• Nenhum resultado encontrado

Percurso Metodológico

No documento Download/Open (páginas 81-84)

A pesquisa apresentada faz referência a uma abordagem qualitativa que segundo Ludke e André (1986) é aquela que se desenvolve em uma situação natural, com rica manifestação de dados descritos, apresentando um plano flexível e aberto em que focaliza a

66 realidade contextualizada e complexa. Pode - se dizer ainda que se trata de uma pesquisa qualitativa por pretender responder questões muito peculiares e cuja preocupação com a realidade não pode ser quantificada, visto que ela explora um universo de significações, conhecimentos, identidades, experiências, atitudes e crenças.

Vale considerar que no processo de trabalho de campo, conforme muitos autores, algumas particularidades da pesquisa qualitativa adquirem materialidade: as questões formuladas estão articuladas com as experiências históricas e com a complexidade das vivências. A fonte de dados é o contexto dos sujeitos que estão envolvidos na investigação; a coleta de informações apresenta como característica a ênfase na compreensão a partir dos aspectos descritivos, precedida da observação dos fenômenos em estudo, identificando possíveis relações das atividades analisadas numa articulação do social com o sujeito. E, ainda, o pesquisador ressalta o processo de mudança e de transformação no transcorrer das ações humanas, priorizando a reconstrução de sua gênese e de seu desenvolvimento.

Neste processo é fundamental a relação estabelecida entre os sujeitos pesquisados e as relações intersubjetivas do integrante sócio - histórico que se encarrega da investigação. O pesquisador prioriza uma participação reflexiva, ativa e crítica do sujeito da pesquisa, na qual os pesquisados e o pesquisador apresentam um sentido novo a esse movimento.

A estratégia utilizada para coleta de dados na investigação foi o princípio da história oral. Atualmente, a história oral é compreendida como uma categoria metodológica multidisciplinar que vem sendo estudada, praticada e pesquisada por diferentes áreas do conhecimento: sociólogos, historiadores, psicólogos, educadores, dentre outros. Portanto, ela se coloca a serviço de interesses arquivísticos, pedagógicos, acadêmicos, e terapêuticos. De acordo com Alberti (2000), já existem diferentes correntes e modos de enfoque e possibilidades distintas de objetos de estudo.

Ao se afirmar nos pressupostos de uma compreensão nova de ciência, a metodologia da história oral representa a tentativa de superar um dos paradigmas da ciência tradicional em que a cientificidade de uma teoria está associada aos princípios de estabilidade, simplicidade e objetividade na interpretação de um acontecimento ou de um fato.

A valorização da memória como forma de produzir conhecimento, pelo princípio da história oral, altera a leitura tradicional relacionada aos conceitos de realidade e verdade, promovendo a expansão da compreensão das fontes de pesquisa. Para (SILVEIRA 2005, p.2):

67 a ser entendidos como termos polissêmicos e são associados à condição de instabilidade e provisoriedade.

Nesse sentido, é possível empregar e refletir práticas e representações, compreendendo experiências que foram constituídas em um momento histórico específico, contribuindo para revelar, entre inúmeras questões, a construção cultural e a identidade de um grupo. Contudo, é necessário que seja desenvolvida uma relação de confiança e de espontaneidade entre os sujeitos envolvidos na investigação e enfatizar o respeito às opções, posicionamentos e intenções políticas, diferenças dos entrevistados bem como diferenças econômicas e socioculturais. “Através do contato ético e responsável com o entrevistado, o pesquisador vai

aperfeiçoando as inúmeras possibilidades de coletas de dados” (BICALHO, 2009, p.4).

Esta metodologia permite encontrar o sentido das vivências familiares, profissionais, experiências pessoais, sociais e comunitárias dos indivíduos. Também possibilita aprofundar a compreensão da realidade a partir do ponto de vista que o investigado lhe atribui, possibilitando também que não seja necessário selecionar um grande número de sujeitos. Ainda permite constituir, intencionalmente, o universo de pesquisa com os sujeitos que melhor irão contribuir para alcançar os objetivos da investigação (MARTINELLI, 2003). E, ainda conforme (FERREIRA; AMADO, 2006, p. XIV) possibilita ter acesso ao discurso dos excluídos, que teriam dificuldades ou não teriam condições de expressar de outra forma:

O uso sistemático do testemunho oral possibilita à história oral esclarecer trajetórias individuais, eventos ou processos que ás vezes não têm como ser entendidos ou elucidados de outra forma: são depoimentos de analfabetos, rebeldes, mulheres, crianças, miseráveis, prisioneiros, loucos, .... São histórias de movimentos sociais populares, de lutas cotidianas encobertas ou esquecidas, de versões menosprezadas; essa característica permitiu inclusive que uma vertente da história oral se tenha constituído ligada à história dos excluídos.

O presente estudo foi constituído em cinco etapas:

Inicialmente, para fundamentar a pesquisa, foi realizado um amplo levantamento de materiais bibliográficos e a leitura interpretativa dos documentos que norteiam a educação do campo no Município de Vila Pavão. Em seguida foram feitas observações dos espaços vividos pela escola no que tange as manifestações culturais, aos espaços de recreações, festas e os diferentes segmentos da comunidade escolar. A observação é uma das técnicas de pesquisa mais utilizada nas ciências humanas, mas está diretamente ligada à pesquisa de campo. Embora seja uma técnica relativamente espontânea, a mesma exige uma sistematização de método que a potencializa. Para CHIZZOTTI (1998, p. 53): “o observador, munido de uma

68

determinado período de tempo, classificando-os em categorias ou caracterizando-os por meio de sinais”.

A observação das práticas pedagógicas do educador do campo e das práticas educativas que são direcionadas para o Ensino Básico tem o objetivo de levantar dados que abrangem os fazeres e os saberes como sujeito participante da pesquisa.

A terceira etapa consistiu na realização de entrevistas semiestruturadas gravadas com o corpo discente, o corpo docente, pais de educandos e sujeitos integrantes da comunidade e de lideranças municipais. A entrevista, Segundo Triviños (1992, p. 46) “valoriza a presença

do investigador e também oferece possibilidades para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.” Deste modo, a tarefa de

reconstituir os fatos, de situações, datas e comemorações é privilegiada através de roteiros semiestruturados no qual, por meio da oralidade, ressaltam- se questionamentos que abrangem os saberes sociais e as distintas maneiras de integração do trabalho dos educadores, das experiências que os educandos trazem para o ambiente escolar e das lembranças que os integrantes da comunidade fazem questão de enfatizar.

As entrevistas foram realizadas no mês de novembro de 2014 e todos os sujeitos envolvidos no estudo foram informados do direito à recusa da participação, esclarecidos quanto ao objetivo da pesquisa, cuja participação foi formalizada através do termo de consentimento livre e esclarecido, elaborado por meio de duas vias, (APÊNDICE – A e B). A quarta e a última etapa se referem, respectivamente, a sistematização dos dados coletados nas entrevistas e no contexto escolar, tendo como referência os objetivos e os problemas do estado e a elaboração das considerações sobre a sistematização de dados e das investigações, culminando com a redação da pesquisa.

3.2 Diálogos Entre a Educação do Campo e a Agricultura Camponesa do Município de

No documento Download/Open (páginas 81-84)