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2. BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO SURF

3.5. PERFIL DO SURFISTA

Antes de mais é importante ter em consideração que surf competitivo e surf recreativo são duas áreas diferentes. O primeiro, formal, regulamentado enquanto desporto, o segundo,

informal, encarado como uma diversão ou simplesmente um modo de libertar o stress causado pelos aborrecimentos do dia-a-dia (Farmer, 1992).

…surfers are people who spend a lot of time standing on beaches, wriggling their toes in the sand and looking out with hot eyes at the shore breaks as they talk about the mystique of it all. (Ottum, 1966)

O estereótipo do surfista ser na sua grande maioria jovem, desempregado, sem estudos, vivendo à margem da sociedade, como parte de um grupo marginal sem contribuições de valor para a sociedade, tem sido perpetuado pelos meios de comunicação social (Johnson & Orbach, 1986), e que nos últimos anos vem sendo rebatido por diversos estudos, como são os casos de Dolnicar e Fluker (2003a), Nelsen, Pendleton e Vaughn (2007) ou Jorge e Leandro (2010; 2012).

Surfer - any person who interacts physically with the surf for recreation. It includes bodysurfing, bodyboarding, surfboarding, surfsking, surfboating, all forms of surf lifesaving and lifeguarding but excludes all surf interaction powered by wind and machines. (Farmer & Short, 2007)

Os valores dos surfistas recreativos divergem dos valores culturais dominantes da sociedade, tendendo estes, os surfistas, a identificar o surf como a atividade central das suas vidas (Farmer, 1992), a qual influencia toda e qualquer outra decisão a tomar. Não existindo regras formais no surf recreativo, o melhor surfista adquire um maior status entre os seus pares. O surfista compete com ele próprio, contra a natureza ou contra outros surfistas, no entanto muitas das vezes, vencer é simplesmente ir “lá para fora” surfar com os amigos, ficar stoked (Farmer, 1992).

No seu estudo, Farmer categorizou os motivos para fazer surf, em seis categorias: estéticas, competitivas, vertigo, catárticas, saúde e fitness e por último sociais, utilizando um modelo modificado do utilizado por Kenyon em 1968, que fora desenhado para estudar a atividade física no geral, enquanto neste estudo o objeto era especificamente o surfing. Descobriu este estudioso que relativamente ao prazer retirado de fazer surf, a categoria mais representativa é a vertigo, seguindo-se a estética, catártica, social, saúde e fitness e por fim a competitiva.

Tabela 4 – Ranking de prazer retirado da prática do surf (média)

Prazer Retirado da Prática do Surf

1. Vertigo 19,0% 2. Estéticos 18,4% 3. Catárticos 17.8% 4. Sociais 15,4% 5. Saúde e Fitness 14,8% 6. Competitivos 13,2%

Fonte: Adaptado de Farmer (1992)

No que respeita à motivação para a prática, a razão mais importante prende-se, com larga margem relativamente às restantes, em motivos também de vertigo, em consonância, diga- se, com os resultados de prazer retirado, seguindo-se a categoria catártica, estética, competitiva, saúde e fitness, e sem qualquer significado, a social, numa alteração de ranking, relativamente ao prazer retirado.

Tabela 5 – Ranking de Motivação para a prática do surf

Motivação para a Prática do Surf

Vertigo Catárticos Estéticos Sociais Competitivos Saúde e Fitness

79% 9% 6% -- 4% 2%

Fonte: Adaptado de Farmer (1992)

A maioria dos surfistas não competem contra outros surfistas, no entanto, competem contra a natureza e consigo mesmos na busca do mencionado estado de stoked ao surfarem a onda perfeita.

It is vertigo that closely defines surfing. (Farmer, 1992)

Farmer (1992) identificou cinco grupos de surfistas, descritos da seguinte forma: rowdy bunch, que gostavam bastante de festas; school boys, que chegaram inicialmente para estudar e começaram também a fazer surf; weekend warriors, que vivem no interior, trabalham durante toda a semana e fazem surf quando podem; hard core, surfistas que trabalham e vivem perto da costa de modo a surfarem o mais possível e beach bums, que se marginalizaram relativamente à sociedade tradicional e fazem do surf o seu modo de vida.

Dolnicar e Fluker (2003a; 2003b) conduziram dois estudos com base em características demográficas e psicográficas dos turistas de surf, em que propõem a necessidade de ir mais além relativamente ao que Farmer fez em 1992, nomeadamente no que diz respeito à complexidade de elementos que identifiquem os perfis dos turistas de surf e a sua influência na escolha do destino de surf.

As variáveis psicográficas referem-se à importância dos fatores diretamente ligados à escolha da sua viagem de surf, e formam um total de dezassete, enquanto as demográficas, num total de catorze, foram divididas em três subcategorias:

 Questões relacionadas com surf;  Características pessoais

 Comportamento de viagem.

Nesta base, concluíram por exemplo que 59% dos inquiridos tinham preocupações ao nível da segurança pessoal, 58% consideram a qualidade do meio ambiente importante, e 60% preferem ondas entre os 4 e os 6 pés de altura. Quanto à duração da viagem, 55% preferem férias de surf com menos de duas semanas de duração, em que 48% procuram novos destinos de surf, e ainda que 73% dos inquiridos se movimentam em várias áreas de um destino.

Tabela 6 – Características Psicográficas e Demográficas para a escolha de um destino de surf

Características Psicográficas Características Demográficas

Ausência de crowd; Segurança pessoal; Qualidade do ambiente; Preocupações de saúde; Fiabilidade das datas;

Elevada qualidade das refeições; Período da temporada de surf local; Cultura local;

Comparações de preços; Secret spots;

Qualidade do alojamento;

Questões relacionadas com surf:  Tempo de surf;

 Nível de surf;

 Preferência pelo tamanho da onda;  Tipo preferido de onda.

Características pessoais:  Idade;

 Sexo;

 Escolaridade;

 Preço disposto a pagar;  Budget diário.

Facilidades de acesso; Conhecer outros viajantes; Câmbios monetários; Actividades alternativas;

Condições existentes para familiares; Excelente perfil de destino de surf.

 Companhia na viagem:

 Tempo de permanência no destino;  Permanência na mesma área ou

deslocar-se para outras áreas;  Novidade no destino;

 Regularidade de viagens.

Adaptado de Dolnicar e Fluker (2003a)

Tendo em conta as características mencionadas no quadro acima, Dolnicar e Fluker (2003a), agruparam os surfistas em cinco segmentos específicos:

1. Aventureiros conscienciosos a nível financeiro; 2. Conscienciosos a nível de segurança pessoal; 3. Surfistas de luxo;

4. Ambivalentes;

5. Aventureiros radicais.

No caso dos dois primeiros grupos, estes, são muito semelhantes, considerando importantes as questões relativas com o surf, segurança pessoal (delinquência, terrorismo), qualidade de alojamento, condições existentes para os familiares, secret spots (ondas por descobrir), fatores de saúde (pragas/epidemias) e ausência de crowd. No terceiro grupo, não existem preocupações ao nível financeiro, mas dão importância ao alojamento, segurança e alimentação, enquanto o grupo denominado de ambivalentes, não apresentam grande variação nas características definidas. O último grupo identificado, os aventureiros radicais, dão extrema importância à duração da temporada de surf, bem como à existência de secret spots e à ausência de crowd.

Como refere Young (1998), os surfistas são “uma tribo de nómadas que percorre o mundo à procura de ondas surfáveis”, em que Ponting e McDonald (2013), encontram quatro características fundamentais que estes, consideram aquando da escolha do destino de surf: ondas perfeitas, ondas pouco povoadas ou uncrowded, soft adventure e ambientes naturais e exóticos. Não esquecer no entanto, e como refere (Butts, 2001), “Becoming a surfer – mastering basic skills and being able to understand and communicate surfing- related knowledge – is a long, arduous process”, o que implica segundo o mesmo autor: “Not everyone who tries surfing becomes a surfer.”