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Como o foco deste estudo foi um processo criativo que dialogasse com as diversas memórias do Caldo da Cana, um resultado natural

do encontro com estas memórias, foi a elaboração de documentos que as registrassem. Além de alimentar esta pesquisa, estes documentos se transformaram num acervo disponível para futuros pesquisadores, interessados em outros recortes historiográficos, o qual será disponibilizado através do Acervo Memória do Movimento, da UFPB.

Assim, este trabalho tangeu a esfera da História Oral, visto que partiu de um projeto que visava desde o início uma devolutiva para a comunidade da dança de João Pessoa-PB. No entanto, apesar do que orienta os historiadores do Núcleo de Estudos em História Oral – NEHO da Universidade de São Paulo – USP, José Carlos Sebe B. Meihy e Fabíola Holanda (2011, p. 24), sobre a importância dos produtos de entrevistas em história oral resultarem sempre em “documentos de base material escrita”, não foi objetivo deste estudo transpor os discursos do código falado para o escrito.

Em consonância com o pensamento da “nova história”, que abrange um maior escopo de documentos históricos, os próprios registros audiovisuais das entrevistas são os documentos que serão devolvidos à sociedade, ao término desta pesquisa. Não obstante, foram realizadas transcrições das falas para a construção do segundo capítulo desta dissertação. Porém, são os vídeos os documentos primários e disponibilizados por esta pesquisa.

De acordo com estes pesquisadores, a história oral não tem o objetivo exclusivo de preencher lacunas de outros documentos, mas as próprias entrevistas devem ser consideradas em si mesmas como fonte de informações sobre o tema pesquisado, inclusive “lembrando que o improvável também se situa no âmbito da vida social. A fantasia, a mentira, a distorção, o sonho, o lapso, o silêncio também” (MEIHY; HOLANDA, 2011, p. 34, 35).

Apesar de muitos vestígios materiais do Caldo da Cana terem sido consultados, as entrevistas realizadas tiveram um lugar de destaque no entendimento apresentado nesta pesquisa. Tão importante quanto o fato é a fala sobre o fato e o processo criativo que adveio deste estudo se nutriu de toda a subjetividade, de todos os desvios e rugosidades da presentificação da memória. Além disso, foi possível, por meio do confronto das narrativas individuais dos entrevistados, captar congruências que ajudaram a perceber a existência de uma memória coletiva.

Foi elaborado um protocolo que definia quem, quando e onde seriam entrevistados; foram gravadas as entrevistas com o apoio de uma câmera de vídeo amadora; estes documentos orais foram transcritos para serem utilizados nesta escrita. Cumpridas estas etapas, o arquivo de fontes orais será doado para o Acervo Memória do Movimento e o Acervo Recordança, para que possam ser consultados pela comunidade em geral.

Pode-se dizer que este trabalho se insere no gênero História oral temática, pois as entrevistas realizadas se justificaram por meio de um foco central, que foi o espetáculo estudado. É possível afirmar também que se trata de história oral híbrida, já que as entrevistas dialogaram com outros tipos de fontes ou documentos. As entrevistas foram conduzidas por mim após estudo prévio do tema e da vida pessoal dos entrevistados, o que me permitiu a melhor elaboração do roteiro semiestruturado. Pois,

O entrevistador, no caso de história oral temática, deve ser preparado antes com instruções sobre o assunto abordado. Quanto mais informações se têm previamente, mais interessantes e profundas podem ser suas questões. Conhecer versões opostas, os detalhes menos revelados e até imaginar situações que mereçam ser questionadas é parte da preparação de roteiros investigativos (MEIHY; HOLANDA, 2011, p. 39).

Ao final de cada entrevista, foi solicitado a cada entrevistado que assinasse um termo de doação da entrevista gravada, contendo informações sobre o projeto. Este documento comprova que eles concordaram com a cessão de cópias dos vídeos e de seus transcritos para instituições parceiras. Como pode ser observado, além de dados como nome e endereço do entrevistado, local e data da entrevista, havia um espaço para o registro de alguma restrição caso fosse desejada pelo entrevistado. Vide ficha a seguir:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS

DOAÇÃO DAS ENTREVISTAS GRAVADAS

Em consideração ao trabalho de pesquisa sobre o espetáculo paraibano

Caldo da Cana, realizado por Rafaella Lira Amorim, para elaboração de sua

dissertação de mestrado vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Artes

Cênicas – PPGARC, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, sob a

orientação da Prof.ª Dra. Nara Salles, eu concordo em doar ao projeto o meu depoimento concordando que cópias do mesmo serão doadas a instituições parceiras.

Este(s) vídeo(s) e seu(s) transcrito(s) acompanhante(s) são o resultado de entrevista(s) voluntária(s) gravada(s) comigo. Todo leitor deve ter em mente que ele está lendo o transcrito do meu discurso falado, e que o documento primário da minha palavra é o vídeo, não o transcrito.

Compreendo também que fica à critério da pesquisadora permitir aos profissionais interessados verem este(s) vídeo(s), lerem o(s) transcrito(s) do(s) mesmo(s) e utilizá-los somente para suas pesquisas artísticas ou para fins acadêmicos educacionais. ENTREVISTADO(A): __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ ENDEREÇO: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ LOCAL E DATA: __________________________________________________________________ RESTRIÇÕES exigidas pelo entrevistador (Se houver):

__________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________

Pesquisador responsável: Rafaella Lira Amorim

_________________________________________________ Assinatura do Entrevistado(a)

Figura 1. Doação das entrevistas gravadas. Fonte: Rafaella Lira Amorim, 2013.

Um dos pontos mais importantes desta declaração é exatamente o atestado de que o documento primário da palavra do entrevistado é o vídeo e não a transcrição do documento falado. Diante da transformação do oral para o escrito, ficaram claras as especificidades de ambos os códigos, o que ensejaria uma transcriação da palavra falada para a melhor compreensão do leitor. O neologismo transcriar foi uma proposição de Haroldo de Campos devido à impossibilidade de traduzir literalmente de um idioma para outro, o qual é tomado emprestado pelos autores citados. Ainda de acordo com eles:

É impossível do etéreo, do verbo, se passar à materialização da escrita com fidelidade absoluta como se uma coisa fosse outra. Admitir isso, aliás, seria temeridade, visto que sons, entonação, cacoetes, modulações, não se registram sem alterações (MEIHY; HOLANDA, 2011, p. 135).

Após esta etapa de textualização, que seria a transcriação, os entrevistados deveriam ser convidados a ler suas próprias entrevistas para aprovarem ou proporem intervenções nas mesmas, a fim de se reconhecerem nestes documentos. Porém, como o foco deste estudo não são os procedimentos em História Oral, não houve esta preocupação em transcriar do oral para o escrito todo o material obtido na pesquisa; mas apenas aquelas partes que interessavam.

Assim, esta pesquisa contribuiu para a difusão dos documentos primários de história oral, permitindo que futuros profissionais interessados não apenas no Caldo da Cana, mas nas diversas configurações das histórias da dança paraibana, possam ver os vídeos, utilizando-os em suas pesquisas artísticas e/ou acadêmicas e produzindo novos conhecimentos.

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