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O exame do conjunto gráfico integral do sítio permitiu afirmar, com precisão de tipo técnico por ACG, que se tratam de gravuras rupestres executadas por percussão (picotagem) de pontos, como na ACG II mancha 1, seqüenciados na disposição de segmentos de retas, que são depois aplainados por raspagem contra superfície abrasiva, possivelmente, um seixo de quartzo, no sentido de formarem as retas em baixo relevo que compõem os traços do gravado.

Observou-se também que os traços estão gravados em sentidos, tanto conformes, quanto independentes do plano de foliação da rocha. Um sentido em que sua fratura se tornaria mais fácil, em equivalência ao plano de estruturação dos minerais na rocha, o que se converteria numa economia de energia na ação técnica. Em algumas ACG, como a III da mancha 1, é perceptível uma orientação segundo os planos de foliação, em outras, não. A maioria, no entanto, está tão atingida pelo intemperismo físico, que este tipo de

reconhecimento não é possível.

67% das ACG apresentam-se contornadas por pigmento vermelho. As exceções são, apenas, 6 ACG's como a VI da mancha 2 e a III da mancha 3, que se encontram recobertas por pátina mineral. As ACG VI da mancha 1 e IV da mancha 2, não apresentam vestígios de pigmentos, possivelmente, pelo alto grau de esfoliação da rocha.

As ACG II e III da MG 2 não estão apenas contornadas, mas, a princípio, estariam gravados sobre uma grande mancha vermelha que excede os limites dos traços.

Vestígios de pigmento podem ainda ser identificados no interior de sulcos de, pelo menos, três grafismos: III da mancha 1, VII da mancha 2 e IV da mancha 3.

Sendo isto considerado, pode-se afirmar, hipoteticamente, que o tipo predominante de associação com pigmento no sítio é o contorno externo dos traços gravados. Podendo-se, ainda, afirmar no âmbito conjetural, que as unidades já tiveram o interior de seus sulcos pintados.

Pelo que se observa, identificar a cadeia operacional das ações técnicas constitutivas do acervo do sítio ainda é uma tarefa imprecisa (o tipo técnico dominante foi definido no âmbito das ACG's, separadamente, dentro dos painéis de análise), mas os contornos e o interior dos sulcos indicam um momento técnico pictórico posterior à gravura. Apenas as ACG's II e III da mancha 2 apresentam-se executados sobre manchas de pigmento, o que indicaria um momento pictórico anterior às gravuras.

Quanto às segregações, observou-se que, das 19 ACG's visíveis contabilizadas, 6 puderam ser consideradas unidades gráficas hipotéticas, em função das condições de identificação propícias, a saber, o estado de conservação e delimitação clara dos traços e dos espaços vazios no espaço gráfico. Destas 6 unidades, quatro se mostraram recorrentes em outros sítios, sendo duas delas identificadas como periféricas recorrentes.

4.3.5 - Ficha 5:

1. LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO:

a) Nome: Açude das Marcas (pranchas 40 a 43) b) Município: Jardim do Seridó - RN

c) Acesso: A partir do trevo da Rajada, a 7 km de Carnaúba dos Dantas, segue pela estrada velha de Jardim do Seridó 18 km até o açude dos Grossos. Segu 1 km pela estrada da barragem do açude até o riacho da Marcas. O sítio localiza-se a 1.200 metros dos Grossos.

o o d) Coordenadas: S 6 33'20”/ O 36 42'00” e) Orientação: N/SO

f) Abertura: Não há.

g) Vegetação: Caatinga xerófila arbustiva à arbórea, com predominâcia de faveleiros e cactáceas, juremas e angicos. Há intrusão de espécies exóticas, como a algaroba.

2. GEOMORFOLOGIA:

a)Situação do entorno: Planície aberta com afloramentos graníticos baixos, rentes ao solo.

b) Situação do sítio: Cachoeira ou queda d'água em calha de riacho em fundo arenoso. Semi-soterrada, o que dificulta a caracterização geomorfológica do sítio. È, no entanto, claramente visível tratar-se de um trecho de corredeiras de fundo pedregoso no curso do riacho. Atualmente, o sítio apresenta-se como uma cacimba de fundo arenoso com água acumulada margeada ao sul por blocos graníticos semi-enterrados

c) Altimetria: 260 metros

d) Marcas paleo hidrológicas: A morfologia dos blocos apresenta-se abaulada e arredondada nas bordas e quinas, indicando trabalho erosivo hidrológico pretérito. Num dos blocos é perceptível a ocorrência superficial de microorganismos, que conferem um tom esverdeado à rocha, indicando que, talvez, tenha passado um período submerso.

Atualmente, a formação do sítio trata-se de uma cacimba de fundo arenoso, com água acumulada, margeada ao sul por blocos graníticos semi-enterrados

e) Condições de sondagem geológica: Há a possibilidade de se fazer uma trincheira de sondagem transversal à calha, para se estudar o processo de formação do depósito de aluvião, sua profundidade e estrutura.

3. SÍTIO:

a) Tipo de sítio: Sítio rupestre a céu aberto

b) Dimensões: Aproximadamente, 5 metros quadrados

c) Estado de conservação do suporte rochoso: Há poucas evidências de intemperismo físico. Apresenta poucas rachaduras e rupturas de placas recentes. Foi constatada a ocorrência de microorganismos na superfície de um dos blocos gravados, talvez líquens.

d) Tipos de vestígios: Gravuras rupestres.

e) Refugo arqueológico: Não. Porém, ocorrem gravuras soterradas que só uma escavação específica pode evidenciar. O sedimento é depósito de aluvião. Toda área do sítio e de seu entorno esteve inundada pelo açude das marcas, que no ultimo inverno, sangrou, retirando parcialmente o sedimento que cobria os blocos do sítio. Contudo, existem outras ACG's soterradas, e é difícil precisar, sem uma escavação, quanto do acervo do sítio não está à mostra.

f) Tipo e composição do suporte rochoso: Pela classificação megascópica biotita-granito (quartzo, feldspato e biotita em alta presença); pela carta geológica o sítio se localiza sobre uma formação de biotita-gnaiss (quartzo, feldspato e biotita em alta presença, mas estruturado diferentemente).

g) Dureza dos minerais: Quartzo 7, feldspato 6 e biotita - 3

h) Estrutura morfológica: Não há estruturas visíveis nas rochas, a não ser finos veios de quartzo que cortam os corpos rochosos em várias direções.

4. AS GRAVURAS:

a) Dimensão do espaço gráfico: Observaram-se duas manchas gráficas, cada qual com um painel de análise equivalente. Na mancha 1, foram identificadas 7 ACG's visíveis atualmente, num espaço gráfico aproximado de 1.50 metros de largura por 2,20 metros de comprimento. Na mancha 2, figuram 7 ACG's visíveis, atualmente ocupando uma superfície de 1.30 metros de largura por 2,10 m de comprimento.

b) Estado de Conservação: As gravuras apresentam-se profundas, largas e com definição regular de borda, fazendo-se acreditar que estejam melhor conservadas que as dos Grossos ,e que apresentem traços técnicos originais. Não apresentam sinal de ruptura de placas nem de erosão eólica. Microorganismos cobrem a superfície da mancha 1.

Tal estado de conservação leva a crer que o acervo do sítio esteve protegido contra insolação, coberto por deposição sedimentar e água por períodos intermitentes, como as manchas IV, V e VI e VII da ZC 1 dos Grossos. Relatos de moradores afirmam que, pelo menos nos últimos 20 anos, o regime de inundação sazonal na área do sítio e de seu entorno esteve condicionado pelo açude.

Quando as águas baixavam na época da estiagem, formava-se o depósito de aluvião por sobre os blocos. Antes desse período, o regime de deposição sedimentar esteve condicionado pela hidrodinâmica do riacho.

Suas profundidades e larguras são: entre 0.8 cm e 1.3 cm \entre 1.2 cm e 3.3 cm mancha 1(MG); entre 0.7 cm e 1.3 cm \entre 1.5 e 4 cm.

c) Técnica de Execução: As ACG's apresentam-se, a princípio, executadas pelas mesmas técnicas, picotagem seguida de polimento intenso com instrumento abrasivo de, no mínimo, 1 cm de borda.

Há evidência reduzida e imprecisa de picotagem, tamanha a regularidade de borda e textura interna do traço, oriunda de um polimento bem marcado. Portanto, a afirmativa de que há picotagem anterior ao polimento, situa-se num nível hipotético, uma vez que o grau de polimento é intenso, homogêneo e visualmente onipresente.

d) Cenografia: Na mancha 1, as ACG's se apresentam esparsas e bem definidas como unidades, no entanto, uma delas remete a uma composição de várias unidades entrelaçadas, tendo em vista o tamanho proporcional das unidades e suas distâncias intercaladas.

As distâncias intercaladas médias situam-se entre 10 cm e 80 cm. Na mancha 2 as ACG's encontram- se bem definidas como unidades, apresentando-se espaçadas como na mancha 1, porém com distâncias intercaladas médias inferiores, entre 20 e 40 cm.

Assim, 14 ACG's foram identificadas, das quais 9 puderam ser definidas como unidades hipotéticas, por estarem com delimitação espacial definida nas manchas e serem recorrentes em outros sítios. Duas unidades da MG 1 e 1 unidade da MG 2 foram identificadas como unidades periféricas recorrentes. Embora a unidade da MG 2 esteja no centro do espaço gráfico, esta é recorrentemente periférica em outros sítios.