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4 A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE

4.4 Concepções sobre inclusão de pessoas com deficiência no mercado de

4.4.1 Perfil dos sujeitos

Durante as visitas realizadas à instituição, estava ocorrendo apenas o curso de Auxiliar de Almoxarifado, cujos recursos são da parceria com a STDS, com carga horária de 100 horas/aula, e deste participavam vinte pessoas. Dessas, 50% estavam na faixa etária de 16

a 29 anos (gráfico 1), compreendendo o grupo de jovens que procura a primeira oportunidade de emprego, desse modo, a qualificação profissional funciona como um recurso a mais para que esses jovens possam conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Por outro lado, o segundo maior índice é de 35%, com idade entre 30 e 49 anos, que buscam maior qualificação profissional para continuar no mercado de trabalho, nesse ponto reiteramos a questão de que o mercado exige que eles se mantenham empregáveis, através da qualificação.

Abaixo, elencamos, através dos gráficos, as porcentagens que caracterizam o perfil dos participantes do curso de auxiliar de almoxarifado, o que nos possibilita uma visão mais ampla da realidade em que se encontrava o conjunto de entrevistados, escolhidos aleatoriamente para contribuírem com dados qualitativos para a pesquisa.

Gráfico 6 – Perfil dos entrevistados de acordo com a idade

Fonte: elaborado pela autora.

Com relação ao gênero, 70% são homens, o que reflete o conjunto geral da atuação do homem no mercado de trabalho, já que boa parte das vagas é ocupada por homens, mesmo sendo a população de mulheres maior.

Gráfico 7 – Perfil dos entrevistados de acordo com o sexo

Fonte: elaborado pela autora. 50 35 10 5

Idade (em %)

16 a 29 anos 30 a 49 anos 50 anos ou mais Sem referência 30 70

Sexo (em %)

Mulheres Homens

Sobre isso, em nota técnica do governo do Estado do Ceará sobre as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, destaca-se que:

Ao mesmo tempo, conforme revelam os dados do MTE, as dificuldades de inserção feminina são claramente observáveis quando se olha o segmento do mercado de trabalho mais formalizado, uma vez que elas representam apenas 35,4% das pessoas com deficiência que possuem vínculos formais de trabalho (Tabela 3), proporção bem inferior à registrada entre o total de ocupados (46,6%). Embora sejam fontes de informações completamente distintas, uma sendo um registro administrativo, e a outra pesquisa domiciliar, é possível inferir a desigualdade existente entre homens e mulheres, principalmente no acesso das ocupações mais regulamentadas, favorecendo que outras estratégias de inserção ocupacional sejam adotadas pelas trabalhadoras, entre elas, o trabalho autônomo e a condição de trabalhador familiar, cuja situação é caracterizada no apoio a uma determinada atividade econômica que garanta subsistência econômica da unidade familiar. (CEARÁ, 2013, p. 5).

Quanto ao tipo de deficiência, 35% eram de surdos e 20% de pessoas com deficiência intelectual, compreendendo mais de 50% do conjunto de participantes. Este curso não apresentava pessoas com deficiência física, mas cabe ressaltar que, dentre os reabilitados pelo INSS, pode haver alguém que tenha sequelas de acidentes de trabalho, que possam ser consideradas limitações físicas. Devido ao atendimento a um público variado, a predominância de pessoas com deficiência auditiva é aleatória. A distribuição gráfica assim se coloca:

Gráfico 8 – Perfil dos entrevistados de acordo com o tipo de deficiência

Fonte: elaborado pela autora.

Sobre o estado civil dos sujeitos, uma grande maioria (45%) é de solteiros, o que nos permite inferir que boa parte é dependente de pais ou responsáveis diretos.

10

35

20 15

20

Tipo de deficiência (em%)

Visual Auditiva Intelectual

Reabilitado do INSS Sem referência

Gráfico 9 – Perfil dos entrevistados de acordo com o estado civil

Fonte: elaborado pela autora.

Os participantes deste curso apresentaram um bom índice de escolaridade básica (gráfico 10), já que 55% apresenta o ensino médio completo. Entretanto, estes dados não nos permitem afirmar que esta seja uma realidade mais abrangente, já que as pessoas que procuram pelo exercício de uma atividade profissional geralmente já passaram pelos bancos escolares. Sendo que, se observarmos o conjunto daqueles que têm pelo menos o ensino fundamental completo, o número de alunos que teve acesso a ensino básico aumenta. Desse modo, podemos inferir que mesmo que tenham tido acesso de forma tardia, eles buscam e conseguem frequentar a escola para ter acesso a uma escolarização básica. Esse contexto também se insere na maior oferta de vagas para pessoas com deficiência no mercado de trabalho em todos os setores públicos e privados, em decorrência das cotas exigidas em lei e a fiscalização dos conselhos de direitos das pessoas com deficiência e do Ministério do Trabalho quanto à oferta e ocupação das vagas para este grupo de trabalhadores.

Gráfico 10 – Perfil dos entrevistados de acordo com a escolaridade

Fonte: elaborado pela autora. 45

25 30

Estado civil (em %)

Solteiros Casados Sem referência 15 10 5 55 5 10

Escolaridade (em %)

Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior completo Sem referência

Realizamos entrevistas com seis dos vinte alunos participantes, sendo quatro do sexo masculino e duas do sexo feminino, com idade entre 23 e 37 anos. De acordo com as entrevistas, as informações colhidas são:

Quadro 3 – Informações sobre os entrevistados

Nome Fictício25 Idade Tipo de deficiência Estado Civil Renda familiar

Pedro 29 anos Intelectual Solteiro 2 salários mínimos

João 23 anos Intelectual Solteiro Entre 1 e 2 salários mínimos Antônio 36 anos Auditiva Solteiro Entre 1 e 2 salários mínimos

Carla 25 anos Visual Casada 2 salários mínimos

Marta 37 anos Auditiva Casada Entre 1 e 2 salários mínimos Sérgio 24 anos Intelectual Solteiro Entre 2 e 3 salários mínimos Fonte: elaborado pela autora.

Entrevistamos três indivíduos com deficiência intelectual leve, principalmente no que se refere à dificuldade de aprendizagem e de entender rapidamente os assuntos conversados. Com relação aos que apresentam deficiência auditiva, escutam um pouco, utilizando também a leitura labial para se comunicar, mas falam. A pessoa com deficiência visual apresenta baixa visão.

No que se refere à renda familiar, somente um declarou ser superior a dois salários mínimos, desse modo, infere-se que a maioria dos entrevistados advém da classe empobrecida e pertencem à classe trabalhadora, além disso, os solteiros residem com pelo menos mais duas pessoas (pais, irmãos) e as mulheres que são casadas têm filhos. Desse modo, podemos observar que, apesar de ter um acesso ao trabalho, essas ocupações não proporcionam boas condições de renda.

Quanto à escolaridade, somente dois apresentam o ensino médio completo, dois estão cursando o ensino médio na educação de jovens e adultos, uma das mulheres está cursando o ensino fundamental e Pedro estudou somente até a quarta série, mas abandonou as aulas para trabalhar e participar no curso profissionalizante. Nenhum descreveu ter estudado em escolas especiais ou salas especiais, mas cabe ressaltar que tiveram uma escolarização tardia, devido ao abandono ou não acesso à educação escolar, o que pode se expressar por muitos fatores: dificuldade de locomoção, projeto de inclusão escolar tardia, preconceito, marginalização. É expressiva na fala deles a necessidade de recorrer à Educação de Jovens e Adultos em escolas públicas para dar continuidade dos estudos, o que expressa que, provavelmente, não foram inseridos na política de inclusão escolar, sem nenhuma adaptação à sua condição de deficiência.

Nesse contexto, destacamos que uma das dificuldades externadas pela instituição, em conversa informal, é a falta de escolarização das pessoas que participam dos cursos profissionalizantes, pois, na seleção, algumas empresas exigem ensino médio completo. A questão referente à falta de escolarização tem raízes na segregação das pessoas com deficiência dos espaços de educação formal, além disso, há aqueles que nunca passaram pela escola, dada a visão de incapacidade familiar e social para a realização de atividades sociais.

Em capítulo anterior, quando destacamos os dados estatísticos referentes ao acesso de pessoas com deficiência à educação básica, observamos que ainda há uma grande lacuna quanto ao acesso à escolarização. Isso se reflete na procura por escolaridade em idade tardia, na Educação de Jovens e Adultos, bem como na participação em cursos de educação inicial e continuada, como este no qual realizamos esta pesquisa.

Ademais, ressaltamos que a baixa escolaridade põe-se como uma das mais difíceis realidades enfrentadas, não só pelas pessoas com deficiência, mas por boa parte da classe trabalhadora. Sobre a falta de escolaridade desse grupo, Assis (2012, p. 19-20), em pesquisa realizada no estado do Pará sobre educação especial, concluiu que:

Muitos indivíduos com deficiência, dentre os estudados no decorrer do processo investigativo, abandonavam a escola a fim de tentar adentrar no mercado de trabalho em qualquer função que lhes possibilitasse um retorno financeiro, haja vista que, na sua maioria, já estavam em idade avançada se comparados aos outros alunos que compunham a mesma série, caracterizando uma distorção significativa idade/série. O fato de essas pessoas não possuírem ensino básico completo ou formação profissional suficiente explica por que grande parte delas não consegue, no mercado de trabalho, ocupar cargos que demandam qualificação profissional, sendo-lhes destinadas posições subalternas e estagnadas.

É importante destacar que, para além da falta de escolaridade, também a visão de que as pessoas com deficiência são menos produtivas, ainda impede o acesso desse público ao mercado de trabalho, como também não podemos ignorar a realidade vivida por toda a classe trabalhadora diante das altas taxas de desemprego no Brasil e no mundo.

Quanto às questões referentes ao acesso ao trabalho, todos já tiveram uma experiência profissional, em que quatro tiveram acesso a emprego formal, um a trabalho informal e outro estagiou em instituição pública. Aqueles que trabalharam com carteira assinada ganhavam um salário mínimo e os outros ganhavam menos de um salário mínimo.