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5. DESENVOLVIMENTO DA TESE

5.2. Micromorfologia e micromorfometria de unidades estruturais morfologicamente

5.2.3.1. Descrições micromorfológicas dos solos

5.2.3.1.1. Perfil de solo da Parcela Memória

A descrição sistemática da micromorfologia do perfil do solo da parcela Memória é apresentada na forma de quadro-resumo no Anexo 4. Nesse perfil foram descritas as seguintes unidades morfologicamente homogêneas (UMH´s): NAM (não alterado pelo manejo), C∆µ (estrutura contínua com estado interno dos agregados compacto), Fm∆µ (estrutura fragmentada em médios torrões e microagregados compactos), Fptµ∆+tf (estrutura fragmentada em pequenos torrões e microagregados pouco compactos + terra fina).

A unidade NAM encontra-se após 35 cm de profundidade e apresenta um fundo matricial constituído em média por 60% a 65% de material fino, 25% a 30% de poros e 15% de material grosseiro, com uma distribuição relativa ou trama predominantemente do tipo pórfiro-enáulica, mas com algumas zonas puramente porfíricas e outras enáulicas. A zona pórfiro-enáulica apresenta uma microestrutura complexa (mista) composta por microagregados granulares com pedalidade fortemente a moderadamente desenvolvida e parcialmente acomodados, e blocos subangulares com pedalidade moderadamente desenvolvida e parcialmente acomodados. A porosidade dominante nesta microestrutura foi do tipo empilhamento complexo (50%) (Figura 6.5a), seguido de cavidades arredondadas e policôncavas (35%) (Figura 5.2.5b), fissuras (10%) e canais (5%).

Na escala de observação do perfil o solo da unidade NAM apresenta-se poroso com estrutura granular muito pequena ou em microagregados de grau forte, muito similar à microestrutura observada na lâmina.

(a)

(b)

Figura 5.2.5. Fotomicrografias da porosidade do solo da unidade NAM: detalhamento da porosidade do tipo empilhamento complexo (a) e cavidades arredondadas e policôncavas (b).

A zona puramente porfírica, mais compacta, apresenta uma microestrutura com

enáulica, mais porosa, apresenta uma microestrutura microagregada com uma porosidade de empilhamento complexo. A Figura 5.2.6 mostra a heterogeneidade desta unidade com trama pórfiro-enáulica (a), enáulica (b) e porfírica (c).

(a) (b)

(c)

Figura 5.2.6. Distribuição relativa da unidade NAM: pórfiro-enáulica (a), enáulica (b) e porfírica (c).

A unidade NAM apresenta feições pedológicas do tipo textural de revestimento (5%), classificados segundo Brewer (1976) como ferri-argilãs, localizadas principalmente na parede dos poros e na superfície dos agregados coalescidos (Figura 5.2.7a). São observadas feiçoes pedológicas de preenchimento solto descontínuo, formadas por microagregados do mesmo material

2000 µm 2000 µm

2000 µm

2000 µm 5000 µm

que preenchem poros cavitários e canais. Nódulos ferruginosos típicos (5%) com coloração na luz normal (LN) 10R 2/1 e luz polarizada (LP) 10R 2/2 com tamanho médio de 0,42 mm são também observados nesta unidade.

(a) (b)

(c)

Figura 5.2.7. Feições pedológicas na unidade NAM: Revestimento de argila (Ferri-argilãs) ao redor dos agregados coalescidos (a), preenchimento solto descontínuo (b) e preenchimento denso contínuo com extinção cruzada com nícois cruzados (c).

A presença de fábricas birrefringentes nesta unidade é observada em pequena proporção (5%) e associadas à microestrutura porfírica, mais densa, onde ocorre a coalescência de

2000 µm 200 µm

cavidades arredondadas e canais com preenchimentos soltos contínuos e/ou decontínuos (30%) (pedotúbulos segundo Brewer, 1976). Estas evidências corroboram as observações na escala do perfil cultural, onde se observou também a atividade biológica evidenciada pela presença de corós, formigas e cupins.

Indícios de atividade da fauna do solo são muito fortes nos Latossolos. A grande quantidade de canais e pedotubulos, a presença de excrementos, o grau de individualização dos microagregados granulares e a organização geral da matriz indicam que um dos principais agentes responsáveis pela organização interna desses solos é a fauna, principalmente cupins e formigas (FITZPATRICK, 1993).

A segunda UMH do perfil de solo da parcela Memória é referida por C∆µ (estrutura contínua, com estado interno dos agregados compacto) e se localiza na profundidade entre 18 e ~ 35 cm, apresentando um trama mais denso que a unidade NAM. O fundo matricial da unidade C∆µ é constituído por 65% de material fino, 15% - 20% de poros e 15% de material grosseiro, indicativo de uma menor porosidade relativamente à unidade NAM, apresentando duas zonas bem definidas. A zona dominante apresenta uma trama enáulica- porfírica formada por uma microestrutura complexa composta por blocos subangulares com pedalidade moderadamente desenvolvida e parcialmente a bem acomodados (Figura 5.2.8a). Estes blocos apresentam uma sub- estrutura microgranular coalescida com pedalidade fraca (Figura 5.2.8b).Tal coalescência pode ser atribuída à atuação de forças mecânicas no solo que, dada a ocorrência em maior profundidade, pode estar relacionada ao manejo anterior da área com correntão.

A outra zona observada na lâmina se refere à ocorrência de microestrutura microgranular (enáulica) com pedalidade moderadamente desenvolvida e parcialmente acomodada que se concentra dentro de um canal preenchido (Figura 5.2.8c).A porosidade dominante caracterizada na lâmina representativa da unidade C∆µ denota uma qualidade microestrutural inferior à da unidade NAM, pois se observa um incremento de fissuras grandes (30%) e cavidades arredondadas e policôncavas pequenas (40%) e redução do tipo de poros de empilhamento complexo (30%). A Figura 5.2.9 ilustra a porosidade fissural grande (a) e as cavidades arredondadas e policôncavas pequenas (b).

(a) (b)

(c)

Figura 5.2.8. Distribuição relativa da unidade C∆µ: Porfírica fissurada formando blocos subangulares separados por uma porosidade fissural e cavidades policôncavas no interior (a), sub- estrutura microgranular coalescida (b) e microestrutura microgranular (enáulica) dentro de um canal preenchido (c).

1000 µm

500 µm 5000 µm

(a) (b)

Figura 5.2.9. Fotomicrografias da porosidade na unidade C∆µ: porosidade fissural grande (a) e as cavidades arredondadas e policôncavas pequenas (b).

A mudança da distribuição relativa na unidade C∆µ quando comparada com a da lâmina da unidade NAM, em especial quanto à porosidade total, pode ser um indicativo de processo de compactação, por apresentar uma distribuição predominante do tipo porfírica com coalescência de agregados e fissuração horizontal / sub horizontal.

As feições pedológicas do tipo textural de revestimento, de preenchimento e amorfas (nódulos ferruginosos) se assemelham às observadas na unidade anteriormente descrita (NAM). O mesmo foi observado em relação às fábricas birrefrigentes presentes. Outro aspecto observado nesta UMH é a presença de atividade biológica com excrementos presentes e fragmentos de raízes em decomposição.

A terceira UMH deste perfil, referida por Fmt∆µ (estrutura fragmentada em médios torrões e com agregados compactos), ocorre entre as profundidades de ± 10 a 20 cm e apresenta uma trama enáulica- porfírica similar à da UMH anterior (C∆µ). No entanto, a sub-estrutura dos blocos subangulares apresentam os microagregados bem mais coalescidos. Observa-se também a presença de uma zona secundária enáulica que se restringe às cavidades e canais preenchidos. A porosidade é dominada por cavidades arredondadas e policôncavas (55%) seguidas de canais (20%) e fissuras (25%). Em contraste com a UMH C∆µ, observa-se um incremento de cavidades arredondadas e

2000 µm 2000 µm

policôncavas e canais, e uma redução de fissuras, o que denota uma qualidade microestrutural melhor na UMH fragmentada.

A presença de feições pedológicas do tipo textural de revestimento e preenchimento e as amorfas (nódulos ferruginosos) se assemelham às observadas nas UMH´s anteriores, NAM e C∆µ anteriormente descritas (Figura 5.2.10).

(a)

(b)

Figura 5.2.10. Fotomicrografias da UMH Fmt∆µ do perfil de solo da parcela Memória: Argila iluviada rica em ferro revestindo e preenchendo a porosidade (a) e idem à anterior com nícois

200 µm

Já a atividade biológica da fauna nesta UMH é mais intensa que a observada na unidade C∆µ e similar à da unidade NAM, com presença generalizada de galerias biológicas e de cavidades e canais com preenchimentos que, em alguns casos, são soltos e, em outros, densos. O adensamento das paredes destas cavidades e canais evidencia, como na unidade NAM anteriormente descrita, a ação mecânica de coalescência de microagregados exercida pela atividade biológica (Figura 5.2.11a). Na Figura 5.2.11b observa-se poro do tipo canal formados por raízes com detalhe de fragmento de raízes em decomposição.

(a) (b)

Figura 5.2.11. Fotomicrografia da UMH Fmt∆µ em perfil de solo da parcela Memória: Detalhe do adensamento da parede de um canal pela ação de uma raiz (a) e fragmento de raiz em decomposição dentro do canal (b).

A última UMH descrita no perfil da parcela Memória é referida por Fptµ∆+tf (fragmentada, pequenos torrões e com agredados pouco compactos + terra fina) e esta localizada nas profundidades de ± 2 a 10 cm. O fundo matricial desta UMH é constituído por 60% de material fino, 25% de poros e 15% de material grosso e apresenta distribuição relativa do tipo enáulica- porfírica similar as UMH´s C∆µ e Fmt∆µ. Nesta UMH a microestrutura apresenta-se um pouco mais densa com blocos subangulares com pedalidade moderadamente a fortemente desenvolvida e

1000 µm 2000 µm

parcialmente acomodados (Figura 5.2.12a) com uma subestrutura de blocos subangulares formados por um processo intenso de fissuração do fundo matricial (Figura 5.2.12b). Secundariamente, observa-se também a presença de uma zona com microestrutura microgranular (enáulica) com pedalidade moderadamente desenvolvida e parcialmente acomodada, provavelmente oriunda da intensa atividade biológica observada nesta unidade.

(a) (b)

Figura 5.2.12. Fotomicrografia da UMH Fptµ∆+tf do perfil de solo da parcela Memória: Blocos subangulares com pedalidade moderadamente a fortemente desenvolvida e parcialmente acomodado (a) com uma subestrutura em blocos subangulares formados por um processo intenso de fissuração do fundo matricial (b).

A porosidade na zona dominante foi do tipo fissural com intensa microfissuração no interior dos blocos subangulares primários (40%), cavidades arredondadas e policôncavas (35%), empilhamento complexo (5%) e canais (20%). Em contraste com a UMH Fmt∆ descrita anteriormente, observa-se neste caso um incremento de poros do tipo fissural com intensa microfissuração na matriz do solo, refletindo a expansão e contração do solo como resultado dos processos de umedecimento e secagem e do crescimento de raízes. Na zona enáulica observou-se a dominância de poros de empilhamento.

2000 µm 5000µm

porém com uma submicroestrutura mais coalescida com incremento de microfissuras. No entanto, tais UMH´s apresentam uma porosidade maior quando comparada a UMH C∆µ.

A unidade Fptµ∆+tf apresenta feições pedológicas do tipo textural de revestimento na parede dos agregados (ferri-argilãs segundo Brewer, 1976) em menor proporção que as demais UHM´s descritas, e também feições texturais de preenchimento do tipo denso descontínuo com extinção forte contínua. A feição pedológica amorfa é constituída de nódulos ferruginosos típicos (5%) semelhantes as UMH´s descritas anteriormente com tamanho médio de 0,31 mm. Observa-se também a presença de fábricas birrefringentes distribuídas por toda lâmina principalmente onde ocorre coalescência de microagregados, porém em menor proporção (1%) quando comparada as demais UMH´s descritas.

A atividade biológica nesta UMH é evidenciada também pela presença de cavidades e canais de origem biológica, e pelas feições de excrementos (coprólitos) dentro dos canais (Figura 5.2.13). Esta atividade também foi evidenciada na escala de perfil cultural pela presença de corós, formigas, cupins, como observado em campo.

Figura 5.2.13. Fotomicrografia UMH Fptµ∆+tf: Feição pedológica de excremento (coprólito). A fração grosseira apresenta similaridade entre as unidades estudadas neste perfil, tais como: formato, tamanho, grau de seleção dos grãos e composição mineralógica, constituída basicamente por grãos de quartzo, com grau de esfericidade bastante variável (Anexo 4).

Nesta fração observaram-se também nódulos ferruginosos típicos (5%) e fragmentos de 2000 µm

comum em muitos solos tropicais, particularmente em Latossolos (BASSINI e BECKER, 1990, BARBERI et al., 2000). Porém fragmentos de carvão podem indicar indício de fogo.

Em relação à fração fina, as unidades estudadas possuem a mesma mineralogia, predominantemente caulinítica mais óxidos de ferro. De modo geral, a mineralogia desta fração quimicamente ativa é bastante estável, resultado de intenso e/ou longo intemperismo e pedogênese, e, portanto muito resistente a mudanças, especialmente numa escala temporal tão curta. Tais similaridades além de conferir a mesma granulometria às unidades, também ressaltam as indicações de que esse solo provém do mesmo material de origem.