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Perfil hormonal e resposta imune

No documento paulabarreirosdebien (páginas 39-43)

3.3 Monitoramento e controle das variáveis do treinamento

3.3.4 Perfil hormonal e resposta imune

Em face dos diferentes estados psicofisiológicos, o organismo sofre alterações nos níveis de tensão muscular, respiração, sudorese, frequência cardíaca, pressão arterial, funções viscerais e outras reações do sistema nervoso autônomo, que podem ser individualmente vivenciadas como sinais de emoções, estresse, ativação, disponibilidade de energia, prontidão para responder, ansiedade, sonolência, fadiga e exaustão (ROBAZZA et al., 2012). Por isso, Halson (2014) atesta que um grande número de investigações tem realizado análise de marcadores bioquímicos, hormonais e imunológicos em resposta ao exercício, principalmente, na tentativa de monitorar a fadiga, minimizar adaptações negativas e possíveis doenças que os atletas possam ter. Nessa perspectiva, alguns marcadores vêm se apresentando como ferramentas capazes de detectar as respostas do atleta em relação às cargas internas de treinamento, nos quais se destacam: marcadores indiretos de dano muscular – creatinaquinase (CK) (COUTTS et al., 2007; FREITAS et al., 2014b), lactato desidrogenase (IMPELLIZZERI et al., 2004; WALLACE et al., 2014); concentração dos hormônios testosterona e cortisol (FARZANAKI et al., 2008; GOMES et al., 2013; JÜRIMÄE et al., 2004) e marcadores imunológicos –

concentração de imunoglobulina A (IgA) (FILAIRE; BONIS; LAC, 2004; MOREIRA et al., 2013; SILVA et al., 2009). Cada um destes marcadores apresenta métodos variados de coleta e análise, o que interfere na sua aplicabilidade e viabilidade de utilização no contexto do treinamento enquanto uma ferramenta de monitoramento.

As coletas e análises do perfil hormonal através da saliva tem se mostrado um método bastante eficiente e menos invasivo para ser utilizado no ambiente esportivo para monitoramento destas variáveis, com destaque para o cortisol e testosterona (GOMES et al., 2013; MEEUSEN et al., 2013; PAPACOSTA; NASSIS, 2011). Pelo fato da concentração de cortisol presente na saliva representar apenas a porção livre do hormônio e, portanto, ativa, investigadores propõe a utilização dessa medida a despeito da concentração de cortisol no sangue enquanto uma resposta do organismo frente a estímulos estressores, incluindo o exercício físico (BOZOVIC; RACIC; IVKOVIC, 2013; HELLHAMMER; WÜST; KUDIELKA, 2009; PAPACOSTA; NASSIS, 2011). Em relação à concentração de testosterona na saliva, estudos mostram relação direta com desempenho físico de atletas, principalmente, no que diz respeito à demanda de força, destacando que o monitoramento deste hormônio no esporte pode contribuir para aumentar os ganhos funcionais dos atletas (MILOSKI et al., 2015b; PAPACOSTA; NASSIS, 2011).

Em uma revisão sistemática detalhada sobre medidas do cortisol em atletas profissionais, foi observada variação significativa das concentrações desse hormônio face as diferentes condições de estresse presentes no ambiente de treinamento e competições esportivas e, além disso, percebeu-se certa predominância na utilização da medida de cortisol salivar em relação ao cortisol sanguíneo (SANTOS et al., 2014). Em um estudo realizado com atletas de rúgbi, Coutts et al. (2007) compararam respostas hormonais antes e depois de seis semanas de treinamento normal e intensificado e não encontraram variações significativas na concentração sanguínea de cortisol no decorrer deste período em nenhum dos dois grupos. Entretanto, foram observadas alterações na concentração de testosterona na quarta (apenas grupo de treinamento intensificado) e na sexta semana (ambos os grupos) em relação ao início dos treinamentos; e na razão testosterona/cortisol (T:C), outro parâmetro comumente utilizado nessas análises, nos dois grupos no pós-treino e polimento.

Similarmente, Gomes et al. (2013) investigaram quatro semanas de treinamento intensivo da pré-temporada de atletas de tênis, seguidas de uma semana de polimento. A análise foi feita através da concentração salivar dos hormônios, sendo que não houve variação da testosterona; o cortisol aumentou significativamente ao final da quarta semana de treinamento, seguido de uma queda na semana seguinte (polimento); já a taxa T:C diminui na terceira e quarta semanas e aumentou na quinta semana.

Da mesma forma, a literatura indica que marcadores imunológicos são detectados na saliva, com enfoque na análise da concentração de IgA secretora (NEVILLE; GLEESON; FOLLAND, 2008; SILVA et al., 2009). A literatura indica que a IgA pode responder diretamente à carga de treinamento, além de estar associada a possíveis riscos de infecções do trato respiratório superior dos atletas (GLEESON, 2006; NEVILLE; GLEESON; FOLLAND, 2008; PAPACOSTA; NASSIS, 2011). Entretanto, Silva et al. (2009) afirmam que ainda se faz necessário maior cuidado metodológico nas coletas e análises dessas respostas imunes no contexto esportivo, pois métodos diferentes influenciam nos diferentes resultados encontrados na literatura.

Atletas profissionais são frequentemente expostos ao estresse psicofisiológico proveniente do treinamento, sendo que os efeitos, tanto crônicos quanto agudos na IgA, já tem sido bem documentados e mostram relação com o nível de condicionamento físico individual assim como a carga de treino. A IgA secretora funciona como uma barreira imunológica que neutraliza e previne a entrada de antígenos no organismo através da superfície da mucosa. Na cavidade bucal, a síntese e secreção da IgA salivar responde quase que instantaneamente ao estresse, resultando em flutuações transitórias nas taxas de concentração e secreção (GLEESON, 2006; HALSON, 2014; NEVILLE; GLEESON; FOLLAND, 2008). Durante quatro semanas de treinamento, Moreira et al. (2013) examinaram as alterações na IgA salivar, infecções no trato respiratório superior e suas relações com as cargas de treinamento em atletas de futsal. Os resultados mostraram que as duas primeiras semanas tiveram carga de treino significativamente maior que as demais, sendo que a quarta semana foi considerada de polimento; a concentração de IgA e cortisol na saliva não alterou durante esse período; houve queda significativa na severidade dos sintomas de infecção na última semana em comparação às demais; relação

negativa na variação da IgA e severidade dos sintomas e positiva entre a carga de treino e severidade dos sintomas de infecção.

Na ginástica, Farzanaki et al., (2008) analisaram cronicamente as respostas salivares de IgA e cortisol antes (repouso) e após (imediatamente e 2 horas depois) dois dias de treinamento, um com apenas uma sessão e o outro com duas sessões. Os autores concluíram que os níveis de IgA não foram influenciados pela intensidade do treino (monitorada pela frequência cardíaca), mas a concentração de cortisol parece ser influenciada pela carga diária de treinamento nesta população (FARZANAKI et al., 2008). Filaire, Bonis e Lac, (2004) fizeram estudo muito semelhante e utilizaram, além da IgA e cortisol salivar, parâmetros psicométricos de humor, e observaram incidência de infecção respiratória. As coletas salivares foram feitas pré e pós exercício em dois dias de treinamento com diferentes intensidades, um dia de competição e em dois dias de repouso nos mesmos horários dos demais dias (controle); e o questionário de humor foi aplicado antes das sessões de treino e competição. Nos dias de treinamento intensivo e competição, houve diminuição significativa da IgA (pré x pós) e o aumento no cortisol foi observado nos dois dias de treinamento e na competição. Ademais, não foram registradas infecções respiratórias e alterações no humor durante os dias de coleta deste estudo (FILAIRE; BONIS; LAC, 2004).

Vale a pena destacar a carência de investigações que fizeram análises hormonais em atletas profissionais mulheres (BATEUP et al., 2002). Isso é reforçado por (SANTOS et al., 2014) que constataram predominância de estudos, que analisaram cortisol em atletas, com amostra masculina (59%) em comparação à feminina (13,7%). As dificuldades neste tipo de estudo também pode ser observadas no trabalho de Tian et al. (2015), no qual lutadoras chinesas profissionais foram monitoradas com o intuito de identificar momentos de

overreaching funcional (FOR), overreaching não funcional (NFOR) e síndrome

de overtraining (OT). Mesmo após muito tempo de controle de potenciais marcadores sanguíneos de FOR, NFOR e OTS, estes autores estabeleceram valores de referência para as concentrações hormonais individualmente, discriminando um intervalo específico para cada marcador fisiológico de cada atleta monitorada. Essa falta de parâmetros cientificamente válidos para atletas

do gênero feminino ratifica a demanda de pesquisas desta temática com atletas mulheres.

No documento paulabarreirosdebien (páginas 39-43)

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