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O percurso metodológico virtual

No documento E O VISÍVEL: TRIBALISMO (páginas 33-36)

2 BREVE HISTÓRICO SOBRE OS PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DA

2.3 O percurso metodológico virtual

O percurso metodológico utilizado nesta dissertação foi muito significativo e desafiante, pois, durante minha investigação, foi justamente no período que a eleição presidencial de 2019 estava acontecendo na Guiné-Bissau.

No momento, a pandemia de covid-19 ainda não havia começado, assim eu simplesmente estava acompanhando as campanhas eleitorais e captando as informações das eleições através das redes sociais para fortalecer minha ideia no projeto de pesquisa, mas sempre com a proposta de fazer pesquisa de campo presencial em Guiné-Bissau e ter a interação com o povo, bem como entrevistar as pessoas para entender como o tribalismo se opera na relação social e política guineense, assim como é proposto pelo pai da etnografia Malinowski (1978), o qual preleciona que o trabalho de campo presencial permite um resultado mais claro e objetivo.

Porém, devido à pandemia do covid-19, não foi possível fazer a interação com o campo físico e realizar as entrevistas com as populações, coletar os dados nas instituições eleitorais, ouvir os candidatos de diferentes formações partidárias, ouvir os indivíduos de diferentes identidades, uma vez que a pesquisa de campo é muito importante, porque ajuda o pesquisador a ter contato direto com o nativo pesquisado e entender melhor o seu objeto de pesquisa.

Nesse sentido, o avanço tecnológico, que a covid-19 trouxe para o mundo, permitiu novas formas de interação, sendo a internet a forma utilizada “como ferramenta de busca de informações, de natureza acadêmica, para a produção de textos científicos, ou mesmo para realização de estudos etnográficos, de comunidades presentes nas redes sociais” (FERRO, 2015, p. 05).

Em outras palavras, a etnografia virtual passou a ganhar mais força nesse período, uma vez que é o único método científico utilizado para observar comunidades culturais presentes nas redes sociais sem uma localização fixa, em que o indivíduo fica ativo para compartilhar algumas das preocupações, emoções e compromisso dos sujeitos pesquisados.

Como explica Sousa (2020).

No período da pandemia, novas relações afetivas e profissionais foram criadas e ressignificadas, muitas pessoas passaram a trabalhar remotamente; famílias passaram a conviver cotidianamente com vários conflitos; pessoas ficaram afastadas de entes queridos para se proteger e proteger o outro; muitos continuaram nas suas atividades por serem essenciais, por não terem outra opção para se manter ou mesmo por não acreditarem que o vírus é real. Enfim, é uma nova realidade que se apresenta. Mas, e a escola? Quais os impactos da pandemia na educação? E os professores e professoras, que, como quaisquer outros cidadãos, passam por todas estas dificuldades, como estão vivenciando esta nova realidade? Quais os impactos e desafios da quarentena para escolas, estudantes e professores? (SOUZA, 2020, p. 02).

Percebe-se que a covid-19 trouxe grande impacto na educação e os (as) professores(as) e alunos(as) vivenciaram um momento conturbado no sistema de produção

científica. Durante a pandemia, as escolas e as universidades tiveram que cancelar suas atividades por medo de contato e contágio com os vírus.

Nesse sentido, em julho de 2020, o Ministério da educação do Brasil decidiu implementar o ensino remoto para salvar uma parte do ano letivo em meio à pandemia, cujas dificuldades para adotar o novo modelo do ensino remoto foram enormes para dar continuidade às aulas e outras pesquisas extra de campo. Uma vez que muitos alunos (as) não possuem as condições necessárias para o acesso à educação como internet, computador e celular, assim como também existe a dificuldade em assistir aulas no ambiente familiar, o que se configurou como algo impactante para o sistema de ensino.

Em outras palavras, os alunos de graduação e pós-graduação também tiveram o seu impacto na pesquisa de campo. O distanciamento social não permite a realização de trabalho de campo, nem como fazer a observação participante, visto que as atividades nas comunidades, nos bairros e nas cidades foram canceladas para não promover aglomeração e evitar a contaminação pelo vírus.

Nessa senda, com o avanço tecnológico, surgiram consideráveis alternativas que nos ajudaram a realizar pesquisas. A tecnologia nos impôs a viver uma nova relação social e estar “mais próximo” dos outros, mesmo estando no isolamento.

Durante esse período, as atividades, eventos, palestras e rodas de conversa foram retomadas por meio das redes sociais, vídeos aulas, lives, em que os assuntos sociais, culturais e políticos estão sendo repassados para o mundo inteiro.

Os guineenses não se escaparam dessa nova conjuntura da convivência social, digital e educativa. Com esses fatores que a pandemia nos ofereceu no momento, acabamos por mudar a nossa intenção metodológica para fazer a pesquisa bibliográfica e também observar os acontecimentos das eleições nas redes sociais que, hoje em dia, são meios muito importantes para colher as informações sobre determinados assuntos relacionados aos problemas culturais e sociopolíticos do país, uma vez que “a internet não possui ferramentas de avaliação de veracidade, análise de conteúdo ou qualquer instrumento que garanta a qualidade daquilo que é publicado”. (FERRO, 2015, p. 05).

Sendo assim, os guineenses sempre trazem os debates sobre o país para debater nas redes sociais e procurarem os problemas e as causas de cada assunto que impactaram as relações sociais e políticas de diferentes grupos sociais na Guiné-Bissau, assim, foi através disso que houve a possibilidade de realizar o meu campo e obter os resultados esperados desta pesquisa.

A partir de dezembro de 2019 até janeiro de 2021, exceto o período de cancelamento do calendário acadêmico causado pelo covid-19 em março de 2020, deu-se início à coleta dos dados no Facebook e outras plataformas de redes sociais.

Primeiro coletamos todos os vídeos, lives e notícias. Em um segundo momento, organizamos os materiais de acordo com o período em que cada vídeo, lives e notícias foram gravados, começando por 2018, 2019 e 2020, procedendo com a escuta e a transcrição dos dados coletados para avaliar os assuntos relacionados ao tribalismo na eleição de 2019-2020.

No primeiro momento da pesquisa de campo, procuramos vídeos, lives e notícias nas plataformas sociais, cujas abordagens são ligadas ao tribalismo para coletas e anotações dos dados no diário de campo.

No segundo momento, fizemos a transcrição das fontes anotadas no diário de campo para o computador, no qual passei horas e dias debruçada em cima da mesa para ser mais fiel possível às fontes obtidas durante a pesquisa na rede social. Lembrando que os vídeos e as notícias, pelo fato de serem públicos, merecem uma atenção especial nas horas de fazer análise pelo pesquisador (a) e evitar equívoco, buscando manter a originalidade das palavras e não acrescentar nada.

Durante a pesquisa na rede social, encontrei várias dificuldades em termos de análise dos dados de lives, vídeos e notícias. Como é uma pesquisa pública, às vezes, entro na página para conferir a notícia e rever os vídeos e vi que alguns foram excluídos da página pelo interlocutor. Por esse motivo, não analisei algumas informações importantes para minha pesquisa devido à falta de anotações. Nesse sentido, é importante ouvir e anotar os vídeos logo que o pesquisador encontrou o material, antes de ser excluído na página e evitar a perda das fontes importantes para a nossa pesquisa.

No documento E O VISÍVEL: TRIBALISMO (páginas 33-36)