cooperativos no ano de 2008/2, com acadêmicos do curso de Educação Física da UFES. No decorrer da oficina várias vivências foram realizadas com os acadêmicos, com a intenção de verificar a eventual recorrência de indícios e/ou novas evidências para além das já registradas. A oficina foi desenvolvida dentro do programado26 e observações interessantes sobre o comportamento puderam ser registradas para posterior análise. Neste caso, foi utilizada a técnica de pesquisa que Gil (2002) caracteriza como pré-experimental, pois envolve a participação de um único caso (ou grupo), sem controle. Isto é, não há comparação entre dois grupos, porque simplesmente não há grupo de controle. Um pouco do vivenciado e aprendido pelos acadêmicos, foi posto em prática por eles em duas oportunidades de intervenção com crianças da educação infantil, na

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Não se pode afirmar que um jogo será plenamente competitivo, mas é possível prever a partir de suas características como as relações entre os jogadores ocorrerão; pode-se dizer, por exemplo, que os jogos que se organizam de forma a colocar algo em disputa (um prêmio, por exemplo) têm maiores chances da relação entre os jogadores ocorrerem competitivamente, mas como já se mencionou anteriormente, o agir humano é subjetivo e está associado a uma série de aspectos que levam os jogadores a se posicionarem em oposição aos demais, como por exemplo, objetivos individuais e coletivos, interesses, amizade ou inimizade. A mesma lógica pode ser aplicada a situação cooperativa.

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creche da mesma universidade, a CRIARTE. Essa experiência também se constituiu em fontes de dados a serem analisados.

Quanto ao processo de análise dos dados, baseou-se na ―Análise de Conteúdo‖ de Laurence Bardin (2004), que permitiu compreender o conteúdo das mensagens destacadas nas fontes as quais se pretendeu analisar, evidenciando também indicadores que permitiram, através da análise, buscar outras realidades. Para tanto, as dissertações e as teses sobre Jogos Cooperativos, assim como, as mensagens dos registros das vivências com os Jogos Cooperativos, na graduação e no mestrado, serão analisadas a partir de duas extensas categorias; a cooperação e os Jogos Cooperativos: da teorização à empiria; a competição e os jogos competitivos: da teorização à empiria. Evitou-se estabelecer um número grande de categorias que porventura pudesse dificultar a análise, tornando suas respostas repetitivas em mais de uma categoria do conjunto. Nesse sentido, optou-se por construir duas categorias que respondessem exaustiva e exclusivamente às questões levantadas por essa dissertação. Na primeira categoria são abordados os conceitos, as concepções e os valores sócio-educativos da cooperação e dos Jogos Cooperativos. A segunda categoria trata os conceitos, as concepções e os contravalores da competição e dos jogos competitivos. Além disso, há também a análise dos comportamentos cooperativos, competitivos e conflitivos a partir das experiências da graduação27 e das vivências pré-experimentais28 do mestrado, distribuídas ao longo da análise, de acordo com as necessidades de momento.

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