• Nenhum resultado encontrado

4.1 Grandes Regiões

4.1.1 Perfil da População por Decil

Os dados contidos nas tabelas do apêndice A evidenciam a atual conjuntura da desigualdade social da população brasileira sob um enfoque diferente da renda. Eles permitem constatar os diferentes níveis de carência da sociedade em relação à inserção da mesma no meio social, permitindo elucidar os principais problemas enfrentados pelos diferentes decis e ajudando a compreender as necessidades de cada extrato da população para o desenho de futuras políticas públicas. A população está dividida em decis para que se possa perceber a heterogeneidade dos níveis de bem-estar em cada extrato, bem como as diferenças desses extratos em nível regional, sem considerar, especificamente, o ponto de vista da renda.

Não será feita uma análise detalhada destas tabelas, uma vez que o objetivo do texto é descrever os efeitos do sistema de tributos e benefícios sociais na distribuição de renda e na pobreza. A razão da presença dos perfis da população, segundo os decis de renda domiciliar

per capita, é dar suporte à explicação dos resultados, pois grande parte da incidência dos

tributos e benefícios sociais está baseada em muitas destas características.

Os dados apresentados nas tabelas do apêndice A mostram que a renda domiciliar é basicamente formada pela renda do chefe da família e que aquela é constituída principalmente da renda do trabalho principal. Além disto, a renda proveniente dos institutos de previdência estão mais presentes nos domicílios pertencentes aos últimos decis da população. Outro fato importante que pode ser inferido das tabelas do apêndice A é que os primeiros decis da população agregam, proporcionalmente, um maior número de crianças na unidade domiciliar.

Os resultados também demonstram que, genericamente, em todas as regiões, as pessoas pertencentes aos decis inferiores possuem um menor grau de inserção social comparativamente às pessoas dos decis superiores, uma vez que as características necessárias para uma maior participação na sociedade estão mais presentes nos extratos mais ricos da população.

Em outras palavras, os últimos decis possuem um maior nível de escolaridade, o que permite um melhor nível de emprego e uma maior produtividade em relação aos primeiros

decis. O analfabetismo é mais presente em pessoas com mais idade do que em pessoas com menos de 20 anos, demonstrando que há uma tendência declinante no analfabetismo. Este fenômeno ocorre com mais intensidade nos decis inferiores. Outro ponto que também merece destaque é o fato de que os trabalhadores formais estão mais presentes nos últimos decis da população, sendo responsáveis pelo maior volume de pagamentos de contribuições e recebimento de benefícios sociais.

De forma geral, os resultados mais desfavoráveis ocorrem nas regiões Norte e Nordeste do país. Nestas regiões onde o baixo nível de formalidade, de escolaridade, de ocupação, a presença de elevado número de crianças no domicílio, a ausência de renda proveniente dos institutos de previdência ocorrem de forma mais intensa nos primeiros decis destas regiões do que nos primeiros decis das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Estes resultados também são mais favoráveis aos últimos decis das regiões mais ricas, porém, a discrepância entre estas características para os últimos decis de todas as regiões não é tão forte como aquelas dos primeiros decis.

Por exemplo, 12,60% e 8,50% das pessoas com idade entre 10 e 19 anos pertencentes ao primeiro decil são analfabetos, nas regiões Nordeste e Norte, respectivamente. Estes números nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul são de 2,31%, 2,07% e 1,38% respectivamente. As pessoas com os maiores níveis de escolaridade também são proporcionalmente mais presentes nos primeiros decis das regiões Sudeste e Sul em comparação com os primeiros decis das outras regiões. Estes números para o último decil das regiões Nordeste e Norte são de 0,66% e 0,50% e, para as regiões restantes, o analfabetismo é zero entre as crianças com idade entre 10 e 19 anos, uma discrepância proporcionalmente muito menor.

Tomando as regiões Nordeste e Sudeste como dois extremos, pode-se fazer algumas comparações. Começando pelas características dos domicílios dentro destas duas regiões é possível notar que a contribuição do chefe de família para a região Nordeste no primeiro e no último decil é menor do que na região Sudeste (51,99% e 51,36% na região Nordeste contra 56,43% e 53,88% na região Sudeste, para o primeiro e o último decil, respectivamente). Um fato até certo ponto inusitado é a proporção de domicílios com renda domiciliar zero na região Sudeste. Esta região aparece com 44,46% de seus domicílios pertencentes ao primeiro decil com renda zero (a maior proporção do país) enquanto que a região Nordeste aparece com 30,24% dos domicílios pertencentes ao primeiro décimo da população com renda zero (a quarta maior proporção).

A fonte de renda nos domicílios nas duas regiões é proveniente principalmente do trabalho principal, com o primeiro e o último decis da região Nordeste tendo praticamente a mesma proporção da região Sudeste (75,72% e 63,93% para a primeira região contra 75,32% e 62,91% para a segunda). Porém a renda proveniente da previdência é muito mais incidente no primeiro decil da região Sudeste do que na região Nordeste, pois 17,25% dos domicílios da região Sudeste recebem renda positiva de institutos previdenciários contra 9,76% da região Nordeste( para o último decil estes números são de 24,64% e 22,38% para a região Sudeste e Nordeste, respectivamente).

As famílias de todos os decis são em sua maioria nucleares, na região Nordeste o primeiro decil e o último contam com uma proporção maior destes tipos de famílias, as famílias uniparentais, por outro lado, são proporcionalmente mais numerosas na região Sudeste. A presença de filhos, por outro lado, é bem superior na região Nordeste, com 52% no primeiro decil e 19,88% no último decil das famílias possuindo filhos com menos de 17 anos. Estes números para a região Sudeste são bem menores, 45,32% e 15,54% para o primeiro e último decil, respectivamente.

Em nível populacional, a situação continua sendo bastante favorável à região Sudeste. Por exemplo, na região Nordeste apenas 28,35% de sua população pertencente ao primeiro decil tem mais de 5 anos de estudo contra 46,52% da respectiva população da região Sudeste. Se tomarmos estes mesmos números para o último decil vê-se que a região Nordeste conta com 72,52% desta população com mais de 5 anos de estudo contra 81,65% desta população da região Sudeste.

Outra comparação que pode ser feita através destes dados apresentados é o nível de formalidade que contrasta bastante entre as regiões. Se tomarmos os empregados com carteira, os funcionários públicos e os domésticos com carteira como os trabalhadores formais, vê-se que eles perfazem 5,49% da população economicamente ativa do primeiro decil da região Nordeste contra 29,07% da respectiva população da região Sudeste. Para o último decil estes números são de 47,72% e 51,45% para as regiões Nordeste e Sudeste, respectivamente.

Nota-se também uma maior presença de pessoas do primeiro decil na agricultura na região Nordeste do que na Região Sudeste(68,06% para a primeira contra 25,77% para a segunda) da mesma forma para o último decil (6,05% e 2,51%). Já as atividades urbanas estão bastante concentradas na região Sudeste em relação à região Nordeste( para o primeiro decil estes números são de 31,95% para o Nordeste e 65,38% para a região Sudeste e no último decil estes números são de 82,25% e 76,34%, para as respectivas regiões).

Em resumo, as disparidades acerca das características da população segundo o decil da renda domiciliar per capita apesar de apresentarem disparidades em todos os decis, com um dos melhores padrões nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, em comparação com as outras duas regiões, são maiores nos primeiros decis do que nos últimos. Isto faz com que a população menos abastada das regiões Norte e Nordeste tenha maiores dificuldades de se inserir dentro da sociedade, deixando de ter acesso a certos benefícios que poderiam melhorar o padrão de vida da população dentro destas áreas.

Documentos relacionados