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Levando em consideração que a análise e interpretação das fontes e, posteriormente, a construção do conhecimento histórico se pautam na fundamentação de pressupostos tanto teóricos quanto metodológicos é que realizei esta pesquisa de caráter histórico-documental, tomando como referência fontes primárias – constituindo-se em documentos propriamente ditos como jornais, leis, decretos, regulamentos, relatórios, fotografias, enfim, fontes que nos falam mais diretamente sobre a educação rural e as

secundárias que são aquelas pelas quais já passaram por uma análise reflexiva, tais como: textos e obras referentes ao tema que estou abordando neste trabalho, ou seja, sobre a história da educação rural10.

Sendo assim, lancei mão da perspectiva na qual se observa a história da educação rural em seu movimento processual, proporcionando a compreensão das políticas educacionais, nacionais e locais, destinadas para o meio rural que reverberaram numa ação educacional voltada para auxiliar a fixação do homem àquele meio, levando em consideração os aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais brasileiros e paraibanos.

Nesse sentido, para compreender como se configurou a educação rural paraibana no período de 1946 a 1961 foi necessário me debruçar sobre diversas fontes, assim, lancei mão das notícias publicadas no Jornal A União11, que se encontram no Arquivo Histórico Waldemar Duarte da Fundação Espaço Cultural (FUNESC) e no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP)12, ambos localizados na cidade de João Pessoa, bem como coletamos dados relativos às leis, decretos, regulamentos e mensagens presidenciais produzidos e publicados no período em estudo.

Apesar da grande diversidade de fontes, destacamos o jornal como um importante instrumento historiográfico “para a escrita da História por meio da imprensa” (LUCA, 2008, p. 111). Para tanto, o jornal foi abordado nesse trabalho como fonte principal que subsidiou boa parte da construção histórica aqui realizada, uma vez que o jornal apesar de ser considerado por alguns historiadores como uma fonte historiográfica tradicional tem conseguido atrair a atenção de vários pesquisadores em História e História da Educação. Esse crescimento tem acontecido por ser um tipo de fonte rico em informações,

10 É importante salientar que optamos reproduzir a grafia original dos documentos e referências

utilizados neste trabalho.

11 O Jornal A União foi considerado por muitos anos como principal meio de comunicação

oficial da imprensa paraibana, contando hoje com 120 anos de existência, já que foi fundado em 02 de fevereiro de 1893 pelo presidente da Província Álvaro Machado, sendo o terceiro jornal mais antigo em circulação no país e o único jornal oficial ainda existente no Brasil. O histórico desse jornal está associado à oficialidade, evidenciando o poder político predominante na Paraíba em cada momento da história.

12 Segundo Lima (2010), o IHGP é uma entidade sem fins lucrativos que tem por finalidade

promover e divulgar, no âmbito do Estado da Paraíba, estudos, pareceres e pesquisa de história e geografia, bem como suas ciências auxiliares, contribuindo para um melhor conhecimento da realidade paraibana. Durante quase 100 anos, o IHGP vem acumulando expressivo acervo material. O arquivo reúne cerca de 32.000 documentos, dentre esses se encontram vários manuscritos, que permitem a pesquisa sobre os períodos colonial, imperial e republicano no que tange à história nacional, regional e, especialmente, a local.

acontecimentos e opiniões dos mais diversos segmentos sociais, tornando-se, portanto, uma profícua fonte para visualizarmos a dinâmica da sociedade e do campo educacional de uma determinada época. Segundo Vieira (2007, p. 13),

A imprensa permite uma ampla visão da experiência citadina [e rural]: dos personagens ilustres aos anônimos, do plano público ao privado, do político ao econômico, do cotidiano ao evento, da segurança pública às esferas cultural e educacional. Nela encontramos projetos políticos e visões de mundo e vislumbramos, em ampla medida, a complexidade dos conflitos e das experiências sociais [...]

Nesse sentido, é possível perceber que o jornal possibilita ao pesquisador múltiplos olhares sobre personagens e temáticas diversas. Além disso, o mesmo caracteriza-se como documento abastado de detalhes sobre a educação e “[...] é difícil encontrar um outro corpus documental que traduza com tanta riqueza os debates, os anseios, as desilusões e as utopias que têm marcado o projeto educativo nos últimos dois séculos.” (NÓVOA, 1997 apud SANTOS, 2010, p. 30 e 31).

Vale ressaltar, que apesar de estar pautado na oficialidade o jornal escolhido traz para além do enaltecimento das obras públicas, implantadas pelos governos vigentes, discussões públicas que espelhavam a correlação de forças políticas, bem como temas dos mais diversos.

Entretanto, quero frisar que esse tipo de fonte pode “enfraquecer o distanciamento crítico do historiador” (MALATIAN, 2009, p. 205), caso o pesquisador não tome os devidos cuidados metodológicos. Nesse sentido, é necessário que o historiador estabeleça um afastamento e sempre observe as fontes com um olhar atento e crítico, a fim de questioná-las e buscar conexões com a temática proposta.

Assim, foi de fundamental importância não tomar apenas o jornal como fonte, mas respaldar a discussão a partir também da legislação comum e, mais cuidadosamente, a educacional que nos indica possíveis debates que ocorrera em torno da temática aqui em foco. Assim, concordo com Lombardi (2004, p. 156) quando ressalta que

É importante não recorrer a uma única fonte, mas sim confrontar várias fontes que dialoguem com o problema de investigação e que possibilitem (ou não) que se dê conta de explicar e analisar o objeto investigado. Considerando‐se que as fontes são testemunhos que possibilitam entender o mundo e a vida dos homens, todos os tipos de fontes são válidas.

Nesse sentido, é preciso levar em consideração que a compreensão do passado não se dá apenas por intermédio de um só discurso e/ou partindo de uma única fonte, todavia a história da educação rural paraibana aqui está sendo construída tomando como referência as várias interfaces que subsidiam hoje capturar partes das visões e questões que foram discutidas sobre aquele tipo de escola, ou seja, a educação e a escola rural.

Tomando como referência essa assertiva, foi de fundamental importância ter contato com a legislação educacional da época e, mais especificamente, aquela que fora destinada ao ensino rural brasileiro, tentando compreender quais foram às mudanças ou permanências, bem como a ausência de ações que proporcionaram ou não o desenvolvimento da educação rural no Brasil e, mais particularmente, na Paraíba.

Empreendendo uma cuidadosa análise sobre a legislação ultrapassei a ideia defendida por alguns historiadores de que esse tipo de fonte reverbera unicamente aos interesses das classes dominantes ou do discurso meramente oficial, levando, inclusive a uma leitura limitadora e mecanicista acerca da legislação. Não obstante, entendo que a legislação comporta outras dimensões, tais como a dinâmica da sociedade em relação à educação brasileira, que nos indicam significativos elementos socioculturais, políticos e econômicos, às políticas educacionais, bem como nos fornecem aspectos relacionados às prescrições destinadas ao fazer pedagógico que podem interferir nas práticas de sala de aula.

Segundo Thompson, (1984) apud Faria Filho, (1998) é impossível estudar a legislação sem manter um diálogo entre esses três elementos – legislação, cultura e costumes – sendo indispensável atentarmos para a dinâmica da vida social, política, econômica e cultural, estabelecendo relação com os costumes que a mesma substituiu ou perpetuou.

Para complementar o conjunto de fontes que subsidiaram esse trabalho, adicionamos a importância da fotografia/imagem como recurso para nos

aproximar do passado, mesmo apresentando ainda lacunas. É importante salientar que o uso de fotografia e imagens têm se tornado cada vez mais comum nos estudos científicos, principalmente, no âmbito da História da Educação, em virtude da ampliação do conceito de fontes. Nesse sentido, adquiri um acervo fotográfico e iconográfico significativo, a partir da consulta nos jornais, bem como por meio de arquivo pessoal representando tanto fatos referentes aos eventos ligados ao ensino rural como aos acontecimentos de cunho político e social da Paraíba no período abordado nesse estudo.

Tomar a fotografia como fonte extrapola o sentido da imagem pela imagem, ou seja, de apenas um acessório do texto. A sua utilização requer um cuidado especial no que concerne ao reconhecimento de que as fotografias carregam consigo uma subjetividade, não sendo a realidade, mas uma representação do real. Assim, corroboramos o pensamento de Kossoy quando discute sobre a interpretação da imagem.

Apesar do amplo potencial de informação contido na imagem, ela não substitui a realidade tal como se deu no passado. Apenas nos traz informações visuais de um fragmento de determinado fato, selecionado e organizado estética e ideologicamente. Cabe ao intérprete compreender a imagem fotográfica enquanto informação descontinua da vida passada, na qual se pretende mergulhar. (KOSSOY, 2001, p. 45)

Sendo assim, foi cultivado neste trabalho um esforço no que se refere ao uso de imagens/fotografias, no sentido de não desvinculá-las do contexto ao qual elas estavam inseridas, seja ele político, social, econômico e educacional. As fotografias podem nos dizer muito, por exemplo, que “o progresso e a modernização social começaram a se confundir com a proliferação de obras públicas: saneamento, edifícios monumentais destinados a poderes públicos e escolas, dentre outros” (VIDAL, 1998, p. 81). Para tanto, essa preocupação foi essencial para a construção da discussão em torno da educação rural na Paraíba.

Além disso, a leitura crítica de textos e obras de autores que discutem sobre a História da Educação da Paraíba, bem como a apropriação da produção teórica acerca do tema, nos ajudou a “definir um método de organização para análise e exposição”, como também para “estabelecer as

conexões, mediações dos fatos que constituem a problemática pesquisada” (FRIGOTTO, 1989, p. 88).

Diante da diversidade de fontes, optamos por adotar uma metodologia que mantenha o entendimento da relação entre o particular e o geral, seja nos aspectos relativos ao movimento da história brasileira e paraibana, seja na especificidade da história da educação no Brasil e na Paraíba, ou seja, à medida que analisei os acontecimentos educacionais paraibanos tentei fazer, ao mesmo tempo, uma relação com a realidade educacional brasileira. Nesse sentido, esse procedimento metodológico me proporcionou

recolher a ‘matéria’ em suas múltiplas dimensões; apreender o específico, o singular, a parte e seus liames imediatos e mediatos com a totalidade mais ampla; as contradições e, em suma, as leis fundamentais que estruturam o fenômeno pesquisado (FRIGOTTO, 1989, p. 80).

Sendo assim, não estou tratando apenas das especificidades da Paraíba, mas entendo que os eventos locais são influenciados pelos acontecimentos gerais e vice-versa, para tanto, é importante inferirmos sempre essa relação entre o específico e o geral, a fim de se compreender melhor a conjuntura educacional que reverberou nas políticas educacionais para o meio rural no período estudado.

De posse de todos esses cuidados metodológicos, bem como munida dos referenciais interpretativos, estruturei esta dissertação dividindo-a em quatro capítulos. No primeiro capítulo intitulado: Das primeiras ideias aos passos da pesquisa, conforme acabamos de percorrer, teci algumas considerações sobre os aspectos teórico-metodológicos da pesquisa, definindo e justificando o objeto, os objetivos, a periodização e as fontes com as quais trabalhei.

No segundo capítulo, intitulado: O Nacional Desenvolvimentismo e a educação no meio rural: o ensino agrícola e a alfabetização de adultos. me debrucei sobre a conjuntura política, social, econômica e educacional do período que compreende de 1946 a 1961, momento no qual é muito forte a presença do nacionalismo e desenvolvimentismo no país, assim, buscamos entender as políticas destinadas à educação rural, tomando como referência a legislação, focando na Lei Orgânica do Ensino Agrícola (LOEA) que teve

grande destaque no âmbito do ensino rural, em 1946, bem como outras, percebendo de que maneira elas repercutiram na conjuntura educacional rural paraibana, especificamente como forma de combate ao analfabetismo no meio rural. Para tanto, foi relevante a análise dos discursos presidenciais e os relatórios dos governadores da Paraíba, a fim de compreender quais foram os esforços no sentido de empreender políticas e ações que atendessem ou não as singularidades do homem rural, bem como a consolidação de escolas rurais em todo o país e a fixação do homem no meio rural.

No terceiro capítulo: Educação Rural: de um projeto de ensino rural primário à sua efetivação na Paraíba, empreendemos a discussão em torno das especificidades da educação rural paraibana manifesta a partir da contribuição do professor e intelectual Sizenando Costa que foi um intrépido defensor das ideias ruralistas e da construção de uma escola rural própria. Posteriormente, discutimos de que forma essas políticas e ideias foram incorporadas no ensino primário rural na Paraíba, percebendo como se configurou esse segmento do ensino rural. Por fim, tecemos um debate voltado para a formação de professores rurais na Paraíba como parte de um projeto de ensino rural nacional, atentando para as particularidades paraibanas.

O capítulo quarto: As instituições auxiliares do ensino rural paraibano trata das instituições que deram respaldo a educação rural na Paraíba como os clubes agrícolas escolares, as semanas ruralistas, a radiodifusão e cinema educativo como recursos didático-pedagógicos, utilizados para atrair o homem do meio rural. Evidenciei, ainda, as missões rurais como evento pedagógico que se destinaram a alfabetizar os jovens e adultos no interior da Paraíba. Por último, as considerações finais, espaço destinado a discutir acerca das contribuições do trabalho para a compreensão da educação rural na Paraíba.

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