3 ANÁLISE DA MATRIZ INSTITUCIONAL DO SISTEMA DE GESTÃO DA BACIA
3.1 Perspectiva de articulação entre CEIVAP, comitês de bacias afluentes e consórcios
São finalidades do CEIVAP, dentre outras, promover e articular a gestão dos recursos
hídricos e as ações de sua competência considerando a totalidade da bacia
hidrográfica do rio Paraíba do Sul, como unidade de planejamento e gestão, apoiando
a consolidação das políticas públicas afins e os interesses das presentes e futuras
gerações, visando o desenvolvimento sustentável da bacia hidrográfica do rio Paraíba
do Sul, e, ainda, promover a articulação federal, interestadual e intermunicipal,
integrando as iniciativas regionais de estudos, projetos, planos e programas às
diretrizes e metas estabelecidas para a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, com
vistas à conservação e à proteção de seus recursos hídricos.
AGEVAP – CONTRATO nº 21/2012
Além das finalidades acima citadas, também está previsto como finalidade no inciso
IV, artigo 3º, do Regimento Interno do CEIVAP, apoiar a criação e promover a
integração com instâncias regionais de gestão de recursos hídricos da bacia, tais
como: os comitês de bacias afluentes, os consórcios intermunicipais, as associações
de usuários, as organizações de ensino e pesquisa, as organizações não-
governamentais e outras formas de organização articulada da sociedade civil ou do
poder público.
Por meio da análise dos Regimentos Internos dos comitês das bacias afluentes do rio
Paraíba do Sul, em geral, verificou-se a previsão expressa da competência de
promover a articulação com o Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio
Paraíba do Sul (CEIVAP), especialmente no sentido de integração da gestão de
recursos hídricos.
Embora os comitês tenham a competência comum de atuar
na implementação dos
instrumentos de gestão definidos nas políticas nacional e estaduais de recursos
hídricos, não se observam sobreposições evidentes visto que os instrumentos
normativos que regem o CEIVAP e os comitês das bacias afluentes do rio Paraíba do
Sul estão orientados ao fortalecimento de uma gestão descentralizada, articulada e
integrada. A perspectiva, então é de que os vários organismos instalados na Região
Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul atuem de forma complementar.
A análise do caso dos canais de irrigação do norte fluminense torna evidente a
necessidade de que o CEIVAP fortaleça seu papel articulador e integrador das ações
dos comitês de bacia afluentes para fazer frente aos problemas específicos
enfrentados nas diversas regiões hidrográficas, considerado suas configurações
socioeconômicas e ecossistêmicas. Deve-se reconhecer, no entanto, que essa
orientação poderá manifestar-se e consolidar-se como prática de gestão dos comitês
somente a partir da definição e implementação de linhas de ação nesse sentido.
A definição de linhas de ações para fortalecer a articulação dos comitês atualmente
instalados é, portanto, fundamental. Há um histórico de reuniões e oficinas
participativas para a proposição de ações nesse sentido, sendo recomendável que as
propostas resultantes desses encontros sejam avaliadas e colocadas em prática.
Prever a participação dos membros de comitês de sub-bacias nas Câmaras Técnicas
do CEIVAP é uma das propostas apresentadas.
Definir linhas de ação para integração e fortalecimento dos consórcios pode também
favorecer o fortalecimento da estrutura institucional atuante na bacia hidrográfica, além
de contribuir para o atendimento das especificidades locais e gerar efeito sinergético
entre gestão local e regional.
Uma questão extremamente sensível em relação à articulação e à integração entre
esses organismos é a implementação da outorga, mais ainda em face da dupla
dominialidade das águas. Numa situação em que um usuário se instale no rio principal
de dominialidade federal e queira somente captar água sem consumi-la - ou seja,
capta e devolve a água do rio - a depender da vazão desse usuário, as captações de
usuários de afluentes a montante seriam inviabilizadas uma vez que a água dos
afluentes precisaria estar reservada para o usuário do rio principal.
Isso demonstra, apenas sob o aspecto quantitativo de captação, a articulação
necessária dentro de uma bacia, entre diferentes entidades de diferentes entes
federativos para a viabilização da água para o usuário
8. Algumas razões, abaixo
elencadas, estão envolvidas no impasse da dominialidade
9:
Cada órgão gestor de recursos hídricos adota um determinado critério de
outorga. Não há um critério único ou, pelo menos, harmonizado, o que pode
causar problemas de incompatibilidade quali-quantitativa ao longo dos rios da
bacia;
A articulação entre os órgãos gestores quanto aos montantes outorgados é
muito incipiente, fato que cria problemas de comprometimento quantitativo e
qualitativo entre mananciais de diferentes domínios;
8NUNES, Tereza. Sistemas de informações sobre recursos hídricos e a dupla dominialidade das águas: o caso da integração do sistema nacional e dos sistemas estaduais de recursos hídricos na bacia do Rio Paraíba do Sul. Tese de doutorado. FGV, Rio de Janeiro, 2009.
9CARDOSO DA SILVA e MONTEIRO (2004) citado por NUNES, Tereza. Sistemas de informações sobre recursos hídricos e a dupla dominialidade das águas: o caso da integração do sistema nacional e dos sistemas estaduais de recursos hídricos na bacia do rio paraíba do sul. Tese de doutorado. FGV, Rio de Janeiro, 2009.
AGEVAP – CONTRATO nº 21/2012
A União tem o seu papel dificultado em estabelecer critérios de outorga devido,
principalmente, ao fato de os rios de domínio da União receberem
contribuições de tributários estaduais sujeitos a diferentes critérios de outorga.
Deve-se ter em vista que não apenas instrumentos de outorga, cobrança,
enquadramento e plano de recursos hídricos são afetados por essa questão, o
licenciamento ambiental também é atingido. Os impactos ambientais de um
empreendimento outorgado em um Estado muitas vezes se refletem em outros
Estados, de uma mesma bacia
10.
Uma possível solução nesse contexto seria o estabelecimento de convênios de
integração e de cooperação entre a União, os Estados e os comitês de bacia de
diferentes domínios. Esses convênios já são utilizados pela ANA. Atualmente a ANA
vem implementando os convênios de integração em algumas das bacias de rios de
domínio federal. Este é o caso da Bacia do Rio Doce. O convênio prevê, entre outros,
o estabelecimento de mecanismos unificados de gestão para as bacias nacionais que
harmonizem os diversos instrumentos de gestão das águas, como cadastro, outorga,
cobrança, fiscalização e sistemas de informação, em bacias com dupla dominialidade.
No documento
COHIDRO PLANO INTEGRADO DE RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO SUL
(páginas 85-88)