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5 A POLÍTICA EDUCACIONAL E AS SINGULARIDADES DE PERNAMBUCO

5.4 PERNAMBUCO E PARAÍBA: ALGUMAS REFLEXÕES

O que podemos encontrar como aproximações e distanciamentos entre as duas realidades pesquisadas? De início, podemos dizer que os documentos que embasam as duas realidades apresentam um discurso que defende a melhoria da educação básica da rede pública estadual. Para isso, utilizam como uma de suas estratégias a criação de bonificação e premiação enquanto fomento à melhoria do trabalho do gestor escolar e do professor e, ainda, como elemento de valorização profissional, o que levaria a melhoria da qualidade da educação.

A avaliação educacional e indicadores de desempenho estão presentes em ambas as propostas. O IDEPE e o IDEPB são balizadores para o recebimento da bonificação e da premiação.

Estão aptos à participação e recebimento aqueles funcionários lotados como profissionais concursados e ou contratados atuantes da prática docente, comissão pedagógica afins e equipe gestoras. No caso de Pernambuco, as equipes dirigentes e profissionais das Gerências Regionais de Ensino também têm direito à bonificação

anual. Os entrevistados revelam que, além dos funcionários regulares, os professores com contrato temporário também recebem o adicional. Há exceção para os prestadores de serviços de empresas contratadas.

Constatamos que em ambos os estados só aqueles que alcançarem no mínimo 50% dos resultados IDEPE e IDEPB têm condições de estarem na ordem do recebimento financeiro proporcional à porcentagem alcançada.

Porém, na aquisição do Prêmio na Paraíba temos uma ressalva, por ter garantido pelo Edital outros pontos avaliativos além do resultado do IDEPB, são apresentadas outras possibilidades comprovadas pelo dossiê/relatório das atividades do projeto (como fotos, relatos dos participantes, análise da equipe de avaliação quando participantes dos momentos de culminância dos mesmos nas escolas executoras).

A seguir, sistematizamos algumas ideias discursivas que permitem interpretar as contextualizações que confluem e as que divergem entre as políticas de educação analisadas.

Nos itens anteriores, apresentamos que ambos estados apresentam aproximações entre suas atuais políticas de educação: políticas que se caracterizam pelo uso de avaliação em larga escala e pelo oferecimento de bônus ou premiação para os profissionais da educação.

Os dois estados apresentam suas políticas apoiados no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, que vêm dar suporte e direcionamento às suas diretrizes.

Em Pernambuco, encontramos o Programa de Modernização de Gestão Pública: Metas para Educação Pernambuco (PERNAMBUCO, 2008a) e o documento da Nota Técnica - Avaliação das escolas estaduais e o Bônus de Desempenho Educacional – BDE (2008/2009/2011), e, na Paraíba, temos o Projeto de Ampliação e Modernização da Infraestrutura do Setor Educacional na Paraíba, que se junta ao Pacto pelo Desenvolvimento Social (outro projeto de ação social para o desenvolvimento dos municípios).

Identificamos que os dois Estados buscam atuar com respaldo em programas que venham configurar alianças, implementações e gastos, com uma lógica de ampliação e melhoria da estrutura macro do Estado em si, para as contextualizações da micro esfera (no caso aqui a educação escolar).

Vejamos no quadro abaixo uma síntese das regras que embasam ambas as políticas:

Quadro 18 - Regras de Participação ao BDE/ Prêmio Escola de Valor Regras de Participação ao BDE/ Prêmio Escola de Valor Regras

Gerais para bonificação/ Premiação

Pernambuco

Bônus de Desempenho da Educação

Paraíba

Prêmio Escola de Valor Assinatura do termo de compromisso

por parte da equipe gestora.

 Elaboração e execução de seu Plano de Ação.29

 O servidor deve estar em exercício (não permitido o recebimento àqueles que estiverem em licenças (salvo aquele de licença médica e/ou maternidade).

 Atendimento à Meta do IDEPE estipulada para o ano (alcançar a partir de 50% da meta estabelecida).  Contratados da educação para função

docente e outros similares têm oportunidades de recebimento do Bônus.

 Preenchimento do formulário eletrônico, equipe gestora.  Inscrição de apenas um

projeto por equipe de gestão escolar.

 Envio do projeto para homologação da inscrição, com assinatura da gestão escolar e participantes.  Construção coletiva do

Projeto, com os requisitos do ponto 4 (ver anexo).

 Envio do dossiê com seu número de inscrição (relatório).

 O servidor poderá concorrer a dois prêmios desde que atue em unidades escolares distintas, porém só receberá uma vez a premiação do 14º salário.

 Atendimento ao critério de pelo menos 50% da Meta do IDEPB para ano.

Fonte: Laurecy Dias dos Santos (2018).

Pernambuco, quanto aos pontos estabelecidos no Plano de Ação: a) A implantação da matriz curricular e o desenvolvimento integral do currículo; b) O cumprimento do calendário escolar com um mínimo de 800 horas anuais, distribuídas em um mínimo de 200 dias letivos, conforme dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; c) A garantia de acesso e permanência do aluno na escola e o apoio a todas as ações que visem o sucesso escolar; d) O preenchimento dos dados solicitados pelo Censo Escolar com informações fidedignas e de

29 Ver documento: PERNAMBUCO. Secretaria de Educação. Avaliação das escolas estaduais e o

bônus de desempenho educacional - BDE: nota técnica. Recife: SEDUC, 2008b. Disponível em:

qualidade. Esses pontos são definidos como parte da própria dinâmica apresentada na política educacional para a escola.

Outro ponto em destaque sobre a política de Pernambuco esta relacionado com a aquisição ao IDEPE, a escola deve melhorar a média da proficiência dos estudantes no SAEPE e a média da taxa de aprovação dos estudantes. Por isso, foi pactuado com a escola, através da assinatura do Termo de Compromisso, as metas a serem alcançadas pelos alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. A escola que alcançar, a partir de 50% da meta estabelecida, será contemplada com o Bônus de Desempenho Educacional. O IDEPE só é calculado para as escolas que realizaram o SAEPE na 4ª, 8ª do E.F e/ou 3º ano do ensino médio. Isto porque são os resultados do SAEPE referentes à aprendizagem dos estudantes e a taxa de aprovação, medidos pelo censo escolar, que compõem o IDEPE. Dessa forma os aspectos gerencialistas estão muito mais presente na política pública de educação.

Concordamos com Santos (2015) sobre a questão da lógica mercantil incidindo sobre a gestão escolar, reduzindo-a à prática administrativa. A partir dessa ideia, a responsabilização da gestão escolar amplia-se quando assina-se o Termo de Compromisso.

No Termo, a própria gestão estadual indica as metas a serem alcançadas pela própria escola.

É exatamente essa lógica que vem sendo impressa à gestão das escolas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco a partir da adoção de práticas de monitoramento do desempenho dos gestores escolares que, embora eleitos em um processo que se quer democrático, veem crescer as atribuições via transferência de responsabilidades consignadas no termo de compromisso que assinam ao assumir o mandato de gestão (SANTOS, 2015, p. 08).

De todo modo, é possível destacar que nem todas as escolas participam por não cumprirem as regras básicas propostas pela política. O que acaba por se configurar em uma situação de exclusão, como já apresentado por Santos (2015), na abordagem sobre o estímulo ao preconceito e incitação à concorrência desleal entre a escola bem assistida (as EREMs), e as demais escolas (escolas regulares) que, muitas delas, estão sucateadas, esquecidas, cumprindo apenas as formalidades dos ensino básico.

Mas, há vários elementos de convergência entre as políticas analisadas: ambas as políticas tomam o IDEB como referente para o alcance da bonificação/premiação, mesmo que cada estado tenha elaborado seu indicador próprio (IDEPE e IDEPB). Nesse contexto, os estados definem as “Metas” do IDEB por considerarem este um parâmetro de identificação da qualidade da educação. Os mesmos apresentam uma estreita relação entre o estímulo dos profissionais ao recebimento da bonificação/premiação com o avanço da educação, como numa relação de troca do tipo gerencialista: há recebimento da remuneração variável, há mais trabalho, mais empenho para que os alunos alcancem melhores índices, consequentemente atinge-se a meta estipulada.

A bonificação/premiação “na contramão” das necessidades financeiras não é incorporada ao salário/benefícios. Isso está apresentado claramente nos textos legais analisados como um mecanismo de aceleração do trabalho, do cumprimento de metas, de busca pela melhoria da qualidade de ensino a partir do trabalho da gestão escolar e docente.

Este levantamento nos põe frente às perdas que o trabalhador vem tendo nas últimas décadas. Esse ponto de discussão é apresentação em estudos como os de Frigotto (2002, p.118), nas suas considerações sobre o tema “Soletrar a letra P: povo, popular, partido e política”, identifica que mesmo com as mudanças pós- ditadura e a vinda de governo popular, estamos “frente ao poder de domínio de um sistema político excludente e reprodutor das desigualdades através, também, da educação”. Em uma forma mais ampla, isso se aplica a todos os setores da educação.

Outro exemplo está posto por Pardal e Moreira (2011, p. 182), quando afirmam que “a discussão sobre os efeitos provocados pelo processo de globalização no mundo do trabalho, efeitos que vêm assumindo a denominação de

precarização para traduzir, justamente, o universo de transformações ocorridas quer

sobre os processos produtivos, quer sobre os processos de gestão”. Esse modelo de precarização atinge professores e gestores escolares de forma ampla. Com ações que modificam o ritmo de trabalho, tornando a vida do gestor escolar uma permanente “corrida” na ampla agenda de trabalho, mas isso discutiremos melhor no próximo capítulo.

Em termos de distanciamento entre as duas políticas levantadas, encontramos pouquíssimos elementos retratados aqui. O recebimento do Bônus em

Pernambuco, inicia-se com a assinatura do Termo de Compromisso entre a equipe gestora e a secretaria de educação. Isso garante a colaboração por parte da Secretaria de Educação e a participação no recebimento do Bônus. Na Paraíba, a participação na concorrência ao Prêmio é realizada através da inscrição on line e o cumprimento de alguns pontos estipulados no cronograma de realização dos projetos que concorrem à premiação.

Sobre o pagamento, em Pernambuco há uma proporção em relação aos índices alcançados no IDEPE, porém o mínimo de exigência é que a escola alcance, no mínimo, 50% da Meta estabelecida. Assim, o pagamento também será proporcional. Reafirmando o que já apresentamos, Oliveira e Silva (2018, p. 03) em estudo realizado sobre a política de accountability na educação básica da rede pública estadual de Pernambuco descrevem que,

O termo de Compromisso e Responsabilidade pactua metas que os gestores buscam alcançar por meio de mecanismos de controle do trabalho da escola e do docente tais como: monitoramentos dos conteúdos, dos resultados, da frequência dos professores e estudantes, das aulas previstas e aulas dadas; e atribuição de notas para os estudantes que obtiveram um bom desempenho nos testes.

Nessa análise encontramos uma ampla interpretação das ações que levam a percepção de uma desresponsabilização do governo nos resultados dessa educação oferecida. A política de Pernambuco que fomenta o BDE, apresenta-se mais regulatória do que a política de educação que trata da premiação na Paraibana.

Na Paraíba, apresenta-se uma diferença em relação ao recebimento do 14º e possível 15º salário. Isso ocorre para o professor, quando este recebe a premiação pelo “Mestres da Educação” e, ao mesmo tempo, quando a escola foi também contemplada com o prêmio “Escola de Valor”.

Mais que os elementos acima debatidos, é preciso ressaltar que esse tipo de política repousa nos postulados de uma gestão gerencialista de cunho neoliberal. Daí que também é relevante trazer para o debate as questões do Estado regulador como um ponto de reflexão para tudo isso que levantamos. Boyer (2009) chama atenção para as mudanças sociais que favorecem o aparecimento de outras formas de regulação, o que podemos ver com o tipo de política que regula o trabalho do gestor e do professor através do monitoramento dos resultados. O que importa são

os resultados alcançados, as metas atingidas, pouco dando ênfase aos processos que acontecem no cotidiano das escolas.

Podemos resumir que as políticas em análise tem suas relações e cada uma tem sua peculiaridade que as diferenciam em alguns pontos. Mas, considerando a política de responsabilização implantada na educação brasileira, presentes hoje em alguns estados e municípios, segundo Freitas (2013) as mesmas se estabelecem entre a evidência e a ética, dessa forma para garantir resultados ocorrem fraudes, estreitamento curricular, segregação dos grupos de pessoas (estudantes), concorrência entre profissionais e as instituições, entre outros danos.

A seguir, apresentamos o debate acerca das políticas de bonificação/premiação e suas repercussões na função do gestor escolar advindos dos discursos revelados pelos sujeitos participantes da pesquisa. Colocaremos em destaque a análise das entrevistas e das observações do cotidiano das escolas e, dessa forma, traremos os principais pontos de relevância captados nos campos de investigação.

6 BONIFICAÇÃO/PREMIAÇÃO: MANIFESTAÇÕES DA REALIDADE NO