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1 DESCORTINAM-SE AS CATEGORIAS DE ANÁLISE DA GEOGRAFIA

2.3 Percursos metodológico

A pesquisa, que teve como agentes as trabalhadoras fogueteiras, em número aproximado de 2.000 mulheres que trabalham em suas residências e foi desenvolvida em três fases distintas:

Primeira fase: O pré-campo

Nessa fase, empreendeu-se a análise e o diagnóstico socioeconômico da região. Para tanto, foram realizados:

» Levantamento de dados, informações e análise do material bibliográfico e documental (Leis, Normas e Regimentos). As fontes documentais tiveram origem em instituições e órgãos públicos e privados, a saber: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Superitendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI); Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); Serviço de Apoio às Micro e Pequenas empressas (SEBRAE), Ministério da Defesa - Exército Brasileiro, entre outros. O material foi acessado tanto de forma impressa, quanto virtual através de sites específicos;

» Levantamento e análise dos recursos audiovisuais existentes (fotografias convencionais, documentários, jornais), com determinação das escalas temporal, espacial e operacional do trabalho;

» Visita técnica de reconhecimento da área de estudo e levantamento de cenários;

» Caracterização das potencialidades dos usos múltiplos do território referente a produção pirotécnica realizada por levantamento e análise dos aspectos jurídicos e institucionais referentes à área de estudo no tocante as "empresas" de produção de fogos de artifícios.

Os produtos dessa fase contribuiram para a formação do banco de dados, para a análise socioespacial, e a ampliação do olhar para o objeto de estudo — a produção de fogos de artifício em Santo Antonio de Jesus. A modelagem preliminar dos cenários territoriais foi resultado dessa etapa e subsidiou a fase seguinte.

Segunda fase: O campo

Nessa fase, a ênfase foi dada à avaliação, à análise do sistema de produção, os tipos de produto e à discussão analítica. Buscou-se a ―visão holística dos fenômenos, isto é que leve em consideração todos os componentes de uma situação em suas interações e influências reciprocas‖ (ANDRÉ, 2005, p. 17). O trabalho de campo buscou enfatizar menos o produto e mais o processo de produção de fogos e para tal direcionou a proeminência para o mundo das trabalhadoras fogueteiras. Na pesquisa de campo foram utilizados os seguintes procedimentos:

» observações in loco; » aplicação de questionário; » entrevistas e narrativas; » registro de fotografias.

As atividades da pesquisa de campo permitiram analisar as políticas territoriais, as teias da atividade e estabelecer cenários dos territórios fogueteiros. A estimativa segundo a Associação dos Produtores de Fogos de Artificio

Santantaniense – ASFOGOS, de que mais de 2 (duas) mil mulheres atuam na produção de estalo de salão/traque.

Terceira fase: O pós-campo

Nessa fase, o momento da escrita, procedeu-se da seguinte forma quanto aos dados:

» interpretação; » sistematização;

» definição dos achados; » formalização da escrita.

Ressalta-se que nas entrevistas e narrativas escolheu-se manter a regência e as construções sintáticas tal qual foram elaboradas, sem sinalizações de desvio, por acreditar-se que a norma padrão de uso da língua portuguesa, embora desejada no âmbito acadêmico, não contempla a realidade dessas mulheres. Ademais, escolheu-se não sinalizar esses desvios por julgar que esse conceito é relativo: embora estranhos na linguagem formal, os "desvios" apresentados, em se contemplando a realidade do território fogueteiro, são com efeito marcas da fala daquela comunidade (BAGNO, 2002).

3 CONSTRUINDO UMA PONTE ENTRE O SABER E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO

A busca da verdade está sempre ligada a uma decepção, a uma desilusão, a uma dúvida, a uma perplexidade, a uma insegurança, ou então, a um espanto e uma admiração diante de algo novo e insólito.

Marilena Chaui

A produção do espaço apresenta-se, no território, como resultado do processo histórico de ocupação humana, marcada pela economia, pela cultura, pela política e pela técnica. Como afirma Santos (1994), ―a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica (Ibidem, p. 26), por conta das complexidades decorrentes da ocupação humana. Planejamento territorial e regionalização são ações que, concomitantemente, caminham de forma indissociável, no que se refere às políticas públicas.

Nesse sentido, enquadra-se o espaço baiano, com divisões territoriais, em tempos distintos, para atender às finalidades de planejamento da administração pública, bem como para a implantação de políticas públicas em seus diversos segmentos. Para se entender as diversas regionalizações, faz-se necessária uma discussão, mesmo que breve, sobre a dinâmica regional.

A modernização do país, a partir da década de 1950, do século XX, foi incrementada com a industrialização. Esse processo levou o estado a planejar o espaço pensando, a princípio, na integração regional. Posteriormente, culminou com a aplicação de políticas públicas no território nacional, como a política que determinou a implantação de rede rodoviária, na década de 1960, com o objetivo de integrar o espaço por meio da pavimentação da Rio-Bahia, BR-116, em 1963, e a pavimentação da BR-101 em 1971. Estando o poder centralizado na esfera federal, as políticas públicas foram direcionadas conforme as diretrizes da política nacional, o que torna as regiões brasileiras subordinadas aos comandos federais.

Na década de 1970, com o entendimento de que seria mais eficaz potencializar a autonomia dos Estados, na gestão territorial, foram criados órgãos de planejamento estaduais. Efetivamente, isso também ocorreu no Estado da Bahia,

com o propósito de regionalizar os territórios para atender ao direcionamento e às ações de políticas públicas.

A regionalização é um instrumento que consiste em delimitar um espaço para fins de planejamento – político, econômico, tecnológico, cultural – de políticas para o crescimento e desenvolvimento do território. O planejamento é uma das ações para se conduzir as políticas públicas e assim se alcançar o desenvolvimento territorial. O desenvolvimento territorial tem, no seu bojo, a acepção das políticas públicas as quais organizam o território. Em virtude da ―dinâmica espacial – instável, descontínua, acelerada‖ (CARVALHO, 2014), as regionalizações, periodicamente, tornam-se defasadas, o que impõe reorganizações no território (FRANÇA, 2011).

Em cada um dos estados brasileiros, a reorganização do território acompanha as diretrizes de políticas nacionais. Destarte, a regionalização não só determina diretrizes para o planejamento territorial como também tem papel científico, por proporcionar à ciência geográfica tanto reflexões teóricas quanto proposições, além de permitir aprimorar-se e difundir-se o conhecimento sobre o território, explicar sua dinâmica (TOMASONI, 2000). Embora o propósito desse estudo não seja analisar as regionalizações estabelecidas no Estado, é relevante ter uma breve síntese dessas regionalizações, contextualizando Santo Antonio de Jesus, por compor esse espaço o objeto da nossa pesquisa, como território fogueteiro.