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Perfil dos professores pesquisados

CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS DADOS: um olhar sobre a formação

4.2 Perfil dos professores pesquisados

Os resultados da coleta de dados demonstraram grande predominância no exercício da profissão de docência, do sexo feminino, ou seja, 90% das pessoas que participaram da pesquisa eram mulheres, 10% formados pelo sexo masculino.

A faixa etária atual dos professores que participaram da avaliação do Programa Magister varia entre 34 e 65 anos, com maior incidência no intervalo entre 45 e 50 anos, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Número de professor do Programa Magister segundo faixa etária

Idade N % f F% 30 I–35 5 10,42 5 10,42 35 I– 40 3 6,25 8 16,67 40 I– 45 3 6,25 11 22,92 45 I– 50 10 20,83 21 43,75 50 I–55 13 27,08 34 70,83 55 I–60 9 18,75 43 89,58 60 I– 65 5 10,42 48 100% TOTAL 48 100%

Estes indicadores permitem visualizar o fato de aproximadamente 30% dos professores estão na faixa etária entre 55 e 65 anos, o que aproxima da idade necessária para pedir aposentadoria. Não havia no questionário uma pergunta direta referente à atual função do professor, mas foi possível constatar que 35% dos que foram beneficiados pelo Programa já estão afastados das atividades de sala de aula.

No que se refere à cor da pele, 56% dos professores pesquisados se consideram pardos ou negros, resultado equivalente ao dado do senso da população negra ou parda do Ceará28, indicativo este que contraria a posição de alguns autores ao dizerem haver poucos negros no Ceará. 58% dos professores pesquisados são casados, vivem com os companheiros e possuem em média dois filhos, sendo que 90% deles moram em casa própria.

Ao indagarmos sobre a religião, 88% relatam ser católicos e 12% não responderam o item. O Programa Magister pretendia atender apenas os professores que estivessem em pleno exercício da função docente, daí por que, 90% informaram estar em sala de aula quando iniciou a formação. Contrariando a este critério de seleção, 7% dos participantes da pesquisa afirmaram que eram professores, mas estavam lotados na SEDUC ou CREDE quando iniciaram a formação pelo Programa.

Na análise dessas questões, sentimos falta de um item que pudesse apresentar com clareza a função atual do professor. Então acrescentamos na segunda fase do questionário um item sobre a atual situação funcional do professor beneficiado pelo Magister. O resultado dessa pergunta comprovou o levantamento da primeira fase, ou seja, 35% dos professores estão afastados das atividades de sala de aula e 65% ainda estão em funções ativas.

Para 36% dos professores pesquisados, o primeiro emprego foi de professor; 26% disseram que recebem de três a quatro salários mínimos por mês; e outros 26% informaram que ganham de dois a três salários mínimos; 18% relataram que ganham abaixo de dois salários míninos; e os demais não responderam o item. A média atual, da remuneração dos professores da rede estadual, com carga horária 40 horas é de R$ 2.240,00 – incluindo as vantagens: vencimento, regência de classe e auxílio alimentação (SEDUC, 2010)29.

Sobre a formação inicial desses profissionais antes do Programa Magister, 96% expressam que tinham apenas o ensino médio, enquanto 4% disseram já haver cursado outra faculdade. Para esses professores (4%), a formação não fez muita diferença.

28 Dados estatísticos do IBGE afirmam que 65,9 % da população cearense, são formados de negros ou pardos. Síntese de Indicadores Sociais 2007. IBGE (2007). Disponível: htpp://www.ibege.gov.br. Acesso: Em 09.05.2010. 29 SEDUC, 2011. Informação recebida por um representante da Coordenação de Gestão de Pessoas.

Para procedermos a uma análise comparativa sobre o perfil do professor com curso superior, no Ceará, antes e depois do Programa Magister, recorremos à pesquisa do site do Ministério da Educação, no quadro a seguir reproduzido.

Quadro 2 – Perfil dos Professores com Curso Superior no Estado do Ceará. Período 2001 a 2009

Ceará/ano Pré-escola E. Fundamental

(anos iniciais) E. Fundamental (anos finais) Ensino Médio

2001 10,6 % 21,9 % 64,8 % 87,3 % 2002 19,4 % 32,7 % 68,7 % 88,1 % 2003 23,4 % 40,8 % 72,2 % 90,5 % 2004 29,8 % 42,2 % 73,9 % 92,1 % 2005 81,4 % 55,7 % 81,4 % 95,4 % 2006 38,9 % 60,8 % 84,9 % 95,9 % 2007 45,4 % 65,4 % 78,7 % 95,5% 2008 43,4 % 62,8 % 76,2 % 91,2 % 2009 43,9 % 62,0 % 75,3 % 88,1 % Fonte: PNAD/IBGE30. 2010.

Os indicadores do quadro 2 - demonstram a evolução significativa do percentual dos professores atuantes na pré-escola e no ensino fundamental (séries iniciais), antes e depois do Programa Magister. O percentual de professores nas séries iniciais do ensino fundamental no Ceará com curso superior ampliou de 21,9% no inicio do Programa (2001) para 55,7% na conclusão do curso Magister (2005) - cresceu 154,3%. No entanto, no que se refere aos docentes com nível superior, atuando nas séries terminais do ensino Fundamental, período de 2007 a 2009, esse resultado foi decrescendo. A rotatividade de professores no Estado é muito grande, mais de 50% do quadro docente do Estado é formado de professores com contratos temporários, isso pode ser uma das causas desse resultado, além da grande demanda de profissionais nas disciplinas específicas de Matemática, Física e Química.

No ensino médio, esse resultado não foi diferente, o percentual de professores com curso superior aumentou no ritmo menos acelerado. Em 2009, conforme o quadro 2 - o resultado dos professores com curso superior caiu praticamente em todos os níveis de ensino. Portanto, também, houve um decréscimo de docentes com licenciatura nessa modalidade.

Tais indicadores, apesar desses últimos resultados, demonstram que houve avanço significativo no perfil de formação dos professores cearenses e comprovam o esforço da

30 BRASIL. MEC/PNAD/IBGE. Disponível em http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-no-brasil/numeros-do- brasil/dados-por-estado/ceara? Acesso: 02.01.2011.

Secretaria da Educação em qualificar seus professores em nível superior, ainda que estivesse atendendo as recomendações da Lei nº. 9394 (BRASIL, 1996a).

A pesquisa não revelou, porém, os mesmos avanços nas estruturas das escolas públicas, comprovando uma grande demanda no quadro docente da rede pública, com habilitações específicas para atuação nas séries finais do ensino fundamental e ensino médio.

A adequação da formação do professor à área de atuação vem sendo organizada desde 1992. No entanto, a contratação de professores temporários que seria uma saída provisória do governo estadual para resolver uma situação emergencial, vem se arrastando por muito tempo e ampliando a oferta cada vez mais.

Segundo dados da Gestão de Recursos Humanos da SEDUC, em 1999, havia 6.436 professores, sendo 2.133 temporários. Com a elaboração do Plano de Expansão e Reforma do Ensino Médio (1995-2002)31, a matrícula para o ensino médio aumentou consideravelmente, o que resultou a demanda de três vezes mais professores no quadro funcional. Em 2003, o total de professores aumentou para 18.826 e, desse total, 10.996 eram constituídos de professores com contrato temporário.

Em 2010, o quantitativo total de professores da rede de ensino estadual era de 19.927 profissionais, dos quais 10.876 era composto por professores com contrato temporários, que representam, em média, 56%. Em algumas regiões do Estado do Ceará, esse percentual chega a mais de 80% - no caso, da Região de Acaraú (84%), Camocim (81%), Canindé (85%), Baturité (81%) e Crateús (84%)32. Isto implica em sérios problemas para manter a qualidade do sistema de ensino do Ceará e aponta a necessidade de realização de concurso público.

Como é simples observar, o Plano de Expansão e Reforma do Ensino Médio (1995-2002) conseguiu a ampliação da matricula de alunos, melhorou a estrutura física das escolas, mas não assegurou em seu quadro de funcionários a ampliação de professores efetivos, tomando, assim, a cada ano, uma medida provisória para contratação de professores temporários, que vem se arrastando há muitos anos.

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ZIBAS (2005). O Plano de Expansão e Reforma do Ensino Médio foi expandido por meio do Plano de Desenvolvimento Regional, vinculado ao Projeto Alvorada, financiado por empréstimos internacionais. Teve como objetivo reduzir as desigualdades regionais. Os melhoramentos começaram a se concretizar por intermédio do Plano de Desenvolvimento da Escola /PDE. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt05/t052.pdf. Acesso em: 16.12.2010.

Para implantar as condições básicas necessárias às escolas do ensino médio, o Estado teve que recorrer a empréstimos internacionais, com o apoio do Governo Federal. Isso favoreceu a realização de reformas das escolas, compras de bibliotecas, de computadores e outros equipamentos tecnológicos essenciais à organização dos centros de multimeios33 (ZIBAS, 2005).

O financiamento de agências multilaterais permitiu a construção de 18 unidades especiais, (distribuídas por todo o estado, sendo três delas inauguradas em bairros da periferia de Fortaleza), especificamente projetadas para serem paradigmas da reforma do ensino médio. Essas escolas diferenciadas foram chamadas “liceus”, como um símbolo da tentativa de transferir – agora para as camadas populares – a tradicional qualidade do ensino secundário, presente quando era destinado apenas às elites. {...} A grande preocupação com a regularização do fluxo escolar fez com que o estado tomasse algumas medidas. Nesse sentido, foi introduzido um novo sistema avaliativo do rendimento dos alunos, o qual, seguindo as prescrições legais, pretendeu privilegiar o processo de aprendizagem e não os resultados de provas e testes. Além disso, foi criado o programa Tempo de Avançar para o Ensino Médio/TAM, destinado para alunos maiores de 18 anos, que tinha como objetivo de encurtar o tempo de escolaridade dos alunos mais velhos, valendo-se de monitores polivalentes. (ZIBAS, 2005, p. 7- 8).

De acordo com Zibas (2005), as estratégias políticas do Governo do Ceará, referentes à implantação e implementação do Plano de Expansão e Reforma do Ensino Médio, não foram suficientes para garantir o sucesso dessa reforma e, ainda, podem ter distanciado o seu maior objetivo – o de mostrar ser possível atender a população mais pobre com o ensino de qualidade. Expressa a autora: “A melhoria da estrutura física e pedagógica ficou a meio caminho” (p. 211).

Zibas (2005) aponta várias questões que atrapalharam a implementação da reforma na prática, entre elas estão: a falta de material didático para essa modalidade de ensino, a carência de professor em algumas áreas do conhecimento e a rotatividade dos contratos temporários. Embora que, reconhecidamente, o Estado tenha investido na formação universitária dos professores efetivos, mas esses representam uma minoria dos profissionais da rede pública de ensino. Há ainda um grande déficit de professores, especialmente, nas disciplinas de Química, Física e da Matemática.

33 O Centro de Multimeios é espaço disseminador de conhecimento, cultura e lazer. É um ambiente de aprendizagem, dinâmico, formado pela biblioteca da escola, sala de vídeo, laboratório de informática, sala de leitura. O Centro de multimeios é a fonte permanente para alimentar, sustentar, revigorar ou reformular pensamentos. Disponível em: http://www.eeepigd.seduc.ce.gov.br/ index.php/centro-de-multimeios. Acesso: 20 de jan. 2011.

Os gráficos abaixo apresentam uma evolução gradativa do perfil docente com curso superior na década de 1995 a 2005. Representado pelo Gráfico 3 - Funções docentes com nível superior dos professores que atuam no ensino fundamental, no Brasil, Nordeste e Ceará.

Gráfico 3 – Funções docentes com nível superior.

O Gráfico 3, demonstra o empenho do Estado do Ceará (redes de ensino estadual e municipal) em relação à formação dos professores, na década de 1995 a 2005, que cobre o período da formação do Magister. Pode observar que o número de professores com funções docentes (1ª a 4ª e 5ª a 8ª série) com nível superior no Estado do Ceará cresceu consideravelmente. Para Vidal (2008), este crescimento acelerado decorre do empreendimento feito pelos municípios com investimentos proveniente do FUNDEF.

A lógica financeira do FUNDEF pode ser considerada a grande responsável pelo boom na oferta municipal. O fenômeno de transferências de matrículas acontece nos primeiros cinco anos de vigência do Fundo (1998 – 2002). Em regimes emergenciais, abreviados, como projetos de inovações pedagógicas, proliferaram pelo Brasil afora cursos de licenciatura plena para formação de professores. O Ceará não escapou desse movimento, disseminando-se cursos superiores em regime especial, na sua quase totalidade de Pedagogia, em grande parte dos municípios cearenses. (VIDAL, 2008, p. 6).

Este cenário, representado pelo Gráfico das Funções Docentes com Nível Superior assinala um período bastante promissor de qualificação docente no Ceará, gerando altas expectativas em torno da aprendizagem dos alunos. Porém, os dados da pesquisa do SAEB (BRSIL, 2007) revelam algumas incompatibilidades com esses resultados. Conforme se pode observar no Gráfico 4, sobre os rendimentos de aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental, em Matemática (4ª Série) e Língua Portuguesa (8ª série).

No período de 1995 a 1997, o gráfico 4 demonstra um crescimento nos resultados da avaliação nas escolas cearenses, nas duas disciplinas (Matemática e Língua Portuguesa), mas nos anos subsequentes, os resultados da avaliação, caíram consideravelmente, especialmente, na disciplina de Língua Portuguesa – turma 8ª série do ensino fundamental.

Gráfico 4 – Rendimento dos alunos do Ensino Fundamental em Matemática (4ª série) e Língua Portuguesa (8ª série). Período: 1995 – 2005.

O que se pode constatar nos gráficos acima, representados pelo Gráfico 4, é que os dados não corresponderam as expectativas de melhoria dos rendimentos dos alunos, como se esperava pelo índice da evolução do nível de formação dos professores (Gráfico 3). O que

Fonte: MEC/INEP, 2007 Fonte: MEC/INEP, 2007

se percebe, no período 1995 a 2005, é uma grande inversão na curva de desempenho dos alunos nas disciplinas de Matemática (4ª série) e Língua Portuguesa (8ª série).

No que se trata a situação atual do nível de formação dos profissionais do magistério no Ceará, os dados quantitativos do Educacenso revelam que, no Ceará, 97% dos professores da rede pública estadual estão graduados e 97,9% da rede municipal (BRASIL, 2009). O curso de formação do Programa Magister contribuiu numa parcela desse resultado. Entretanto, conforme mencionou Vidal (2008), o Ceará não escapou dos cursos de formação aligeirados, realizados em regime especial, o que impactou a folha de pagamento das prefeituras e não atendeu as necessidades do ensino fundamental (5ª a 8ª) e do ensino médio das escolas públicas cearenses, porque a formação, em quase sua totalidade, era feita do curso de Pedagogia.

Atualmente, existe uma demanda de 7.605 professores com licenciatura, ou seja, habilitação específica para a disciplina que está ensinando, muito embora alguns desses profissionais possam ser graduados em outras áreas34. Isso representa mais de 10% do quadro profissional do magistério.

Outro importante fator que deve ser considerado do perfil do professor é relacionado à sua participação política. No Ceará, existem dois sindicatos de professores, vinculados à esfera estadual (APEOC eSINDIUTE), que se enfrentam constantemente para obter a adesão do magistério (ZIBAS, 2005). Entretanto, a pesquisa aponta uma pequena relação entre os docentes e suas entidades de classe, como se houvesse pouca, ou quase nenhuma, identificação com elas. Esta percepção foi reforçada na avaliação junto aos coordenadores das universidades.

Apenas 36% dos professores informaram que são associados a sindicados, mas que, praticamente, nunca participam de reuniões ou movimentos sindicais. Os outros 64% afirmavam que não participavam de nenhum sindicato ou associação, porque não acreditam que possam defender os seus interesses.

Muitos homens e mulheres se entregam às influências do seu ambiente. Deixam-se arrastar ou empurrar nesse caminho da vida. São como bolas de neve, rolando a uma velocidade espantosa pela encosta de uma montanha. Em dado momento, estão livres (como as aves soltas no espaço), encontrando poucos obstáculos ou nenhum, e ficam despreocupados. Depois, chocam-se com eventos ou acontecimentos imprevistos. Não conseguem evitar essas condições ou superá-las. Assim vão

caminhando, anos a fio, às vezes pensando se as vicissitudes da vida, sua amargura, suas dores, valem o seu preço - os prazeres ocasionais e os momentos efêmeros de paz de espírito que lhes advêm. (ARNALDO POESIA, 2001, p. 7)35

Nesta reflexão, podemos sentir que a noção de cidadania não pode ser concebida de forma abstrata, ou espontânea, pois ela se constitui na organização e se fortalece na luta e nos movimentos sociais. A formação técnica, humana e científica não pode ser dissociada da formação política. A participação e o envolvimento do professor nos movimentos sindicais é uma condição fundamental para ajudar a fortalecer do isolamento político a que se submete a maioria dos professores (64% não participam da pesquisa). Não se pode deixar que os seus direitos sejam empurrados por situação casual; é necessário ir à luta e arrancá-los.