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Esta pesquisa visa os objetivos seguintes:

1.2.1. Objetivo Geral

Analisar o sistema de ocupação e gestão territorial dos indígenas Mbya-Guarani, assim como a dinâmica de adaptação, a partir do processo de formação da aldeia Itanhaen no Estado de Santa Catarina.

1.2.2. Objetivos específicos

• Definir e caracterizar princípios que direcionam a ocupação territorial dos Mbya-Guarani e que fazem parte da sua cosmologia.

• Descrever o modo de ocupação e administração dos recursos por parte de uma comunidade Mbya-Guarani, no processo de formação da aldeia Itanhaen, município de Biguaçu.

• Refletir sobre o modo como os Mbyá-Guarani adaptam e efetivam sua visão de mundo e seu sistema de gestão no uso e administração dos recursos.

1.2.3. Abordagem metodológica

Dadas as características específicas do tema de investigação, o trabalho se orientou como uma pesquisa qualitativa, procurando que segundo compreender de forma detalhada os significados e as características situacionais apresentadas pelos informantes (RICHARDSON, 1999).

Nas visitas às aldeias, foram obtidas as informações através de observação direta em campo, entrevistas gravadas em meio digital, registro fotográfico, diário e caderneta de campo, registro de pontos geográficos com GPS e uso de fotos de satélite (subministradas por Google Earth©). Vale à pena destacar que todos os dados foram

tratados de forma legal e moralmente aceitável, com autorização expressa e assegurada das lideranças locais, através do termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 6).

Neste trabalho se procura considerar aos informantes como interlocutores chave, pois além de ser escolhidos por sua relevância dentro da organização indígena (lideranças políticas e/ou religiosas), procurou-se que o processo fosse um diálogo.

As entrevistas realizadas podem ser catalogadas como semi-estruturadas, já que se abordavam diferentes temas a modo de conversa, permitindo que as pessoas respondessem nos seus próprios termos e deixando que o pesquisador estivesse livre para ir além das respostas, a partir de perguntas normalmente específicas (MAY, 2004).

1.2.4. Metodologia de campo e coleta de dados

Organizei a pesquisa em três etapas. Na fase preparatória, a partir da revisão do estado da arte (consulta de bibliografia geral e específica) e das conversas regulares com o setor de etnologia indígena do Museu Universitário da UFSC, consolidei a proposta de trabalho para a pesquisa. Esta primeira etapa concluiu com duas conversas com o cacique Felipe Brizoela da aldeia Pindoty (10/10/06 e 21/11/06), para fazer os primeiros contatos e preparar o terreno para a fase seguinte.

A segunda etapa foi de caráter exploratório e consistiu em visitar várias aldeias do Estado para apresentar e discutir com as lideranças Guarani o projeto de pesquisa para começar o processo de coleta de dados. Essa fase foi muito importante, pois era indispensável que a minha presença fosse bem vista e que os Guarani consultados fizessem parte do processo de estruturação e ajustes da proposta de pesquisa. Para esse processo visitei novamente a aldeia Pindoty, em duas oportunidades (19-20/05/07 e 30/06/07 a 1/07/07). Nestas visitas, as conversas com o cacique Felipe Brizoela foram

fundamentais para orientar a proposta de pesquisa e visualizar outros interlocutores- chave que contribuiriam significativamente no processo.

Um dos interlocutores chave indicados na seqüência por Felipe foi Leonardo Wera Tupã, importante liderança Guarani do Estado, que foi entrevistado em três oportunidades (05/05/07 e 14-15/07/07) na aldeia Morro dos Cavalos.

Minha participação no seminário denominado: “Sistemas Agroflorestais e Fauna silvestre: Construindo propostas de sustentabilidade nas Aldeias indígenas Guarani do Litoral de Santa Catarina” 9, foi o espaço para poder entrar em contato com outras lideranças Guarani do Estado. Fruto da confiança ganhada consegui marcar a primeira visita à aldeia Itanhaen (7-9/07/07), liderada pelo cacique Timóteo de Oliveira assim como as conversas com Hyral Moreira e com Alcindo Moreira, cacique e liderança religiosa respectivamente (17-19/07/07).

As informações coletadas com esses interlocutores-chave permitiram-me consolidar e direcionar a proposta de trabalho, que se concentrou na Aldeia do cacique Timóteo, dando assim início à etapa três: o estudo de caso.

Escolhi essa aldeia para o estudo principalmente pela disposição do cacique em dedicar tempo e energia para apoiar a pesquisa e pela oportunidade sem precedentes de estudar uma aldeia em processo de formação numa área que foi adquirida e não demarcada como terra tradicional, o que proporciona um cenário rico para discutir questões fundiárias e territoriais.

Outra razão para escolher esta aldeia foi ter a possibilidade de presenciar passo a passo o processo de ocupação de uma terra já regularizada, onde podia se expressar a vontade do Guarani sem restrição alguma, transformando o espaço de uma fazenda a uma aldeia Guarani.

9 O seminário foi realizado nos dias 11 até 15 de junho de 2007 e fazia parte do projeto “Capacitação na

área de Desenvolvimento Sustentável e Revitalização cultural nas Terras indígenas Guarani, Xocleng e Kaigang de Santa Catarina”

Durante a primeira visita a aldeia Itanhaen, assim como nas quatro visitas posteriores (7-14/09/07, 27/10/07, 18-20/03/08 e 12/06/08) fiz caminhadas para reconhecer a área de dar seguimento ao processo de ocupação com fotos e pontos referenciados com GPS, para elaborar mapas com imagens de satélite. As conversas que aconteceram às vezes ao redor do fogo, às vezes durante as caminhadas foram gravadas e todo o processo foi complementado com um diário e uma caderneta de campo. Durante as visitas observei a forma ocupação das casas existentes por parte dos Guarani, e a relevância dos nexos familiares para a localização e construção de novas casas, assim como a organização e distribuição dos espaços para diferentes usos.

Os depoimentos apresentados neste documento dos interlocutores-chave: Hyral Moreira, Felipe Brizoela, Leonardo Wera Tupã e Timóteo de Oliveira foram obtidos por mim durante as visitas às aldeias nas datas assinaladas acima (salvo em casos explicitados). As transcrições foram feitas por mim e nelas existem alterações de concordância, adicionando ou suprimindo trechos que não ficaram claros ou audíveis.

Esse processo de coleta de dados foi complementado com a minha participação no projeto denominado: “Fortalecimento da Agrobiodiversidade guarani: Ações de Intercâmbio de Espécies Vegetais entre as Aldeias de Santa Catarina” 10. Esta experiência permitiu participar no diagnóstico ecológico e social das aldeias Guarani: Takuaty, município de José Boiteux (8-11/04/08), Limeira, no município de Entre Rios (23/04/08), Yakã Porã, no município de Garuva (19-21/04/08) e na aldeia Mbiguaçu (16-17/04/08).

10 O Projeto consiste em encadear ações de pesquisa, de saberes tradicionais, de troca de material vegetal

e ATER entre os guarani, de forma a fortalecer a agrobiodiversidade étnica, além de dar visibilidade às autoridades públicas sobre a produção de alimentos tradicionais. Projeto financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA – e executado pelo Projeto Rondon Brasil, Antiga Associação Estadual dos Rondonistas de Santa Catarina – Projeto Rondon.

Com exceção do capítulo 1, todo o documento foi construído com as informações obtidas em campo. As fotos, diagramas e a adaptação de mapas são da minha autoria.

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