• Nenhum resultado encontrado

2.4 Ramificação conceitual ligadas aos desastres naturais com foco às inundações

2.4.2 Perigo

Deve-se salientar que de todos os conceitos interligados às inundações, o de perigo é aquele que possui uma maior segmentação teórica divergente de opiniões. Assim sendo, a seguir destacar-se-ão as principais análises a respeito do mesmo.

A metodologia de Castro (2000) cita o trabalho de Espasa Calpe (1975, p. 57) o qual conceitua perigo (na língua espanhola) como "contingencia inminente de perder una cosa o

de que suceda un mal", ou seja, é a contingência iminente de perder uma coisa (material) ou

de que resulte de um mal. O autor expõe, ainda, que a referida terminologia é de origem latina e possui a tradução como "periculum" (do latim).

Ainda com Castro (2000), a mesma faz uso do trabalho de Smith (1992, p. 9) o qual expõe (na língua espanhola) que "los peligros naturales resultan de los conflictos de los

procesos geofísicos con la gente [...]". Assim, remetendo-se a esse conceito, analisa-se que o

homem é o protagonista central para a validade da definição do conceito de perigo (natural), pois só há perigo se houver, nesse local, a ocupação urbana (ou de seus bens).

Para a Defesa Civil (CASTRO, 1998, p. 123) perigo pode ser definido como "qualquer condição potencial ou real que pode vir a causar morte, ferimento ou dano à propriedade. A tendência moderna é substituir o termo por ameaça". Essa fonte de dados apresenta informações correlatas a bibliografia de Castro (2000), citado anteriormente, reforçando a

ideia de que o perigo depende da incidência do evento sobre a população, ou seja, para ter uma ameaça (um perigo), esta precisa afetar alguém, nesse caso à população (ou a seus bens).

Na geografia dos riscos, de forma geral, o conceito de perigo é sintetizado como sendo um evento capaz de causar perdas, cobrindo certa gravidade, seja qual for o evento que gere o dano (por exemplo, as inundações, secas, terremotos, erupções vulcânicas, entre outros) (CASTRO, 2000).

Castro (2000) segmenta o entendimento do vocábulo perigo hierarquizado em três classes: perigo natural, antrópico e ambiental. Destarte, caracteriza-se o perigo natural como tendo a própria natureza como responsável por causar os danos, o perigo antrópico no qual tem o homem como gerador dos danos; e o perigo ambiental que é caracterizado pela combinação dos perigos natural e antrópico.

A fim de analisar um pouco sobre a confusão terminológica do perigo, Magnanelli (2012) sugere que essa nomenclatura, também conhecida como hazard (do inglês), é definida como uma fonte ou situação potencial de causar alguma lesão ou doença, danos ao meio ambiente, bem como a combinação dos dois.

Já Cutter e Press (2001) definem hazard, como sendo um indício de ameaça às pessoas, bem como de seus objetos, e enfatizam que existem dois tipos de perigos: os naturais (como os terremotos) e os tecnológicos (provocados por acidentes químicos).

Fica nítido, que com os dois últimos autores citados, o conceito de perigo caracteriza- se como sinônimo de hazard. Essa é uma das questões da indefinição dos vocábulos, ou seja, essa incompatibilidade conceitual.

A confusão no entendimento conceitual do perigo, de fato, inicia-se ao apreciar as bibliografias redigidas em línguas estrangeiras, como por exemplo, em inglês. Com esse foco, há um arsenal de pesquisadores que utilizam a terminologia hazard para traduzir o conceito de perigo (conforme anteriormente), porém, há autores que utilizam o conceito de hazard e perigo de forma distinta, sem um ser tradução do outro.

Sendo assim, deve ser ressaltado que a problemática inicial para entender o conceito de perigo, está interligada a tradução correta da palavra (do inglês para o português).

Veyret (2007) conceitua hazard de forma distinta da de perigo. E, como sinônimo de

hazard, há a terminologia "álea". Sendo assim, resumidamente, hazard ou álea para Veyret

(2007, p. 24) define-se como um "acontecimento possível [...]", e perigo como as consequências de uma álea (hazard) incidentes sobre os indivíduos.

De forma geral, uma das formas para analisar o perigo é com o uso de outra variável, o tempo de recorrência de um evento.

Tal fato é sugerido por Monteiro e Kobiyama (2013), como sendo de fundamental importância para a construção cartográfica do perigo (o mapa de perigo), e essencial para caracterizar e delimitar as áreas perigosas, ou seja, para evidenciar o grau de perigo de cada local. Os autores ainda discutem que o mapa de perigo a inundação também tem forte ligação com a modelagem dos dados, expressa pelo MDT, interferindo no resultado e na qualidade final da cartografia gerada.

Similar aos autores contribui Ayala-Carcedo (2000) informando que para haver a conceituação do vocábulo perigo (ou do espanhol peligro) deve-se adotar, como variável principal de análise, a velocidade de acontecimento (ou seja, o tempo de retorno).

Já que o conceito de perigo converge ao tempo de recorrência de um evento, faz-se necessário destacar que o tempo de retorno caracteriza-se, matematicamente, como o inverso da probabilidade de ocorrência do fenômeno, representando, dessa forma, o tempo, em média, que o evento terá possibilidade de se replicar (TUCCI; BERTONI, 2003).

A metodologia de Tucci (1993, p. 640) expressa que “a escolha do tempo de retorno é arbitrária e depende da definição do futuro zoneamento”. Dessa forma, pode-se constatar, que conforme o resultado obtido no tempo de retorno (a cota altimétrica correspondente a determinado tempo de retorno), o futuro zoneamento (do risco) estará atrelado a essa questão. Dessa forma, fica visível a grande importância do ato de cartografar o perigo.

Um fator de destaque, verificando e contextualizando as informações tangentes ao tempo de retorno, é que de “forma geral as atividades humanas contribuem diretamente para o aumento da probabilidade de ocorrência de inundações e dos impactos negativos associados” (CUNHA; TAVEIRA-PINTO, 2011, p. 106), aumentando o tempo de recorrência dos eventos.

O mapa de perigo, especificamente, é importante para arquitetar as atividades de desenvolvimento, para planejamento de emergência e para desenvolvimento de políticas (JHA; LAMOND, 2012). Dessa forma, é visto a grandiosa importância do mesmo.

Após a análise de várias bibliografias, fica clara a importância do mesmo para o zoneamento do risco. Não obstante, ressalta-se que sua definição está amplamente dependente do tempo de retorno do evento. Assim, este conjunto de definições, é a forma teórica do entendimento de perigo a ser adotada nesse trabalho adicionando a ideia de que os maiores adensamentos traduzem, inclusive, as maiores áreas com concentração populacional, logo um maior perigo.

Dessa maneira, o perigo será segmentado em três (3) classes, sendo que os locais com maior perigosidade serão os que unirem: a maior suscetibilidade (as menores cotas

altimétricas do terreno), aos locais com maior tempo de recorrência das inundações (TR2, TR10, TR73), localizadas, exclusivamente, nos locais em que há, simultaneamente, a localização da população. Resumidamente, esta é a definição prática de perigo a ser adotada nesse trabalho.

Documentos relacionados