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2. CONDICIONANTES DA MOBILIZAÇÃO

2.1. A grande síntese: a teoria do processo político

3.2.1. Perfil das organizações

Os quadros e gráficos desta seção apresentam as características das organizações que utilizaram a ACP no período estudado, correspondendo a constituição, voluntariedade, recursos materiais,

recursos financeiros, localização, meios constitutivos, bens constitutivos e articulação.

3.2.1.1. Voluntariedade

Podemos dizer que, à exceção de organizações como sindicatos, associações profissionais e industriais – que são não voluntárias, em razão da dificuldade ou do maior custo de saída –, as organizações entrevistadas que utilizaram as ACPs no período estudado possuem um grau elevado de voluntariedade.

Para chegarmos a essa conclusão, além das observações acerca do voluntarismo já feitas na seção anterior (inexistência de remuneração e atividade realizada em horário incompatível com o horário de trabalho), e das que mostraremos nos itens seguintes (defesa de um bem comum), baseamo-nos no fato de que os representantes declararam que todos os membros das diretorias participam voluntariamente da organização, isto é, que não há remuneração para ocupação dos cargos. Analisamos ainda tal característica por meio de três elementos: forma de entrada, permanência e saída dos associados; existência de controle externo à organização; determinação de finalidades, objetivos e métodos da organização.

Questionados acerca da forma como os associados entram, permanecem e saem da organização, 100% dos entrevistados declararam que os associados têm liberdade para entrar, permanecer ou sair da organização. Mesmo nas organizações em que há cobrança de contribuições, havendo inadimplência, não há exclusão do associado. Além disso, todos os entrevistados declararam que inexiste qualquer forma de controle externo à organização. E, da mesma forma, todos os entrevistados declararam que finalidade, objetivos e métodos adotados são determinados pela própria organização, excluídos, por óbvio, aqueles que são estabelecidos estatutariamente por exigência legal, necessários para formalização e registro da organização.

3.2.1.2. Recursos materiais e financeiros

Investigamos, além desse fato, a capacidade de autossustentação das organizações, medida por meio de vários indicadores, como segue abaixo.

a) Sede

Perguntamos aos entrevistados se a organização que integra possuía sede própria; verificamos que apenas 19% das organizações possuem sede própria, restando demonstrada a dificuldade das organizações de possuir um local próprio para realização das atividades associativas. Além disso, um total de 38% utilizam-se de sede cedida, outros 35% usam sede itinerante e 8% alugam as sedes. Vejamos o Gráfico 6, abaixo.

GRÁFICO 6 – TIPO DE SEDE

19%

38%

8%

35%

Tipo de Sede

Própria (5) Cedida (10) Alugada (2) Itinerante (9)

FONTE: a autora, a partir das entrevistas com associações civis.

A maioria das organizações que não possui sede própria faz uso de espaço cedido por igrejas e órgãos governamentais. Outra parte, a que chamamos de “sedes itinerantes”, utiliza as residências dos membros da diretoria; uma parte bem menor dispõe de recursos para pagamento de locação de espaço físico.

Dessa forma, em termos de disponibilidade material, no que se refere à sede das organizações, constatamos que a falta de sede própria

ou de recursos para locação de espaço físico não é impedimento para realização das ações.

Importa ainda notar que as reuniões ocorrem em sua maioria quando há necessidade, mesmo contrariando previsões estatutárias, pois os meios de comunicação virtual estão levando as organizações a um número menor de encontros físicos, na medida em que as questões e as decisões são discutidos por meio das redes sociais.

b) Forma de captação de recursos

Constatamos como principais formas de captação de recursos o seguinte.

GRÁFICO 7 – FORMA DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS

27%

42%

31%

Forma de Captação de Recurso

Contribuição espontânea dos associados com valor específico (7)

Contribuição espontânea dos associados sem valor específico (11)

FONTE: a autora, a partir das entrevistas com associações civis.

Como vimos, 27% das organizações optaram pela contribuição espontânea dos associados com valor estabelecido; tais valores variavam entre R$ 3,00 e R$ 40,00 mensais. 42% das organizações optaram pela contribuição espontânea sem valor estabelecido, isto é, os associados contribuíam com o valor que quisessem. 31% utilizam-se de outras formas de captação de recursos, como convênios com órgãos governamentais, venda de rifas, bingos, lanches e outros eventos.

Saliente-se que, mesmo nas organizações que estabeleceram contribuições, com ou sem valor específico, havendo inadimplência dos

associados não há nenhuma forma de exclusão, de maneira que não há desvinculação da organização por falta de pagamento da contribuição.

Outra informação é que, havendo necessidade, como a proposição da ACP, sendo necessária a contratação de advogado para as organizações que não dispõem de assessoria voluntária, os membros da diretoria reúnem-se e buscam recursos específicos, seja entre os próprios membros da diretoria, seja com os associados. Esse foi o caso da Associação de Preservação do Meio Ambiente Natural, Paisagístico e Cultural Porto Ambiental, que, quando resolveu utilizar a ACP, não dispunha de assessoria jurídica voluntária nem de recursos financeiros em caixa para pagamento do profissional, indo buscar a doação dos recursos entre os membros da organização:

A gente coletou os recursos para pagamento do advogado, porque o advogado queria R$ 10.000,00 para entrar com a ação. Foi com os associados que tinham mais poder aquisitivo. Em um dia e meio conseguimos os R$ 10.000,00, aí contratamos uma advogada ambientalista. Portanto, podemos dizer que a inexistência de recursos financeiros não é um fator que impede a utilização da ACP. Embora a necessidade de recursos materiais e a dificuldade de captá-los sejam uma realidade, as organizações demonstraram que podem utilizar outros meios para valer-se desse recurso que, basicamente, depende de um advogado, já que as custas iniciais do processo estão dispensadas. Ademais, a maioria das organizações entrevistadas, 77%, conta com o trabalho voluntário de advogados que estão entre os membros da diretoria ou dos associados, enquanto 23% das organizações dispõem de assessoria jurídica contratada.