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Perfil do líder para este terceiro milênio – algumas notas

Lourenço Stelio Rega ©

a. Leitura crítica do ambiente

(a) que saiba ler as forças impulsoras e inibidoras do movimento da sociedade e suas instituições

(b) que possua reação criativa e construtiva à realidade

(c) que, em vez de ser um consumidor da realidade, seja seu construtor

(d) que saiba selecionar a massa informacional produzida neste mundo contemporâneo evitando ficar “intoxicado” por ela

b. Flexibilidade com convicção

(a) que tenha um profundo e habilidoso conhecimento bíblico, teológico e ético como sua pesquisa de base e alicerce de relacionamentos e diálogos necessários com o ambiente

(b) ênfase na apologética dialogal em vez de contestatória (c) disposição para ouvir os diversos segmentos da sociedade

(d) que saiba “navegar” com segurança no relativismo e nihilismo contemporâneo sem contudo manter aberta a porta do diálogo para apresentar a alternativa cristã de vida

c. Coerência vivencial, transparência

(a) valorização do caráter, da honestidade, da veracidade acima da competência ou de cargos / títulos

(b) coerência entre o que prega / ensina e o que realmente vive. Francis Shaeffer fala do ponto de tensão que existe entre o que pregamos e o que vivemos

(c) “em uma organização cuja cultura se baseia na confiança, as pessoas

trocam informações e experiências antes que antes constituíam sua fonte de poder” (Chirstopher ª Bartlette e Sumantra Ghoshal “Características

que fazem a diferença” in : HSM Management, nº 9, ano 2, julho e agosto de 1998, p. 71)

(d) a geração contemporânea procura transparência e coerência

d. Transversalidade

(a) que saiba “navegar” nos diversos ramos do conhecimento, cultivando a multidiciplinaridade

(b) que saiba fazer análise e abordagem transversal da vida e seus fatos (c) que saiba evitar o “ismo” teológico e espiritual, mas que saiba discernir as

causas primeiras dos fenômenos sociais e humanos como advindos da ação satânica ( ...este mundo jaz no maligno ...)

e. Aprendizagem continuada e liderança co-participativa

(a) que sempre esteja pronto a aprender, fugindo da arrogância

(b) learning organization: liderança orientada para o aprendizado, conceito organizacional enfatizado por Peter Senge (vide HSM Management, julho- agosto/98 op. cit., p. 57-88)

(c) que desenvolva liderança envolvente. A learning organization é um modelo de organização / liderança que envolve o coração e a mente dos liderados em um processo de aprendizado contínuo capaz de liberar uma enorme força criativa existente em cada um (ib. p. 57)

i. vide texto de Keneth Blanchard

ii. As pessoas são nosso principal ativo. Peter Drucker (1973)

iii. validação da competência em vez do cargo ou título

f. Mais proatividade do que reatividade

(a) que dê ênfase na prevenção e no planejamento

(b) proatividade: agir com base em princípios e valores, em vez de reagir

guiado pelos impulsos ou circunstâncias (Stephen R. Covey - Os sete

hábitos das famílias muito eficazes - Best Seller, 1998, p. 52)

g. Gerenciar e mediar relacionamentos e conflitos humanos

(a) que saiba fazer coisas, mas muito mais, que saiba lidar com “gente”

(b) a ênfase bíblica está mais no relacionamento do que na elaboração de conceitos e proposições. Aliás existem para explicar os relacionamentos. Os dois grandes mandamentos enfocados por Jesus se baseiam em três níveis de relacionamentos

(c) que conheça a Bíblia e a Teologia, mas que saiba aplicá-la no trato com as pessoas evitando um falso intelectualismo

h. Equilíbrio espiritual, emocional e de personalidade

(a) Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente

equipados, só que emocionalmente infantilizados. (Frei Betto, “Crise da

Modernidade e espiritualidade in : Ética, Rio de Janeiro : Garamond, 1997, p. 27)

(b) que seja uma pessoa resolvida consigo mesma

(c) que seja uma pessoa possuidora de grandeza de espírito e humilde

(d) que seja uma pessoa segura de modo a ser exemplo nesta complexa, confusa e turbulenta virada de século / milênio

i. Alteridade

(a) uma forte tendência do mundo contemporâneo e o triunfo do

individualismo

(b) que seja um semeador da valorização do próximo (c) que seja sensível às carências humanas

(d) alteridade (alter ego)Martin Buber - Eu e tu

i. Alteridade – alter ego – Matin Buber (Eu e tu. São Paulo : Cortez & Moraes, 1979), foi o teólogo judeu mais importante de nossa época. Sua chave de leitura da vida foi a fenomenologia do relacionamento.

ii. EU – ISTO: relacionamento superficial, com objetos ou pessoas. Eu sei isto. Segundas intenções, manipulação

iii. EU – TU: relacionamento pessoal. Eu conheço este. É profundo, quer o bem do outro, veste os sapatos dos outros, empatia.

iv. exemplos:

EU – TU

EU – ISTO

Jacó – Esaú Deus – Israel Israel – Deus Deus – Homem Homem – Deus

Davi – Jônatas Davi – Bate Seba Interdependência Individualismo

Bem Mal

Sinceridade Hipocrisia - segundas intenções Participação Autoritarismo, exclusão União na diversidade Exclusão

Diálogo Contestação

Convivência Posse ou marginalização

v. Deus será o TU ao qual o homem pode se relacionar e falar. Nunca sobre o qual o homem poderá apenas e unicamente discorrer sistemática e dogmaticamente. O Tu eterno nunca poderá ser o ISTO.

vi. Para Merleau-Ponty o sujeito não é pura interioridade, mas abertura ao OUTRO (Fenomenologia da Percepção, pg. 478).

vii. A ampliação do relacionamento e convivência altera o nível e intensidade do EU-ISTO para o EU-TU.

viii. Não é bom que o homem esteja só ... (Gn 2.18): há uma realidade vital

no calor do relacionamento humano e o lugar do OUTRO é indispensável na nossa realização existencial. O cristão não pode mais viver numa reclusão espiritual e ativista eclesiástica, transformando as atividades da igreja num fim em si mesmo.

j. Corporeidade

(a) a Filosofia contemporânea tem redescoberto o corpo

(b) seria isso mais um “ismo”? ou talvez nos ensine a valorizar o ser humano como um todo?

k. Comprometimento

(a) Nietzsche e suas ênfases na vontade de poder, além do bem e do mal, a moral cristã como perversa e escravizadora

(b) que seja uma pessoa profundamente comprometida com Cristo e seus princípios éticos

(c) que saiba lidar e gerenciar os impulsos humanos buscando soluções bíblicas viáveis num mundo imergido na instintividade

l. Concretividade no discurso

(a) o mundo contemporâneo é geralmente avesso à reflexão. É um mundo que consegue associar o pragmatismo e existencialismo;

(b)

que saiba ser concreto em suas reflexões e busca de respostas aos dilemas humanos evitando o falso intelectualismo