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Análise dos Dados

5.1. Perfil Sociocultural dos Alunos

Na análise dos dados do questionário sociocultural, obtivemos o seguinte perfil do grupo de estudo: em relação à renda familiar, 67% dos alunos pertencem a famílias cuja renda mensal situa-se entre 6 a 10 salários mínimos, enquanto 33% encontram-se na faixa de 1 a 5 salários mínimos mensais. Esses dados nos permitem colocá-los além da faixa dos excluídos socialmente, diferenciando-os, em parte, do perfil de alunos de baixa renda.

Quanto à formação acadêmica, os dados mostram que, em relação ao Ensino Fundamental, os alunos apresentam diferenças, pois 33% cursaram-no em escola pública, 50% cursaram-no parte em escola pública e parte em escola particular, e 17% em escola particular. Isso

demonstra uma certa heterogeneidade do grupo e nos permite ter uma verificação dos estímulos recebidos para a escrita sob perspectivas educacionais diferentes.

Já em relação ao Ensino Médio, há uma concentração, na escola pública, de 100% dos alunos pesquisados. Esses estudantes vivenciaram esse nível de ensino no turno diurno, o que evidencia que não são alunos trabalhadores, tendo como ocupação principal os estudos secundários.

Outro dado que diferencia esses alunos do estereótipo de aluno de rede pública é quanto ao aprendizado de outras línguas: 83% têm acesso ao aprendizado de uma segunda língua, ao passo que apenas 17% não o têm. Isso se explica, talvez, pelo fato da unidade de ensino onde estudam possuir um núcleo de línguas, que oferece cursos de línguas estrangeiras (francês, inglês e espanhol) para os alunos e a comunidade em geral. Na preferência pela língua escolhida, as opções assinaladas são, respectivamente: língua inglesa - 17%; língua espanhola – 83%. Essa opção preponderante pelo Espanhol vincula-se à seleção no vestibular, uma vez que uma boa parte dos alunos opta pelo exame em língua espanhola por considerá-la mais próxima à materna.

O fato de aprender uma língua estrangeira para auxiliar no exame vestibular parece encontrar eco nas respostas quanto ao tempo de duração desse estudo, que, em sua totalidade (100%) corresponde à duração do Ensino Médio – 2 a 3 anos. De forma quase absoluta, os alunos disseram freqüentar o curso de língua estrangeira nos núcleos de língua da Rede Estadual. Apenas uma aluna disse freqüentar, além dos núcleos estaduais, os cursos particulares de língua.

Em relação à escolaridade dos pais, observa-se que 50% deles possuem o Ensino Fundamental completo. Os demais, ora apresentam Ensino Médio e/ou Superior incompleto. Esses dados, quando comparados com as expectativas acadêmicas dos alunos, revelam uma ampliação dessa formação, pois a maioria dos alunos pesquisados visa ao terceiro grau (83% dos entrevistados pretendem chegar ao 3º grau, ao passo que apenas 17% almejam profissionalizar-se através de cursos técnicos), com uma visão menos imediatista do processo de escolarização, visando a um melhor auto-investimento educacional.

Outro aspecto interessante aqui observado é a relação entre a formação acadêmica dos pais e o nível de aspiração dos filhos: aqueles cujos pais possuem menor escolaridade também apresentam pouca aspiração acadêmica, não mostrando muito interesse na continuidade da vida escolar, optando por profissionalização em cursos técnicos.

No tocante às atividades culturais (cujas alternativas apresentadas não eram excludentes, mas de ordenação por preferência), os entrevistados demonstram preferências respectivamente por:

1- atividades esportivas – 33% 2- outras atividades – 33%

Indagados sobre a utilização de seu tempo livre, as respostas revelaram que os alunos usam o seu tempo fora da escola com as atividades de leitura (50%), música (17%), televisão (17%) e outras (16%). Esses dados entram em contradição quando os entrevistados declaram ser o jornal televisivo (67%) o mais usado para manter-se informado, seguido de apenas 17% pelas revistas e 16% pelo jornal escrito.

Quanto à preferência pelo tipo de leitura, 67% declararam ler revistas informativas com freqüência regular enquanto 17% declararam gostar de fotonovelas e 16% de revistas esportivas.

Ainda em relação à leitura, os gostos pessoais não apresentam muita variação, percebendo-se uma limitação dessa atividade à leitura realizada na escola. Interessantes foram as respostas dadas às questões sobre a leitura mais habitual e sobre a escolha pessoal. Para a primeira questão, os estudantes indicaram as revistas informativas como as mais lidas e em relação à segunda, a escolha pessoal recai nos romances, contos (83%) e 17% disseram não gostar de nenhum tipo de leitura. Esse resultado remete à colocação de Sole (1998) de que a maturidade do leitor relaciona-se, também, ao envolvimento deste com o ato de ler.Para ela, um leitor ativo é aquele que manda na própria leitura: pára, reflete, modifica... interage com o texto lido. Ora, se não há escolha pessoal no material a ser lido, o leitor ativo não surgirá tão facilmente.

No quesito de distribuição de tempo livre na TV, os alunos indicaram a seguinte ordem de preferência:

1- Entrevistas e reportagens são apontados como os mais vistos, com 34%;

2- A segunda opção ficou diluída entre as alternativas apresentadas, sem predominância de nenhuma;

3- 50% colocaram Reportagens como a terceira opção; 4- 33% optaram por Noticiários na quarta alternativa;

5- Na quinta alternativa, houve coincidência de opções entre Desenhos e Documentários;

6- Por fim, a última opção escolhida foi Novelas.

Os dados colhidos nessa questão revelam contradição entre o que é dito pelos alunos e o que é realizado por eles mesmos.Pela ordem de preferência apontada, eles indicam a predominância de programas televisivos que estimulam o raciocínio lógico e que ampliam o conhecimento de mundo. Não é isso o que se percebe nos textos dos alunos, em que há precário uso de argumentos, com uma repetição desnecessária de fatores ligados ao tema em estudo.

O exame dos dados desse questionário também revelou que nenhum dos entrevistados tem acesso à Internet, com 83% indicando não ter computador e 17% não se sentirem atraídos pela mesma. É provável que esse fato contribua para a limitação do conhecimento prévio que os alunos demonstram nos debates e nos textos produzidos.

Como arremate final, podemos concluir que os alunos-alvos dessa pesquisa apresentam características diversas das usualmente colocadas entre alunos de escolas públicas. Não deve, entretanto, serem tomados como parâmetros, uma vez que a própria disponibilidade em participar da pesquisa não despertou o interesse de parcela significativa da turma. De uma classe composta por 45 (quarenta e cinco) alunos, apenas 10 (dez) atenderam ao convite à participação na investigação, havendo a desistência de quatro desses.