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2. Capítulo 2 – Estado de Conhecimento

2.1 Relação água/energia em sistemas de abastecimento de água

2.1.3 Perdas e fugas de água

A procura de água em Portugal para o setor urbano está atualmente estimada em cerca de 570 milhões de metros cúbicos por ano, a que corresponde um custo para a sociedade de 875 milhões de euros, representando 0,77% do produto interno bruto português (Alegre, et al., 2005).

As perdas e fugas constituem uma redução significativa de água, nos sistemas de distribuição (Holland, 2008).

No Plano Nacional da Água, aprovado pelo DL n.º 112/2002, de 17 de Abril, a água não faturada em sistemas de abastecimento de água é estimada globalmente em cerca de 33%, sendo que no sector concessionado se estima que atinja o valor de 23% (PEAASAR, 2007). Para além de aspetos de projeto e de operação, a qualidade da água dentro do sistema de distribuição depende, em grande medida, do conjunto de procedimentos de inspeção e de manutenção adotados pela entidade gestora para prevenir a contaminação e promover a limpeza das condutas. Pelo facto desta parte do sistema de abastecimento se situar mais próxima do consumidor, qualquer foco de contaminação que se verifique no sistema de distribuição pode pôr em causa diretamente a saúde pública, comprometendo todos os cuidados e medidas de controlo entretanto tomadas nas etapas a montante (fonte e tratamento) (Vieira & Morais, 2005)

Segundo Vieira & Morais (2005), as características especiais de um sistema de distribuição, geralmente composto por uma extensa rede de condutas e uma grande quantidade de reservatórios, ligações (domésticas e industriais), juntas e acessórios diversos, para além de frequentes ações de manutenção e reparação, proporciona condições para uma elevada probabilidade de ocorrência de contaminações e de ações clandestinas ou vandalismo. Assim, as medidas de controlo a estabelecer para garantir a qualidade da água num sistema de distribuição devem incidir em boas práticas de operação, manutenção de condutas e reservatórios, na minimização de fatores e fenómenos que possam provocar o reaparecimento de microrganismos (biofilmes) e a póscontaminação da água por ações indevidas.

Se a probabilidade de contaminação é baixa quando todo o sistema está pressurizado, com pressões internas superiores às externas, o mesmo não ocorre quando há necessidade de interromper o fornecimento por qualquer razão. As redes de condutas e os reservatórios devem ser confinados e corretamente protegidos contra intrusões indevidas. A forma como são abordadas as operações de manutenção, reparação de deficiências e ruturas nos elementos do sistema de distribuição, deve ter sempre em consideração a extrema facilidade de se favorecerem condições de contaminação da água, em locais muito próximos dos pontos de consumo e a dificuldade ou mesmo impossibilidade, de remediar, em tempo útil, essas situações. Por outro lado, a contaminação externa pode ser controlada através da manutenção

da rede sob pressão e aplicando medidas que limitem a probabilidade de ocorrência de situações de ligações inadequadas ou indevidas em condutas, bem como limitar acessos não autorizados a reservatórios (Vieira & Morais, 2005). Este tipo de problemas, alem de traduzirem uma redução dos caudais a transportar, levam a uma redução da pressão nos sistemas de abastecimento de água. A deteção destas ocorrências é importante para o aumento da qualidade do abastecimento aos clientes existentes e para estender este tipo de serviço à população não atendida (Lahlou, 2001).

Assim, mesmo que o valor económico da água perdida não justifique o investimento necessário para as reduzir, a dimensão da saúde pública não pode deixar de ser considerada. A adição de desinfetante residual minora os riscos, mas como se sabe hoje em dia esta não é uma solução ideal, sendo melhor atuar na prevenção do que na correção pós ocorrência (Alegre, et al., 2005).

Nos sistemas de abastecimento de água poderemos encontrar dois tipos de perdas e fugas de água, as físicas e as não físicas. As perdas físicas podem ser encontradas em várias parcelas de abastecimento de água, isto é, na captação, na adução de água bruta, no tratamento, na armazenagem, na adução de água tratada e na distribuição. Resumidamente, são aquelas que ocorrem entre a captação de água bruta e o contador do consumidor (órgão de medição de água consumida). As perdas não físicas correspondem ao volume de água consumido, mas não contabilizado pela entidade gestora do abastecimento de água, decorrentes de ligações clandestinas, erros nos sistemas de medição e de falhas no cadastro da rede. Deduz-se, então, que esta água é, de facto, consumida mas não é faturada (Silva, 2009).

Relativamente aos sistemas de bombagem, estes devem funcionar essencialmente em horários onde o custo energético é menor. Quando estes se encontram em funcionamento tira-se o máximo partido da sua capacidade de bombagem, levando este tipo de estratégias a um custo menor de energia ainda que se verifique um aumento das perdas de carga no sistema.

As perdas de carga na tubagem de um sistema de abastecimento de água podem estabelecer-se através da equação de Darcy Weisbach, Quando se dá um aumento do caudal bombado, o valor das perdas de carga aumenta, verificando-se o processo inverso quando se dá uma diminuição do caudal a bombar. A redução das perdas aumentaria a viabilidade do sistema de abastecimento de água, diminuiria a intermitência do abastecimento e a ocorrência de paragens causadas por essa mesma intermitência.

A modelação da pressão nos sistemas de abastecimento de água é provavelmente a ferramenta mais eficiente para a redução das perdas de água. Estratégias de controlo de pressão dinâmica são utilizadas para reduzir o excesso de pressão, ajustando o valor da mesma ao nível do sistema de abastecimento. Esta ferramenta é particularmente eficaz no período noturno. As válvulas redutoras de pressão são instaladas ao longo do sistema com o intuito de ajustar a pressão de alimentação e evitar o excesso da mesma (Feldman, 2009).