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PARTE 2 – A PESQUISA DE CAMPO

3. OS CAMINHOS DA PESQUISA

3.1 PERCURSO METODOLÓGICO

3.1.1 Contextualização do campo investigado

Sobre a visão, missão e valores do CFM, a entidade assim se define:

Visão

Ser reconhecida nacionalmente como uma instituição capaz de atuar com excelência pelo bom exercício ético e técnico no âmbito da prestação de serviços médicos, em atendimento às expectativas da sociedade, além de ser instrumento da valorização e de defesa da dignidade profissional do médico, contribuindo para o debate em questões relacionadas à Saúde e à Medicina.

Missão

Promover o bem-estar da sociedade, disciplinando o exercício da medicina por meio da sua normatização, fiscalização, orientação, formação, valorização profissional e organização, diretamente ou por intermédio dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), bem como assegurar, defender e promover o exercício legal da medicina, as boas práticas da profissão, o

respeito e a dignidade da categoria, buscando proteger a sociedade de equívocos da assistência decorrentes da precarização do sistema de saúde.

Valores

Atuar com elevado padrão ético; ser leal aos objetivos institucionais; ter comprometimento com a justiça, a responsabilidade e a transparência; agir em obediência à legislação que disciplina a gestão pública, prestar serviços de excelência; buscar o aperfeiçoamento contínuo e com eficiência4.

Conselho Federal de Medicina – breve histórico

Seu marco de criação foi o Decreto-Lei n. 7.955/45181,aprovado à época, pelo então, Presidente da República Getúlio Vargas, durante o IV Congresso Sindicalista Médico Brasileiro, o que permitiu a configuração institucional do Conselho de Medicina, preservada até os dias de hoje.

Sua aplicação, entretanto, só teve início em 1951, quando foi constituído, na forma da lei, o Conselho Federal Provisório de Medicina – que promoveu a formação dos primeiros Conselhos Regionais que, por sua vez, em eleição indireta, escolheu os membros do primeiro Conselho Federal de Medicina.

Foi no cerne das entidades médicas enquanto representativas da classe, que surgiu o embrião administrativo dos Conselhos de Medicina, futuros órgãos promotores da ética e guardiões da qualidade da medicina, em nome do estado e a favor da comunidade. O movimento organizado visava criar um organismo com a finalidade de zelar pelos princípios da deontologia médica e da ética profissional.

Enquanto aguardavam a nova lei, o Conselho Federal de Medicina elaborou seu regimento interno e envidou esforços para organizar novos conselhos nos demais estados, conseguindo apenas os Conselhos Regionais de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, provavelmente em vista das várias dificuldades apontadas e resistências oferecidas em determinado setor de atividade médica182.

Em 30 de setembro de 1957, o Presidente da República, também médico, Juscelino Kubitschek sancionou a lei que instituiu o Conselho Federal (CFM) e os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). O Conselho Federal de Medicina tornou-se autarquia federal, com sede em Brasília, Distrito Federal, ou seja, na capital federal, com jurisdição em todo o território nacional, por força de lei (Lei n. 3268/57)181.

Por meio da Resolução CFM n.1, de 17 de dezembro de 1957183,baixada pelo Presidente do órgão, Prof. Agostinho Menezes Monteiro, surgiram as primeiras instruções para as instalações, bem como, o primeiro modelo de requerimento de inscrição do médico nos Conselhos Regionais de Medicina. Nos primeiros anos, em 1957 contou com 14.265 inscritos; em 1958, com 22.804; em 1959 com 29.114; em 1960 com 31.532.

A sede atual do CFM foi inaugurada em 1994, tendo como arquiteto Paulo Zimbres, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Esta obra foi objeto do Prêmio de melhor trabalho, na categoria “Edificação acima de 750,00 m² (obra construída)”, do “Salão Brasiliense de Arquitetura, 1997 – Athos Bulcão”, com o Projeto intitulado “Conselho Federal de Medicina”184.

Figura 2. Representação fotográfica do CFM.

Fonte: Fotos do prédio sede do Conselho Federal de Medicina. Brasília, DF. Direito de imagem concedido pelo fotógrafo Márcio Arruda.

O mandato dos membros do Conselho Federal de Medicina tem a duração de cinco anos e é meramente honorífico. Várias foram as gestões desde 1957. A atual gestão assumiu em 2015 e exerce seu mandato até o ano de 2019, quando acontecerão novas eleições.

Em 2017, o órgão completou 60 anos e, no evento comemorativo foi lembrada a trajetória da autarquia, bem como celebrada a importância do papel dos que atuaram como presidentes.

Sobre a população médica no Brasil

O Conselho Federal de Medicina do Brasil conta em 2016 com a população médica de 429.353 profissionais (médico por inscrição). Tendo em vista a existência de mais de uma inscrição por profissional médico considerou-se como universo de trabalho, o somatório de inscrições ativas “principais” (429.353) e “secundárias” (36.821), totalizando 466.174 registros. Por gênero, a população médica conta com 241.588 homens (56,27%) e 187.765 mulheres (43,73%), enquanto o número de inscrições distribui-se entre 265.425 (61,82%) homens e 200.749 (46,75 %) mulheres.

Atualmente, a maior parte de profissionais registrados encontra-se no estado de São Paulo, 129.326 (27,74%), seguido do estado do Rio de Janeiro, 64.818 (13,9%), e, em seguida, Minas Gerais, 49.455 (10,61%), incluindo inscrições primárias e secundárias.

3.1.2 Amostragem

Sujeitos de Pesquisa

Apoiado em Malhotra (2001)185 tem-se o conceito de estudo por amostragem. Assim é

que185:

[...] Estudo por amostragem para populações infinitas, ou em contextos de constante mudança, pode ser realizado com a coleta de parte de uma população (amostragem), denominada amostra. Amostra é um subgrupo de uma população, constituído de n unidades de observação e que deve ter as mesmas características da população, selecionadas para participação no estudo [...]185. A presente pesquisa possui como amostra de 206 recursos e 19 remessas, o total de 224 recursos de médicos e/ou pacientes submetidos a julgamento ao Pleno do TSEM do CFM, considerando os processos julgados no período de 13 de abril de 2010 a 03 de agosto de 2016. Tais dados foram obtidos no ano de 2016, a partir do banco de dados do CFM e de consulta nos acórdãos proferidos pelo Pleno do TSEM. Três bases foram utilizadas na pesquisa: processos (224); médicos processados (191) e processos/penalidades (146).

A base processos (224) refere-se a todos os processos analisados, independente de terem decisões de penalidades, que também tiveram como resultado: o não conhecimento do recurso; ou o seu acatamento em caso de prescrição; ou sofreram revisão; ou tiveram o julgamento anulado; foram extintos ou foram concedidas interdição total, interdição parcial,

interdição revogada, suspensão total e definitiva. Os quatros últimos são processos de interdição ou suspensão temporária, os quais não se enquadram em punições186. A base médicos/processados (191) é aquela em que os médicos apareceram em dois ou mais processos, computando-se apenas uma vez os repetidos, para efeito do perfil. Esse dado foi considerado no resultado da pesquisa. E a base processos/penalidades (146), a que os médicos sofreram efetivamente as penalidades previstas no Código de Ética Médica, incluindo-se os profissionais punidos uma ou mais vezes.

Considera-se ainda como registro de dados do Conselho Federal de Medicina, 429.353 profissionais médicos, em 2016. Tendo em vista que os profissionais podem ter mais de um registro (a legislação exige que os médicos estejam registrados em cada estado federal no qual atuam), a população geral para este estudo foi a soma de ativos registros primários (429.353) e secundários (36.821), totalizando 466.174 inscrições. A população médica consistiu de 241.588 homens (56,27%) e 187.765 mulheres (43,73%), enquanto o número de inscrições foi distribuído entre 265.425 homens (61,82%) e 200.749 mulheres (46,75%), computando registros primários e secundários.

3.1.3 Coleta de dados: procedimentos e instrumentos

A primeira etapa da investigação diz respeito ao levantamento histórico documental das esferas federal e estadual e estrangeira. Foi consultado amplo acervo bibliográfico, especialmente a literatura relacionada aos temas: medicina, bioética e legislações afins.

Em um segundo momento, desenvolveu-se pesquisa de natureza descritiva, com base no levantamento de dados técnicos consubstanciados no acervo do Conselho Federal de Medicina, tanto da base de dados extraídos nos autos dos processos ético-profissionais do Pleno do Tribunal Superior de Ética Médica, precisamente no setor denominado Coordenação de Processos (COPRO), que possui a guarda dos processos ético-profissionais, quanto no banco de dados do Sistema Integrado de Entidades Médicas (SIEM), o qual tem em sua base o registro de todos os médicos ativos e inativos do País, com informações sobre idade, sexo, formatura, local de inscrição, especialidades e entre outros.

De acordo com Gil (2008)187,

[...] as pesquisas descritivas possuem como objetivo a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma experiência. Por exemplo, quais as características de um determinado grupo em relação a sexo, faixa etária, renda familiar, nível de escolaridade etc.[...] Uma das técnicas de obtenção dos dados refere-se ao levantamento de registros técnico- documentais187.

Já para Triviños (1987, p. 110)188, o estudo descritivo pretende descrever “com exatidão” os fatos e fenômenos de determinada realidade”, de modo que o estudo descritivo é utilizado quando a intenção do pesquisador é conhecer determinada comunidade, suas características, valores e problemas relacionados à cultura.

A pesquisa contou ainda com um subgrupo, extraído da amostra principal, ao colher amostra das infrações cometidas por médicos atuantes na área da Psiquiatria, no período de 2010 a 2016, a partir do âmbito dos recursos dos processos ético-disciplinares julgados no Tribunal Pleno do Conselho Federal de Medicina, tendo como base o Código de Ética Médica, elencando alguns elementos que permitam delinear o perfil profissional dos envolvidos.

Vale mencionar que não foram utilizados os julgamentos das Câmaras do Tribunal Superior de Ética Médica (TSEM) do CFM, somente os recursos ao Pleno que interpostos em face às decisões proferidas nos processos ético-profissionais, por maioria, pelas câmaras do CFM, ou das decisões de cassação do exercício profissional proferidas pelos Conselhos Regionais. A competência do TSEM está disciplinada em resoluções do CFM e na sua lei de criação.

3.2 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados foram analisados por meio dos pacotes estatísticos Excel e SPSS (versão 21). Para tanto, foram utilizadas estatísticas descritivas, tais como: média, desvio padrão e contagem de frequência.

Os resultados apresentados neste estudo foram obtidos por meio de frequências e obedecem à seguinte ordem por: faixa etária por gênero; unidade federativa (estado); atos infringidos da especialidade; artigos mais infringidos, penalidades e atos mais violados conforme artigos do Código de Ética Médica, 2009. A Tabela 1 demonstra a distribuição dos médicos, considerando o gênero e a faixa etária.

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