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3. COOPERATIVAS DE CATADORES COMO POSSIBILIDADE DE

3.1 Caracterização das cooperativas

3.1.2 Perfil organizacional das cooperativas

O perfil organizacional das cooperativas diz respeito à caracterização de cada cooperativa quanto à infraestrutura disponível, à forma de gestão, aos recursos financeiros e à comercialização do material quanto ao tipo de apoio é recebido.

Para realizar a atividade, as cooperativas necessitam de infraestrutura básica, composta por caminhão, para realizar a coleta do material; espaço, para armazenar o material e realizar a triagem; e equipamentos, como mesa de triagem, balança e elevador para auxiliar no manuseio dos fardos de material.

No entanto, nem todas as cooperativas pesquisadas da Grande Aracaju possuem a infraestrutura mínima, 100% possuem caminhão para coleta e 75% possuem espaço e equipamentos, enquanto 25% não dispõem de espaço e nem de equipamentos.

A COORES possui como infraestrutura (Figura 20) um galpão bastante espaçoso, com aproximadamente 500m², cedido pela prefeitura para que eles possam executar a atividade de triagem; e o caminhão, cedido pela EMSURB, através da Central Recicle, para realizar a coleta de material. No entanto, todas as despesas relativas a manutenção, gasolina e motorista são de responsabilidade da cooperativa.

Para realizar o acondicionamento, a COORES possui como equipamentos duas balanças e uma prensa, cuja manutenção é realizada, assim como foi a aquisição, com recurso próprio. Vale registrar que a cooperativa não possui esteira de triagem.

Figura 20- Infraestrutura da cooperativa COORES

Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

A infraestrutura da REVIRAVOLTA (Figura 20) corresponde a um amplo galpão, dividido em três ambientes: local de recebimento de material, espaço de triagem e espaço administrativo e de convivência entre os cooperados. O galpão é alugado e o pagamento é subsidiado pelo Ministério Público.

Para fazer o transporte do material coletado, a cooperativa conta com um caminhão cedido pela prefeitura, a qual arca com as despesas de pagamento de motorista e de manutenção do caminhão. Já a gasolina fica de responsabilidade da cooperativa.

Para fazer o acondicionamento dos materiais, a cooperativa conta com os equipamentos, como: uma balança, três mesas de triagem, uma prensa e um elevador, que ajuda na colocação do material prensado no caminhão (Figura 21).

Figura 21 - Infraestrutura da cooperativa REVIRAVOLTA

Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

Já a CATRE não possui nenhuma estrutura para realização das suas atividades, o espaço para acondicionamento do material é em frente à casa de um dos cooperados, com apenas uma tenda improvisada, de palha, para proteger parte do material da chuva (Figura 22).

É nesse espaço que é feita a triagem do material. Não há equipamentos para auxiliar nas atividades, como balança, prensa ou mesa de triagem. Existe apenas é um caminhão, exposto na Figura 23, o qual foi cedido pela prefeitura para realizar a coleta apenas às terças, pela manhã. A falta de estrutura é o maior problema da cooperativa, pois não oferece o mínimo de condições de trabalho e impossibilita que as atividades sejam feitas com maior regularidade.

Figura 22 - Infraestrutura da cooperativa CATRE

Fonte: Autora, 2017.

Com as infraestruturas descritas, as cooperativas realizam a coleta nos seguintes locais: em empresas privadas (comércio e fábricas) e órgãos públicos; nas ruas, quando encontram material de fácil acesso; e em domicílios, quando solicitado por contato telefônico. As cooperativas da Grande Aracaju coletam aproximadamente 545 quilos de material por dia. Dentre os materiais coletados pelas três cooperativas, pode-se citar: alumínio, cobre, papelão, papel branco, plástico duro, plástico mole, PET e sucata. Todas indicaram não

coletar vidro, pela falta de empresas de reciclagem ou atravessadores para comercializar o material.

Vale ressaltar que, apesar de informarem receber solicitações para coleta por telefone, duas das cooperativas pesquisadas informaram não fazer nenhum trabalho de divulgação. Já a REVIRAVOLTA divulga seu trabalho através da rádio da cidade, de visitas a escolas e da parceria com a empresa de coleta regular TORRE, que auxilia na divulgação. O trabalho é feito a partir de um plano de divulgação construído com auxílio da ONG ECOAR.

Sobre a comercialização de material recolhido, apenas a COORES e a REVIRAVOLTA comercializam uma parte do material com uma empresa de reciclagem da Bahia e de Itaporanga D‟Ajuda/SE, respectivamente, sendo o restante comercializado com atravessador.

Já a CATRE comercializa todo o material com atravessador, o que faz com que o material acabe perdendo valor de mercado, conforme apontado pelo presidente da cooperativa: “Pra você ter noção, lá fora a fábrica compra o papelão por R$ 0,75 e aqui a gente vende por R$ 0,30” (PRESIDENTE DA CATRE, 2017).

No que concerne à gestão das cooperativas pesquisadas (Quadro 04), foram levantados os seguintes aspectos: normatização das cooperativas, ou seja, se possuem estatuto ou se realizam eleição para presidente; forma de divisão de trabalho e divisão de pagamento; aspectos sobre segurança.

Quadro 4 – Aspectos sobre a gestão das cooperativas na Grande Aracaju Cooperativa Estatuto Normativo Eleições para Presidente Divisão de Trabalho Divisão de Pagamento Equipamento de Segurança

COORES Possui Realiza a cada

04 anos

Democrática Democrática Disponibiliza

REVIRAVOLTA Possui Realiza a cada 04 anos

Democrática Democrática Disponibiliza

CATRE Possui Não realiza Não democrática Não democrática Disponibiliza Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

A COORES está organizada como uma cooperativa e seu normativo, que estabelece diretrizes sobre sua gestão, foi criado com o auxílio do Ministério Público no momento de

criação da cooperativa, além de haver atas que registram a entrada e a saída dos cooperados. Já para as reuniões realizadas para discutir qualquer que seja o assunto, não há registro de ata, pois os cooperados apenas se reúnem com esse fim.

Na REVIRAVOLTA, a normatização também é através de estatuto criado no momento da fundação da cooperativa, criação que contou com auxílio e orientação do Ministério Público da cidade de Nossa Senhora do Socorro. A CATRE também possui estatuto criado no momento de fundação da cooperativa, com o apoio da prefeitura de Barra dos Coqueiros.

Todas as cooperativas informaram realizar eleições para mudança de presidente, sendo o tempo médio de permanência na presidência das cooperativas da Grande Aracaju de 04 anos. No entanto, observa-se que a CATRE está com o mesmo presidente desde a fundação da cooperativa, há 07 anos.

Outro ponto abordado para verificação da gestão foi sobre a forma de divisão do trabalho e divisão de pagamento. Para organizar a divisão do trabalho da COORES, toda manhã os catadores se reúnem e estabelecem uma equipe de três pessoas para que saiam para realizar a coleta, enquanto o restante fica para desempenhar as outras funções. O trabalho é realizado das 07h às 16h, com uma hora para almoço.

No entanto, há cerca de um mês, a cooperativa começou a fazer coleta também no período da noite, das 19h30 às 20h30, pois não estavam coletando material suficiente para manter a cooperativa, o que acaba totalizando uma carga horária de trabalho de nove horas por dia para cada cooperado. Dessa forma, além da coleta diurna, é escalada uma equipe de três pessoas para fazer a coleta da noite.

Sobre a divisão do pagamento, entre os cooperados da COORES, é feita a cada quinze dias após a venda do material. Primeiro, é feito o pagamento referente às despesas com o caminhão e depois é realizada a divisão entre os cooperados (C18, 2017).

A presidente da REVIRAVOLTA indicou que a divisão do trabalho é sempre democrática. Em geral, as mulheres ficam na mesa de triagem e os homens vão para a prensa, por ser um trabalho que exige maior força, já a coleta é realizada tanto por homens quanto por mulheres. A presidente colocou que sempre se tenta chegar a um consenso. “A gente conversa e diz que aqui é trabalho pra todo mundo e, se não for, toma suspensão” (C1, 2017).

O trabalho é dividido entre os 15 cooperados, que realizam as atividades de coleta, triagem, pesagem e prensa do material. Para divisão do trabalho, é feita escala no início de cada dia de trabalho, sendo a carga horária pré-estabelecida das 08h às 16h, com uma hora de almoço, o que totaliza uma carga horária diária de sete horas.

Os entrevistados apontaram que não só a divisão do trabalho é feita de maneira democrática, mas tudo o que diz respeito à cooperativa. Quando é necessário tomar alguma decisão, de qualquer natureza, são realizadas reuniões com todos para se chegar a um consenso, como aponta o C8:

A gente faz a reunião e todo mundo dá ideia pra resolver o problema e aí a melhor ideia, o que a maioria acha melhor. A gente gosta que as pessoas falem o que acham. Tem que tá todo mundo envolvido nesse processo. A reunião é feita com todos, a gente recolhe a assinatura de todos (C8, 2017).

A divisão do pagamento também é feita de forma igualitária. Primeiro são pagas todas as despesas, reservam-se 5% do restante e o que sobrar, depois, é dividido entre os cooperados em partes iguais.

Já na CATRE o trabalho é divido entre os três cooperados: C23 e C24 fazem a coleta conforme disponibilidade do caminhão, toda terça pela manhã; e, na parte da tarde, é feita a triagem, por C24 e C25. Nesse sentido, C23 reforça “Por exemplo, eu vou pra rua, mas separação não é mais comigo. Sempre foi assim, quem colhe não separa. C24 e C25 separam o material e mandam pra vender” (C23,2017).

Após a venda, o pagamento é dividido apenas entre C23 e C24, pois C25 é esposa de um deles e os cooperados não entendem que ela deva receber pagamento. “Aqui é assim... Se chega aqui cem reais, eu fico com cinquenta e ele com cinquenta. (...) Divide entre nós dois.” (C23,2017). Além da divisão desigual de pagamento, os cooperados também informaram que a decisão sobre as questões da cooperativa fica a cargo de dois catadores, e o catador C24 divide sua parte com a esposa. “Em geral é entre nois dois” (C23, 2017).

Acerca da segurança dos cooperados, 100% das cooperativas informaram utilizar equipamentos de segurança (farda, luvas e máscara). No entanto, 75% das cooperativas pesquisadas tiveram casos de três acidentes de trabalho. Dentre os acidentes ocorridos, dois deles aconteceram no momento de coleta e triagem, causados pela falta de conhecimento sobre manuseio do material. O outro acidente aconteceu no percurso do trabalho para casa, ocasionado por uma fatalidade.

São citados, em geral, poucos acidentes de trabalho pelos cooperados, porque a maioria dos cooperados não consideram cortes, perfurações e escoriações como acidentes, que são, para eles, apenas situações graves as quais os impeçam de trabalhar (PORTO et al, 2004).

Sobre a realização de treinamentos com os cooperados, 84% dos cooperados pesquisados informaram já ter feito pelo menos um treinamento e 16% informaram não ter participado de nenhum treinamento.

Os cooperados da COORES e da CATRE receberam treinamento pelo Instituto G Barbosa, sendo os temas abordados informática e cooperativismo. Já os cooperados da REVIRAVOLTA receberam treinamentos de informática, sobre cooperativismo e sobre logística reversa, oferecidos pela Universidade Tiradentes (UNIT), ESTRE, Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), respectivamente.

Nesse sentido, destaca-se que, para realizar o seu trabalho, as cooperativas necessitam do apoio de parceiros de diversas naturezas, sejam eles empresas privadas, instituições do terceiro setor ou o poder público (governo do estado e prefeituras), conforme exposto na Figura 23.

Figura 23 - Natureza das parcerias oferecidas às cooperativas pesquisadas da Grande Aracaju

Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

A rede de apoio da COORES é formada pela prefeitura, que disponibiliza o galpão e o caminhão para que a cooperativa possa realizar a coleta, a triagem e o acondicionamento de todo o material. “A única parceria que existe com a prefeitura é através da EMSURB, que cede o caminhão” (C18, 2017).

COORES REVIRAVOLTA CATRE

Outras parcerias Empresas de consultoria Empresas de treinamento Empresas doadores de material Central Recicle FECARSE

O apoio oferecido pela prefeitura de Aracaju à COORES se dá mediante intermediação da Central Recicle5, que, juntamente à prefeitura, conseguiu a concessão do caminhão para a cooperativa (ARACAJU, 2017).

No entanto, os cooperados reforçaram a necessidade de apoio da prefeitura para o pagamento das despesas com o transporte do material. “A gente gasta todo mês três mil reais com gasolina e pagamento dos motoristas. Se tivessem ajuda da prefeitura para pagar essas despesas, como fazem com outra cooperativa de Aracaju, seria muito bom” (C18, 2017).

A COORES ainda sinalizou a dificuldade de parceria com empresas para doação de material, o que traz como consequência a necessidade de realizar a coleta seletiva no centro da cidade no período noturno.

A rede de apoio da REVIRAVOLTA possui uma quantidade satisfatória de parceiros que contribuem para o desenvolvimento da cooperativa de diversas formas: através de treinamentos, apoio financeiro, apoio na infraestrutura, para/na divulgação, além de doação de material.

Entre os diversos parceiros, estão a UNIT, que oferece treinamentos e doa material; a ESTRE, que oferece consultoria técnica sobre acondicionamento dos resíduos; a SEMARH, que oferta cursos através do SEBRAE; a ONG ECOAR, que ajuda no plano de divulgação da cooperativa; além dos doadores de material, como o Serviço Social do Comércio (SESC).

Com o objetivo de aumentar o poder de comercialização do material coletado com as empresas de reciclagem, os cooperados da REVIRAVOLTA sinalizaram o interesse de formar uma rede de cooperativas. No entanto, ao sinalizarem o interesse de formar essa rede, os cooperados demonstram não ter conhecimento da existência da Central Recicle, rede que tem o mesmo objetivo indicado pela cooperativa.

As parcerias firmadas com a CATRE incluem a prefeitura de Barra dos Coqueiros, que auxilia a cooperativa ofertando o transporte para a coleta uma vez por semana; parcerias para doação de material, pelo supermercado Boa Vista, localizado na cidade, e pelos condomínios DAMA e Orion, também localizados em Barra dos Coqueiros.

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A Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Estado de Sergipe – Central Recicle foi criada em 06 de outubro de 2011, com a finalidade de representar seus singulares, na busca por parcerias público e privadas que favoreçam o beneficiamento de seus empreendimentos através de capacitações, assistência administrativa, jurídica, contábil e logística, amparando seus sócios para a comercialização conjunta e justa do material reciclável em busca do maior volume negociado e proporcionalmente do maior valor (CENTRAL RECICLE, 2017).

Ainda sobre as parcerias da CATRE, destaca-se que a Central Recicle deu auxílio com a intermediação entre a cooperativa e o Instituto GBarbosa, para participação dos catadores no treinamento oferecido pelo referido instituto. De acordo com o presidente, a organização não possui nenhuma parceira que forneça qualquer tipo de ajuda financeira.

Dessa forma, o que se pode concluir sobre as parcerias oferecidas às cooperativas é que o apoio oferecido pelas empresas privadas é predominantemente, através da doação de material. Já o apoio oferecido pelas prefeituras é baseado na cessão de espaço ou caminhão para as cooperativas, sendo que cada prefeitura oferece apoio em diferentes proporções.

Quanto ao apoio de organizações não governamentais, observa-se a predominância da Central Recicle, que faz intermediação entre prefeituras e cooperativas. No entanto, não foi observada articulação entre empresas de reciclagem e cooperativas com o objetivo que a instituição se propõe a atender.

Para além dos pontos já apresentados, ao concluir as entrevistas, os cooperados foram questionados sobre a maior dificuldade da sua respectiva cooperativa. Nessa discussão, os cooperados da COORES foram unânimes ao enfatizarem que as principais dificuldades estão na falta de transporte para coletar os materiais recicláveis e reutilizáveis e no excesso de despesas envolvidas no transporte do material.

Ainda sobre as dificuldades, dos cooperados entrevistados da REVIRAVOLTA, 55% informaram que a falta de conscientização da população para separação do material adequado para reciclagem é um grande problema e 45% indicaram como principal dificuldade não ter independência em relação ao transporte do material, uma vez que, por ser da prefeitura, eles não conseguem fazer coleta.

Por fim, 100% dos cooperados da CATRE afirmam que o maior problema está relacionado com a infraestrutura adequada para realizar o trabalho. Dessa forma, ao analisar de maneira comparada o perfil socioeconômico e profissional dos cooperados e a estrutura organizacional de cada cooperativa, foram identificadas as principais dificuldades enfrentadas pelas cooperativas, tais dificuldades serão apresentadas, a seguir, a partir da categorização da natureza de cada uma delas.